quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Critérios para a democracia!

Quando a crise do Mensalão estava no auge, surgiu uma série de critérios sobre como NÃO votar, inclusive com a volta da dica do Ziraldo: "Se os caras que estão lá são ladrões, não reeleja ninguém". Mas nossa cultura deve se adaptar aos novos tempos, e eu venho aqui (não muito longe, afinal, vim ATÉ meu próprio blog) acrescentar um critério à lista, pelo menos à minha, adaptado à forma contemporânea de se fazer política:

Não votarei em nenhum dos políticos cuja equipe de campanha me mandou spam.

Farei campanha contra os políticos cuja equipe de campanha me enviou spam hipócrita, como "Obrigado pela confiança!"

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Como alimentar quem tem fome de saber?

Eu andava pensando em quanta energia gasto, antes e durante as aulas, com os alunos-problema, com aqueles que diminuem o ritmo do ensino, atrapalham os colegas, incomodam por sabe-se lá que motivos que inventam a toda hora, ou também pelos que têm motivo para incomodar, mas que, diferente dos que lidam melhor com suas vidas, resolvem descontar na escola. Eu fico pensando em como gastar tempo e energia com aqueles alunos que realmente querem estudar. Como dar foco, também, para estes. Sempre que converso com algum professor, de qualquer área, constato como essa preocupação é geral e como ninguém parece ter uma boa resposta...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Em bom português, adaptação natural é um movimento... natural

Seguindo o que um aluno me respondeu, eu escrevi no quadro "tira o dela da reta", resumindo assim o que dizia um parágrafo sobre a Dilma. Aquela era uma boa média do que a turma queria dizer, mas outro aluno imediatamente chamou minha atenção e insistiu que isso não poderia ser escrito assim. Eu disse que tinha perguntado como eles interpretavam aquele parágrafo e que registrei exatamente isso, ou seja, o que tinham respondido, mas ele insistiu que eu não podia escrever assim naquele caso, que se usa outras palavras, que é preciso usar termos mais raros, mais difíceis, que não lhe ocorriam naquela hora, mas que os termos que eu escrevi eram inadequados. Levamos um tempo até a frase virar "Dilma se esquiva de críticas e revida com acusações".

Bom, essa diferença de registro é muitas vezes estudada não como uma noção do aluno acerca da adequação da linguagem, mas sim como auto-desvalorização da fala do aluno. Quando lemos sobre o ensino do português, geralmente as tentativas do aluno de se adequar ao que ele entende por formal são usadas como marcas de preconceito linguístico que caracterizariam a escola, sempre. Por outro lado, insiste-se ad nauseam que o professor apresente ao aluno conceitos como adequação e norma culta, não necessariamente com esses nomes, mas nitidamente como conceitos alheios ao estudante, que precisam ser trazidos ex nihilo pelo professor. Ignora-se que as pateteadas dos alunos buscando a linguagem formal não são meras causalidades de um pobre coitado que engole o português escolar à força, mas os esforços de alguém que já observa há alguns anos que as pessoas falam diferentemente em situações diversas, e que isso também ocorre na escrita. A variação da grafia de pichação no canto da folha para a letra ensinada na escola, usada para escrever o texto que foi pedido, indica exatamente isso. Se o professor não tenta fazer terapia no aluno quando este busca uma escrita mais "escolar", o conceito de adequação não exige séculos de práticas pedagógicas "inovadoras", uso de tecnologias nem super-atividades fora da escola (não criticando saídas da sala de aula) para ser "ensinado", só dois dedos de prosa na hora certa. Ele está ali caindo de maduro na prática. 

A terapia é sim necessária, mas em alguns casos de baixa auto-estima bem mais complicada que "as pessoas dizem que eu falo errado". Afinal, todo mundo acredita que dá mais bola para como fala do que realmente dá. Quem não valoriza o próprio uso da língua não está (simplesmente) traumatizado pela escola. O problema é mais embaixo. Ao mesmo tempo, não é que o sujeito tenha se tornado um tapado e não consiga, numa conversa, entender aquilo de que necessariamente já tem a intuição: as pessoas escrevem e falam de forma diferente em contextos diferentes: dã! Trazer a adequação como novidade é justamente desrespeitar a inteligência do aluno para "respeitar" a "classe social" do mesmo, generalizando a terapia profunda de que poucos realmente necessitam.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sangue, gordura e farelo

Ontem fomos a Vila Segredo, cidade pouco fácil de achar (!): mais pra cima que cidades conhecidas da serra, vira-se para as cidades mais pacatas, depois passa-se literalmente pelo alto de morros, por uma linda ponte sobre um desfiladeiro que leva os suicidas a um rio portentoso, e depois basta pegar uma estrada precária. Deve-se dirigir com toda a calma, para não se assustar o marasmo das cidades por que se passa, e então seguir por um bom tempo. Não é no fim do mundo, porque, como sempre, existe coisa mais adiante. É por esse "mais adiante", aliás, que nunca encontramos o fim do mundo, e é assim que, se vamos sempre, voltamos ao ponto de que partimos, a forma didática da Terra de mostrar que ela é um globo.

