segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dia de uma certa filosofia houseana

"For all our rationality, our supposed trust and fealty to a higher power, our ability to create a system of rules and laws; our baser drives are more powerful than any of that. We want to control our emotions, but we can't. If we're happy, things don't annoy us. If, on the other hand, we're sitting on crappy hold cards, little tiny things annoy us a whole lot more."

Hablando de passagem

"O cinema deve completar a realidade, porque é mais importante que ela."
- Almodóvar, em entrevista motivada por seu novo filme.

domingo, 29 de novembro de 2009

Alguém tem de se dar o trabalho

Hahaha! Twitter de um espião! Adorei.

Tirai o vosso da reta

Depois de uma semana e pouco de negociações, no dia em que deveriam cumprir o aceite de meu convite:

Representante de Associação - Oi! A gente pode aparecer hoje, mas, como respondemos à Secretaria X, preciso de um documento dizendo quem está convidando.
Prof s/ Poder Administrativo - Documento?
R.A. - É, um registro que eu possa apresentar, caso peçam, entende? Não é uma exigência minha, é que podem querer que apresente, porque, afinal, respondemos a eles...
P. s/ p.A. - Hm. Eu não acho que eu possa emitir isso. Melhor dizendo: eu posso, mas acho que depois podem complicar comigo. Espera um pouco.

(Ligação para a chefia)

P. s/ p.A. - Oi. Eu sou Fulano de Tal, com Tal função, e convidei o Ciclano para ir lá falar com a gente sobre isso e isso. Mas eles respondem à Secretaria X e, por isso, querem saber se podemos emitir um documento assim e assado, um registro do convite para que façam a visita.
Secretária do Secretário da Secretaria Y - Como assim?
P. s/ p.A. - Assim (repito)
S.S.S.Y. - Ah! Sim, podemos. Pra quem é? O que ele é? De onde ele é?
P. s/ p.A. - (Respostas respectivas)

P. s/ p.A. - Oi, Ciclano! É o Fulano, de Tal Coisa!
R.A. - Oi, Fulano, tudo bem?
P. s/ p.A. - Tudo. Seguinte: posso te conseguir aquele documento.
R.A. - Ah, ok. Vai me mandar por e-mail?
P. s/ p.A. - Não, eu vou passar lá hoje, aí pego e te entrego hoje mesmo, em mãos.
R.A. - Ah, ok. Certo. Tudo bem, então. Até.
P. s/ p.A. - Até de noite!

(Final de tarde - quartel general do chefe)
S.S.S.Y. - Escuta, aquela visita, é de graça?
P. s/ p.A. - Claro! É um convite pra ele falar, só.
S.S.S.Y. - Ah, bom! E é um agradecimento?
P. s/ p.A. - Não, um convite.
S.S. - A gente só pode te dar um agradecimento, tá? Pra quem é mesmo? De onde? Como? Por quê?
(Respondidas as perguntas, o agradecimento foi impresso.)

O ciclano começa a apresentação e não tem nada a dizer. Muito, muito, muito pouco, isso depois de uma semana ou mais sabendo que ia falar lá pra pessoas que não sabiam NADA do que ele sabia. Mas, desajeitado e incomodado com o silêncio e com a atenção que o colocavam naquela posição de "como eu não tenho nada pra falar aqui?", voltou-se para mim:

Representante de Associação - Bom, pessoal, desculpem, é que eu fui pego de surpresa pelo prof. Fulano. Mas se a gente conversar direitinho depois, podemos voltar e falar bem sobre o que vcs querem saber...

Pra manter a tiradinha viva

Correio do Povo: "Mulher gaúcha é a que mais fuma no país."

Nossa! Resistente essa moça, não?

sábado, 28 de novembro de 2009

Porque inconsciente também chove no molhado!

Sonhei que estava num ônibus, perto do cobrador, apesar de ser um transporte de viagem intermunicipal. Estava sonolento (no sonho), saindo e voltando de sonhos entrecortados. De repente, meio perdido, comecei a cantar uma música, exato em todos os detalhes de letra e ritmo. Semiacordado abri os olhos e notei que um colega, sentado do outro lado do corredor, mexia os lábios como se estivesse cantando a mesma música que eu. Pensei se a música não estava sendo cantada no ônibus e olhei para a frente. De fato, do lado do motorista, um conhecido (da História da UFRGS, ponto de verossimilhança para a música escolhida) tocava no violão o que eu estava cantando. Acompanhei a música inteira, até a última repetição de refrão, e o sonho acabou. Mas não posso pensar o que esse sonho poderia indicar de reprimido ou de compensação. Mais parece, na verdade, que meu sonho estava calmamente concordando com meu final de ano. A música era esta:

Metamorfose Ambulante

Composição: Raul Seixas

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou lhe dizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha velha velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sincronicidade?

Meu pai acaba de gravar "A Bela da Tarde", o famoso Belle de Jour. Passou o DVD para mim no mesmo dia em que uma amiga me mandou um link com a notícia sobre a PhD britânica que se revelou uma prostituta com esse mesmo nome, notícia que chegaria à mídia impressa e televisiva brasileira dois dias depois. Antes de ver o filme, hoje, pensei em dar uma olhada no tal blog da guria e comecei a gostar mesmo do estilo dela. Dei então uma folheada virtual apressada no livro, mas preciso voltar depois, pelo menos depois de ler esta frase:

"Because the only thing between us and the yawning abyss is the warm, wet, willing bodies we meet on the way."

Diplomacia Internacional

AIEA - Ai ai ai ai ai, Irã! Urânio Não! Olha que minha paciência tá acabando...
Irã - Que isso seus véio? Nem vem que eu sô de bonde. Já vou de tapa moral!
AIEA - Aiê!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bastam 2 minutos na frente da TV

Há um tempo se desenvolve uma querela para se demarcar território na área da saúde. Basicamente, os alternativos ganham espaço, e alguns dos clássicos não querem que se pressuponha seu aval a tais tratamentos ainda que não proponham (não teriam a coragem) que os modernosos voltem para seus tradicionais cantos. "Podem vir, mas que não se confundam as coisas". O problema, como é de praxe hoje em dia, são os termos. Dizer que um tratamento aromático é medicina chinesa causa, argumentam os críticos, confusão, pois "medicina" implica ciência e método científico, coisas no mínimo duvidosas quando falamos dos cuidados de saúde tradicionalmente ditos "alternativos".

