quinta-feira, 30 de junho de 2011

A teoria do cânone

Hoje um colega cantarolava insistentemente determinada música, até que uma colega em comum, que trabalha com música, passou por perto. Como estava sendo afrontado a respeito da cantoria (não por ela), perguntou se ela conhecia. Frente à negativa, o cantor respondeu com aquele clássico Baaaaaaaahhhh de "estou impressionando", "estou chocado", "estou decepcionado", esses tons de insulto social. Ela repetiu com toda a tranquilidade que não conhecia a música e, quando ele disse de onde ela era, a colega respondeu com um irônico "Ah, tá! De tal lugar... hmmm..."

Uma terceira riu perguntando se havia lógica em se esperar que alguém conhecesse todas as músicas só por trabalhar com isso. O assunto não se desenvolveu muito mais depois disso.

Além de odiar a prática do "como é que tu não conheces isso?!", sinto francamente que quem trabalha com literatura é visto por outrem como uma pessoa que obrigatoriamente conhece todas as obras "importantes", "relevantes" e "boas", mais do que quem trabalha com outras artes. Pode ser só impressão (já que não trabalho com música, pensando nesse caso), mas me parece que é bem mais fácil alguém admitir que o tamanho da lista de músicas do mundo é tão grande que ninguém daria conta, ou precise dar conta, de todas as consideradas "grandes". No caso da literatura, parece haver um cálculo intensificando as exigências de erudição.

A escola, particularmente o Ensino Médio e os pré-vestibulares/Enem, deve dar a impressão de que existem mais ou menos 3 grandes obras por cada escola. Geralmente sobram na memória de quem se importa em conhecer cânones Barroco, Arcadismo, Romantismo, Parnasianismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo, Pré-Modernismo (nomenclatura que, espero, tenha terminado de cair, mas não sei qual o nome que vestibulares usam atualmente para isso), Modernismo, Romance de 30, Poesia Concreta e os últimos meio sem nomenclatura. Para estes, parece-me que cada pessoa inclui mais ou menos Drummond, Clarice, Cecília, João Ubaldo Ribeiro, João Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e alguns poetas regionais. Vinícius de Moraes e alguns outros são considerados grandes, mas pouco lembrados se se pensa em livros propriamente. Temos, na relação 3 cânones para cada escola, algo como 33 + 6 relativamente sem classificação no senso comum vestibulado + 1 regional. 

A esses 40, uma pessoa que realmente se importe com cânone vai acrescentar clássicos óbvios, como Homero e Sófocles, e uns estrangeiros, por volta de 15, creio, cobrindo o resto do continente americano, mais ou menos, e uns europeus, talvez uns russos e um autor africano que esteja na moda de programas culturais de TV e jornal. Digamos que estou calculando por baixo e que a pessoa considere canônicos não 55, mas 65 autores. 

Como geralmente apenas as mesmas pessoas são citadas, o número é reforçado, subrepticiamente. Mesmo filmes sobre autoras como Jane Austin não são capazes de incluí-la nessa lista, aqui no Brasil. Ainda que apareça um pessoal em certas formas culturais estrangeiras, o número de autores canônicos que se pressupõe é mantido um tanto baixo, mesmo porque ninguém leu todos os autores que conhece. Distanciar muito um número do outro é complicado para a memória e para a integridade intelectual.

A minha teoria é que esse número fica um tanto quanto inconsciente, mas esses 65 autores não seriam tanta gente para se conhecer. Se uma pessoa que estuda qualquer outra coisa os conhece, alguém que estuda literatura necessariamente deveria não apenas conhecê-los, mas tê-los lido. Daí há um segundo movimento de projeção: se eu que não sou da área gosto do cânone (aprendi a valorizá-lo), é uma conclusão necessária que eu saiba dizer o que é bom, logo o que eu curto merece ser posto no cânone, a menos que seja autor notoriamente malhado, como Paulo Coelho. Se eu sei o que é bom e gosto de um autor qualquer, quem estuda Literatura deve concordar comigo e conhecer esse "grande" autor. Se o estudioso não conhece tal autor, trata-se de um crime inafiançável. Por quê? Digo eu (real), porque se pressupõe que existam muito poucos livros bons no mundo. 

 A ideia de seleção, de exclusividade, é muito mais forte na literatura do que nas outras artes, devido ao acabamento que se deu no conceito durante o famigerado século XIX. O bom na literatura é raro. O mesmo pode ser dito nas outras artes, mas a pecha de "ruim" não exclui uma música da categoria "música". O cânone literário é formado por dupla exclusão. A literatura ainda sofre os efeitos de se pensar que nem tudo que é ficção ou poesia merece ser considerada literatura. Diz-se sempre "Paulo Coelho não é literatura", por exemplo. Apenas o bom do ficcional é literatura. O cânone, portanto, é o bom do bom, o que só pode, nesse senso comum letrado, dar a ideia de que os grandes autores são tão raros que todo "estudioso das Letras" deveria conhecê-los, lê-los e praticamente sabê-los de cor. A ideia é idiota, mas tem fundamento, ainda que inconsciente e equivocado.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Os choramingos dos heterossexuais

Depois de uma bobagem sobre campanha contra o preconceito contra ateus, seguimos valorizando mais agendas imbecis dessa modalidade, ao que parece. Além do twitter apresentar num mesmo dia trends na linha de "orgulho branco" e "orgulho hétero", volta e meia uma campanha pró-status quo aparece, última das quais é o "Dia do Orgulho Heterossexual", proposto (em regime de urgência!) pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) - não sem precedentes, pelo jeito, do DEM.

