segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A estética de mandar para o inferno

"Odeio comunista. Detesto comunistazinho."

Assim repete periodicamente um aluno do Ensino Fundamental de uma escola particular de Porto Alegre. Seu "ódio" não vem da formação da escola (ao menos, eu não tenho nenhuma informação que justifique acreditar nisso), nem de informação ou conhecimento do assunto, como é típico. O ódio do rapaz se justifica pelo mesmo esquema que organiza e promove a maioria dos ódios: treino.

O que é mais significativo, porém, é que alguém com grana em Porto Alegre continue acreditando que é necessário educar "ódio" a "comunistas" a ponto de doutrinar o filho (sobrinho, afilhado, sei lá) dessa forma. Parece-me que existem duas possibilidades, no entanto, que fazem isso ser compreensível (não justificável): a pessoa que treinou esse ódio acha que Lula-Dilma são literalmente comunistas e acredita que o governo federal do PT é anti-burguês numa oposição burguês-povo; a pessoa acredita que existem comunistas outros, não necessariamente no governo, que ameaçam a estabilidade de sua vida a ponto de tomar a clássica medida defensiva do Ataque Ferrenho.

Só que os dois sentidos têm algo de irreal, e a irrealidade de ambos, ainda que desigual, carrega o mesmo problema das definições indefinidas do senso comum político: só atrapalham. O problema de se xingar todo grupo por definições extremas e superficiais, ou de se assumir que alguém tem determinada postura só porque a pessoa diz tê-la, é que se pinta a realidade em dois tons e espera-se que tudo se resolva por medidas binárias. Existem "comunistas" e "burgueses" e ponto. Quem determina algo é ditador e quem elogia a liberdade sem fazer nada é liberal (o não fazer nada reforça a liberdade que a pessoa garante aos outros).

Xingamentos pasteurizados e clichês são a coisa mais fofa do papai quando o assunto é propaganda política, um must irresistível a militantes e contra-militantes, bem como a marketeiros, mas quando o assunto é análise política, são tão úteis quanto os socos num laboratório de genética. Quanta falta de informação uma pessoa precisa ter para valorizar ou promover ódios ignorantes em outrem? Especialmente em alguém por quem é responsável, se esse for o caso do rapaz, como suponho. Por que nossos ódios políticos dominaram o discurso e ninguém mais lembra da complexidade dos fatos? 

Quando toda falha é um "absurdo", então não existem termos para os absurdos. Quando qualquer arranhão é uma mutilação, não há diferença entre ambos. É divertido e engraçado xingar a plenos pulmões cada passo do "adversário", talvez se ache também divertido afirmar que todo o mundo que discorda da gente é adversário, mas se nunca se para para pensar, se nunca se pensa que trabalhar junto, ou próximo, pode ser mais produtivo que atirar pedras a cada oportunidade, então a realidade vai seguir sozinha, independente, enquanto os nossos discursos nos divertem com simplismos e ignorâncias, com times e panelinhas. Oposicionistas e apoiadores, no entanto, não reclamem quando a realidade vier explodir na nossa cara quando menos esperarmos. Ninguém queria saber dela, só queriam saber do prazer de se xingar.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O poder das múmias de chupeta na boca

Não poderei fazer o post sobre autoritarismo e as coisas que foram ditas nessa discussão sobre salário mínimo, que considerei, pra variar, discutida da forma errada e direcionada a pontos que tangenciavam apenas o que me pareceu mais bizarro. Mas preciso pelo menos descrever hoje um tipo de autoritarismo.

O tipo de autoritarismo de gente que acha que comandar e moralizar é a mesma coisa. Tecnicamente, que acha que impor regras (efetivamente impor, como se faz com cachorros) e exigir sua obediência é um processo automaticamente legitimado porque as regras impostas, teoricamente, seriam positivas (como alertava já Schopenhauer, se a teoria não funciona na prática, é porque a teoria está errada, mas deixa pra lá). Essas regras seriam válidas e boas por si, de modo que o fato de encaixarem de forma totalmente kafquiiana com o resto do mundo (ou seja, com tudo o mais que acontece na vida dos, digamos, cachorros) não quer dizer que elas possam ser desobedecidas ou mesmo forçadas. Não implica que possam ser negociadas. Não. Elas são boas numa expressão do tamanho de uma frase. Como considerar o contexto pode fazer com que elas sejam erradas?!