A querela se resolve, porém, quando o Globo Repórter (alcançando ainda um número assustador de casas brasileiras e sem nenhuma discussão do problema acima) fala justamente em "medicina chinesa" no meio de sua matéria sobre meio ambiente. Numa frase, pronunciada com a maior simplicidade por uma jornalista, a naturalização do termo é mantida e reforçada contra quaisquer discussões legais a esse respeito.

Enquanto eu presenciava esse momento ao mesmo tempo trivial e significativo, houve tempo ainda de algumas pérolas, das quais seleciono a seguinte: uma das que vende ervas conforme sua mistura de didatismo mercadológico e discurso ambientalista falou sobre a relevância dos tratamentos alternativos para que valorizássemos nossos órgãos internos dentro da gente. Calma, não é eufemismo: tenho certeza de que ela estava apenas falando que é importante que demos o devido valor à colocação de nossos órgãos, já que eles estarem fora de nós é nocivo à saúde.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Otimistas

O Correio do Povo noticia

"Aumenta a doação voluntária de sangue."

Ora, a involuntária também!

Ontem, hoje e sempre?

Ficadas à parte, o que me falta é ap ou carro.

Toda vez em que rolou alguma coisa entre mim e uma guria, eu fiz algum dos passos externos clássicos:

Melhorei minha aparência = namorada.
Consegui um emprego = namorada.

Agora eu posso conseguir um carro ou um ap... = namorada

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Antropologia da cafajestagem

Numa aula sobre Dom Juan, discutindo o texto de Molière, ainda se pensando no de Tirso de Molina e prevendo-se o de Mozart, presencia-se uma daquelas cenas simbólicas sobre nossa cultura. As mulheres falam mal de D. Juan com gosto. Suas tramoias são referidas por elas com sorrisos sinceros nos lábios. Uma leitora se apaixonou por D. Juan numa cena, a outra, na cena seguinte. Algumas concluem, invariavelmente, que todos os homens são como ele, o que é dito naquela ambivalência de quem critica, mas, implicitamente, "precisa" se conformar e aceitar-nos como somos. Comentários como "nenhum homem se torna homem socialmente sem um pouco de dom-juanismo em algum momento" são recebidos como grandes verdades. Pra completar, quando olhamos uma cena de um filme de D. Juan, as mulheres nitidamente reagem ao vê-lo em ação, mesmo que tenham achado antes o ator muito gordo, muito velho ou seja lá o que for.

Enfim, para os homens, parece ser o de sempre: Toda cafajestagem será recompensada...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Passando por papo trágico

Andando no ônibus, pego o seguinte trecho de uma conversa:

Amiga 1 - Sim, aí eu vou passar uns vídeos motivacionais.
Amiga 2 - Isso...


Não, não! Por favor, tudo menos isso!

Denegação ou compensação?

Logo ao sair da reunião em que firmou (como era previsível) seu acordo com o Irã, Lula falou publicamente defendendo "os direitos humanos e a liberdade de escolha dos cidadãos"...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mais Recordar é Viver

"65 - Seria pequeno o atrativo do conhecimento se no caminho que a ele conduz não houvesse que vencer tanto pudor" Nietzsche - Para Além do Bem e do Mal

Recordar é viver

Está velhinha, mas eu adorei e seria irresponsável de minha parte não indicar.

domingo, 22 de novembro de 2009

Fato-rápido

Nosso convidado Mahmoud é um dos primeiros visitantes do Brasil que não pode ser recebido oficialmente com uma mulata semi-nua sambando!

Novo Português Contemporâneo

(Finalmente pude usar esse título tão velho quanto nossa língua oficial!)

Precisamos reformar nossos "a"s. A julgar pela consistência dos dados que tenho coletado (semi-involuntariamente, por redações), algumas trocas são a nova coqueluche (sim, sou anacrônico) de nossos textos. "Há" virou "a", "a" virou "à" e "à" virou "á". Sacam? É simples, na verdade: a fila andou e o "H" caiu.

sábado, 21 de novembro de 2009

Maomé é brasileiro

O Brasil é mesmo a terra da governabilidade. Só aqui, Mahmoud Ahmadinejad assume que é possível que o Holocausto tenha ocorrido (fora uma curiosa matada de tempo a respeito de ter ocorrido na Europa - se ocorreu, foi na Europa; muito bem!). Então, ele aceita a possibilidade de a História ser como todos os documentos indicam, e a gente aceita ignorar suas ambições genocidas. Que seria da ética e da política sem o jeitinho brasileiro?

"Cara-de-pau é fundamental"

"Se vc quer saber mais sobre o PMDB e sobre o Brasil, assista ao nosso programa..." Assim esse partido fecha sua atual propaganda. Não é de se sentir pena de um brasileiro que fosse literalmente assistir um programa do PMDB para "saber mais sobre (...) o Brasil"? É como se voltar para a VEJA deste mês a fim de se conhecer o próprio corpo ("Corpo: O Novo Manual de Uso" escrito na capa... por favor!).

Por falar em VEJA, existe "afirmação retórica" (no mesmo sentido de "pergunta retórica")? A revista apresenta um questionário para se saber se se conhece o próprio corpo! Ora, quem conhece o próprio corpo precisa responder um questionário para ter consciência disso? Infelizmente não pude ler detidamente a revista; tenho certeza, por sua tradição, de que as perguntas formuladas para "testar o conhecimento do leitor" são divertidíssimas. Este blog sofreu tanto com a perda dessa leitura. :(

Enfim, voltando ao PMDB, a dita propaganda começa com imagens do exército e fala em "ação", como que simbolizando a atividade do partido pelas imagens de nossas forças armadas! Hahahaha. Pobrezinhos, tão desinformados que acham que nosso exército é exemplo de alguma coisa (além de demonstrar que o ser humano pode lutar por qualquer causa apenas com gravetos, se suficientemente doutrinado). Sei, não é desinformação não, só a velha cara-de-pau. Afinal, se governos criam propagandas há séculos usando a educação como mote do quanto "fazem", por que não o exército? Existem tantas cidades alagadas e destruídas no momento, só esperando por um partido que as use como bandeira da própria competência...