A praça central (ou "a vila", dá no mesmo) é uma mão na roda para linhas políticas pouco apreciadas, mas muito simpática. A igreja é linda e totalmente voltada à comunidade (já que esta é tudo no local). O povo todo se conhece e, por mais simpático que seja, não confia muita prosa a recém chegados, mesmo que estivéssemos lá a convite. Talvez relacionado a isso, nada mais raro por lá que linha de telefone. Sinal de celular, então... 

Minha namorada, já conhecedora da região, apontou bem ao dizer que a música da festa local é uma versão light da variante tradicional alemã do interior gaúcho. Os italianos como que suavizaram a batida. A comida é perfeita: espeto corrido, galeto, salada de batata, vinho, refri, pão e sopa (não nessa ordem). A sopa estava boa e o pão proveitoso, ainda que se esfarelando. A carne estava um pouco gorda, mas estes dias de saniterrorismo gastronômico afetaram o cardápio até mesmo de Vila Segredo. Alguns animais espetados não pareciam bem mortos, considerando-se a sangueira de certos pedaços, mas, novamente, as preocupações sanitárias de nosso mundo foram nitidamente atendidas na seleção da carne.

A viagem vale a pena. Bom, o lugar não se chama Segredo à toa, então ela nem sempre vale a pena. Mas, enfim, ver paisagens raras e bonitas, ficar longe de nossa má-afamada civilização por um dia e comer (de graça) os justificados clichês da culinária gaúcha... Viva Segredo!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O marketing de Porto Alegre, um cidade com porto, alegre, cheia de habitantes e de casas onde os mesmos vivem

"O centro histórico de Porto Alegre é rico em belezas clássicas e históricas e guarda traços importantes que marcaram o desenvolvimento da cidade."

Uau! Quantas outras cidades têm belezas históricas e estilo clássico em seus centros históricos. Com certeza nenhuma, afinal só em Porto Alegre podem existir traços que não são marcas do desenvolvimento, mas que, pelo contrário, o marcaram. E depois dizem que nossa noção de causa e consequência é instintiva, não dependendo do raciocínio para existir...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lula (e Dilma) para os ricos de berço

Não me pretendo isento, mas, para que o internauta não leia este texto numa perspectiva completamente equivocada, devo dizer de início que não pretendo votar no Serra.

Li há poucos dias a entrevista de Hildegard Angel, que é apresentada geralmente como colunista social de O Globo e filha de Zuzu Angel, grande destaque de seu currículo, irmã, portanto, de um guerrilheiro (torturado e morto pelos militares). Ela está abertamente apoiando Dilma há algum tempo, e marca certas opiniões que ajudam um grupo social (ainda auto-percebidos como aristocratas) a votar ou pensar em votar em Dilma (se ela consegue isso ou não, é outra história, mas a tentativa aqui é o que interessa).

A parte de "filha da Zuzu Angel e irmã de guerrilheiro" parece ajudar que ela vá com a cara da Dilma, preferindo alguém que chegou ao extremo da resistência para combater a ditadura à parte da sociedade que ainda convive e aceita grande parte dos crimes cometidos no período pelos próprios militares. Mas não se trata apenas dessa questão. Ela atribui determinadas características a Lula e Dilma que os destacam da figura menos valorosa de Serra, bem como apresenta a elite brasileira (no sentido mais extremo do termo, ou seja, em que ter grau universitário e mais de um computador em casa representaria apenas uma certa parte da classe média mesmo) sendo rígida em seus preconceitos.

Agora, a categorização desses lados (elite vs. Lula) é muito curiosa. Ela diz, por exemplo, que a elite tem seus valores, seus princípios e acha muito difícil abrir mão de suas convicções. Ora, sem se caracterizar tais princípios, o que ela não faz nunca, não sabemos se isso afinal é bom ou ruim. Que um grupo ou pessoa tenha valores e defenda seus princípios é, em geral, muito louvável, e as "classes inferiores" fazem exatamente o mesmo, apenas sem expressá-los em eufemismos ou sublimações. Depois ela diz que é a elite não produtiva que tem preconceito com o Lula, mas ainda não define que valores eles defendem (mas, sim, supomos o pior). Ao mesmo tempo, diz que quem era da diplomacia brasileira e não está no atual governo não gosta do presidente também porque ele nega a erudição que caracterizava o Itamaraty. Isso pode vir até numa forma bem preconceituosa, mas também pode não ser o caso. A "negação da erudição" no governo Lula vai além de meramente derrubar uma retórica antiquada: sua retórica, pelo menos nos últimos 20 anos, baseia-se no direito divino de baratear qualquer discussão, qualquer debate político, e seus miquinhos amestrados são ainda piores que ele próprio.

Mas a definição mais estranha, para mim, vem na comparação de Lula e Serra. Este é o self-made man que aprendeu os códigos da elite, conquistando pelo estudo e pelo trabalho a linguagem de quem estava em cima, convertendo-se é claro, por esse processo, um tanto nesses de cima, introjetando sua visão de mundo e ideais. Trata-se portanto de alguém que não evoca a imagem de emergente, como Lula, não sofrendo, por isso, os mesmos preconceitos reservados ao presidente. Este não perdeu a penetração popular porque, em vez de se converter "pelo estudo, pela convivência com pessoas intelectualmente superiores",  não fez isso, mas "foi abrindo caminho na base da cotovelada". Pela escolha de palavras, vê-se que H. Angel também fala bem o dialeto de elite, além de nunca ter pego um ônibus, caso contrário repensaria alguém dar cotoveladas como caracterização de comportamento positivo e digno de ser apoiado. Não é só um trauma com o amassa-amassa que universitários e professores estão submetidos no dia-a-dia do transporte público, parece-me extremamente perigoso um político que leva essa lógica para o governo de um país. No entanto isso foi se manter "fiel à sua raça", conforme a colunista.

