sábado, 28 de maio de 2011

A fantástica vida cultural de Porto Alegre

Sens Dessus-Dessous, companhia francesa de Circo Contemporâneo, fará apresentações nos dias 28 e 29 de maio (hoje e amanhã), às 16h, no Teatro de Câmara Túlio Piva, em Porto Alegre. Os ingressos estão à venda no SESC da Alberto Bins e no teatro em que serão feitas as apresentações, custando R$ 5, R$ 7,5 e R$ 15. Telefone para informações: 3284.2070. 

Mas as atrações não param por aí! No mesmo horário, hoje também, haverá uma fantástica e hilariante reunião, na prefeitura de Porto Alegre, entre líderes do sindicado dos municipários e o prefeito José Fortunati, o primeiro Negociador Surdo do mundo! Como essa reunião é fechada para o resto da população, mesmo para os mais diretamente envolvidos, o jeito é ir ver o outro circo.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Façamos nossas as palavras do ministro

Falando sobre a desistência de levar às escolas o "Escola sem Homofobia", o ministro Gilberto Carvalho afirmou categoricamente que, por compromisso pessoal de Dilma, daqui para a frente "todo material sobre costumes será feito a partir de consultas mais amplas à sociedade".

A ideia parece boa. 

Pensando bem, quem sabe o mero fato de se governar sobre "costumes" devesse ser posto em discussão com a sociedade? Creio que um grupo muito grande de brasileiros tem reservas a esse respeito. Na verdade, talvez a possibilidade de gastar dinheiro público com projetos que não passaram por essa consulta devesse ser posta em questão, não apenas quando o assunto é costumes, já que tanta gente parece ignorar as decisões no Código Florestal, por exemplo, ou simplesmente ser contra o que foi aceito. Algumas pessoas são a favor, é verdade, mas houve algum debate? Talvez devesse haver, já que é o destino de todos, de forma bastante drástica e irreversível que está em jogo.

Pensando bem, será que a população não deveria ser consultada sobre assuntos a respeito de que se manifesta publicamente tanta resistência, como a construção da Usina de Belo Monte (ela em si ou a forma como está sendo feita)? Ou pelo menos sobre a escolha das pessoas que decidem os pormenores a seu respeito? Não são apenas políticos eleitos que são importantes para isso. Muitas das decisões que mais nos afetam, na verdade, são responsabilidades de detentores de cargos por nomeação. Talvez a existência desses cargos devesse depender de "consultas mais amplas à sociedade".

Pensando bem, os políticos eleitos manterem esse sistema que nada tem a ver com a opinião popular talvez devesse provocar certas reservas também ao nosso "sistema representativo". Parece que o governo não dirige o país a contento, conforme "consultas mais amplas à sociedade".

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ato reflexo



Os grevistas ainda precisam ficar incomodando na frente da prefeitura, já que o Buzatto não apresenta nada de novo. Então, lá estava a galera, municipários fazendo barulho, trazendo novas notícias dos andamentos nas secretarias e recebendo médicos vindos das manifestações no HPS e apoio de ainda mais cidades que se preparam para entrar em greve.

Como em todos os dias em que houve manifestações na frente do Paço, lá estavam vários guardas municipais (que estão em greve - mesmo os em serviço estavam com os mesmos adesivos que os manifestantes) na frente da porta da prefeitura, o que não deixa de ser engraçado. Os grevistas não tinham a menor intenção de invadir. São muito comportados, infelizmente. Às vezes alguém usava o banheiro da prefeitura, inspirados com certeza no melhor uso que políticos conseguem dar ao prédio, mas, fora isso, lá estavam todos, manifestando-se ultrapacificamente.

Eis que, pelo fim da manhã, surgiu um grupo um tanto inesperado, que vinha fazer sua própria manifestação, instalar-se na prefeitura, e tanto pedir quanto oferecer ajuda aos grevistas na pressão ao governo: famílias ligadas ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia. Vieram com cartazes, discurso claro e bem informado (ainda que, perdoem, não fosse na norma culta...). Como muito dessa greve, a crise das famílias começou devido às mudanças na cidade para a Copa (a greve dos municipários também estourou por isso, mas explico em outro post).

No caso, são 48 famílias. Algumas foram desalojadas e mantidas agora sem água, luz e saneamento no Lami (situação "temporária" que dura 6 anos - além do prazo, é tão significativo que alguém possa ser "temporariamente" deixado sem esses serviços de forma declarada pela Prefeitura...). Outras vivem em condomínio na Restinga construído para o Minha Casa, Minha Vida. Aí, o problema é que o governo não restringiu o esquema da Auxiliadora Predial, que agora cobra um condomínio abusivo tanto para o local em que moram quanto para um programa popular de moradia (R$ 300 mensais). Outras famílias ainda (não contadas nas 48) vivem em local também "provisório" há 4 anos e serão novamente deslocadas para as obras da Copa. A prefeitura encaminhou início das obras, só faltou preparar para onde pretender "mover" a galera.

Enfim como eu disse, eram crianças, velhos, mães, famílias mesmo. Eles foram lá fazer uma manifestação junto dos municipários, sendo (é óbvio) recebidos e agregados imediatamente. Mas, assim que chegaram, os guardas municipais que estavam na frente da prefeitura fecharam uma das folhas da porta principal. Imediatamente um grupo bem maior de outros policiais fechou apenas o lado da entrada em que as famílias recém chegadas estavam posicionadas.Os municipários gritarem que a polícia abrisse a porta e os tratasse de forma igual (sem pressupor que eles tentariam algum tipo de violência) obviamente não gerou efeito algum. A polícia não abriu a porta. 

Cá entre nós, por que abririam? Tudo que os municipários fariam seria mesmo gritar e seguir sua manifestação ultrapacífica. Grevistas ainda não aprenderam que nenhum governo tem medo de cara feia. Por que sua polícia teria?

terça-feira, 24 de maio de 2011

O fingido e masturbatório apoio à Educação

É tão bonito ver a população de Porto Alegre apoiando a professora Amanda Gurgel. É claro que a cidade segue em greve por propostas cada vez mais insultantes da Prefeitura. É claro que as pessoas continuam falando que professor ganha muito e que não podia estar em greve, como se o salário de alguém justificasse o governo não pagar suas dívidas, como se o salário verdadeiro dos professores fosse realmente alto e como se os demais serviços de Porto Alegre não precisassem da união dos municipários para conseguir também suas exigências. É claro que, depois de Cézar Busatto, José Fortunati (prefeito) foi à imprensa inventar salário dos professores. 

Mas é lindo as pessoas elogiando a professora Amanda Gurgel. Nossa, como se preocupam e valorizam a Educação...