Mau agouro

Partia eu para encontrar um líder comunitário do Leopoldina. Para chegar lá, precisaria passar por um bosque notoriamente violento de minha já muito violenta vizinhança, um bosque que faz entender bem como eram perigosas as estradas medievais, solitárias e cercadas por árvores. Apesar de essa passagem ficar a duas quadras de minha casa, encontrei, é claro, o guardião no meio do caminho: aquele personagem de contos fantásticos que é velho, conhece o mundo como ninguém e avisa o personagem sobre os riscos de sua aventura. Trata-se de um dos primeiros moradores daqui.

Pois o simpático senhor veio me justificar por que não pudera nos encontrar há poucas noites e, explicando isso, falou a respeito de alguns problemas de sua filha. Esses problemas tinham a ver com a violência da região, de modo que a conversa propiciou frases do tipo "Entre eu abrir aquela minha venda em 1983 e fechá-la em 2001, fomos assaltados 44 vezes" e "Uma vez entraram na nossa casa e seguraram minha filha, então com 5 anos, pelos cabelos, colocando o cano da arma na boca dela". Quando a agradável conversa teve fim, dirigi-me soturnamente à minha oportunidade de virar novamente protagonista de uma das infinitas histórias do Leopoldina.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O poder da linguagem

Campanha tem lugar e hora, pela Constituição mesmo. Mas até o PSTU ("ético" e "derradeiro bastião dos bons costumes") comemora oficialmente pré-candidatura (ou seja, tanto a candidatura é conhecida há um tempo quanto agora a coisa é institucional). Que poder tem esse prefixo "pré", hein? Prevendo o constitucional, atualiza tudo o que, ao mesmo tempo, legaliza!

Quem dá mais?

Jornal do Comércio: "Temporal causa cinco mortes"

Zero Hora: "Devastação"

Correio do Povo: "Devastação e 5 mortes"

Diário Gaúcho: "Vento Mortal!"

Avanços retroativos

O brasileiro está mais alto, porque está comendo melhor.
Também está mais gordo, porque está comendo pior.
Tudo numa só notícia. Informativos esses publicadores oficiais.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fazendo minhas as palavras dela

Quem não quer saber do Lula, leia aqui.

Esta raça que acreditou na evolução

Quando o ser humano adquiriu consciência de si, já sabia que chovia. Observando a chuva, acostumou-se a se esconder ou a se proteger dela. As precipitações tornaram-se fenômenos banais e cotidianos, salvo em regiões quase inóspitas nas quais, é claro, a humanidade insistiu em se instalar também, por teimosia ou por se sentir forçada.

Com o tempo, a humanidade desenvolveu seu trabalho e conquistou a técnica de estender sua vontade para além das capacidades do próprio corpo. Mas construiu casas que não previam a chuva. Estradas que não previam a chuva. Cidades, armas, carros, conexões via satélite... A humanidade chegou mesmo a gastar bilhões e bilhões de suas moedas mais fortes na luta por conquistar o clima, mas nunca desenvolveu a capacidade de prever o fenômeno da natureza com que tanto convivera.

Num belo e sangrento dia, a Nova Sião aterrissou na antiga Canaã, sobre o Anticristo e seu templo, sobre as armas israelitas, sobre os acadêmicos americanos e sobre os palestinos desalojados. E ainda lá se escutava o ser humano perplexo, surpreso, despreparado e ansioso sobre o futuro próximo ao exclamar "Putz! Lá vem chuva!"

Pra fãs [2]

Thirteen!!!
YES!

Professor Raimundo II - A Missão

"Nesses casos eles podem checar o cheque, às vezes, mas não pra quantias insignificantes assim."

O atendente do banco referia-se ao meu salário...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Manchete preocupante

Na frente de uma foto de um piloto dentro de um caça, o Correio escreveu "Treinando para a 'guerra'".

Pergunto: por que as aspas? Crítica aos caças que compramos, que não aguentariam muita coisa? Deboche do discurso que finge que nosso exército resistiria a quem atacasse nosso petróleo? Lembrança do caos que é nosso espaço aéreo e das ideias que já rolaram para entregá-lo a mãos estrangeiras, com todas as belas consequências que isso teria na segurança?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Enfim!

Qual não foi minha surpresa ao escutar um CD do Chico pra preparar aula e esbarrar numa música adequada ao meu presente. Adequada, no sentido de trilha sonora. Aqui fica a comemoração, pela honra.

A escolha de palavras é tudo

Correio do Povo: "Novo piso beneficiará 32 mil professores: Governadora Yeda encaminha projetos para a Assembleia."

Jornal do Comércio: "Yeda envia hoje os projetos de reajuste dos professores."

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Salve, salve!

Legenda da foto de capa do Jornal do Comércio:
"Em Paris, Lula e Sarkozy debateram soluções para o efeito estufa."

Ufa! Quando vão anunciar a grande resposta?

Le Lion Est Mort Ce Soir

Bom, na verdade, "o gato foi afugentado nesta madrugada", mas a intertextualidade é um must!

Conversava eu com uma guria (que vem, passiva e ativamente, me tirando o sono) a respeito das coincidências que nos impedem de dormir até tarde justamente naqueles dias que reservamos para nos recuperar de sequências de noites maldormidas. Obviamente, depois dessa conversa, falando que isso não ocorria havia muito comigo (ocorrera com ela na manhã anterior), minha sorte acabou. Este post era sobre essa coincidência, mas, respeitando nosso ponto de vista de como as informações devem ser passadas (por uma longa história e não por afirmações informativas breves), aqui vão os fatos.

A moça mencionada cortou nosso telefonema ontem para que fôssemos dormir mais cedo, e até deu certo. Mas às 4 e muito da madrugada acordei com minha cadela latindo sem parar. Insisti um pouco, mas era óbvio que não era coisa de humor. Como todo mundo que já teve cachorro sabe, muito pode se ler num latido, e estava claro para mim que ela tentava atacar algum animal que estava muito, muito próximo dela. A hipótese natural era que fosse um gato (minha vizinha tem muitos, volta e meia eles vêm passear pelo nosso pátio e nenhum ser gosta tanto de encher o saco provocando seu predador urbano como os gatos).