Enfim, foi a valorização mais bizarra que eu já li de Lula (Dilma entrou como alguém que sofria preconceito por empréstimo, bem como agora ganha votos por empréstimo), ainda que eu obviamente não fosse o leitor (ou ouvinte) que ela tivesse em mente. Percebo bem como sua fala pode ser atraente à elite, porém: essa caracterização detestável de alguém grosseiro, ignorante e desinteressado de discutir os valores que informam outros grupos (desconsiderando-os simplesmente, conforme Angel) fariam com que eu o desconsiderasse absolutamente para governar o Brasil, ou para apontar quem é o melhor candidato. Logo, deve ser perfeito para os (pelo jeito) superiores a mim.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cultura da brincadeira

Tchau, Revolução Farroupilha! Venha, Dia das Crianças!

Poucos dias para o pessoal tirar a fantasia, parar de fingir sotaque interiorano e comprar logo os presentes para as... crianças.

domingo, 19 de setembro de 2010

Lembrai do ceticismo

Muito já foi dito sobre a importância do esquecimento para a vida, desde o fato de que lembrar de absolutamente todas as informações que assaltam nossos sentidos exigiria um processamento que impossibilitaria todo trabalho de interpretação e imaginação, até a valorização dos momentos de relaxamento como o contra-ponto necessário dos momentos (igualmente saudáveis, se nesse equilíbrio) de stress. No entanto, não costumo ver muita gente levar isso à sociedade e lembrar que, sem o esquecimento, quase nenhuma instituição funcionaria. Em primeiro lugar, nossas experiências ruins rapidamente reduziriam a zero nossa procura por soluções políticas, por médicos ou por serviços de manutenção doméstica como consertos e instalções em geral. A Microsoft teria falido na década de 1980, mas a Apple também não teria resistido a julgamento tão exigente. 

Não é apenas que relativizamos nossas experiências (não há relativismo que justifique a fé política, por mais fraca que seja), nem que o trauma ou a necessidade presentes são mais significativas que experiências passadas e argumentativamente um tanto aleatórias, portanto evitáveis (nem que seja por sorte). Mesmo porque nossa capacidade de esquecer a compreensão que adquirimos em determinado momento da vida sobre a miséria e o desespero de talvez bilhões de pessoas no mundo, ou de centenas de milhares de bilhões ao longo da história, é o que permite que vivamos toda a burocracia que é o dia-a-dia, e que fiquemos às vezes felicíssimos porque vamos comer a torta tal enquanto sabemos (e já nos sentimos muito mal com isso) que naquele exato momento pessoas estão literalmente morrendo de fome, e que quando terminarmos a nossa linda e perfeita torta sabe-se lá quantos bebês de colo terão morrido sem provar o leite materno.

Não deveria nos surpreender, portanto, quando testemunhamos mais uma vez palavras serem citadas entre aspas nas maiores mídias, ainda que estejam completamente falseadas, ainda que literalmente não tenham sido ditas. Não deveria ter o sabor de melancólica novidade observarmos jornalistas (que talvez por isso não sejam mais exigidos de ter diploma) tratarem a vida de acordo com o tamanho que cada assunto recebe no jornal, ou da intenção de vendas de sua empresa. Afinal, se uma matéria vai ocupar apenas meia página, ela obviamente não é relevante para ninguém, nem mesmo para quem aquela matéria afeta, ou para quem vive daquele assunto mesmo, para quem depende e se importa com as coisas do mundo que, às vezes, aparecem na mídia, sem fazer o mesmo raciocínio do dono do jornal, que intuitavamente acha que as coisas, na verdade, existem porque estão na folha, e interessam apenas no campo da imprensa, algo diferente e deslocado do mundo. Pelo contrário, o importante do mundo é que ele é o suporte em que vivem pessoas que compram, ou não, o jornal do sujeito.

Talvez acadêmicos e professores de português levem as aspas muito a sério. Talvez sejamos exageradamente literais ao entender que as palavras citadas são a reprodução o mais fidedigna possível do que foi dito ou escrito por aquele que citamos. É óbvio que a previsão de vendas do jornal (feita sem método e cheia de considerações, digamos, pouco científicas e desinteressadas) é muito mais relevante que meras convenções sociais (como o que se entende por citação), ou que as vidas e profissões daqueles que são citados, referidos ou "consultados". E pensar que essa gente é a película que media todos os habitantes do mundo a uma série de conhecimentos cruciais como a política, sem contar, é óbvio, todas as informações que correm o mundo e que utilizamos para fazer uma infinidade de julgamentos sobre o cotidiano, a vida, o futuro e tantas de nossas decisões.