Isso chega, em geral, para essas pessoas taradas por controle, ao extremo de que as leis serão boas mesmo que impliquem a contradição de leis básicas da física, como a relação tempo-deslocamento, ou ignorem conhecimentos sociais que já temos, como tradição, costumes, heranças... 

Para gente que manda assim, cada desobediência justifica ainda mais a imposição de regras. Cada discórdia é entendida como preguiça ou mau-caratismo. Cada perda de poder é lida como motivo para apertar mais a corrente do que lhes resta sob controle aparente. É assim que o poder se esvai. Essa é de fato uma das formas mais sofridas pela qual o poder se esvai, porque ele morre lentamente, e se torna mais cruel e burro quanto mais perde sua legitimidade simbólica. E é o próprio exercício desse poder que retira desse(s) ser(es) poderoso(s) a mesma legitimidade. 

O mais triste do quadro, no fim, é que esse poder todo tem de morrer, definhar e fazer sofrer até estar plenamente murcho, até que algo, quem sabe, possa ser construído a partir do zero, maldito zero que não precisava nem ter voltado a aparecer. Às vezes conseguimos corromper um sistema levado adiante por alguém tão tarado, mas é raro, muito raro. 

Mas e daí que é raro? A tenteada é livre.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Acadêmico na folia da ignorância

Tenho vivido de twitter, jornais, namoro (o que engloba discussões teóricas), Academia (escrevendo o trabalho) e prazeres domésticos. Minha mente tem então pulado pelas mais diferentes questões éticas e teóricas. Até os seriados têm contribuído para isso, nem que seja como provocações aversivas.

Ter de ir amanhã cumprir minha primeira obrigação com escola pós-"folga", o que significa sair em horário irritante, pegar ônibus e presenciar muita perda de tempo e falta de objetividade, é a materialização do fato de que a dita "folga" está acabando. Isso significa, para um ser que tem vivido tanto com ideias e debates ultimamente, baixar o nível. 

Em certo sentido, a educação é constituída pela represa das ideias. Todo discurso teórico profundo, toda análise de verdade, todas as filosofias envolvidas devem ser engolidas, tornando-se pressupostas para a ação pedagógica, mas não manifestas! Ou seja, a teoria e a preparação envolvidas nas aulas são mais ou menos como o material de preparação de um ator. Ele deve conhecer o caminho e estudar tudo o que considere necessário para exercer seu papel, mas tanto raciocínio não deve aparecer na ação; é apenas o pressuposto dessa ação.

É claro que este é um gigantesco "apenas", mas a superfície pedagógica, vista deste fevereiro de teoria, figura-se para mim lisa e pura como uma cena de ação, na qual não percebemos atuação e não supomos nem de longe toda a preparação e o cuidado técnico envolvidos na criação de 5 segundos de filme. Em grande parte, dar aula é falar obviedades, repetir moralismos e conviver com um monte de gente para quem o grande drama do mundo atual é que tal cantora que estreiou ontem e vai abandonar a carreira amanhã ficou com o ficante da outra tal cantora. Pessoas para quem a superioridade branca e masculina são fatos objetivos e naturais do mundo. Pessoas que não são meramente incapazes de auto-crítica, mas que efetivamente não se enxergam, não se percebem no mundo, falham num quesito assumido como natural ao ser humano pela maioria dos filósofos: a consciência.