Decidi levantar, já que grito para ela calar a boca apenas quando ela não tem razão e, se minha teoria estava certa, ela tinha razão: todo reforço para que ela lata quando algum ser não convidado entra no pátio é pouco. O bichano, como lhes é típico, estava numa posição quase segura, metido no meio da folhagem de nossa parreira, bem acima do poste mais interno ao pátio. Ele não podia sair dali? Podia. Por uma viga de cimento que sustenta a parreira ali mesmo chegaria ao muro e sairia correndo. Ele se mexia? Não. Por quê? Porque gatos adoram encher o saco, como dito. Tendo convivido com esse bicho desde pequeno, achei, mesmo na pouca luz que chegava nele (eu ligara a lâmpada do pátio) que estivesse ferido e, portanto, nervoso. Ou seja, em parte (além de ser naturalmente um provoador) ele não queria se arriscar a sair dali, mesmo que fosse para tentar fugir. Aposto que tinha feito uma das suas, que tinha dado errado, tomado uma pancada de nossa cadela e, tendo então chegado àquele poste e se salvaguardado, não arriscaria confiar no próprio julgamento de rotas de fuga por um tempo.

Enquanto nossa cadela destruía todas as plantas de minha mãe tentando escalar o poste sobre o qual o agora medroso gato se encastelava, meu citador compulsivo disse-me, sabendo que eu tinha pensado o mesmo: "we're fashioning a very long poking device". Resignadamente retribui o olhar de mim para mim mesmo pensando "Justamente" e me dirigi à cozinha, cuja janela é o ponto mais próximo entre o interior da casa e o dito poste. Antes de sair de meu primeiro posto de observação, porém, vi que do lado de fora da janela da cozinha havia um prendedor esquecido. Pensei que não ia dar certo, mas resolvi tentar afugentar o gato com um tiro certeiro primeiro. Fui até lá, peguei o prendedor e realmente acertei bem no corpo do gato. Infelizmente ele resistiu daquela forma que gatos só reagem quando estão decididos a não largar seu posto, ou seja, quando estão assustados, o que geralmente implica algum ferimento, mesmo que leve.

Já eram 5 horas quando peguei o cabo de uma antiga vassoura, tirei o cabo de uma atual, peguei fita adesiva e comecei a construir meu aparato. Aos latidos constantes de minha cadela eu reprisava o episódio de Friends da citação feita e ria tranquilamente, pensando então sobre a cor que citações dão à vida de alguém que precisa dormir, precisa acordar cedo, mas também precisa lidar com a vida selvagem do Leopoldina. A nota um tanto otimista (ou positiva, sei lá) talvez soe estranha à guria citada no início do post, mas tenho meus momentos, particularmente graças ao Friends.

Empurrei o gato com certa leveza, achando que o susto o tiraria dali (foi nesse momento que a música que dá título ao post me veio à mente). Resistência. Saco! O poking device, graças à incomodação e à citação da música-título, tornou-se uma lança que ia afugentar o gato com todo o implícito "sai agora ou a próxima vai doer muito!" Funcionou. O gato foi em direção ao muro, ficando distante daquela janela. Minha cadela começou uma investigação silenciosa, o que me disse que o gato tinha, talvez, sumido dali. Cada vez mais otimista, voltei em direção ao interior da casa (nossa cozinha é um braço projetado para fora da estrutura original), não mais um sonolento leopoldinense que caiu da cama e foi direto usar dois cabos de vassoura contra um gato, mas um vitorioso guerreiro semi-nu e sua lança (ok, eu só estava ainda cantando a música).

Animado pelo otimismo do silêncio noturno conquistado, fui rapidamente ao banheiro antes de voltar para a cama. Mas foi o tempo de minha cadela retomar o espírito de caça e recomeçar a latir. Não era que ela tivesse localizado o gato, mas era óbvio que seu alvo não estava morto, e ela agora reclamava que a imbecil criatura revelasse seu paradeiro para ela poder terminar o que havia começado. Latidos dessa natureza, para minha sorte, são mais esparços, o que me dava talvez possibilidade de recuperar o sono antes de novas investidas dela. Além disso, logo meu pai acordaria para tomar o café da manhã. Assim que recebesse seu pão matinal, nossa cadela esqueceria do gato (pelo menos a ponto de ficar incomodando com latidos), então não era nada para se estressar. Além disso, eu realmente estava com muito sono. Já estava bem mais pra lá que pra cá quando meu pai abriu a porta do quarto dele para começar seu dia (certamente acordado desde as 4 horas e muito).

domingo, 15 de novembro de 2009

Baixos parâmetros

Não sou particularmente fã de Derrida. Na verdade, pra mim sua filosofia se resume a uma aplicação do conceito de projeção aliada a Foucault (para denunciar a estrutura sem centro) e à moral de um soneto de Gregório de Matos Guerra (que resumo para a filosofia se esses sábios lessem português). Menos fã sou, porém, da raça humana, então fica aqui uma boa sofismada dele a respeito. Saboreiem o efeito retórico num clima de domingo, por favor.

"Não se poderia falar, não se o faz jamais em todo caso, da besteira ou da bestialidade do animal. Isto seria uma projeção antropomórfica do que permanece reservado ao homem, como a única segurança, finalmente, e o único risco, de um "próprio do homem". Pode-se perguntar por que o último baluarte de um próprio do homem, se existe um, a propriedade que em nenhum caso seria atribuída ao animal ou ao deus, nomear-se-ia assim a besteira ou a bestialidade".

O Animal que logo Sou (A Seguir) - 1997, p. 77.

Não é ambição...

... é empreendedorismo. Pelo menos é o que afirma a Câmara dos Vereadores de Horizontina, cidade do ultrainterior do RS famosa por ter sido berço de Gisele Bündchen (e ponto). A Câmara quer construir uma sede de 800 lugares, que vai custar 1,5 milhão de reais (TODO o orçamento deste ano da Câmara, a ser gasto ao longo de quatro anos de obras) ao município de 18 mil habitantes. Para contraste, citemos que, na última sessão ali ocorrida, compareceram, em multidão, cinco pessoas.