Mas chega, termino por aqui o post: é hora de esquecer de novo.

sábado, 18 de setembro de 2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um Não só presta quando indica um Sim

"In order to reject religious faith an atheist, I suppose, must first grasp a little something of what it entails, what he or she is rejecting. (...) To be an anti-filosopher - like Kierkegard, Nietzsche, Adorno, Freud, Wittgenstein, Derrida - you have to reject the orthodox filosophical product of your time for filosophically interesting reasons."

Terry Eagleton, em palestra à Edinburgh University, em março de 2010.

Acredito que assim funcione toda revolta e toda revolução. Essas palavras foram usadas para referir atos de contrariedade e, geralmente, de extrema violência contra uma determinada ordem, mas a derrota de muitas delas, particularmente das recentes (séculos XIX e XX), ou mesmo a simples não chegada de mudanças radicais mágicas, como o fim do mundo no novo milênio ou a Era de Aquário, motivou mais e mais que as pessoas dessem total ênfase ao ato de contrariar ou de queimar e destruir como os sentidos plenos de "revolta" e "revolução", sem que se indicasse que as grandes revoltas, vencedoras ou perdedoras, não promoviam o caos, mas uma nova ordem. Como já a mitologia nos indica: Zeus liderou uma revolta contra um mundo regrado de forma que não o satisfazia e, ganhando, instaurou a ordem do mundo grego, as regras que fundamentavam o cosmos agora que ele mandava e não seu pai, destronado.

O anarquismo, não em sua forma "fumar no campus, deitar na grama, calçar sandalhas e falar mal de burguês", propõe mesmo que uma ordem seja derrubada quando ela promove um abuso injusto, contrário à dignidade de outro ser humano. Os anarquistas (pelo menos os que pensam logicamente) não pregam que uma mãe não deva puxar o braço de seu filho se isso vai impedi-lo de ser atropelado, porque nesse caso a imposição da vontade da mãe sobre a da criança tem fundamentos morais. Seria diferente se a mesma mãe puxasse o braço do filho para impedir que ele fuja de um castigo abusivo e injusto. A quebra da ordem não é um bem em si. Ela pode sê-lo se propõe algo melhor que a mesma ordem.

A Revolução Farroupilha, sendo comemorada ao longo deste mês no Rio Grande do Sul, especialmente do dia 7 ao dia 20 (que marcou o início da revolta), serve em geral para destacar a rebeldia e a coragem (em certos casos) de pessoas que arriscaram ou perderam suas vidas para contrariar um determinado status quo político, mas pouco se fala sobre suas propostas, ou mesmo sobre o fato de que se tinha propostas. Claro, pode-se apelar para a discussão separatista, mas esse exagero também é, em si, uma promoção de uma nova ordem (nunca explicada), além de não contar a história toda. Aprendemos nomes, músicas e vestimentas, ouvimos muito falar de folclore da época (ou construído como da época), mas o governo e as relações econômicas que agradariam aos Farrapos, a NOVA ORDEM que eles pretendiam implantar é absolutamente ignorada pelos gaúchos. Expresões como "pilchado" ou "de mala e cuia" indicam bem que é muito mais a aparência de gaúcho que interessa à auto-imagem do RS que o conteúdo e os motivos da revolta. O que aprendemos na escola, na TV e na família sobre a Revolução Farroupilha é tão superficial quanto bota, bombacha, chimarrão... A aula de História a respeito geralmente fica na escola, junto da análise de orações completivas nominais.

No entanto me parece que é exatamente desse tipo de informação que precisamos. Graças a uma série de coisas que não precisam ser citadas, atualmente ser do contra, ser revoltado, ser desrespeitoso são posturas esteticamente atraentes, ou mesmo "justas" (quando, por exemplo, qualquer crítica a um brasileiro no exterior seria xenofobia da estranja, mesmo que o brasileiro em questão seja um criminoso condenado - ou qualquer outro tipo de confusão entre julgamento e pré-julgamento).

Depois de tanto esforço para se transformar fatos históricos em uma unidade simbólica definidora de identidade cultural, parece-me que faria sentido aproveitar essa fantasia toda para destacar pelo menos uma lição que seria importante para os dias de hoje: a de que esses atos de revolta propunham (mesmo que implicitamente) algo relevante para o mundo que pretendiam mudar. Foi esse contexto (e muita propaganda) que tornou tais atos dignos de serem lembrados. Revolução é mudança, mas isso significa tanto a quebra de uma situação quanto a chegada a algum novo lugar. Ela é, portanto, a ida da ordem ao vácuo; não é o não pelo não; não é a violência pela violência nem pela estética; não é, por exemplo, os esfaqueamentos ou tiroteios que o Acampamento Farroupilha conhece a cada ano. Quando ser gaúcho é ser violento, ser rapper é ser violento, ser aluno é ser violento, ser anarquista é ser violento... tem alguma coisa faltando.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Yeda em Gotham City

"Sua mente é um livro aberto para ela" - assim vendia-se profissionalmente uma vilã de Gotham City (Zatara) que, para se passar por contribuinte honesta, fazia shows de mágica. Ela vinha de uma forte linhagem de magos, e seu pai era o vilão que foi recauchutado criando-se uma filha para figurar nas histórias. O mesmo slogan poderia usar o sargento preso por espionar quase toda a população de POA, que comentei em 7 de setembro (capa dos jornais naquele dia).