Todos na prefeitura estão tentando entrar em contato com o prefeito para a cobrar a dívida ainda maior se ESTE é o salário que deveriam estar recebendo! (Correio do Povo de hoje)

Freud explica - política

Políticos implicarem que os trabalhadores de suas secretarias ou ministérios são incompetentes, preguiçosos ou escorados tem nome. Chama-se projeção.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Prefeitura cagando para os servidores

Hoje saiu nos jornais de Porto Alegre uma nota da prefeitura mentindo a respeito dos grevistas e justificando a postura com as piores desculpas que alguém poderia ter inventado. Por que representantes do governo acham tão natural falar bobagens que não seriam aceitas de alunos de 8a série?

No início da nota eles falam sobre seu grande interesse em pagar o devido. Uso "devido" aqui como derivado do verbo "dever". No caso, pagariam a dívida que diz respeito à inflação. Isso é menos da metade do dinheiro que devem às pessoas em greve (e não deveria nem ser necessário discutir), mas a nota faz um draminha dizendo que isso equivale a R$ 90,4 milhões anuais. Muito bem, quem é o incompetente que faz orçamento da prefeitura e não sabe que precisa levar suas dívidas (ainda mais ligadas à inflação) em conta quando calculam quanto vão gastar no ano? 

Cotinuo me impressionando com a facilidade com que políticos dia a dia justificam sua incompetência atual com sua própria incompetência pregressa. A mesma justificativa se repete três vezes na nota, e os caras ainda têm a cara de pau de destacar o valor que supostamente pagam para os municipários, afirmando que Porto Alegre é dos municípios que melhor remunera. Ora, até os municípios vizinhos de POA estão reajustando valores maiores com seus servidores, e os salários publicados nos jornais são FALSOS. Sim, a prefeitura publicou para todos que quisessem ver o salário de seus servidores e mentiu em todos eles. 

Como fizeram isso? Calcularam quanto ganharia um servidor, em máxima carga horária e com máximos abonos e publicaram como se fosse o salário de todo e qualquer funcionário. Se formos considerar os valores publicados, a prefeitura não está devendo 18%, mas 300% de reajuste para mais da metade de seus funcionários.

Toda essa mentira depende ainda do fato de que a prefeitura tem plano de carreira, mas não o cumpre. Os funcionários precisam concorrer a ganhar os abonos salariais a que legalmente teriam direito automático, de modo que uma pessoa (a maioria) que deveria receber o aumento de salário em seu sexto ano de serviço pode ter feito tudo corretamente, incluindo cursos extras e formações, e não ter recebido esse aumento nem no décimo segundo ano de trabalho. Tudo isso está embalado no pressuposto, antigo e ao mesmo tempo tão atual, de que quem ganha "bem" não deve reclamar, o que é ridículo por dois motivos básicos: (1) "bem" é relativo, em comparação com um prefeito, por exemplo, todos os servidores públicos de Porto Alegre ganham MUITO mal; (2) dívida não depende de quantia para ser dívida, se o governo estivesse devendo 1 milhão a alguma empresa a que aceitou pagar 3 milhões, já ter pago 2 seria justificativa para deixar de pagar o milhão que faltasse? A intenção, é claro, segue sendo ressoar para quem recebe pior (do que a quantia fictícia publicada nos jornais) que as pessoas em greve não têm do que reclamar, e têm de aceitar o desrespeito do governo já que existem pessoas MAIS desrespeitadas que elas. Por que a Prefeitura de Porto Alegre teria vergonha de usar tática tão infantil quanto essa se grande parte de nossa política contraparticipativa se baseia nisso?

A Prefeitura ainda declara que não paga o que deve aos funcionários por precisar prestar serviços a toda a cidade! Em que cidade eles acham que seus servidores trabalham? Obviamente a Prefeitura nem se manifestou sobre não ter aumentado o salário dos que não recebem um salário mínimo... E o prefeito (José Fortunati - PDT - vice que pegou a bola do Fogaça quando este abandonou o cargo), em mais de um mês, não tomou conhecimento dos conflitos que estão travando todos os serviços que a cidade deveria prestar à população.

A pilha de abusos é quase infinita, mas a nota nos jornais não deixa de registrar o "estranhamento" da prefeitura com a "atitude de intolerância" do sindicato. Sindicato? 90% das escolas pararam, os postos (e mesmo o HPS, um dos principais hospitais de Porto Alegre e, mais do isso, de extremo valor simbólico por aqui) estão parados... Se o sindicato não tolera mais, pelo menos dessa vez na vida, é porque os empregados da prefeitura estão apoiando. Mas, claro, o goveno sempre estranha que alguém invente de ser "intolerante" com sua incompetência, descaso e difamação. Para piorar, os jornais publicam uma coisa dessas e nem esboçam um mínimo interesse no assunto. A ZH, por exemplo, nem matéria reproduzindo o discurso da prefeitura se deu o trabalho de fazer, que falar de aproveitar essa bola picando para uma notícia bombástica sobre o que a Prefeitura permite que aconteça levando a situação até uma greve indefinida.

As ameaças de retaliação aos grevistas se espalham em todas as secretarias, o que não deixa de me lembrar a matéria da Veja última sobre o Palocci. Governa-se no Brasil como seres superiores comandando uma massa inútil. Mesmo quem faz o trabalho para o próprio Estado deve acatar desrespeito calado e comportado. Quem falou que o "Brasil, ame-o ou deixo-o" acabou? O que (quase) acabou foi a afronta a essa política.

sábado, 21 de maio de 2011

Enquanto Jesus não vem

Not over yet!
Eu fiquei sabendo por acidente que os EUA sofria de uma campanha religiosa alegando que o mundo acabaria hoje. Supondo que seus crentes não entendessem inglês ou nunca procurassem informações por lá, alguns pastores brasileiros fingiram que Deus os informou diretamente, por um ou outro pastor em especial, que o mundo acabaria hoje, sem dar crédito à campanha americana, é claro.

Bom, como vocês talvez tenham notado, Jesus não veio, nem ninguém mais trouxe a forma um tanto hiperbólica de Apocalipse defendida por João e alguns outros profetas bíblicos. Como Sauron, we endured.

Menciono a campanha, e que haja uma versão brasileira, porque me parece um indicativo sociológico importante. Digo isso de forma amadora, claro, e apenas tentando ser didático. Imagino que existam muitas conclusões sociológicas profundas a serem retiradas daí, mas queria registrar uma conclusão amadora: a mania do fim do mundo com data marcada indica uma certa forma decadente de religião. Decadente ou enfraquecida, sem suficiente alimento para se tornar forte, saudável, ou seja, capaz de agir no mundo, independente de ressentimento ou niilismo.

A questão da existência, o simples fato de que existimos, continua um mistério, é claro. As religiões dão respostas que dependem de uma fé absoluta (nem toda crença precisa ser totalmente irracional, mas que Deus ou deuses quiseram que existíssemos não é o aspecto mais justificável das religiões). A ciência, por sua vez, é literal demais ao responder "de onde viemos". Todas as teorias se perdem numa recapitulação histórica quase infinita. Quase, porque eventualmente chegamos naquela questão "Ok, mas de onde essa poeira, energia ou anti-qualquer coisa veio?" "Não sabemos..."