Sempre divertida, a Zero Hora diz que o prédio "já divide as opiniões", o que só posso ler como "vereadores, familiares e agregados discordam do resto da população mundial que tenha ouvido falar sobre a obra". Mais, a notícia indica "Há quem considere a obra desnecessária", como se o digno de nota não fosse de que haja ALGUÉM que tente argumentar que ela SEJA necessária.

O presidente da Câmara (PP - era de se suspeitar), Álvaro Callegaro, diz que a construção pensa o futuro de Horizontina em seus próximos 15 ou 20 anos. "Não tem por que fazer um prédio acanhado agora para depois termos de refazer". Além de insultar a sagrada cultura popular do puxadinho com essa afirmação e desrespeitar o princípio Iluminista da proporção (cidade acanhada, prédio público acanhado), esse Excelentíssimo fulano não revelou seus grandes planos para a cidade que, nas últimas décadas, foi de "pequena" a "do mesmo tamanho" em tempo recorde. Ninguém avisou que duas Giseles nunca nascem no mesmo lugar e que exportação de modelos não aumenta a arrecadação?

sábado, 14 de novembro de 2009

Pra falar 3 vezes bem rápido

Um sonho.

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
O sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves.

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o sol, o celestial girassol esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Como aqui se está bem! Além freme a quermesse...
– Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam, Flor! à flor dos frescos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítólas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Esmaiece na messe o rumor da quermesse...
– Não ouves este ai que esmaiece e esmorece?
É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta, absorto, à flor dos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Penumbra de veludo. Esmorece a quermesse...
Sob o meu braço lasso o meu Lírio esmorece...
Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos,
Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Teus lábios de cinábrio, entreabre-os! Da quermesse
O rumor amolece, esmaiece, esmorece...
Dá-me que eu beije os teus' morenos e amenos
Peitos! Rolemos, Flor! à flor dos flóreos fenos...

Soam vesperais as Vêsperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Ah! não resistas mais a meus ais! Da quermesse
O atroador clangor, o rumor esmorece...
Rolemos, morena! em contactos amenos!
– Vibram três tiros à florida flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Citolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Três da manhã. Desperto incerto... E essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah! tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz, luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos fenos...

- Eugênio de Castro - 12/06/1889

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tem coisas... que só Derrida faz pra vc

"Mal-estar de um tal animal nu diante de outro animal, assim, poder-se-ia dizer uma espécie de animal-estar..."

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cenas de uma sala dos professores

Chegou uma colega nossa (Bio) e deitou, muito cansada de algo que contraiu no início da semana e que ainda não a abandonou. Logo, vi um vulto na janela. Um garoto, mais ou menos pela puberdade, não viu que estávamos eu e o prof. de hist. conversando na sala, apenas que havia uma mulher deitada ali. Numa busca secreta , mas dedicada, pelo ângulo ótimo do decote de nossa colega, ele veio vindo para próximo da janela do lado da qual estávamos. Eu mantive meu olhar serenamente fixo no guri. Quando chegou do meu lado, abri a cortina! Nossa, com que velocidade o cara sumiu! Só alguém tão jovem não se destronca com aquele movimento.

xxx

Antes, estávamos esse professor de Hist. e eu conversando sobre as aulas daquele dia mesmo. Entraram uma supervisora (ou algo parecido) e seu cachorro, mistura de Cruz Credo com Deus me Livre (ela mesma admite). Falou, falou, falou, foi embora. Entendemos basicamente que o cachorro é bem pequeno, bem frágil, bem chato, mas ela o ama muito.

Seguimos conversando quando ouvimos o cão se esganiçar com tudo que tinha direito! Em seguida, chegou a nossos ouvidos a voz de uma das mulheres da faxina. Dizia ela:

"Ficou com medo, sem-vergonha?! (Falando para outra:) Esses dias fiz isso aí com meu afilhado. Ele nunca mais quis me ver."

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ESSE é freudiano

Em POA, um psicólogo divide, em horários diferentes, a sala de atendimento com a esposa. Esta é uma... ginecologista. Hmmmmmmm...

Pra fãs

"House, 1980's!"

Paranoico

Tem muita coisa dando errado na minha volta. Muita coisa desengrenada. E então tenho ouvido demais "olha, pra te dizer a verdade...", "vou te dar a real", "é, o problema na verdade é o seguinte", "olha, francamente..."

Por acaso essas pessoas são sempre mentirosas quando as coisas funcionam? Fracasso é o momento da sinceridade?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eu, Nacionalista

N'A Revolução dos Bichos, George Orwell mostra a criação de uma constituição e sua decadência, até que ela se torne uma só frase, famosa em sua paráfrase universal: "Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros". A formação e a corrupção das leis dessa fazenda regida por animais (supostamente uma ficção) ocorre num período menor que um ano, se não me engano.

Vê-se aí como Orwell era pessimista. Ora bolas, parece-me que foram necessários quase 60 anos para que, no Brasil, onde líamos os direitos trabalhistas, encontrássemos "Nós não prometemos nenhum tipo de apoio ou auxílio além do salário de vcs".

Passando por Gregório, fica um pouco aqui...

Aquêle não sei quê, que Inês te assiste
No gentil corpo, na graciosa face,
Não sei donde te nasce, ou não te nasce,
Não sei onde consiste, ou não consiste.

Não sei quando, ou como, arder me viste.
Porque Fênix de amor me eternizasse,
Não sei como renasce, ou não renasce,
Não sei como persiste, ou não persiste.

Não sei como me vai, ou como ando,
Não sei o que me dói, ou porque parte
Não sei se vou vivendo, ou acabando.

Como logo meu mal hei de contar-te,
Se de quanto a minha alma está penando,
Eu mesmo, que o padeço, não sei parte?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Solucionaram o Brasil

Um país de analfabetos não tem jeito...

Não tinha! A Justiça Eleitoral aplicou a medida que resolve todos os nossos problemas.