Alguns vão perguntar: "heterossexual é status quo ainda, com toda essa campanha pelos direitos homossexuais?" Sim! Toda essa campanha ainda faz estardalhaço exatamente porque tudo que não tem carimbo de "hétero" não está em pé de igualdade, nem de direito, nem de respeito, nem de valor com a simbologia hétero. É verdade que é politicamente incorreto manifestar preconceitos a esse respeito, mas quem acha que homossexualidade é assunto super-aceito hoje, só porque está sempre sendo defendido (e atacado, observem melhor!) na Internet e na TV, desculpem, mas precisa sair mais na rua, conversar com pessoas e presenciar não meramente homos ou héteros em seus grupos, mas as situações de convívio entre eles (fora de baladas, de preferência). Eu não sou a pessoa mais capacitada para falar sobre direitos dos homossexuais, mas a "defesa" militante do heterossexualismo, séria, no Planalto, parece-me uma coisa burra, hipócrita ou maldosa. Já que ferem coisas que me parecem meramente lógicas, lá vai minha opinião.

Em primeiro lugar, não conheço um homossexual que ache que o mundo seria melhor se todos achassem lindo, melhor ser gay. A heterossexualidade não precisa se sentir ameaçada, coitadinha. Confundir respeito com homoditadura é um dos indícios mais óbvios de o quanto ainda se teme a homossexualidade em si - ou de quanta má-fé as pessoas conseguem reunir para escandalizar e polarizar discussões que, dessa forma, nunca vão mesmo se resolver. Mal se fala em respeito e já se imagina que se quer trocar 6 por meia dúzia, virar um status quo excludente em outro. 

Em segundo, exatamente por ainda gerarem rebuliço e reações violentas, esse pessoal PRECISA de passeatas, campanhas e tudo o mais. É uma das formas mais importantes de manifestação pública e de ação política que temos hoje em dia. Sem muita campanha, sem forçar deputados e senadores a trabalharem, ninguém consegue nada, e o preconceito, institucionalizado ou não, vai ficar exatamente onde está. 

Fazer campanha, criar dia do Homem, do Heterossexual ou do Branco é mais do que fazer papel de ridículo, barateando a nossa cultura. É replicar aquilo que se critica nas minorias ao mesmo tempo em que se traveste a luta alheia. Não é liberdade de expressão, não é valorizar a tradição, não é defender a família, não é recuperar valores: é acusar o golpe, indicando quão fraco se é, o quanto realmente se tem medo. Não se atura que outros queiram os nossos direitos, como se estes fossem um objeto físico, que não tem porções para todo o mundo. Por que o casamento gay realmente tiraria o valor do casamento hétero? Onde está essa fonte esgotável de valor que só pode aderir a um tipo de relação se outro tipo não o tiver? De onde vem essa mesquinharia que acha que um grupo que escolhe um dia para gritar aos quatro ventos suas insatisfações com nossa cultura precisa ser revidado com um dia para gritar o que já está pronto e estabelecido em toda a nossa organização? É como se, sempre que acabasse uma greve, os governantes saíssem em passeatas pela mesma quantidade de dias, em prol de seu direito de governar.

Orgulho de ser hétero? Sério? Parece-me que o "orgulho gay" não quer dizer "uau, adoro ser gay!" Quer dizer "Eu assumo que sou gay, com orgulho [em oposição a todas as forças que querem que eu reprima minha sexualidade ou a esconda]". Olha só! É um orgulho por oposição a uma ocultação forçada. É exibir porque querem que encondam e porque isso afronta, no entendimento geral, um elemento fundamental da saúde de qualquer indivíduo, sua sexualidade. Algum heterossexual se sente socialmente reprimido em sua heterossexualidade? Mesmo? Onde? Quando? "Um carinha que me falou tal coisa no facebook"? "Um gay que me xingou no twitter"? Por favor...

Uma crítica que não acho precisar explicar: que porra é essa de achar que as manifestações homossexuais são campanhas de conversão?!

Se alguns homossexuais exigem coisas ridículas, erradas ou ilegais, qual a resposta, então? A resposta é apontar e debater, resolver, encontrar o meio justo de reformar uma estrutura legal que não sustenta mais a sociedade tal qual ela se encontra hoje. Cadê a coragem dessa gente de ouvir os outros e tentar resolver os problemas onde eles se manifestam, como eles se manifestam? Cadê o corajoso que vai ser sério e honesto, que vai aprender a ler antes de dar opinião sobre a agenda alheia? Cadê o ético que não vai abanar com um espalhafato para os eleitores mais conservadores, mas vai realmente buscar novas soluções para problemas novos?