Então, o fato de que existimos é, por si só, bizarro o suficiente para que qualquer religioso diga que é um milagre e não tenhamos muito o que opor, a não ser talvez que preferimos dizer "azar", ou "sorte" em vez de "milagre". Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum: a ignorância.

Mas não é só por isso que a vida na Terra (ou a própria Terra) pode ser encarada como um milagre. Por que a Terra? Por que a Terra formou seres conscientes? Por que os meteoros realmente destrutivos erram o nosso planeta há tantos milênios? E por que as crises nucleares, os erros de cálculo e o mero azar não evaporaram nosso planeta ainda?

Por milhões de ângulos que possamos pensar, every breath you take é um absurdo, algo que pode ser percebido como mágico, maravilhoso, misterioso... Religiões, em seus estados saudáveis (que assim chamo no sentido politicamente incorreto mesmo, implicando que certas pessoas têm crenças doentes, débeis e que deveriam ser tratadas por psicólogos ou psiquiatras), têm plena consciência desse absurdo, e retiram dele enorme alegria. Pela ação de um deus protetor em particular ou do Deus único e universal, essas religiões encaram a nossa existência e o fato de que não somos incinerados pelos erros ("pecados") humanos a cada instante como uma dádiva divina. Esse tipo de religioso é agradecido por cada novo dia na Terra, com todas as suas imperfeições e dificuldades.

No entanto, essa modalidade tem um herdeiro doente: um crente mimado e mesquinho, que não aprecia a vida, não reconhece ou não tem conhecimento e amplidão de olhar suficiente para encontrar, por meios laicos ou religiosos, o extremo acaso (ou milagre) da existência. Mesmo infinitamente ignorante do quadro geral, a vida que ele encara é demais para suportar conscientemente. Os erros que enxerga são muitos e sua impotência esmaga-se por seu próprio peso, como o nascimento de um buraco negro. Esse crente precisa ser salvo do mundo, e tudo que ele não enxerga de milagroso em cada segundo precisa lhe ser cobrado num dia só, que reuniria todo o absurdo da existência e todas as promessas redentoras que viriam salvar seu ego auto-mimado. A religião plena, forçada e concentrada num dia só, viria enfrentar, desfazer e redimir esse crente numa forma desfigurada de religiosidade. Uma forma de crer que não aguenta o mundo (o pouco que enxerga) e que não pode imaginar como suportar e aceitar os "pecados" de todos, particularmente os dele próprio.

Parece-me amplo material para reflexão que religiosos que acham seguir Cristo sejam assim intolerantes consigo e com os outros, e que o Brasil tenha gente assim desesperada e pastores tão desesperados quanto ou tão corruptos para lucrar em cima de um desespero dessa ordem.

Um pouco de Educação e greve

Meu blog não tem grande alcance, mas resolvi fazer uns serviços de utilidade pública aqui. No caso, esclarecimentos antes de contar umas coisinhas que ocorreram nesta manhã.

Na quinta passada (19/05), os municipários de POA decidiram que começariam uma greve na segunda (23/05). Em resposta a isso, Cézar Busatto, secretário do cargo de nome mais irônico do governo (presente no texto citado abaixo), voltou à imprensa. Vejam o Correio do Povo:

"Por avaliar que os servidores radicalizaram ao deflagrar a paralisação, o secretário municipal de Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, afirmou que os grevistas terão os dias não trabalhados descontados dos salários.
"Segundo Busatto, a Prefeitura optou por não pagar a reposição das perdas inflacionárias, totalizando 6,51%, até que a mobilização seja suspensa. 'Vamos agir no rigor da lei', disse. Na avaliação do secretário, a greve vai causar prejuízos à sociedade. 'Vamos fazer o que for possível para garantir a manutenção dos serviços essenciais', salientou."

(Numa nota paralela, permitam-me apenas comentar como políticos tendem a usar a expressão "rigor da lei" quando estão sendo autoritários e, geralmente, eles próprios transcendendo limites legais de sua atividade. Uma espécie de cacoete misturado com ato falho.)

Em primeiro lugar, cortar pagamento de grevistas é contra a lei, por motivos óbvios (coerção). Em segundo, ele não vai fazer bosta nenhuma para os serviços essenciais não serem cortados. NINGUÉM que está organizando ou participando das negociações, das assembleias ou da greve deixou de frisar, desde o começo, que os serviços essenciais seriam mantidos. São OS GREVISTAS que farão todo o "possível para garantir a manutenção dos serviços essenciais". A proposição de que isso fosse mantido pela prefeitura só pode ser considerada uma piada: servidores ou políticos são os primeiros a se preocupar com a população atendida? Políticos?! HAHAHAHAHA!

Abundaram em suas manifestações públicas outras bobagens, como citar o IPE como garantia da prefeitura que aumentou seus gastos, como se previdência fosse prêmio e como se não houvesse uma luta há anos para que os municipários tivessem também acesso ao IPE. Relação necessária com a greve? Não, mas ele misturou assuntos com toda a tranquilidade, e nenhum jornalista foi capaz de pensar a respeito do que noticiava, pelo jeito.

Agora, por que ele considera que a greve tenha sido uma radicalização desnecessária? Porque "as negociações estavam avançando". Ele esqueceu de mencionar que as negociações só começaram a "avançar" depois que os municipários paralisaram, na segunda passada. Antes disso, em UM MÊS de "negociação" (após mais de 2 anos de progressiva falta de reajuste), nenhum responsável na prefeitura tinha LIDO as exigências dos municipários. Sim, esperava-se uma contraproposta da prefeitura e eles não tinham nem lido a proposta. Paralisam-se os trabalhadores, faz-se uma manifestação, o Busatto apresenta uma proposta ridícula que não atende a maioria das exigências, promete parcelamento do pouco que é oferecido em resposta, e greve passa a ser chamada de "radicalização desnecessária". 

Uma questão seria pensar se a greve não deveria ser chamada de "radicalização atrasada". Entre as exigências estão reajuste salarial de 18% e que todos os servidores recebam pelo menos um salário mínimo. Ou seja, a prefeitura devendo salário para todos e mínimo para alguns. A prefeitura... devendo... mínimo... Greve?

Pior do que isso, dizer que uma greve é feita de forma desnecessária é sempre um insulto direto a todos. Isso implica, no mínimo, afirmar que a prefeitura contrata apenas pessoas antiéticas e arruaceiras. Se sim, a prefeitura é extremamente incompetente em seu processo de seleção. Se não, as pessoas que decidem parar com um serviço de que veem a importância todos os dias são publicamente ofendidas e, como de praxe, não podem todas apelar a um direito de resposta com o mesmo destaque. Dizer que os grevistas são antiéticos, mais ainda nessas circunstâncias, constitui calúnia.