O cara espionou a torto e a direito, incluindo uma criança de 8 anos, filha de um promotor de caso contra membros do nosso governo do estado. Adão Paiani (DEM) - que, após ser demitido em março do ano passado, tem tentado atazanar a Yeda de todos os jeitos - entregou à OAB provas pesadíssimas de que a governadora teria encontrado um aparato ilegal de espionagem pronto no Palácio do Piratini e, obviamente, aperfeiçuou-o, em vez de fechar tudo e processar os culpados. A Casa Militar tem toda a cara de saber tudo a respeito, sendo cúmplice direta e, na verdade, quem efetivamente fazia a espionagem. O sargento preso, de quem temo colocar  o nome aqui (vai saber se ele não persegue blogueiros também), era figura central no esquema, ou seja, quem acessou primeiramente a maioria das informações. É claro que tudo isso está em andamento e é muito provável que os principais da Casa Militar e do governo sejam inocentados por aquelas legalidades que não convencem ninguém, apesar dos esforços do Paiani.

Bem, eu contei tudo isso para destacar duas coisas. O fato de terem encontrado um aparato ilegal pronto e melhorado reforça o senso comum de que partidos de direita roubam melhor que os outros. Eu não acho que seja possível fazer ranking desse tipo de coisa, e provavelmente a esquerda e a direita têm seus próprios métodos, ambos com vantagens e desvantagens, mas que isso reforça o que costumo ouvir muito em ônibus (não apenas em tempos de eleição), reforça. Por outro lado, quem esteve por último no governo do estado? Não foi um governo de esquerda. Quem teria o aparato pronto, mas mais incompetente, seriam necessariamente os do PMDB, nosso governador era Germano Rigotto, atualmente concorrendo a senador. Hmmmm...

Mas comecei com o slogan da Zatara, e o pretendi como ameaça ao leitor. Por quê? Porque a outra coisa que queria destacar é que esse sargento foi solto hoje (aquelas liberdades provisórias, permissivas e perigosas).

Mãe de Deus e a tortura dos enfermos.

Duas horas de espera na emergência do Hospital Mãe de Deus (tempo de espera "pequeno", para o padrão do hospital) - mesmo com convênio. Testes e demora muito maior (quatro horas de função, boa parte das quais suportando a tortura dos sintomas - muita dor), diagnóstico: "ah, deve ter sido..."

Quando Cameron disse, no House, que diagnosticar é mais uma arte que uma ciência, ela não estava apenas se esquivando de apresentar à sua paciente que esta era terminal, ela estava dizendo a grande verdade expressa por médicos sempre que os procuramos com algo que seja menos que um câncer e mais que uma gripe. A incapacidade dos médicos de saber o que aconteceu com o paciente se seu problema não é ou muito grave, ou muito leve (ou seja, se não é algo que poderia ser diagnosticado por qualquer um - "tá vendo aquele tumor ali? É um tumor!"; "Ah, isso é gripe") não para de me impressionar. Não que isso afete planos de saúde, planejamento dos hospitais, atendimento dos doentes e parentes, preocupação do Estado com a saúde, hipocrisia da propaganda política (de todos os candidatos)... Definitivamente profissionalismo tem uma definição diferente, bem específica, para cada profissão.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Políticos são confiáveis (só não muito sigilosos...)

Quebra de sigilo seria assunto pedestre não fossem as eleições. Não estou querendo diminuir os recentes ocorridos, estou apenas lamentando o quadro maior desses acontecimentos. Já foram acessadas informações sigilosas de Serra, FHC, Lula, além de, é bem possível, as minhas e as tuas, eventual leitor. A própria filha do Serra foi acusada, em 2001, de disponibilizar, ilegal e publicamente, os dados confidenciais de dezenas de milhões de brasileiros (afora ser responsabilizada por licitações ilegais e suborno, pelo que seu irmão apenas foi efetivamente condenado). A Receita Federal, na atual investigação, considerar a quebra de sigilo dos tucanos como uma ocorrência de "crime comum" quer dizer exatamente isto: "Ah, acontece todo dia, uma hora ia acontecer com os amigos do Serra". Esse "acontece todo dia", porém, não se restringe nem ao governo do Lula nem meramente ao século XXI. E a universidade ainda me enche o saco há anos para mudar de senha sempre, "para a minha segurança"...

Enfim, seja porque iam desencavar o que não deviam, seja porque não deu resultado, o Serra parece ter diminuído rápido o seu discurso ultrajado a respeito do "abuso" feito com sua filha. Como será que alguém tão revoltado moralmente pode se acalmar assim, apenas porque um escândalo não lhe trouxe votos significativos? Enfim, o caráter superior de um político, sem dúvida! O que me interessa mesmo comentar é a explicação dessa refreada pelo "desinteresse do público brasileiro por táticas eleitorais de ataque".