Espelhar as medidas dos militantes (logo vão querer criar o "Kit Hétero") é polarizar a discussão exatamente onde ela menos funciona, no campo simbólico, na bandeira. É fazer pirraça contra um movimento que não nasceu do oportunismo ou do mau-caratismo, mas de uma opressão cotidiana que ainda não acabou. O convívio hétero-homo está longe de se resolver, mas essa babaquice de se sentir acossado pelos reclames alheios e criar "castelinho da família tradicional" é ainda mais nociva que ridícula. 

Para "resolver" a separação da sociedade em cada vez mais minorias, vão criar mais uma bandeira?! Dia do Hétero, o caralho!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Para onde foi Charlie Sheen?

Lembram quando era legal ler ou ouvir notícias sobre Charlie Sheen? Mesmo quando se sabia algo ruim, como suas prisões ou estadas em instituições para desintoxicação, havia um lado positivo: seus problemas serão enfrentados, tomara que ele retorne e faça outros grandes filmes...

O grande problema foi mesmo ele ter mudado de profissão. De um ator célebre, escolheu o caminho da celebridade que atua. Desde que vem seguindo o exemplo, só posso crer, de Hilary Duff ou Miley Cyrus, adquiriu todos os trejeitos dos "herois da contra-cultura" que se consideram centros do mundo em lojas de LPs regorgitando preconceitos provincianos e censuras absolutas às pessoas de fora de seus círculos. Isso vindo de um cara que até há pouco podia se gabar de ter atuado em Platoon, Wallstreet (mesmo que sob violento efeito de drogas), Being John Malkovich, além de clássicos mais Sessão da Tarde como Top Gang e Três Mosqueteiros. Sua celebridade vinha de filmes legais, boas atuações e de sua família, particularmente do pai, Martin Sheen. As drogas eram um detalhe triste.

Agora é o contrário: drogas e prostituição são a essência do showman, carreira e família são detalhes trsites no quadro geral. O grande efeito colateral é que, com isso, ele também se tornou tão pouco interessante quanto Hilary Duff ou Miley Cyrus, além de, "grande revoltado", estar liderando o medidor de seguidores do twitter. Para usar um critério adequado à sua visão de mundo, Winner com L maiúsculo.

domingo, 26 de junho de 2011

Teoria e Prática de Gênero

Há pouco ouvimos uma palestrante, pós-pós-pós-doutora feminista-desconstrutivista, enfurnada no meio acadêmico há séculos, indicando o Brasil como um país muito conservador. Nele, o Sul seria particularmente a região mais conservadora. Isso significava, em sua linguagem, apegar-se a tradições, cânones e metodologias clássicas, o que é o mesmo que "ultrapassadas", nesse dialeto.

Minha namorada logo captou, pela descrição desse conservadorismo, que o que ela falava parecia verdadeiro para o meio acadêmico, mas não para o resto do mundo na volta, nem mesmo para as expressões culturais que orbitam a faculdade ou seus professores, como casas de espetáculo, grupos de produção independente, ou o "meio cultural" em geral. Minha namorada tinha saído do âmbito da comparação. Ela não dizia que éramos mais ou menos conservadores que outros estados, apenas que a descrição realizada pela palestrante era circunscrita demais à Academia e, em Porto Alegre, isso em geral quer dizer a UFRGS, além de professores com maior ou menor relação com ela que trabalhem em faculdades "próximas".

Assim como os professores, entre os alunos o clima de conservadorismo indicado por ela também é fácil de identificar. É importante ressaltar que o termo não foi usado num sentido propriamente político-partidário. "Conservador" ali incluía coisas como homofóbico (nível skinhead), racista, machista e preconceituoso com todo tipo de produção "popular" (nem escrita, nem armada explicitamente sobre tradição europeia).

Apenas para indicar essa contradição, entre Academia e entorno, pensei em postar aqui um dado curioso recém publicado: Porto Alegre é a segunda cidade com maior percentual de casais declaradamente gays do Brasil. Não é curioso os cursos de Humanas terem traços tão resistentes a "inovações" contra uma noção bastante dura e monolítica de tradição e Porto Alegre quase liderar essa lista? Não é que haja uma aceitação maciça da união homossexual na região, mas é interessante que o líder da lista seja ainda Florianópolis, outra cidade do Sul e que vive em intercâmbio constante conosco. 