Pois bem, nesse quadro, alguns líderes sindicais foram a uma formação continuada da prefeitura, hoje de manhã, para reafirmar a decisão de greve e relembrar a inconstitucionalidade do ataque de Busatto nos jornais (descontar dos trabalhadores em greve). A secretária da Educação de Porto Alegre, Cleci Jurach, lá estava e resolveu falar. A olhos vistos, os professores presentes resistiram a vaiar logo de início, por um resquício de paciência. Agora, quando ela começou a defender o Busatto, a usar as mesmas distorções que ele e xingar o sindicato e a greve (de "pelego"), a vaia foi geral. 

O que mais me chamou a atenção, porém, é que havia algo estético naquela situação, a secretária de Educação sendo vaiada por professores furiosos. Quer dizer, ela é a pessoa que deveria ser responsável pelo trabalho de todos ali, em certo sentido. Ela é o equivalente de um "coordenador público" do serviço dos presentes. E estes a vaiarem denota perfeitamente a merda atingindo o ventilador. Denota também que ela, Busatto e o prefeito José Fortunati (que já foi secretário estadual da Educação), deixaram a situação chegar nesse ponto (e continuam nem aí).

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma dica de RH

Tendo em vista os grandes problemas de leitura tanto de jornalistas quanto de gramáticos, problemas manifestos em milhares de jornais e sites discutindo o novo livro do MEC (e explicitados nesse texto), comecei a pensar em como me sentiria se fosse do RH ou dono de alguma empresa. Ora, se até gramáticos leem mal, não sendo capazes de interpretar frases de um livro didático nem perceber contradição entre texto citado numa matéria e a manchete da mesma (uma situada sobre o que estou falando aqui), como eu poderia me basear no currículo de um sujeito para julgar suas habilidades? Eu conheço professores com ótimos currículos e por quem não tenho nenhum respeito profissional, assim como outras situações me chamavam a atenção nesse sentido, mas o caso do "escândalo" do livro do MEC foi a gota d'água. Porém, foi também o que me deu uma ideia para uma solução.

Se fosse contratar alguém, não olharia currículo nem nada. Entregaria uma matéria de jornal falsa. A manchete diria algo a respeito do aumento da competência profissional no Brasil. A matéria indicaria exatamente o contrário. Perguntaria, então, ao candidato qual o ponto de vista do "jornalista" a respeito da competência dos brasileiros e quais os argumentos apresentados na matéria. Se o candidato respondesse o que estava na manchete ou não soubesse apontar e avaliar os argumentos, rua!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Uma medida para a incompetência

Médicos em geral se incomodam com amadorismos intrometidos de pessoas que acham que entendem determinadas doenças, determinados remédios ou a fisiologia humana sem terem nunca estudado Medicina (e sem falarem, em geral, coisa com coisa). Professores costumam ter reação semelhante até mesmo a respeito da opinião de profissionais ligados à educação se estes não entram em sala de aula. O mesmo parece ser verdade para cientistas, advogados, pedreiros e juízes de futebol. A ideia de que "todo brasileiro é (implicando acha ser) técnico de futebol" é uma crítica comum à autoridade mal embasada da maioria para falar mesmo do esporte que é acompanhado de perto por tantos.

Parece que os especialistas costumam ter razão nesses assuntos: amadores (ou só interessados) costumam saber bem menos do que imaginam a respeito de qualquer coisa sobre a qual estejam opinando. As propostas e soluções de problemas apresentadas pelos amadores podem ser descartadas com facilidade pela maioria dos profissionais minimamente competentes.

A única área em que essa proporção entre erro amador e acerto profissional me parece ser inversa é na política. Não na política em si (a mera luta por poder e votos), mas naquela parte que envolveria decisões técnicas e administrativas. Quando chega a hora de administrar a máquina pública, políticos tendem a ser assustadoramente incapazes. Isso porque dão tanta atenção para a política de verdade (as trocas de favores, os apertos de mão, as passadas de perna, os contratos ilícitos, as distorções legais) que esquecem mesmo regras óbvias de administração. O simples senso comum, ou a opinião do profissional envolvido diretamente com o trabalho são infinitamente mais competentes que a opinião do político que deveria dirigir determinado serviço, secretaria, departamento...

Na política, o senso comum, amador ou prático (ou o simples bom senso) conseguem ser quase sempre mais competentes que o sujeito responsável pelo serviço prestado. A coisa é assim tão ruim!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sem passado... somos presentes

Se tem uma coisa muito "pós-moderna" do meu discurso é que realmente sustento que o passado não existe, a não ser como construção atual. Isso geralmente é mal interpretado (por defensores e detratores) para se dizer que o passado não existiu, não foi um fato, ou que nenhuma versão a respeito dele possa ser mais verdadeira que outra simplesmente porque todas seriam versões. Do meu ponto de vista, isso é mais ou menos como raciocinar da seguinte forma: uma pessoa andando de bicicleta nunca estaria totalmente equilibrada, porque ela está sempre construindo esse mesmo equilíbrio. Se o equilíbrio é um ato contínuo, nunca há equilíbrio de fato, e daí se conclui que uma pessoa caída no chão e um ciclista em movimento suave e elegante estão pedalando igualmente mal.

Não: "o passado só existir como construção atual" quer dizer que o passado precisa ser "atualizado", para entrar em questão, para ser. Ele precisa ser referido, sendo sempre, SEMPRE, atualizado por algum motivo. Obviamente, ele só é atualizado, então, para servir esse motivo. Talvez algum chato encontre uma situação limite em que ele pudesse ser atualizado só por ser, não sei se é possível, mas tenho ótimos motivos para crer que, se atualizado apenas por isso, o passado evocado seria também imediatamente esquecido. O passado é sempre um argumento, é isso. Portanto sua existência só nos interessa em relação ao presente, e mesmo a pesquisa científica do passado é uma luta para justificar o presente ou para questionar esse presente e a teoria que o justifica. 

Por isso mesmo precisamos sempre ser lembrados do passado (relevante - mas "passado relevante" é meio redundante: não seria lembrado se não fosse, de alguma forma, relevante). Não adiantou se inventar o gauchismo, por exemplo (particular invenção de passado, já que "invenção", aqui, como bem se sabe, é muito literal, longe de depender de um pós-modernismo lexical). É preciso que a cada, ano, a cada jogo regional, a cada notícia sobre relações políticas entre RS e Brasília, a cada gaúcho no noticiário nacional, enfim, a cada momento que for possível ele seja ser reafirmado. O mesmo para o nacionalismo, o anti-colonialismo, o ódio a ditadores, o horror com o Holocausto... 