Estranho! Desacreditar o adversário foi moeda corrente de retórica política desde antes de a política ter nome... Seremos comprovadamente o país do futuro, resistentes contra uma estratégia que funciona em todos os nossos bares, em todas as nossas escolas, em todas as casas e em todos os programas de televisão?! Bom, eu realmente não curto muito esse tipo de coisa, mas simplesmente porque não confio em nenhum dos lados. Não parece que, nisso, eu seja muito diferente de meus conterrâneos. Lembro sempre de uma turma de alunos adultos para quem propus um debate sobre preconceito (ok, eu não tive essa ideia "genial", mas tive de levar adiante, e levei do meu jeito...). Em determinado momento, quando a discussão parecia que ia morrer, eu joguei um problema: "Todo político é ladrão?" Notório "Sim!" "E isso é preconceito?" Violento "Não!" O papo avançou por todos os lados, mas sempre caiu na certeza absoluta de que todo santo político profissional é ladrão. E esse termo, claro, é mais amplo que o Atlântico quando aplicado a políticos. Parece-me que o problema de Serra não é ter feito algo de que os brasileiros não gostam". Sua campanha está é cega, e latiu, por pelo menos uma semana, para um poste. Ora, existem pessoas que veem problemas morais e legais graves na quebra de sigilo bancário de alguém? É claro que sim! Mas estes representam quantos por cento do eleitorado?

Aqueles que consideram que a notícia, mesmo que fosse ligada à campanha de Dilma (o que AINDA não fizeram), não seria novidade alguma, porque "político é tudo ladrão", simplesmente não acham que essas acusações mereçam uma repensada no próprio voto. Mais que isso, existe muita gente, pode parecer estranho para alguns, que realmente gosta do governo do Lula, e que simplesmente não se abalaria com alguma corrupção ("político é tudo ladrão"). Além do mais, grande parte das noções de intimidade, segurança e sigilo que podem ser evocadas (como o carinha do programa do Serra, "é como se alguém entrasse na sua casa, vasculhasse suas coisas...") de fato não são entendidas por uma enormidade de brasileiros como aquele ator do programa eleitoral os entende. Um número bastante assustador de brasileiros ri se confrontado com palavras como "dignidade", e olha que eu estou falando por experiência num estado considerado rico no Brasil. A lógica de quem recebe duas ou mais bolsas do governo é outra, não só por causa das bolsas, mas por todas as experiências de vida que o tornam elegíveis a tais bolsas. E se alguns desses programas foram criados, de alguma forma, pela atual oposição, que importa? Não importa nem ter sido o Lula ou não quem ampliou esses programas, ou quem aumentou seu número. O que importa é que sua imagem está associada (mesmo para o eleitorado de diferentes classes) a todos esses benefícios e a tantos outros programas, bem como a incentivos (bons ou ruins) ao ensino e a concursos em diversas áreas.

Capas e capas sobre políticos corruptos (PT, PP, DEM, PSDB, PMDB, PV, PSol, PQP...) têm o mesmo efeito sobre o grosso do público, aparentemente, que outras tantas capas sobre traficantes violentos. Que eles são criminosos, está todo mundo sabendo há décadas. What else is new?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Presa no laboratório

"Parece que o texto original envelhece menos, né? Ou de forma diferente... Ninguém vai dizer, sei lá, vamos pegar um cânone nosso, aqui, ninguém vai dizer que Machado está velho."

Vejam o que é uma pessoa estar isolada na Academia!

domingo, 12 de setembro de 2010

Obama vs. States, um questão de geografia

Os recentes acontecimentos, com manifestações e mortes, resultantes da proclamação feita por um pastor americano de que ele queimaria uma cópia no Corão para expressar o luto pelo World Trade Center, bem como as tentativas de Obama de argumentar que ele e qualquer outro americano se abstivesse de manifestações semelhantes, me fazem pensar que o problema entre os americanos e seu novo presidente nasce de Barack entender que os EUA existem num mundo e tanto do povo aparentemente ignorar o que diabos existe no mapa para além das fronteiras nacionais. É muito diferente discutir preceitos e conceitos quando se acrescenta a eles um contexto. E Obama, como um bom presidente (raros de  fato captam tal ideia), parece saber pelo menos essa diferença.

Neo-cristianismo didático

- Minha irmã viu um esquema: quando tem alguém te incomodando, a gente deve dizer "Eu aceito isso, e meu coração continua aberto".

- Ah, mas eu tô bem nessas: "Eu não aceito isso e meu coração continua fechado". Ora, o cara que deu a outra face já tá morto há dois mil anos, né?

sábado, 11 de setembro de 2010

Nós, os gaúchos

Alunos assistiam a um grupo de outra escola cantando nosso hino (RS) e acompanhavam, em maioria, com tranquilidade e naturalidade.

Orientadora educacional e professora de matemática comentavam a cena:

- Por mim, todos os alunos seriam obrigados a saber o hino.

- Ah, sim! ... O nosso, né? O do Brasil não é tão importante.