Muitas vezes tenho a sensação de que termos como "preconceito" deveriam vir com explicações inter-regionais quando usadas em noticiários ou internet. Seus níveis parecem variar de forma complexa entre regiões e não tenho certeza que existam muitas manifestações que seriam igualmente consideradas "exageradas" em todas as regiões ao mesmo tempo. Tamanha precisão seria horrível para as simplificações eleitoreiras, mas seriam realmente interessantes se quiséssemos entender afinal o que está acontecendo em cada canto e como os diferentes estados (e cidades) realmente vivem seus conflitos culturais internos e externos. O mesmo acontece com "tradição". O Rio Grande do Sul é famoso por ser bairrista e apegado a um elenco de tradições institucionalizadas que geraram um mercado particular de comida, vestimenta e música, no entanto o relativismo com que essa tradição é tratada pela maioria dos próprios gaúchos e o equilíbrio entre bairrismo e ironia que ele envolve nem sempre me parecem claros ao olhar do brasileiro que aqui chega.

sábado, 25 de junho de 2011

Paralisia Nacional

Mais uma notícia que já está fixa em Porto Alegre há um tempo é "As emergências da capital estão lotadas". Não é que existam dias de chuva e frio, ameaças de epidemia ou problemas com os pagamentos de alguns profissionais. Todo dia é dia de arriscar esperar para sempre ou simplesmente ser convencido por atendentes a ir morrer em casa.

Como toda notícia que não é mais notícia, nenhuma ação é exigida do governo, ou de quem for, em resposta ao problema. Simplesmente estamos paralisados. E como essa paralisação está bem naturalizada, parece que não há crise. Parece que somos uma capital de estado que não é incapaz de manter seus cidadãos em estado mínimo de atendimento de saúde, mas somos. Não é preciso reclamar do SUS, ele é "só" o pior de um quadro muito maior, o clímax de uma tragédia sem desenlace.

Falando em tragédia naturalizada, então, a última de saúde que reencontrei num jornal me lembrou outra questão que acho especialmente interessante: sempre se fala que o século XX não viu um dia de paz na Terra, e o XXI vai puxando ao pai; pois bem, há quanto tempo o Brasil não vê um dia sem paralisação ou greve de professores? Estamos num momento particular, em que parece que uma série de estados e cidades viveram (e vivem) greves simultâneas, de diferentes níveis - tivemos até a professora Amanda Gurgel visitando o Faustão (o que não levou a nada, no âmbito nacional) -, no entanto, se recuarmos da recente crise, não sei se seria fácil descobrir quando todos os educadores ainda fingiam em uníssono poder levar a máquina com a barriga. A situação é mais preocupante se se considerar que a enorme maioria dos professores costuma ser contra greves, por reconhecerem seu baixo valor de custo-benefício. Mas, encurralado, o gato ataca o leão. E perde.

Nenhuma das paralisações (hospitais lotados, escolas em greve) é notícia, pelo menos não no sentido verdadeiro, de constantes retomadas e discussões em todas as mídias, como os andamentos da novela ou os sentimentos e cortes de cabelo dos jogadores de futebol. Nunca sabemos realmente os resultados das greves de professores ou dos dias de lotação hospitalar. Uma que outra morte, uma que outra mini-conquista ou desistência, tudo como um detalhe. A reação da população é violenta quando hospitais fazem greve, o governo (qualquer governo) vocifera que oferecerão os serviços mínimos (conceito bizarro na saúde) à população. E quando termina a greve? Tudo bem os doentes estarem estrebuchando pelas janelas, desde que as portas estejam abertas? Tudo bem as escolas pararem, desde que a falta de chamadas não influencie o Bolsa Família?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Feriado sem desculpa

Começou o feriado da liberdade - considerando-se que Corpus Christi quase nunca é lembrado e ninguém sabe bem por que acontece. Sua origem histórica também não dá grande sentido para a data: nasceu de um decreto, "motivado" por uma "visão" do Papa Urbano IV, sendo ignorado pela maioria das igrejas após a subsequente morte do mesmo papa. A festa lentamente se espalhou como costume pela Europa Ocidental, mas levou quase um século para ser comemorada novamente em Roma.

Pouco convincente, a não ser para católicos praticantes (tipo raro de brasileiro), e geralmente inquestionado, Corpus Christi é assim nosso feriado mais livre. Não precisamos dar presentes para ninguém, respeitar ninguém a mais, sair dançando, bebendo e transando... nada. Podemos fazer todas essas coisas, mas estamos entregues aos nossos critérios sem qualquer exigência social ou mercadológica.

Mais do que isso, trata-se de um feriado que é na quinta-feira, sempre. Não faço ideia do motivo para isso, provavelmente algo astrologicamente explicado, ou contado com base em outra data que, por sua vez, tem raízes astrológicas, parece-me de qualquer modo uma sacada genial. Muito melhor do que trancar um feriado num domingo. Assim todo ano concorremos a um feriadão. 

Como ganhei essa sorte neste ano, estou comemorando. Afinal, em comparação com uma semana normal, ainda estou como que na noite de sexta-feira. Tem tanto feriadão pela frente que posso dizer que ele mal está para começar. Dizem sobre muitas coisas que a véspera é ainda melhor que sua realização. Já ouvi isso sobre beijos, sexo, formaturas... Acho tudo isso bobagem, mas devo abrir a exceção dos finais de semana e feriados. O valor de um tempo de descanso é proporcional a quanto tempo falta para que ele acabe. Agora, portanto, é o grande momento do feriadão. Que estou, então, fazendo aqui no blog? Cumprindo uma parte fundamental da liberdade de Corpus Christi: a liberdade de fazer algo absolutamente cotidiano apenas porque posso, no momento seguinte, pular para algo nada cotidiano sem me preocupar com quanto tempo perdi entre o que é comum e o que é extraordinário.