Agora, não é porque o passado de fato ocorreu (mais ou menos inacessível ao nosso conhecimento) que a afirmação "o passado só existe como construção atual" não o fragilize severamente. Sim, o passado sai quase paraplégico dessa afirmação. Porque isso significa que o passado não justifica ações atuais. Não por si. O que o passado faz é dar uma desculpa "racional" para que justifiquemos ações que queremos fazer agora, seguindo o que sentimos no presente, seja esse sentimento racionalmente confeccionado ou não. Não é perder um filho que justifica o choro, mas a dor, presente, da falta do filho. É ela que evoca o passado, para embelezá-lo e engrandecer a dor presente, dar-lhe mais cor num masoquismo que pode nos parecer totalmente justificável, mas que nem por isso dá solidez ao passado. Para dar um exemplo meio extremo, um psicopata que não chorasse a dor da perda de um filho ainda seria capaz de reconhecer o fato de que tinha um filho e agora não tem mais. Ele não choraria porque lhe faltaria a dor, mesmo que tivesse conhecimento sobre o passado. Ele esqueceria em segundos o fato (estaria na memória, mas não seria conscientemente atualizado a cada milésimo), desinteressado pela falta de relevância presente para aquilo.

É óbvio que podemos reconhecer os sentimentos de outras pessoas em relação ao passado, como podemos entender por que um pai ou mãe está chorando a morte de um filho, mesmo tempos depois, e podemos lhes dar seu tempo ou respeitar sua expressão de sofrimento; não estou falando contra a empatia. Mas o passado como argumento não é apenas filosófica ou subrepticiamente falso, chega a ser, em casos mais graves, pernicioso. Assumir que ele só é evocado para justificar interesses presentes é dizer também que ele é usado para ocultar esses interesses. O conflito é atual, o interesse é atual, a justificativa é passada? Não, a justificativa é um apego, um sentimento, um interesse, todos sempre atuais. Nossos sentimentos não vêm do passado, mesmo que assim os associemos, eles nascem e se formam hoje, aqui e agora

Novamente, isso não quer dizer que o passado não tenha existido. Mas ele só existe (presente) como racionalização, teoria, desculpa ou justificativa mágica. "Dívida histórica" (negra, colonial, palestina, israelita) é um conceito mágico. Existe uma herança direta de uma série de problemas que deve ser resolvida dentro dos conflitos atuais e de necessidades que podem ter raiz no passado, mas essa raiz precisa ser traçada materialmente, só interessando por suas consequências atuais. Se lidamos com consequências atuais do passado, é porque estamos ligados a conflitos atuais. O passado, religioso, combatente ou crimonoso, nada pode cobrar do presente. Parece tautológico, mas precisa ser dito: o passado não existe mais. Seria uma grande ajuda deixar de mistificar conflitos presentes com as máscaras do passado.

domingo, 15 de maio de 2011

Uma Babel de judeus e professores

O que me chamou a atenção mesmo nos bafafás sobre o metrô de Higienópolis e sobre o livro do MEC que "ensina o erro" foi o quanto as duas discussões não evoluíam, independente de quanta informação nova fosse publicada.

No caso do metrô, as versões que corrigiam equívocos sobre a origem da informação preconceituosa, o quanto ela seria ou não representativa daqueles que não queriam o metrô, os motivos por que a prefeitura teria mudado o planejamento da obra, a "indiferença" da "gente diferenciada", o extremo antissemitismo de alguns críticos aos "moradores do bairro" (o que ficou por isso mesmo, aliás)... nada fazia com que nenhum dos lados tentasse se retratar ou responder às críticas do outro. Basicamente o que aconteceu foi que as pessoas pegaram as bandeiras no início da conversa e seguiram adiante, cegas e surdas a quaisquer novas informações.

É óbvio que é muito mais divertido fazer barulho por nada que discutir um assunto e chegar a uma solução adequada, realista, ponderada e útil, então não é estranho que o assunto tenha se desenvolvido assim, mas achei curioso os mesmos dias serem recheados por outra discussão que não evoluía, a do MEC. 

Depois da gritaria internética "MEC distribui livro que ensina o erro", as informações começaram a aparecer. Aliás, todas aos pedaços (como as sobre Higienópolis - é a maior dificuldade tentar contextualizar quando e como cada coisa foi dita ou escrita). Juntando as citações cortadas, ao que me parece a situação é esta: o livro deixa aberto ao aluno falar como quiser, desde que tenha consciência de que existe uma relação direta entre adequação e aceitação (o que implica que ele deve aprender a variante mais conceituada - ou seja, o livro não defende que o aluno fique na ignorância).

Não vi citações diretas do livro afirmando que se possa escrever de qualquer forma. Só achei críticos do livro acusando-o de afirmar isso, só que baseados naquelas citações que tratam da fala. Sendo que, tecnicamente, o livro não defende que se fale errado, só disse com todas as letras o que há muito guia a educação nacional: a fala deve ser adequada a cada contexto e não é uma tradução da escrita, nem vice-versa. Podem até discordar disso, mas por que estouraram agora? Só agora um livro foi tão didático que entenderam que era isso que estava sendo dito há anos?

Mesmo assim, defensores e detratores do livro pegaram suas bandeiras clássicas e começaram a extrapolar que aquilo que cada um defendia (ou combatia) era o que estava escrito. A confusão foi tanta que Pasquale apareceu citado como um dos críticos, só que ele falou (com entonação de pessoa ponderada) exatamente a mesma coisa que está no livro. 

A única pessoa que parecia saber bem o que estava discutindo era o Bechara, que, ao criticar o livro, criticou também os PCNs, já que o livro segue o que está traçado lá. Ora, se livro e PCNs concordam, a grande revolta que está estourando agora deveria ter explodido há muitos anos. Claro, se algum desses defensores da língua e da educação se interessasse pelo assunto para além de modas de twitter. A evolução e a resposta dos responsáveis no MEC só pioraram a discussão, já que se começou a acreditar que o que eles tinham dito estava escrito no livro, o que nem sempre era verdadeiro. 

Ou seja, a internet até promove debate e discussão de um monte de coisas que não costumavam ser debatidas assim diretamente, em larga escala. Mas a discussão sobrevive só como discussão. Ela não evolui, não importa quantos novos fatos sejam publicados: a Folha obviamente não acusou nenhum golpe das graves críticas que a Veja lhe fez, assim como Taz não tremeu com o que certamente viu sobre sua reação ter sido apressada e desinformada. O MEC virou vilão sem mudar de postura há décadas, e o livro é criticado e defendido sem que ninguém saiba bem o que está nele. Assim vamos, debatendo sem razão, sem conhecimento e sem sentido.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

De novo o ódio

Eu estou cansado do assunto, mas preciso contar o que ouvi hoje. Como bem se sabe, muitas pessoas a favor da "diferença" são autoritárias nessa defesa, especialmente quando o assunto é liberdade sexual. Ou seja, para elas, quem não aceita que outras pessoas transem com quem quiserem deveria ser encarcerado ou algo do tipo.