Ensinar acaba sendo o esforço de ocultar a teoria que subjaz à prática. Gente é muito mais educável se não suspeita que está sendo educada. E isso envolve denegar o debate, esperar em vez de responder, até treinar mais que mostrar. Corrigimos (ou tentamos) aos poucos uma série de práticas do dia-a-dia, tudo tentando revelar que, na realidade, o buraco é mais embaixo, e mais embaixo, e mais embaixo. Até que, quem sabe, suspeitando do abismo da existência, da incerteza de tudo que se acreditava sólido, o aluno precise deixar a teoria vir à superfície, a relação teoria-prática se torne mais consciente e, com a descoberta do conhecimento teórico, o aluno descubra a si mesmo na prática, desenvolva consciência

Para completar, tempo de aula freia a produção da tese. Portanto, a teoria ficará duplamente encoleirada.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Alguém se deu o trabalho!

Alguém sempre se presta...

Para meu dicionário literário

"Marginalia (!): writing comments alongside passages [of a book] and sometimes giving an author a piece of your mind."

Possibilidade agora de dizer por aí: "Nossa, sou viciado em marginália!"

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Formando mentes criativas

Formaturas são sempre iguais, mas às vezes temos boas surpresas nos detalhes. Por exemplo, presenciei uma formatura altamente criativa, em que NENHUMA das clássicas e obrigatórias músicas foram tocadas. Praticamente não houve lágrimas, mesmo com a subida de uma mãe cadeirante para entregar o diploma à filha. 

Por outro lado nem tudo pode ser perfeito, e descontaram quase toda a inovação da cerimônia logo de início: abriram com os dois hinos na corrida e, pior ainda, a mesa entrou com a música do Rocky (não a Eye of the Tiger)!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Nem só dos EUA precisamos nos envergonhar

Obama já se aproxima do fim de seu mandato e nem parece. Por um lado, nos acostumamos com longos governos, como FHC, Lula e Bush (Chávez, Ahmadinejad...). Por outro, considerando aí só os EUA, a presidência do Bush foi tão cheia de algazarra e gritaria, tão lotada pela guerra e por fortíssimas campanhas dele contra o "Eixo do Mal" e de quase todo mundo contra ele (incluindo outras gargantas ressonantes, como a de Michael Moore), que o governo negociado e discutido de Obama passou discretamente quase, relativamente no tom em que ele fala publicamente.

Nesse sentido, Obama estar perto do (talvez primeiro) fim e parecer ter sido eleito ontem já indica uma evolução em comparação ao Bush. Nada daquelas medidas e declarações tão terríveis quanto aterrorizantes de seu predecessor. Por outro, indica também que, talvez, realmente os EUA estejam perdendo o poder no mundo. A maioria das atrocidades e das besteiras internacionais que ouvimos recentemente se distribuem bem entre governos do Oriente Médio e do norte da África, Coreias, Alemanha, China, França, Venezuela... Isso talvez acontecesse antes, mas não tinha o mesmo poder de tomar a mídia, ao menos não sem comentários paralelos como "e os EUA pioraram a situação assim". Ao mesmo tempo, durante o governo do Obama, ainda que uma bobagem fosse norte-americana, ela podia estar em completo desalinho com o presidente, o que indica que também forças internas contrárias ao seu líder podem ganhar os holofotes com burrices próprias. Os EUA não aparecem mais como um monolito de arrogância desmedida.

O que nos leva à feliz equação: a perda do poder americano representa a possibilidade de outras culturas e países fazerem merda numa escala global.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O ato honrado de abrir mão do que não é seu - ou, Politics 101

"Governo do RS confirma renúncia de Simon a superpensão" - Folha de São Paulo

Sabem que no fim do ano passado o senador Pedro Simon pediu aposentadoria por ter sido governador do RS? Sabiam que ele não podia fazer isso? Ele reclamou que, justo agora que pediu, finalmente vão cassar, esse tipo de pedido, que nasceu "para ser franciscano"!!! Disse que pediu agora porque já não conseguia manter a casa!!!!!! Já estava brigando com a mulher!!!!!!!!!!! Nossa, ele deve ser horrível com dinheiro. Como será que lida com as responsabilidades de ser senador?
Bom, a OAB começou a desencavar problemas parecidos em outros estados, e acabaram acumulando o caso do RS para dar peso à questão, suponho. A notícia pareceu quase nascer por sorte aqui: descobriram que as contas do estado não estavam quitadas, que o governo da Yeda tinha mentido na grana para defender sua bandeira de "fiz o que vcs não queriam, não fiz o que queriam, mas tudo para poder zerar a dívida". Ao que parece, uma revisão das contas erradas deixou picando a sacanagem do Simon.

