segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Boa Nova - em termos

Na época do nomadismo, antes de Josué completar a missão de Moisés, parando o Sol para a vitória dos hebreus, vivia no deserto, a leste do monte Sinai, uma antiga deusa cananeia, pouco conhecida pois ainda infanta. Era mesmo característico dela um desenvolvimento lento, sendo ela pouco influente e, portanto, pouco citada, apesar de tão sábia e competente. Podemos traduzir seu nome por Especificidade, ainda que se perca certo teor polissêmico do original e uma sutileza moral implícita que nosso vernáculo não expressa. São os tempos...

A pequena deusa foi agregada como um dos Poderes por Javé, quando este mandava solto em Canaã, então já Palestina, na época do rei Saul. Dizem que Davi acabara de ser eleito pelo Senhor e estava em suas lutas e fugas enquanto o citado rei se negava a aceitar que o trono agora deveria ser de outro, de modo que o agregar precipitado da Especificidade entre os Poderes talvez seja resultado de certa pouca atenção da parte de Javé, voltado para problemas de Estado tão centrais.

Ainda que compreensível, a desatenção revelou-se trágica! Num comportamento típico de deuses cananeus (assim diziam os hebreus), Especificidade conheceu, no sentido bíblico, é claro, um tio seu, grande deus antigo, chamado Baal. Tecnicamente é discutível uma relação de incesto no caso. Na verdade era difícil seguir todas as linhas que nasciam de Baal para se ter certeza se se os dois deuses eram realmente próximos ou se "tio" era mais modo de dizer. Infelizmente, como Javé estava mais pra clérigo que pra político ou advogado, no sentido em que entendemos hoje (novamente me desculpem pelos problemas de tradução), e Especificidade era provavelmente ainda menor (por seu metabolismo tão lento já explicitado), a sentença não teve apelação e Especificidade foi fulminada.

A humanidade viveu tempos sombrios, indeterminada em sua linguagem, perdida entre conceitos aproximados e catacreses insuficientes. Discutia-se muito por bobagem, horas e horas de estudo e pesquisa se perdiam em textos imprecisos e ambíguos. Ninguém entendia direito se uma cidade era de um ou de outro, então todos brigavam. Não se sabia se a Terra era redonda, quadrada, plana ou o casco de uma tartaruga, então guerra! E na Academia... deuses, na Academia! Era impossível avaliar alunos e estudos, pois ninguém sabia dizer exatamente como fulano era, afinal, melhor do que a fulana, qual seria propriamente a base de critérios. Havia critérios? E como eram os homens? Como eram as mulheres? O que elas ou eles queriam, afinal? Mistério. E, no meio de tanto caos, ninguém poderia entender obviamente qual era especificamente o problema, pois justamente Especificidade estava morta...

Mas há esperança (não uma deusa, enfim...). Sim, há esperança. Hoje vi a luz, e vim falar às gentes. Pois Javé, aparentemente, enfureceu-se com Especificidade apenas quando a querela dos novos e dos antigos (se Saul ou se Davi) foi resolvida. Enquanto isso, Especificidade pariu. Sua filha, herdando o tímido e lerdo desenvolvimento da mãe, levou séculos crescendo e amadurecendo. Às vezes dava pequenos pulos, saltos evolutivos, ou simplesmente emprestava sua luz a um que outro eleito, na calada da noite, no sonho, na vigília, na sarjeta bêbada e tuberculosa do gênio; sempre evitando os olhos de Javé enquanto crescia. Na nossa época, em que Deus se cala e os ratos, aliás, os humanos fazem a festa, ela finalmente viu que estava segura. E ela veio a mim.

Seu nome é Terminologia! - Na Terminologia, Especificidade, sua mãe, vive e caminha entre nós!

A revelação me veio por uma amiga, a mesma que motivou um post publicado hoje ainda, o Full Circle. Essa moça, caminho da Verdade, insistiu: eu preciso conhecer seu ex/protocunhado adotivo. Vejam o milagre: dois termos e dois prefixos que se conflituam, e ainda sei exatamente de quem ela fala. Sei o nome, trata-se do Diogo! A Boa Nova aí está. É o fim dos abstracts incoerentes, fim das brigas de escola e de teorias, fim da separação das ciências que não condizem com elas próprias, fim das siglas de partido, fim dos ônibus que têm três nomes, fim de tantos professores, fim dos endereços impossíveis de Brasília, fim do jornalismo-moleque, fim do atendimento telefônico da NET! No que nos diz respeito, Babel jamais pecou.

O caminho, irmãos, é a Terminologia, onde estivermos, para quem falarmos. Ela é a Palavra - ou antes as Palavras, neste mundo do múltiplo diabo. Regozijemo-nos, pois Especificidade é Mãe! Ela vive em sua Filha! Ela está entre nós!

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