Bom Feriado sem Desculpa para todos!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pelo amor de Deus

O pior de ouvir um político justificar suas ações com base em Deus é que se ele se justificasse baseado em justiça, moral, ética, dever, coerência... ninguém acreditaria. A (enorme) maioria da população suporia simplesmente que era balela e que na verdade ele estava apenas fazendo onda para ganhar votos, além de ter tido algum lucro, financeiro ou político, em sua decisão. Mas, quando o político fala que fez algo por Deus, um monte de gente acredita! Quem o critica pode facilmente ser jogado num saco que engloba críticos de Deus, da religião na política ou do partido específico do fulano. Além de se supor, nesse acúmulo bizarro de críticos variados num só grupo, que seja impossível acreditar-se em Deus sem se acreditar em políticos, tal movimento retórico busca alavancar moralmente o tal político ainda mais.

Ironicamente, parece que quase todos os brasileiros acreditam que coisas estranhas como justiça, moral, ética ou senso de dever deveriam nortear nossa política. Pouquíssimos brasileiros parecem crer que Deus deveria fazer o mesmo. Pior ainda, um Deus que mais se preocupa com homossexualismo do que com todos os valores acima, feliz em virar a cara para corrupção, estelionato e miséria a fim de dar o que é de César a César, Marco Antônio, Cleópatra, Otávio, João, Maria... desde que esses nomes, é lógico, refiram-se a parentes, por sangue ou casamento.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cotidiano ataca no cotidiano

Com certeza uma das 3 maiores frases já ouvidas à noite, em Porto Alegre, numa avenida central movimentada, no século XXI, por acidente, vindo do comunicador de um segurança, depois de um jantar:

"Ô meu, cuida da saída aqui porque tô indo mijar, tá?"

domingo, 19 de junho de 2011

Sê pobre!

Como dizem os que sofrem de xenofilia, "you gotta pick your battles". Por isso mesmo, desisti de levar meu celular para a sala de aula. Trata-se de um aparelho pouco poderoso, mas relativamente atraente. Ele não tem grandes funções e algumas delas eu nem tento usar, porque rendem muito abaixo das minhas exigências idealistas. Não é um "i-qualquer-coisa", nem mesmo aqueles aparelhos tradicionais que fingem ser um. Para completar o quadro, paguei metade do preço (porque aproveitei uma promoção numa loja, não o comprei dos revendedores-de-aparelhos-furtados-trabalhando-sob-vista-grossa que labutam no Centro da cidade, logo ali, do lado da prefeitura).

Deixei de levar esse aparelho cuja maior qualidade tecnológica é a aparência porque enchi de passar todo o trimestre ouvindo comentários maldosos sobre meu suposto exibicionismo em sala de aula. O que acontece é o seguinte: como a maioria dos seres humanos da minha geração ou das mais recentes, não uso relógio. Os que existem nas salas de aula estão estragados, sem pilhas, adiantados ou podem ter sido adulterados pelos alunos. A única forma de cuidar do horário, portanto, é olhar o celular. Eu tenho péssima noção de tempo, de modo que preciso conferir o horário muitas vezes numa mesma aula, em geral. Isso significa que volta e meia tiro o celular do bolso e dou uma olhada.

Não pensem que é um problema de "classe social": a maioria dos alunos têm aparelhos melhores que o meu, ou pelo menos equivalentes (mesmo que não tenham tantas vezes canetas ou até cadernos); a maioria dos professores têm celulares melhores. Em oposição aos outros professores, o que me diferencia é o tira-tira do celular do bolso. Mas, e em relação aos alunos (e ao resto da humanidade), por que meu celular se destaca? Ora, o motivo é óbvio: porque sou professor. Ironicamente, eu troquei de celular por questões de mercado das telefonias que considero ridículas, mas isso é outra história.

Lecionar causa um fenômeno óptico fantástico. Ser reconhecido como professor faz com que tudo que se possua pareça inadequadamente caro e tecnológico. Qualquer carro normal, se possuído por um professor, é um grande, caro e belo carro. Adicione-se, é óbvio, um "demais" a tudo isso. Grande demais para um professor, caro demais para um professor, bonito demais para um professor. Do que afinal os professores reclamam tanto, se possuem bens que um estagiário de Direito poderia comprar?! Um aluno, sem trabalhar, não consegue comprar o mesmo que um professor com contrato de 40 horas. Não é injusto?! Nitidamente o salário do professor está acima do aceitável!