Ok, agora ele pediu para não receber. Mas podemos renunciar ao que não temos direito? Como é que o pessoal fraseia que o Simon pediu para não receber sem entrar minimamente no mérito de que ele não podia ter PEDIDO antes. Agora, que tá todo mundo em cima das contas das pensões estapafúrdias mais diversas, ele faz a "nobreza" de se adiantar e cortar antes os ganhos, e fica como ato de renúncia, como "abrir mão"?

Eu gostaria de saber o que vai acontecer com a grana que ele já recebeu. Bom, eu imagino...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Novos tempos para o Jornalismo

Ah, Demétrio, é que desde a época em que fizeste faculdade, os jornalistas deixaram de precisar dessas coisas bobas como diplomas.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ensinai lógica (vergonha na cara) aos políticos

AFP/Efe

Vejam que caso curioso de paradoxo: 

O (líder, ditador, chefe?) Ahmadinejad representou os gritos de seus parlamentares que pediam morte a todos os seus inimigos, incluindo Israel e EUA, afrontados a torto e a direito por Mahmoud já há algum tempo, proclamando na rede do governo que os atuais protestos no Irã irão fracassar - disse ainda que os inimigos do Irã existem porque querem impedir simplesmente uma nação que busca realizar todo o seu potencial. Ao mesmo tempo, seu ministro de relações exteriores criticou as declarações de Hillary e Obama apoiando os manifestantes com o argumento de que os revoltosos são na verdade inimigos de EUA e de Israel que falam em liberdade apenas para "confundir o inimigo".

Tudo bem que as revoltas estão buscando destruir governos que eram apoiados pelos EUA no Egito, no Iêmen... Mas como um governo que sofre sanções por iniciativa dos EUA se incluiria nessa lista? Ele acaba dizendo o seguinte: o governo, que quer a morte de EUA e Israel, está surrando, prendendo e matando manifestantes que na verdade querem a morte de EUA e Israel.

Sou eu, ou algo nisso tudo não encaixa nada bem?

STF e a gafe de verdade

A propósito de minha dúvida sobre as "gafes" de Gisele Bündchen, aqui um exemplo de gafe de verdade. Tweet do STF (já apagado, claro):

"Ouvi por aí: 'agora que o Ronaldo se aposentou, quando será que o Sarney vai resolver pendurar as chuteiras?"

E viva a insatisfação generalizada.

De rede para rede

Sem fazer nada no twitter, mas ainda assim aproveitando. Me arrependi realmente de não ter ido para o twitter antes, porque a competição entre "redes" que na verdade não são iguais fez com que todas tentassem sê-lo, como se oferecer mal os mesmos serviços das novas redes fosse fazer com que as pessoas ficassem nas mais antigas. 

O resultado foi que o orkut tenha virado um facebook, o facebook, um twitter, e o twitter n parece ter se transformado muito em outra coisa (já que os novos são específicos demais, como o do consumismo novo que ainda não decorei o nome). Ora, sendo o twitter o fecabook enfatizado nas campanhas e sem os joguinhos que n curti muito, e o orkut não conseguindo ser o facebook, mas ainda servindo como forma mais próxima de contato mais direto e pessoal com amigos, seguir tweets e seguir no orkut me parece a melhor combinação.