O analfabetismo é a pedra fundamental de diversas mazelas sociais. Entre estas, a falta de participação cidadã é a que mais claramente afeta o Estado. Claro, isso é ruim para os próprios sujeitos, que não sabem fazer valer seus direitos pelos trâmites legais, mas "falta de cidadania" também complica eleições e cobrança de impostos, ataques óbvios a governos de representação popular (permitam-me passar pelo termo como se ele não fosse muito discutível).

Como incluir o cidadão? Dando educação? Nãããão! Fazendo eleições pela digital (do dedo)! É muito divertido: até quem é alfabetizado vai entrar na onda. A função exige, é claro, recadastramento, o maior recadastramento analfabeto da história!

Mensalão

Eu estava de passagem, então não vi quem deu a seguinte resposta à pergunta "O que o governo Lula copiou do FH? O Mensalão?"

Petista Top (não o Mercadante): "Eu não quero falar mal nem do governo do Fernando Henrique nem do do Lula. Éééé... Ambos tiveram problemas em termos de financiamento de campanha."

O CQC recebe cada resposta!

As mais ouvidas

"Desculpe, isso não é com a gente. Tem q ligar para o Setor..."

"O Sr. fala com o pessoal do (...). Vou repassar a ligação. Espere um momento" ("momento", sei!).

"Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens..."

"Oi. Você ligou para um telefone público..."

"Espera um pouco que eu vou ver se alguém pode te informar..."

"Quer falar com quem? Quem?!"

domingo, 8 de novembro de 2009

Da consciência inquiridora dos artistas de rua

Pichado num dos muros laterais da Catedral Municipal de Porto Alegre:

"Freiras Mulheres Jamais Armadas"

Contemplem que pedaço de poesia contemporânea. Sim, contemplem...

Agora pensemos juntos a respeito.

Fossem as freiras "jamais amadas", tudo teria um sentido acessível; pelo menos seria coerente com o trinômio católico sexo/casamento/amor (mundano). Os pichadores, claro, pensariam na mundaneidade, são pessoas da rua, da cidade, do concreto, do moderno (pós-moderno, só o líquido)! Fossem elas, porém, "as mais armadas", seria um caso de choque por contraste. E o contraste é a ferramenta do cotidiano, da prosa e (por que não dizer?) do medíocre. Se freiras não devem andar armadas, então elas serem AS mais confrontaria o passante com o choque da acusação enfadonhamente gritante, aludindo, sem dúvida, à indústria armamentista e sorrindo de forma irônica contra os EUA, logo, contra o FMI (as pichações de Porto Alegre são muito apegadas aos clichês de suas próprias associações tradicionais).

Mas não! O poeta reforça o óbvio: elas estão "jamais armadas"! Nunca carregam armas essas mulheres que nunca carregam armas! E nisso o poeta desconstrói aquilo mesmo que afirma, pois ressignifica essa realidade tão curiosa, em si contraditória: por que essas mulheres de Cristo, noivas do Filho de Deus, jamais carregam armas nesse mundo de violência e pecado? Mais: será mesmo? Será que nunca? O leitor flutua (se não estiver muito cansado da íngreme subida da rua lateral da catedral) num desvairio de sentido que começa no significado mais cotidiano: as freiras jamais estão armadas...

E esse óbvio ululante, é claro, confirma que não lemos mal. Sim, são "freiras mulheres". Freiras não são sempre mulheres? Que quer aqui o poeta apontar? De que suspeitavam os pichadores de Porto Alegre? Que alegre querela levava-os a discutir o sexo das freiras? Intertextualidade com o sexo dos anjos? O sentido cabe, sabemos, ao leitor. É ele que signifca, ele é ativo na interpretação (é, enfim, um cidadão).

O porto-alegrense não é bairrista, ele apenas tem razão (está nos muros das catedrais (!), sustenta-os do lado de fora): esta é uma cidade de pura cultura!

Que farei com este professor?

Um livro didático com o título "Manual do Educador" não deveria ser entregue para o aluno, aquele sujeito numa sala de aula que não sabe o que diabos faz com mais um que veio falar em pé, fazer chamada e fazer um joguinho entre uma figura de poder e um amigo malandro?

sábado, 7 de novembro de 2009

Pobre da minha tese

"E o brilho da metáfora, preciosa
como joia de labor minucioso,
ilumina um idealismo requintado,
ainda quando voluptuoso..."

Isso é um trecho (por mim quebrado em versos) de uma tese acadêmica da Cecília Meireles (de início de carreira, diga-se de passagem). Ai da minha prosa...

Nobel à la Obama

Fui eleito coordenador de um grupo antes mesmo de ele existir.

...

Alguém na plateia falou "prematuro"?

E a polícia rateia

Yeda visitou o Presídio de Charqueadas ontem.

Mas deixaram ela sair!

Preocupações acadêmicas

Este Estudante - Passei no concurso.
Profa. de Teoria Literária - Passou?!
E.E. - É. E aí tô perdido: passei uma semana fora em treinamento. Tinha que largar tudo aqui.
P.T.L. - O Inter perdeu!
E.E. - Rs.
P.T.L. - Fizeram um gol a 2 min. Indefensável, não foi culpa do Lauro. Mas era início, "a gente recupera". Aí um jogador do Botafogo saiu no início do segundo tempo. Passamos praticamente um tempo inteiro, eles com 10 e nós com 11. E nada. E aí, adivinha quem foi eleito o melhor da partida? O goleiro do Botafogo. Ele pegava tudo. Assim: foi a partida da vida dele. Pronto. Tu já sabe tudo de essencial da semana. rs

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Tá faltando uma cadeira de Conceitos Básicos?

Profa. Dra. - Ele fala sobre si, mas na verdade ficcionaliza. Estava fazendo o que hoje é chamado de autoficção. Na época não tinha esse nome ainda, mas era já uma autoficção.

Doutoranda - Mas tem muito de autobiográfico ali, não?

Por favor, alguém rompa o continuum de espaço-tempo e jogue um caderno nessa guria!

No calor do momento

Gostei da tirada. No meio de uma discussão em aula sobre o Humanismo hoje, a professora chega à seguinte síntese:

"Toda discussão da modernidade problematiza afinal o que a gente perde ao se tornar humano."