Os comentários preconceituosos a respeito do meu ridículo celular vinham desde que o comprei, no começo do ano, mas atingiram o ápice após a recente greve, porque a ideia de que professores ganhem o mesmo que um CC mais humilde, com Ensino Médio completo (!), choca a sensibilidade da população. Finalmente, cansei de ignorar, responder, levar na brincadeira e distorcer as críticas: catei meu antigo celular, tão retrô que até um ladrão, se o pegar um dia, vai achar que está sendo enganado, o velho truque do "celular do ladrão". Melhor escrever bem na tela: "sou professor"; capaz de ele acreditar que é mesmo o que eu uso e, quem sabe, ficar com pena e devolver. Porque não existe nada mais bonito do que ser condescendente com professores. A obrigação destes, é claro, é se manterem pobres, aliás, obrigação de todo "trabalhador de bem". Ter dinheiro, qualquer dinheiro, é feio, como vocês sabem. Devemos todos permanecer na devida miséria, recebendo consideração como esmola, sendo muito grato, sim Sinhô.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Em busca da higiene perdida

Um herói nacional. Mascote para a Copa?
Diriam que há campanhas mais prementes, mas aproveito a falta de interesse político para se atacar corrupção, violência e ignorância: peço apoio para a minha campanha, "Brasileiro, Toma Banho", a ser transformada, se tiver sucesso, em orgulho nacional (acompanhado por alguma música de Ivete ou Leite com o mesmo título): "Brasileiro Toma Banho!"

Estou ficando alarmado com o número de pessoas que têm fedido absurdamente e sem nenhuma grande necessidade (ou seja, que nem moram na rua nem estão vindo de um jogo com os amigos). E isso é particularmente irritante no caso de crianças, que implicam pais absolutamente desinteressados na higiene de seus sabe-se lá quantos filhos, além de, obviamente, não provocar muita confiança a respeito de outros cuidados que deveriam ter com as crianças.


O fedor tem que acabar!
"Brasileiro, Toma Banho" já!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Presidente do Brasil

Dilma ensinando como se governa no Brasil
Conforme o presidente José Sarney, pior do que liberar documentos sobre a ditadura seria revelar nosso passado a respeito de fronteiras nacionais. Por que tanta incomodação? Os problemas de terras no Brasil dizem respeito não apenas à população autóctone, mas a crimes feitos contra populações estrangeiras também? O presidente Collor logo pulou no carro e se opôs à, digamos, lavagem de roupa suja que conhecer a História acarreta. No Brasil, a palavra mais precisa para implicar poder não é o conhecimento, mas o sigilo.

Para esconder o que sabem, os presidentes não querem que o projeto prevendo a impossibilidade de se lacrar documentos para sempre no Brasil seja votado, como queria "com urgência" a Dilma, antes interessada em comemorar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa com a votação (favorável, lógico, porque tudo atualmente chega a votações com resultados previamente definidos). A comemoração da liberdade foi para o brejo quando os presidentes Collor e Sarney se opuseram à possibilidade de se "abrir feridas". Junto com a liberdade, vai-se, mais uma vez, a opinião "pró-direitos humanos e verdade" da Dilma, que no governo Lula se opunha ao sigilo eterno, contrariando o presidente. 

Agora, a versão do projeto lubrificada para convencer Sarney preverá a abertura de documentos 25 anos a contar do pedido de acesso, se este for aceito. É bom que os futuros doutorandos em História decidam já no berço que documentos lhes interessarão para suas pesquisas. Espero que historiadores passem a pedir quebra de sigilo prevendo o que poderá interessar a seus filhos...

Para justificar seus melindres, Sarney disse que não se pode fazer um Wikileaks do Brasil. Sejamos corretos e arrematemos que, na verdade, também não se pode "fazer Wikileaks" de lugar nenhum. Assange e Anonymous que o digam. De forma acelerada, desde que o século XXI começou, a guerra é clara: os EUA acabam com todos os direitos civis por que lutaram e popularizaram para o Ocidente nos anos 1960-70; todos os jornalistas ou cidadãos dedicados a liberar segredos de Estado que violam a ética são atacados, molestados ou mortos; a ONU coloca a liberdade de acesso à Internet no ápice dos valores morais e grupos de hackers enfrentam governos disputando o que o público deve ou não saber. Em meio a tudo isso, os presidentes Sarney e Collor escolhem abertamente o caminho da repressão e do silêncio. Em todas as decisões práticas, é a eles que Dilma vem se alinhando, escolha a escolha, dando um exemplo de pragmatismo político que supera até mesmo a "governabilidade" do presidente Lula. 

Entre esses três presidentes, é de se imaginar quando ela vai ponderar que o mais importante do cargo "presidente" não é se termina com "a" ou com "e", mas seu sentido mais literal de "presidir", implicando, espera-se, alguma ética. Talvez, no entanto, a ideia nunca lhe ocorra: Dilma sobreviveu à tortura dos militares, mas nada mata mais uma guerrilheira do que o poder.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Solteiras vs. Feministas

Sonhos com gestos românticos, consumismo sem culpa, sentimentos de infelicidade totalmente associados a não se ter um homem do lado, chocolate, lembranças desesperançadas de incontáveis comédias românticas, memórias de bons momentos com quantos forem, desejos sexuais mal direcionados...