Pois bem, uma conversinha do tipo surgiu na minha volta hoje, mas que passou do extremo clássico - sobre o Bolsonaro, para variar. O extremo clássico acontece quando as pessoas usam táticas de Bolsonaros para lidar com Bolsonaros. Ou seja, querem lhes dar umas porradas para "dar uma lição". A pessoa que vi passar desse extremo propôs uma tática que me parecia silenciada há muito tempo: queria não apenas que Bolsonaro recebesse uma lição na porrada, mas que isso fosse feito por um grupo de pessoas e que (foi implicado) ele fosse estuprado

Respiremos um pouco dessa opinião com os seguintes comentários (minha conclusão retomará o todo): diferente das pessoas que vi defenderem algum direito dele até hoje, eu não concordo com absolutamente nenhuma opinião (que eu conheça) de Bolsonaro. Considero, no entanto, tão angustiante que basicamente ninguém tenha tentado aproveitar as bobagens que ele diz para educar as pessoas que ignoram tanto quanto ele a respeito de tantos assuntos importantes que ele trouxe à baila. Em vez, corais de "prende ele", "bate nele"... 

Acontece que os preconceitos de Bolsonaro não são raros na população (ainda que também não represente dos maiores grupos, acho). Mesmo assim, essas opiniões são do tipo que nunca têm muita visibilidade exatamente por causa do politicamente correto e, em certa relação, por essa reação autoritária das "pessoas de bem" a qualquer um que as ensaiasse em rede nacional. Pois surgiu um idiota a gritá-las para o Brasil inteiro. A oportunidade, para quem quisesse fazer do limão uma limonada, foi obviamente desperdiçada. Porque educar não importa, o que vale é prender, proibir ou mandar (com decretos inférteis de boa consciência, como o oco "não darás palmada"). 

Quanto às pessoas que pensam parecido com Bolsonaro, mas que usam motivos racionais para embasar suas resistências, por exemplo, ao "Escola sem Homofobia", também se recebeu de Bolsonaro uma boa oportunidade para se opor bons argumentos aos dos "conservadores". Outra oportunidade perdida. 

Não se perde, nunca, no entanto, a oportunidade de se expressar extremo ódio e autoritarismo contra o odioso autoritário. É um bom índice de a quantas anda a nossa Educação: ninguém entendeu até hoje, com toda a campanha dos politicamente corretos nos últimos longos anos, que o preconceito ou o ódio seriam coisas ruins. Ainda se acha que o alvo é tudo, que odiar o "errado" é o mesmo que ser pacífico, que ter preconceito com preconceitusos é não ter preconceitos.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Auto-ajude-me

Comprei meu primeiro livro de auto-ajuda! 

Ok, é verdade que eu o descobri como de Educação e por seu autor desenvolver uma série de projetos e estudos que me pareceram muito importantes, totalmente voltados para as coisas que me incomodam na área. Quando vi que a livraria o classificava como "Auto-ajuda", não dei bola. Como Memórias Póstumas de Brás Cubas está sempre na sessão espírita ou na de biografias (ou simplesmente no genérico "Coleções", em que o grupo de livros da mesma editora livram os comerciantes de ter de achar nichos para os livros), não estranhei um livro que fala sobre crescimento e criatividade ser colocado ali. 

Só que o autor realmente quer apresentar uma questão que afeta tanto adultos quanto jovens - alunos, educadores e não-educadores. Além disso, ele é um britânico migrado para os EUA, então seu discurso "boa-fé" acaba soando mesmo no estilo auto-ajuda. Lendo, achei que o livro podia merecer a categoria, provavelmente aí vendendo mais do que se estivesse em Educação ou Pedagogia. Até que encontrei na introdução, depois de ele citar uns casos de pessoas que vivem de capacidades ignoradas pela escola, a seguinte frase: "But this book isn't really about them. It's about you."

Pô, aí não dá! 

Precisava apelar? Bom, pelo jeito, precisava. Ou esses anglos simplesmente não sabem mais escrever "para o público em geral" usando uma linguagem que fuja da eterna onda "Viva Melhor!".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Primeira reação: censura

É isso que para mim se torna naturalizado com facilidade numa sociedade que não sabe conviver com crítica: a reação à crítica é silenciar o crítico (ou cortar a conversa). É claro que uma empresa, ou grupo delas, ou um político, enfim, não tenta censurar por "não saber ouvir críticas", mas a reação pública a isso não é suficientemente poderosa. A resposta mínima deveria ser tão forte que não se tivesse a coragem de propor publicamente medidas desse tipo.

Aqui, no caso, críticas "pesadas", "incendiárias" a Belo Monte (como se até a mera avaliação do IBAMA não fosse, para quem lê com mínima imaginação gráfica, uma crítica pesada e incendiária) são respondidas não com ideias, mas com "afastamento" do procurador das "questões referentes à hidrelétrica", porque o dito procurador tinha site em que reunia tais pesadas críticas e estava sendo veemente em sua oposição à construção. Não importa se alguém grita asneiras ou verdades, a escolha é antes silenciar o crítico do que informar a população do outro lado da história. Se o procurador está tão errado, por que a Norte Energia não "esclarece o público"?

Os direitos de Israel

Uma coletânea de dados e argumentos. Autor: Joseph Massad, Columbia University.

Sweet

"I know we can take the world with Kindness, we can Kind up their Asses!" @russellcrowe

domingo, 8 de maio de 2011

Genoino patriota

Quando Nelson Jobim (ministro da Defesa) convidou José Genoino para ser seu assessor, ele basicamente disse, "Genoino que sabe das coisas, vou mais aprender com ele que dar pitaco". Foi importante naquele momento, ao que parece, estarmos saindo de uma eleição e Genoino não ter absolutamente nada para fazer. Estaria desempregado, se não fosse político, mas, sendo, obviamente podia contar com ser convidado para qualquer coisa, e o foi nada menos que para a assessoria da Defesa.

Hoje o cara que sabe das coisas foi condecorado pelo humilde ministro de quem é praticamente um mentor há anos (conforme disseram na época do convite), junto de 284 civis e militares que prestaram serviço à Defesa.

Jobim é um sujeito de retórica confusa. Disse por exemplo, na comemoração, que a Comissão da Verdade vai recompor a memória histórica, mas não tem objetivo de investigação. Que quereria ele dizer com isso? A Comissão vai funcionar no Ctrl-V/Ctrl-C? Vão ficar na superfície? Vão reunir documentos, mas ninguém vai ler tentando descobrir coisa nenhuma? Curiosa expressão. Talvez fosse a emoção da cerimônia, momento com certeza tocante. Jobim parece até ter exagerado na galanteria de novo ao falar sobre Genoino e sua condecoração. Conforme O Globo, teria dito "Nós estamos todos olhando para a frente. O que queremos fazer é um grande ajuste de contas com o futuro".