PS: Cito a profa.? Ainda que este post seja elogioso, ela pode não querer se compromissar. rs Bom, por enquanto fica aí só a frase.

"Tu pensa demais"

Falando sobre Classicismo:

"As épocas têm sempre seu 'mal'. Esse era o mal da época: estava-se na fase da cogitação".

Cecília Meireles - O Espírito Vitorioso - p. 33.

A boa vontade sempre desnorteada na Federal

Cartaz de campanha do DCE:

"Parabéns! Você se formou,
mas e o lixo que deixou?"

O primeiro equívoco, claro, é achar que rima é ritmo; infelizmente fazer algo soar bem não é tão fácil quanto flexionar verbos da mesma conjugação na mesma pessoa... Não bastasse isso, a mensagem apresenta zero relações entre o assunto evocado no primeiro "verso" e o objetivo da campanha ("pela cultura da caneca" diz o cartaz!!!). Formatura e lixo produzido durante o curso: qual o aluno que vai associar uma coisa a outra por si para poder reagir decentemente ao cartaz? Público-alvo, então, nem se fala! O DCE se refere diretamente a justamente aquele "aluno" que NÃO está mais lá (idealmente falando, o que significa que, se vai ao campus, é correndo, sem olhar cartazes do já saturado DCE). Por falta de tempo, convido o leitor a encontrar mais bobagens nessa mensagem (pena não ser possível reproduzir o cartaz aqui - o aluno sobre um monte de lixo parece mais um super-herói que um "criminoso ecológico").

Melhoras aos marketeiros, hein? Melhoras...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Senta, que lá vem a história

Cara cunhada,

Matutando hoje sobre a partida de vcs, notei que estava pensando algo extremamente parecido com o que tua mãe disse para meu irmão a respeito dessa mesma viagem. Resolvi, então, colocar aqui a minha versão dos elogios.

Eu estava pensando que recebi a notícia da ida iminente de vcs, ainda que prevista há tanto, com certa tristeza (achando obviamente legal que os planos de vcs iam se concretizar e pensando, claro que, o abandono do país tem muitas vantagens), mas não foi isso que senti no aeroporto, nem de perto. Eu estava tranquilo e sereno, seguro, digamos. E não é q tenha recebido repentina confiança de q as coisas darão certo para que eu vá visitá-los logo. Então meti-me a elocubrar, obviamente.

Bom, meu irmão e eu encarnamos vários clichês. Muito Hollywood se alimentou de dicotomias básicas como as nossas para criar duplas. Ele era o bagunceiro, e eu, o introvertido, ele o desligado do colégio, e eu, o CDF... Mas, como deve ocorrer em histórias que se deem o mínimo de respeito, nenhum dos dois é um clichê puro, assim como um afetou o outro, sem que nunca, parece, tenhamos trocado de lugar nas nossas dicotomias principais.

Enfim, uma dessas áreas de influências entre nós dois se dava na oposição "saída desligada" x "estase segura". Eu era este, o plantado, ele o quase irresponsável de tanto otimismo quando ia se meter em seja lá que situação fosse. O retrato pode parecer exagerado, pricipalmente se fôssemos comparados ao nosso primo famosamente mais doido, mas a oposição funciona entre nós, se o único parâmetro de um fosse o outro. Poucas das coisas introvertidas que aprendi com ele, para compensar, foram o interesse por filosofia ou o gosto por conversar madrugada adentro (habilidade que tanto abençoo ultimamente). Ele, conforme diz, aprendeu uns usos agressivos de linguagem bem específicos comigo. Bom, isso é outra história, e q tu já conhece, se não me engano. Introjetei mesmo comentar indicações de velocidade de 20km por hora. Deixe-me mencionar, porque ele falaria (ou falou), q há essa indicação na pista do aeroporto, o que significa que os aviões precisam ficar parados, como sabes...rs

Continuando... o que acontecia era que ele queria fazer determinada coisa, ir por determinado caminho ou ignorar determinada regra, e eu não. Mas, numa inversão da relação clássica de irmãos, eu, o mais novo, ficava preocupado com ele. Não lembro bem se muito cedo, mas logo meu irmão desenvolveu muita confiança nas qualidades que observava em cada um de nós. Eu, por outro lado, nunca confiava em mim e era excessivamente pessimista para achar que certa situação, apesar das habilidades dele (afinal, humanas, sem aquela idealização por um irmão mais velho que minha mãe parecia esperar que eu tivesse), não pudesse acabar mal. Resultado: ele ia se meter no que, pra mim, era um enrascada, e eu ficaria preocupado. Ficaria, porque logo vi que preferia ir junto, vistoriar, talvez convencê-lo a resolver o que surgisse de tal ou tal forma. E daí que a gente acabava pulando muro a mil, fugindo de cachorro, ouvindo a maior bandalheira de donas de casa justificadamente preocupadas com seus pátios, assim como aventuras dessa natureza me valeram uma cicatriz na testa e um provável câncer de pele (por acúmulo, não estou me referindo, é claro, ao incidente do pé, no Cassino).

Tudo pra dizer que não senti isso em relação à viagem de vcs, mesmo que essa coisa toda não tenha morrido totalmente depois que saímos da infância. E me parece que minha atual tranquilidade tem muito a ver contigo e com a relação de vcs. Como sabes, sou um dos fãs dessa química estranha que vcs têm, tão observável em comportamentos que tu nem percebes. E, como vcs estão juntos, A Dupla, eu fico por aqui, sem stress, já que vão cuidar, confio, bem um do outro.

Então Muito Boa Sorte, Boa Viagem, Vão com Fé, Vão pela Sombra e Divirtam-se!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dia simbólico

Fui pedir a segunda via de um documento no Tudo Fácil. Foi fácil.

Segui para o Ministério do Trabalho. Estava em reformas...

Emenda pior que o soneto

Entrei hoje no banheiro (prática comum, admito...). Apenas uma das privadas (não me ocorre o nome adequado do espaço reservado a elas) estava ocupada... por um sujeito pudico, no caso. Digo isso porque, prevendo talvez sons por vezes encabulantes, ele ligou a música do celular. Triste escolha, a música começava com uma sirene de emergência!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Pêndulos

Para se decidir se uma coisa ou outra, bem disse o House: "It may not be easy, but it is simple."