Dominando o clima

Não importa se se adianta a comemoração ou não, nada atrai mais a chuva que uma festa farroupilha.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As mil faces do trabalho

Estava eu trabalhando em turno inverso na escola para lidar com burocracia. Fiquei sozinho na sala dos professores (tinha até outra professora lá, mas ela estava com a preguiça do almoço e não abria a boca por nada no mundo), e a chatice rendia bem. Num determinado momento, a dorminhoca que estava ali sentada foi para a porta e, saindo, cumprimentou duas pessoas que responderam com voz ostensivamente educada. Os dois entraram. Eram PMs. Deram um solene "Boa tarde" para mim e já se serviram do café. Começaram a conversar... sobre trabalho. Malharam a Brigada Militar tudo que puderam. Ou melhor, malhOU, porque eram aquela dupla clássica em que um chato não para de falar nunca enquanto o outro mantém apenas a expressão facial afirmativa para que o primeiro possa fingir que ambos contribuem para formar um "diálogo". Falou, falou, falou sobre emprego, produtividade, posturas de empresas, problemas administrativos, e em nenhum momento suspeitou que aquele professor cercado de folhas e checando documentos de todos os lados para canetear este e fechar aquele estivesse TRABALHANDO.

Enfim, depois de semi-atrapalhar (por algum motivo, consegui manter a concentração mínima necessária) meu trabalho falando sobre qualidade de trabalho, foi convidado pelo amigo para que fossem embora. Não resisti, então, a contabilizar o que eles tinham feito ali: entrado na sala dos professores, tomado café, comido bolachas e ido embora. Não tinham feito nem uma social com a diretora, nada. Não passa uma enorme sensação de segurança saber que os dois policiais na área vêm apenas fazer um lanche num estabelecimento público (muito cuidado no sentido desse "público") e vão embora sem mais? E ainda me disseram depois que é um comportamento típico em qualquer escola pública. Eu nunca tinha visto. Sorte?

Contrato Social

- Ah! Se querem uma resposta, é sempre porque tá no texto. É só copiar. Se o Sr. quer que a gente pense pra responder, precisa avisar antes!

É, eu sei...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mensagem pra você

Um dos piores slogans políticos que vi recentemente (tirando os Tiriricas da vida) é "Agora é federal".

Isso não alude às mil expressões que utilizam ou deixam implícitos os termos "merda federal"? Além disso, em outra leitura, o slogan parece querer dizer: "Na última vez em que nos encontramos eu queria teu voto para ganhar um cargo estadual, lembra? Já faz tempo, e não nos falamos mais. Provavelmente tenhas esquecido porque eu passei na minha, sem fazer nada que diretamente te afetasse, mas agora voltei para te pedir mais uma vez o teu voto. Quero mais poder, desta vez, e preciso da tua ajuda, beleza? (n.b.: não é o slogan da Manuela)".

O inferno são os outros

"Devia haver no inferno o círculo social, aparentemente o mais suportável de todos, mas só na aparência. Homens e mulheres com roupas de festa, andando de um lado para outro, falando, andando, falando, exaustos e sem poder descansar numa cadeira, bêbados de sono e sem poder dormir, os olhos abertos, a boca aberta, sorrindo, sorrindo, sorrindo... O círculo dos superficiais, dos tolos engravatados, embotinados, condenados a ouvir e a dizer besteiras por toda a eternidade"

A Chave - Lygia Fagundes Telles

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Prostituição, cultura e cia.

Tinha eu hoje de visitar uma série de editoras, e não foi exatamente com surpresa que descobri a localização delas na mais famosa área de prostituição da cidade. Enfim, lá fui eu, o que valeu não apenas conseguir efetivamente o que procurava estritamente para a escola, mas também uma série de observações culturais curiosas. Por exemplo, havia uma academia chamada "Vício" e uma loja de produtos para malhação e dietas chamada "Cultura". Legal: enquanto um goza anti-moralisticamente os prazeres do corpo, o outro prefere a publicidade mais positiva, num jogo curioso por estar a placa com o nome da loja em cima de uma photoshopada Juliana Paes. E o Motel "Refúgio" perdeu seu "i", para as intempéries ou para um corretor de textos compulsivo e muito cristão. Seguindo-se um pouco além, ainda na zona, encontram-se dois enormes comitês de campanha de nossos atuais prefeito e governadora, seguidos, é claro, pelas profissionais de balançar bandeirinha na esquina, ali inevitavelmente aludindo às bolsas usualmente balançadas na região.

Por fim, voltando pare o centro, passei por uma loja que já me atentou para um post no passado, mas que apenas agora chega à publicação. Todas as fotos da parede externa da loja têm prostitutas como modelos. As fotos são tão didaticamente explícitas indicando a profissão daquelas mulheres que eu fico com vontade de descobrir quem é o fotógrafo e convidá-lo para realizar uma formação continuada de professores. Mas não é isso que se destaca ali. O que é impressionante na loja, especialmente considerando-se que algo assim não poderia estar aberto, muito menos bem no CENTRO (ou seja, sem desculpas para que políticos profissionais o ignorem) é que, entre os manequins de roupas para prostíbulos (ou para mulheres numa fase "aquecer a relação"), está o manequim de uma criança.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Independência, separatismo e corrupção

Foi um feriadão de muito material, mas nenhuma conexão na internet. As frases preciosas pululam quando não temos contato com nosso blog, voltado a questões bizarras ou engraçadas de linguagem (recapitulação para quem já esqueceu de que este blog deveria tratar...). Eu fico, enfim, com uma capa de jornal e um fato. O fato é simples: desde o colégio um feriadão significava mais trabalho, nunca descanso. Finalmente estou com os afazeres organizados de tal forma que tive meu primeiro feriado clássico em mais de uma década. Claro que passei os dois últimos dias carregando peso e com o nariz cercado pelo pó, mas isso é outra história.