Mandingas, bênçãos, lendas, visitas à igreja, torturas com estátuas de um santo, continuação do espírito do dia anterior e de sonhos românticos perdidos, matérias de revistas explorando os desejos e as compensações contra esses desejos, confidências curtas e constantes com todas as amigas que cruzam pela frente...

O Dia dos Namorados e o Dia de Santo Antônio estão postos juntos para que ambos levem milhões de solteiras a desdizer e desfazer todo o discurso que o Dia da Mulher reúne com tanto esforço, a cada ano, deixando algumas mulheres e muitos homens assustados com quanta crendice e dependência essas datas conseguem evocar. O Dia da Mulher divide feministas. Os dias da casamentice são dois tapas na cara de todas elas.

sábado, 11 de junho de 2011

SAVE FERRIS



Muito mais importante que Dia dos Namorados ou aniversário de celebridades, hoje "Curtindo a Vida Adoidado", mais conhecido como Ferris Bueller's Day Off, está fazendo 25 anos! Para marcar a grande data, um pouco de "Twist and Shout" direto do clip mais famoso da música!!!

Velho vídeo para velha data



Quando 12 de junho cai num domingo, o Dia dos Namorados é no sábado! Portanto, colo um vídeo adequado à data, usado em blog que sigo, mas que vale o plágio.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Namorar não dá trabalho

Estou cansado do senso comum preguiçoso que assola a cultura namorística de nossa sociedade. Essa mania de todo o mundo repetir que namorar é difícil, exige muito esforço e grandes sacrifícios. A única irônica exceção em todas as manifestações pops mais recentes é o seriado How I Met Your Mother, que atesta que, ok, é preciso fazer algumas decisões menos egocêntricas (numa leitura superficial) e que certos esforços são necessários, mas nada disso é sentido como esforço ou sacrifício se se está num namoro decente.

Ora bolas, namoros, como todas as nossas outras ações, custam energia, algum esforço. Vocês sabem, como comer ou andar. Mas se estamos saboreando um Nestlé Toll House ou se estamos caminhando para sair de uma formação continuada, não sentimos essas ações como gastos de energia.

Namorar pode até ser mais complexo (em parte porque praticamos caminhar muito mais do que namorar), mas o interesse é sempre inversamente proporcional à sensação de energia gasta. A nossa percepção da realidade é absolutamente suspeita para falar sobre a realidade. Ela fala mesmo é de nosso humor. Um namoro bom é fácil não porque pensamos que os "sacríficios" valem a pena, mas porque nem se entra em grandes cálculos de perdas e danos. Lida-se com a vida, tem-se a felicidade de ambos em mente, e o resto é o resto.

Agora, tenho achado a aritmética do sofrimento que tenta mensurar os lucros de cada indivíduo no suposto casal particularmente irritante, porque, não só em namoros, as pessoas andam mesmo muito preguiçosas! Eu me achava preguiçoso, até voltar a conviver com pessoas de áreas mais diversas e de idades mais variadas do que há uns anos atrás. Tem gente que acha namoro difícil porque, justamente, acha difícil até caminhar. Nossa, andar duas quadras, quanto esforço!

Que nem os complexados egocêntricos em namoros de verniz nem os preguiçosos de plantão venham incomodar o resto com seus universais. Vão os primeiros trocar de relacionamentos e entender que o problema são eles, não o "namorar"; vão os segundos pegar um sol, fazer exercícios, assim que tomarem umas vitaminas para levantar a bunda.

Namorar não é difícil nem é fácil. É como tudo: se está difícil, o problema é teu e és tu!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ano que passa no Oriente Médio

"As the Arab Spring turns into summer, the counter-revolution is winning. Tyrants - but not systems - are down in Tunisia and Egypt. The Libyan "revolution" is a sham: North Atlantic Treaty Organization air war plus Western spooks/special forces helping dodgy defectors/exiles on the ground. Bahrain, Yemen and Syria have been popular defeats."

Asia Times.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Respeitável corja

Mal se pronunciou pela primeira vez como ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann imediatamente firmou que respeita muito os ministros da oposição.

Nada mais perfeito, este tique irresistível dos políticos de sempre afirmar para a imprensa, não importa o que aconteça, que respeitam muito seus "adversários". Na Câmara ou onde for, podem se xingar de qualquer coisa, mas quando mais do que 10 pessoas devem estar  assistindo, surge, como um cacoete, o respeito a todos. 

Nenhuma classe é mais perfeitamente corporativista, não? Aquela situação em que o Lula falou que Sarney não podia ser tratado como cidadão comum foi, é claro, um comentário da imprensa a respeito dessa questão, mas um comentário mais que leve. Muito pior que aquela crise, são essas pequenas e cotidianas demonstrações de corporativismo, de uma seletividade e de um cuidado para tratar com políticos que não têm com absolutamente nenhum cidadão. Políticos tratam crianças beijadas em campanha pior do que tratam colegas que professam credos políticos absolutamente opostos aos seus. 

É claro que tudo faz sentido. Muito mais importante que o voto popular é o silêncio do colega, na hora da crise.