Ou...

OU ISTO OU AQUILO

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobre nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

- Cecília Meireles - 1964.

Desligado de feriados

Conversava eu com amiga recém-conhecida quando ela me largou a seguinte frase:

"Preciso sair [do msn]. Meus pais já voltaram do cemitério."

Fiquei imaginando se não era hora de eu pedir um questionário que desenhasse o background das pessoas antes de sair fazendo amizades...

Panos quentes

Manchete da Época: "Seu próximo carro será elétrico - Não é mais ficção científica: os novos automóveis para ligar na tomada já estão no Brasil"


Hmhm: não é ficção científica há mais de década! Os carros elétricos existem e valem a pena há muuuuuuito tempo. Eram inclusive vendidos, comprados e usados, não é incrível?! Mas agora não dá mais pra segurar e eles fazem seus avanços mais massificados no Brasil. Então a gente esquece que tanta gente teve interesse que isso não fosse verdade antes, faz uma manchete bobinha (e "premonitória", pra variar) a respeito e fica tudo bem.

domingo, 1 de novembro de 2009

Futebol eloquente [8]

"É só observar que dá pra ver, né?"

Tá valendo como frase idiota?

Nosso velho jornalismo...

O Correio continua o mesmo. Bom saber. Sempre dedicado ao jornalismo-moleque, sua linguagem simples, direta, porém agradável, não deixa de brincar com nossa entediada mente. Hoje por exemplo eles pensaram em fazer analogias temáticas, associar momento histórico e informação do dia. Assim, sua agradável manchete é a animadora "Feriadão começa com mortes no RS". Nada como acordar e ver uma frase dessas estampada bem ao lado do café da manhã, hein? E, para quem não linka (desculpas a quem o neologismo desagrada) a manchete à atualidade imediata, o próprio Correio indica na primeira frase: "O feriadão de Finados começou com violência e oito mortes nas estradas gaúchas."

Porém, nem tudo são dores! A última frase da matéria de capa é "O vento fraco ajudou a transformar o sábado em um dia ideal para aproveitar o beira-mar". Hmmm. Entre as mortes e o clima bucólico, o que aconteceu nessa notícia? Bom, é simples, na verdade. A manchete joga o leitor para o fundo do poço, mas lentamente o jornalismo nos levanta, mostra as coisas belas da vida, uma didática inspirada em Galvão Bueno obviamente, buscando sempre levantar o ingênuo leitor (ou espectador, no caso dele) das agruras para uma manhã mais bela, abobalhado e embalado nos braços de suas palavras.

Sim, que fazer sem o Correio, que nos informa com precisão e presteza? Mais abaixo, nessa capa tão dedicada, o seguinte texto está como legenda de foto: "Feira do Livro de Porto Alegre está repleta de opções para quem estiver na Capital". Ok. Então quem está na cidade pode ir na feira da cidade, e quem não estiver não?

Quero crer que é redundância, não bairrismo, não a ênfase como a de uma torcida gritando "Aha, Uhu! A Feira do Livro é nossa!" E por que quero crer nisso? Porque a contracapa sim é que é bairrista: "Gurizada em Santo André". A manchete é feita de pressupostos e implícitos soltos no ar, mas chega a ter sotaque, tchê!

Aaahhhhhh, os pampas...

Fechando o diário de bordo

Enfim, fechemos as referências à viagem de formação, esperando que Porto Alegre e o Brasil (agora novamente de longe) sigam a fornecer matéria verbal curiosa o suficiente para manter este blog atento e sorridente. Vejamos, como referido antes, aquilo que não cai no mero administrês, língua em si risível, que, portanto, não pode ser referida como estranha ou ridícula neste ou naquele ponto: nada há ali de sério. Vamos a curtas anotações:

Mantendo o tema das gradações mencionadas alguns dias antes de eu partir, o pior palestrante (eleito por unanimidade) buscava nos apresentar alguma visão sobre os alunos. Na tentativa de saber se dizia uma bobagem ou não, ele foi graduando, de modo que seu objeto ficou assim: "a maioria, ou a grande maioria, ou todos" (têm dificuldades naquilo que sabemos). Não adiantou graduar tanto, ele continuava sem ter noção sobre o que falava.

Estivemos em determinado momento atentos a expressões estranhas, em particular a redundâncias. Mas, como não pode deixar de ser, quando se cuida um tipo de expressão, buscando-se evitar certos "erros de linguagem", produz-se em demasia outros. Nesse momento de não se dizer a mesma coisa duas vezes, naquele autopoliciamento pontual de que o administrês tanto gosta, o tiro pela culatra foi que não se dissesse coisa com coisa. A expressão que contei como a mais utilizada, por exemplo, foi o "detalhe importante", bastante frisado, mas nunca flagrado em sua contradição.

As frases desnecessárias flutuaram do clichê à estupefata constatação do óbvio. Ou seja, de "Não é porque é minha filha..." a "Esse peixe tem espinha!" - juntas aqui porque foram ditas pela mesma pessoa, num intervalo de dois minutos!

Aprendi, aliás, outra forma de dizer prova: "(número ordinal adequado) momento privilegiado de estudo". O pior é que acreditei que a inventora desse longo nome realmente o segue de forma construtiva, talvez se servindo dele para manter sua ética profissional um pouco melhor. Mesmo assim, fica o eufemismo registrado, para os muitos usos vazios que ele ainda há de receber.

Por fim, preciso falar sobre o "espírito crítico". Uma alma rebelde, maravilhada ainda com as possibilidades da retórica, logo alguém perdido naquele campo onde a tal retórica se torna vazia (uma alma, enfim, excluída pela Razão, que deve ser auxiliada e incluída), afastou-nos ainda mais de toda forma de descanso e lazer para se contrapor a uma palestrante tangenciando o assunto e se baseando em "dados reais futuros". :S E ele era das "ciências duras"... Falem das Humanas, falem.

Enfatizando o lado positivo da formação

Atendendo a comentários:



PS: nunca achei que fosse tão difícil encontrar um vídeo minimamente apresentável dessa música no youtube. Enfim...