Ajuste de contas? O ministro está se vingando do futuro? Talvez suponha que o futuro olhará para trás e dirá "Como assim, Genoino condecorado pela Defesa?! Ele não merece!", e o passado responderá com uma medalha, na cara do futuro! Contas ajustadas. Ufa.

Elogio dos diabos

Em tom festivo e alegre, Delúbio teria dito, na festa que comemorou sua volta ao PT, que Dilma vem dando "continuidade ao que o ex-presidente Lula ensinou". Sentia-se "cada vez mais admirado com o governo". Sei que estavam alegres com a churrascada e a bebida, mas "continuar Lula" não é um insulto se vem da boca de um Delúbio?

Elenco bem escalado é fundamental!

Título brasileiro, "A minha versão do amor". Não subestimem pela temática um tanto restrita do trailer. O filme tem muito mais. Só escolhi um trailer que não contasse demais para não estragar e, ao mesmo tempo, mostrar o tal elenco que adorei.

sábado, 7 de maio de 2011

Um Dia das Mães "Toma-lá-dá-cá"

Conforme manchete da Zero Hora, "Mães desejam novos presentes para compensar dedicação constante à família."

Em primeiro lugar, lembremos que elas querem novos presentes. Não vale pegar o do ano passado e dar de novo, nem se for recauchutado, pelo jeito. Mais do que isso, lembremos de conferir essa tal constância de dedicação. A dedicação intermitente não exige compensação. Mas, se houve dedicação constante, tratava-se de um carinho em crédito, que fique bem claro. Por seus esforços, as mães estão exigindo os tais presentes novos. Os que não estavam avisados, às compras!

"É dando que se recebe", o novo slogan da Zero Hora para o Dia das Mães.

Psicopatia eleita

A Superinteressante (título que merece aspas, mas não é minha questão hoje) segue com sua tediosa mania de bolar capas conforme a tática de "terrorismo ao leitor". A deste mês estampa a manchete: "Psicopatas no Trabalho: Eles querem dinheiro, poder, um cargo alto. Cuidado: pode ter um na mesa ao lado." Explicitam ainda na capa que são 4x mais comuns em qualquer escritório que na rua (o que pressupõe certo elitismo dos psicopatas, mas acho que eles não vão se magoar).

Me chamou a atenção essa ideia de aterrorizar a classe empresária/liberal, particularmente porque o terrorismo poderia ser expandido a toda a população com o subtítulo "Cuidado: pode ter um no palaque ao lado". Falo sério: por que o conceito de psicopatia não é trabalhado quando o assunto é política? Sei por que a Super não faz isso - implicaria realizar um estudo socialmente relevante, que não é o interesse deles -, mas por que NINGUÉM faz isso?

Pensemos rapidamente: políticos vivem de acumular poder, o que ao mesmo tempo implica e depende de influenciar e em geral destruir milhares, talvez milhões de vidas; eles não se prendem a nenhuma ética ou moral nem expressam arrependimento; facilmente culpam as regras ou as investigações por serem punidos, não seus próprios crimes e aceitam tranquilamente os crimes dos colegas desde que estes estejam do seu lado em alguma disputa ou os favoreçam por meio do próprio crime. Que profissão mais reúne psicopatas, então? Curiosamente, freudianos costumam afirmar nossa busca por um líder psicopata, que nos permita (inconscientemente) desviar das travas de nossos próprios superegos. Pelo jeito o Brasil é um dos países mais democráticos do mundo, porque encontramos um número incrível de psicopatas para nos governar.

A defesa do inocente

Entrevista na Zero Hora com Ricardo Neis. Ele é perguntado sobre uma ex-namorada ter registrado na polícia que ela fora atacada por ele armadado de uma machadinha, um dos vários casos de violência que afloraram a público depois que Neis atropelou ciclistas do Massa Crítica. A resposta:

"Eu ainda não tinha sido ouvido sobre isso. Ela era uma garota de programa, e nós resolvemos viver juntos. Foi uma convivência tumultuada. As nossas brigas giravam em torno de dinheiro. No dia da briga, nós estávamos tentando nos reconciliar, não deu certo. Ela retirou a chave da ignição do carro e pegou o facão, que estava debaixo do banco, e começou a me agredir. Eu peguei a machadinha, que estava do lado do meu assento, e me defendi. Inclusive, fiz vários telefonemas para a polícia, na esperança de parar a briga. Acabei indo embora, e ela registrou a queixa e colocou a sua versão."

Trecho da Zero Hora online deste sábado.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Crítico

Às vezes indiquei minha incomodação com a dificuldade geral da humanidade em lidar com a crítica, tanto fazendo quanto recebendo, mas sempre foram comentários paralelos em posts sobre outros assuntos, me parece, então resolvi contar hoje uma cena que ilustra diretamente esse problema. Claro, trata-se de um "problema" para a minha visão de como a crítica deveria viver em sociedade.

Um colega teve uma iniciativa muito boa e a realizou. Deu supercerto, tanto para os professores envolvidos quanto para alunos. Problema? Isso também atrapalhou o que acontecia na minha aula, de forma direta ou indireta (o que não ficou claro no fim). Quando nos encontramos ele contou animadamente, para todos, como foi legal, e funcionou, e todos gostaram, e teve resultado, e tudo o mais. Eu achei bom tudo isso, mas resolvi indicar (na hora, para evitar de trazer na reunião que viria a seguir) que, da próxima vez, lembrasse de fazer o esquema todo longe das salas, porque tinha atrapalhado num momento chave o que eu e outra professora fazíamos na minha sala. 

Silêncio.

Ele se tornou imediatamente mudo, assim como as pessoas na volta. Não houve o que falar depois. Ele entendia que eu pudesse fazer uma crítica, não tenho certeza se entendeu ou não que eu não estava dizendo que era contra a iniciativa em si nem que não a tinha achado ótima para os alunos; simplesmente ficou um climão, e algumas testemunhas, mesmo concordando comigo, acharam que eu tinha feito algo errado. O quê? Tinha sido direto. Acontece que eu não pretendia ir contra ele, só pretendia inserir nos comentários gerais sobre o assunto uma crítica, o que, do meu ponto de vista, pode ser parte de uma conversa animada sobre algo bom. Sei que ele estava animado, mas não é possível se ir de um estado de animação para um estado de reflexão crítica (animada, se for o caso)? 

Tenho tido dezenas de experiências que indicam obviamente que não, mas nenhuma delas me convencia a ficar mais quieto. Esta convenceu. Só se pode criticar algo quando isso esteja sendo martelado pelo grupo. O que está sendo elogiado deve seguir sendo elogiado. Não é possível fazer um momento de conversa que olhe a ação de alguém pelos dois lados, a menos que se esteja em situação solene de crítica (reunião artificial para o assunto) ou se chegue "cheio de dedos". Esta expressão, aliás, parece querer dizer "com jeito", mas na verdade quer dizer "disfarçado de elogio". A crítica, desmascarada ou franca, é expulsa de qualquer conversa em que os elogios chegaram primeiro.