Palocci

Todas as épocas se acham únicas ou especiais neste sentimento:

For in the fatness of these pursy times
Virtue itself of vice must pardon beg


Hamlet - Shakespeare

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sorte


Ok, eu não uma empresa propriamente, mas, como dizem todos os spams, "não custa nada passar, né?" Nesse caso, é importante ter pressa, antes que resolvam censurar a brincadeira.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Dicas de ética

"I reckon if you give up drinking before you're 30, you didn't try!"

"And specially if you give up drinking before you're successful, you're kinda cheating... Because now you're going up against a whole lot of drunk people, and it's no wonder you're getting ahead!"

Russel Crowe

Fuzilando e apedrejando enquanto o governo dorme

Pode ser preconceito, estatismo ou esquerdismo da minha parte, mas eu sempre achei que certas instituições são interceirizáveis. Segurança, por exemplo. Do meu ponto de vista, o governo existe para que a população possa ser gerida e organizada, tendo-se em vista o bem da própria população. 

Tenho certeza de que esta definição é absolutamente demodé e totalmente contrária às crenças de políticos eleitos ou nomeados, mas é mais ou menos a que usam para justificar seus próprios cargos, ao que me parece. Como é impossível manter o povo com paz e trabalho sem que alguém garanta a proteção dessa mesma população contra uma série de ameaças, muitas vindas de seus concidadãos, é imprescindível que o Estado forneça segurança. Logo, esta é um "serviço fundamental" de qualquer nação, não podendo ser confiado a poderes e responsabilidades terceirizadas. Mesmo porque qualquer problema gerado por esses mesmos grupos terceirizados teria de ser resolvido por pessoas igualmente armadas e preparadas para violência, ou seja, a única forma de conviver com força armada terceirizada é ter uma força armadada estatal que consiga controlá-la.

Pois bem, educação também é um "serviço fundamental", conforme a própria definição da lei, não? Em parte pela importância dos jovens para qualquer país. Então segurança para educandos é duplamente "fundamental", certo?

Então por que os alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Oscar Pereira precisaram bloquear por duas horas a Avenida Oscar Pereira hoje de manhã, a fim de provocar alguma reação do governo a respeito de atiradores que atacaram a escola de moto e carro, além de apedrejamentos e ameaças de invasão?

É óbvio que deveria haver uma investigação a respeito do que diabos está acontecendo lá, o que será encaminhado, espero, por diretora, vice ou alguém do tipo. Ninguém mais se mobilizará adequadamente. Mas, além disso, estando a situação montada, por que esse tipo de ataque foi possível à escola? Porque o (ÚNICO) guarda da escola era terceirizado. A empresa contratada pelo governo do estado decretou falência, de modo que a escola ficou sem seu (ÚNICO) guarda. Mas, conforme a Secretaria Estadual de Educação, tudo bem: um outra "prestadora de serviços" foi contratada por uma licitação "de urgência" (o que implica, infelizmente, tanto pressa quanto corrupção). Na semana que vem, a escola deve receber algum guarda de novo. E ponto final para a história, no que diz respeito à publicidade da situação. Não, é claro, um ponto final para a história no que diz respeito a seus alunos e profissionais.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Democracia não-participativa

ESSE AÍ sabia se manifestar!

Terminada a greve, um aluno me perguntou se eu tinha ido à manifestação pela maconha. Eu disse que não, mas ele me perguntou de forma um tanto surpresa por que não. 

Foi a mais recente vez em que presenciei uma associação incrivelmente comum, entre todas as idades: a pressuposição de que pessoas que fazem manifestações públicas são "pessoas-que-fazem-manifestações-públicas". Quando o Neis atropelou ciclistas do Massa Crítica, a passeata organizada em seguida à sua alegação de "legítima defesa" deu tão certo que rolaram e-mails, tweets e impressos convocando genericamente todo o mundo para novas manifestações, a respeito de outros assuntos. Estes, no caso, não estavam definidos, mas era apenas para se "participar". 

Talvez as revoltas no Oriente Médio e no norte da África tenham dado novas esperanças a parade promoters, mas lembro desse espírito de se identificar quem faz uma passeata como um ser geneticamente ligado à participação pública (que poderia engrossar todas as manifestações ainda que nem se soubesse pelo que mais se queria organizá-las) já na época do Fora Collor - para os senadores lendo este post, refiro-me a uma época pouco citada de um presidente (atualmente senador, colega de vocês) que foi celebrado nas ruas com uma exigência popular de Impeachment.

A ideia de gente exigindo pessoalmente, em grupo e por pressão seus direitos é tão alienígena por estas bandas... Parece que isso carrega sempre uma noção de arruaça e baderna no Brasil. Como se se manifestar para que o governo cumpra as leis sempre fosse coisa de quem não gosta nem de lei nem de ordem. Não haveria nem mesmo diferença entre uma pessoa que faz uma greve, por exemplo, para que haja guardas nas escolas e uma que sai às ruas para exigir que haja maconha no supermercado: sai na rua quem quer perturbar a ordem. Perturbar a "ordem", no Brasil, só pode ser coisa ruim...