Bem, a primeira página de jornal em questão é a capa do Correio do Povo de hoje. Genial! Edição de 7 de setembro, toda voltada para o exército e marcada pela comemoração da Independência (com a cerimônia clássica na Redenção, chamada oficialmente de Parque Farroupilha!). Há na capa matéria sobre a abertura do Acampamento Farroupilha, sobre uma peça de avião que caiu em Cachoeirinha, e a manchete estampa o caso de um sargento que andou invadindo os dados de todo mundo em Porto Alegre, seja o sujeito de esquerda ou de direita, notável ou imperceptível. Atrás de todas essas contradições e dessa comemoração  nacionalista e militar marcada por uma denúncia contra um sargento, uma tarja verde-amarela suavizada cruzava o fundo da folha. Adorei. Não pude tirar foto, sinto, mas fica aqui o registro desse acontecimento da semiótica, uma primeira página com tantas antíteses que era quase um poema.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pequenos empreendimentos, Grandes decisões

Três pessoas carregando coisas pesadas, procurando onde colocá-las.

- Põe ali em cima daquela caixa em que diz "Louça!"

sábado, 4 de setembro de 2010

Direita Volver!

Eu descobri há umas poucas semanas que tenho um parente no Democratas. Tudo por coisas de orkut. Entrei no site para ver se estava me esquecendo de algum aniversário importante, vi uma foto estranha do cara e resolvi clicar para entender. Eis que a foto me indicou a suspeita política e voltei para o álbum de que ela fazia parte. E lá estavam todos os indícios de se precisaria. Comecei então a explorar o orkut dele, pela simples surpresa (não só pelo DEM, o fato de um parente daquele lado ser filiado a qualquer partido já era bastante bizarro): o cara trabalha no partido, em Brasília.

Minha total ignorância do fato vinha de ele ser um parente com quem quase perdi contato, apesar de ser muito próximo até mais ou menos o meio da adolescência. O pessoal da minha geração cresceu aprendendo com uns parentes um tanto distantes e um pouco mais velhos todas aquelas bases sociais que pais e avós não ensinam e que não se aprendem com amigos já que... bem... eles têm a nossa idade e são tão ignorantes quanto nós a esses respeitos. Depois, nosso contato se reduziu a encontros acidentais em algumas praias.

Ainda que tenhamos perdido contato, o Democratas soava estranho demais. Minha família, até onde sinto, puxa para o outro lado, não que aquele lado da família não me pareça um pouco mais direitista que minha outra ascendência, mas enfim... O que mais me atraiu na questão, bem como a estes com quem comentei, é que vivo nessa de professor, fico insistindo em alunos pobres e publico no blog uma bússola política que me indica de esquerda-libertária em vez de estar pegando cargo! Como é que eu fico deixando aparentar esse meu pé que me puxa para a esquerda quando tenho um parente no DEM! Bem que um amigo me dizia que eu não tenho espírito empreendedor quando o assunto é minha carreira...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Progresso

- Ah, eu fiquei chocada! Imagina, em 2010, um homem querendo se prevalecer comigo por força física!

- Mas é lógico. "A Guerra do Fogo", minha filha!

- É, mas pra mim já inventaram a pólvora.

- E é por isso que tem gente que anda armada!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Meninos, eu vi!

Eu li a dissertação gerada pelo complexo de Édipo. Eu não posso citar nada, já que ela é toda fundamental para que se entenda o quanto o guri expressou o complexo, e publicá-la inteira seria com certeza uma invasão de privacidade terrível, mas eu juro: é o complexo de Édipo como não se acreditaria. Posso apenas indicar que o nome do "personagem" (mas não do aluno, não se preocupem) é Dênis, e o autor tem uma grafia bastante ambígua da letra "D" nos momentos climáticos.

Em busca da retórica

A fuga da realidade é muitas vezes uma demonstração de ignorância, não? Um aluno que sai da escola, um desconsolado que foge para as drogas, um depressivo que foge da vida são, em geral, pessoas que simplesmente perderam tanto a perspectiva que conseguem não temer o desconhecido, ou melhor, não enxergar que aquele nada logo à frente É o desconhecido. Elas vão, ainda assim, para o DESconhecido. 

A maioria das pessoas que foge não entende, de alguma forma, que sua vida PODIA ser pior, que provavelmente será pior, e que haverá muito menos que ela poderá fazer para mudar essa qualidade assim que efetivar a fuga. Existem exceções, creio, mas a regra é que não possamos fazer aquela pessoa (que, por definição, não sabe) saber o quanto a vida pode ser terrível, ainda que saibamos disso por experiência direta. Talvez em raras outras situações a impossibilidade de passar conhecimento de uma cabeça a outra seja mais trágica. De fato, quanto menos essa passagem se dá entre a pessoa que tenta avisar e o avisado, menos este escuta aquela. E, como a telepatia não acontece, a chave é se encontrar, a tempo, a retórica que alcançará o efeito que deveria, num mundo telepata, ser atingido pelo ensino literal, pelo transmimento de pensação efetivo. Encontremos, portanto, a retórica certa, antes que seja tarde.