Ele guardou mágoa? Acredito que não. Mas , como foi possível vislumbrar comentando a situação, ele tinha uma crítica à minha crítica! Descobri qual? Não. Mesmo eu não tendo sido, ELE seria "educado".

NISSO a gente concorda

"O objetivo da justiça é CONSERVAR direitos." @Rerisson_C

Só que eu diria isso com J maiúsculo. Aí sim a frase é uma descrição perfeita dos fatos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Renan e CQC - momento simbólico

Renan, político, porém sincero...

Há quase uma semana, Ruth de Aquino escreveu "Renan Calheiros acaba de entrar para a Comissão de Ética. Roberto Requião arranca gravador de repórter para apagar sua própria entrevista. Tudo com o beneplácito do padrinho-mor José Sarney."

Curiosamente, hoje Renan entrou no clima do Requião e expulsou o Danilo Gentili do Senado, porque Danilo comparou o senador no Conselho de Ética a Fernandinho Beira Mar num Ministério Antidrogas. O Renan se irritou porque disse merecer respeito. Essa é novidade! Merece?

Autonomia teísta aplicada

"Aliás, falando em decisões e coisa e tal ... Não posso deixar de comentar isso aqui apesar de ser um tema polêmico ... Outro dia uma moça escreveu que estava em dúvida sobre a técnica cirúrgica (sleeve ou capella), mas que aí sonhou com a Lilith e isso foi um sinal de Deus para ela fazer Capella. People ... Ter fé é muito bom, mas olha, nem Deus deve aguentar esses papos ... Esse é um dos muitos casos em nossas vidas que devemos ser responsáveis pelas nossas escolhas, ser maduros, o corpo é nosso, Deus deu ele pra gente, nos gerou inteligentes para decidirmos por nós mesmos o que fazer com ele. Quando vc comeu e engordou não foi Deus que levou o garfinho na sua boquinha ... Então, conserte isso sozinho, assuma a sua responsabilidade com o seu próprio corpo, não jogue nas costas de outros uma decisão que é sua, até porque o sucesso a longo prazo vai depender exclusivamente dos seus atos ! Se apegue a Ele, peça proteção, força, coragem, mas não mete Deus numa escolha que é de sua responsabilidade."

Trecho de  http://mulherpneu.blogspot.com/ - neste post.

Bocejo


Porque às vezes o maxilar humano simplesmente não é suficiente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Para começar a semana

Ideias compartilhadas por milhões de pessoas nesta segunda-feira:

1 - Todo o mundo sabia onde estava Osama bin Laden.
2 - Osama não está morto.
3 - Até 2014, nem as obras da Copa nem o projeto do cartão SUS terão sido realizados, mas ambos terão custado bilhões de reais.

A revanche do Osama

Que merda essa morte do Osama, hein? O Obama tenta se focar só na dor das vítimas de 11/9 e na ostentação de poder dos EUA (o que em si já seria um problema), mas a população nas ruas e na Internet faz questão de cavar o buraco o mais baixo possível comemorando e tripudeando o que podem. Além disso, o assassinato dele provoca uma acusação direta do Hamas, o que quase não seria problema tão grave (já que era tão previsível) se hoje eles não estivessem para assinar a paz com o Fatah e ambos não estivessem se aproximando do Egito, o qual, mesmo sob a ditadura militar que era liderada por Mubarak, já indicou atenuação dos impedimentos navais à Faixa de Gaza e a intenção de aumentar seu contato com Irã. 

Enquanto isso, os principais jornais americanos correram a "dar voz ao Oriente Médio", desde que reforçando como puderam a ideia de que "a guerra tem de continuar" - desculpem, a intervenção americana por lá. Mas, claro, não são os americanos que estão dizendo isso, imagina... E o Wikileaks, sempre pronto a pisar mais ainda, acusa que os documentos de Guantanamo dariam pistas há anos sobre o paradeiro do Osama.

Ou seja, a declaração direta do Hamas está num contexto que dificilmente poderia ser pior. Mais ainda, eles acusam os EUA por matar um mártir enquanto o Fatah critica não a morte de Osama, mas os métodos da política internacional americana, o que é representado como uma discordância entre as facções. Ora, dá mais a impressão de que vão fazer a velha dobradinha policial bom/policial ruim. O candidato acena para os moderados enquanto o vice apela para os extremistas.

Assange, para além do facebook

Deem uma olhada no vídeo dessa matéria sobre Julian Assange. A imprensa deu destaque ao que ele disse sobre o facebook, o que não é grande variação do que geralmente se diz a respeito. Mas olhem além a entrevista, quando ele passa a falar sobre imprensa. Aí sim tem umas opiniões pesadas.

domingo, 1 de maio de 2011

Preparando-me para meritocracia

Não sei de o sistema "meritocrático" estar para ser instalado na Educação do RS em breve, mas é sempre bom estar preparado. Falando em preparação, não posso esquecer que tenho a tendência de me expor frente a chefes quando discordo fortemente de suas decisões, o que significa não apenas que não posso contar com politicagem para ser favorecido, como posso acabar sendo desfavorecido por essa mesma via. Sou frágil por esse lado (aspecto importante para nós, pessoas a serem julgadas por aqueles que ninguém julga), apesar de ser assim tão carismático :-P

Em compensação, estou tendo curiosa experiência que permitiria embelezar meus resultados, sejam ruins ou ótimos. Observei que, em turmas com quem consigo me relacionar muito bem, propor trabalhos em grandes grupos joga a nota média da turma quase ao ápice. A média fica por algo como 9,5, mesmo que o trabalho envolva uma matéria em que estejam com dificuldade. Enquanto reconheço como os alunos mais titubeantes mascaram seus resultados ali no meio, o que me levará claro a outras abordagens para resolver suas dificuldades de forma mais incisiva, é bom saber que posso contar com eles para fingir que sou um professor perfeito, com alunos absolutamente fora da média das escolas públicas e sem um histórico de educação assustadoramente complicado.

Enfim, quando alunos e professores têm a lucrar com uma boa mentira, o quadro só precisa de bancas interessadas na mesma mentira para ficar realmente perfeito. Por enquanto eu posso encarar a realidade e tentar resolvê-la, dentro das restrições que já existem a isso, mas, como a meritocracia, se viesse, cairia de para-quedas independente da vontade real dos cidadãos e dos critérios com os quais a maioria concordaria, melhor saber o que fazer quando e se o dia chegar. Ah, sim, e ainda posso curtir certa liberdade política, sem estímulos financeiros para exercitar a obediência política premiada, podendo dar a cara a tapa sem grandes consequências econômicas.

Lotado

Assim é o problema de vagas, perseguindo-nos desde o nascimento...

Crime compensa


Alguém lembra dessa charge? Não? Tudo bem, a cada dia ela se torna mais e mais atual, prometendo ser resgatada em blogs como este muitas vezes mais.