Ah, e para descarregar algo de verdade (ou coisas como este post), claro: blogger.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Gisele Bündchen e NY Post - nessas horas eu sou bem brasileiro

Gisele - indicando preocupação com todas as recalcadas do mundo
 Não saquei o choque do NY Post com as frases da Gisele. Talvez o que ela tenha dito sobre protetores solares não seja verdade, mas, caso alguém não tenha notado, tudo que é certo hoje é errado amanhã nesse campo de "coisas do cotidiano que a ciência recomenda". Ou já se esqueceram daquela de não comer ovo - deve comer ovo - a clara faz mal - a gema faz mal - tudo faz bem - ovo aumenta o colesterol ruim - ovo aumenta o colesterol bom? Sabe-se lá que médico diz que o protetor atrapalha a produção de proteínas e sabe-se lá que outro médico disse o contrário. E daí? "Gafe"?! Hardly...

Agora, pior mesmo é que fizeram uma lista das "piores". E nenhuma delas me pareceu nada de gafe também... Alguns exemplos citados por jornais brasileiros: "deveria haver uma lei mundial obrigando as mães a amamentarem seus filhos por seis meses". Bom, fazer uma lei que obrigue isso é um raciocínio um tanto PT demais, mas a intenção é boa (por outro lado, ei, eles venceram as eleições por aqui, não?). Pode soar autoritário para superdefensores da democracia nos detalhes nossos de cada dia, mas dificilmente ela quebrou alguma regra social de convívio, ou disse algo que soe uma completa imbecilidade. Imbecilidade é ainda termos pessoas que não fazem o que podem para amamentar os filhos ou, pior ainda, acreditarem que não precisam e resistirem à ideia. A "gafe" é dos ministérios de Saúde e Educação!

Outra: "ninguém mais é virgem quando casa... me mostrem alguém que é virgem". Sim, existem os crentes que seguem o mandamento DE VERDADE (nossa, até os recém-convertidos estão fora dessa contagem, em geral). Raros... E ela obviamente disse isso a respeito da média da população ocidental. Lamento, puritanos, ela está certa a respeito da esmagadora maioria.

Enfim, "não é porque outra pessoa deu ele à luz que ele não é meu filho", sobre seu enteado. Em princípio, hipernormal e até clichê de novela. Feriu os sentimentos da criança ou da mãe biológica? Bom, se a mãe biológica não merecia (e isso era, por acaso, um fato notório na comunidade de fofocas do mundo), então até poderia ter sido uma gafe. Mas esta justifica (ou justificaria) a ideia de que ela deveria "calar a boca", como disse o NY Post? Por quê? Ora, porque não existe prazer mais afim aos que falam sobre pessoas famosas e de sucesso profissional que xingar. Fingir que se está por cima, que se tem altura para mandar a "mulher mais linda do mundo" calar a boca. Uau! A vontade de pegar a fama emprestada pela difamação é tão ridícula quanto antiga. A gafe, me parece, foi da revista. E, pior, a tática, como sempre, foi tão ineficiente que a coisa toda é citada em referência à revista. Nem assim a "jornalista" conseguiu ter seu nome citado. Hora de superar o recalque...

PS: Ah, tô testando o twitter, enfim. Já é retrô o suficiente para o meu gosto. @retoricosincero (realmente mal começando, nem twittei nada ou achei muita gente).

Toda crítica pode virar uma nova crítica

@Sen_Cristovam "Problema não é eleger político analfabeto, problema é eleger político que não alfabetiza."

Natureza ilógica

É interessante quando os jornalistas (a que me incomodou hoje foi da Folha, mas eles não têm monopólio sobre esse estilo) consideram que dizer que determinadas mudanças são naturais basta em si mesmo. Por exemplo, sua matéria fala que a queda de contemplação do ProUni neste ano foi resultado de uma oscilação "natural". E? E ponto. Por que essa oscilação é natural? Acaso alguém estabeleceu que uma coisa "natural" não tem motivo para acontecer? Parece haver algo nessa palavra que faz com que, mesmo que se pense em um objeto de construção humana, as pessoas imaginem que remeter à natureza é remeter à não-razão. Como se não encontrássemos causas lógicas para o comportamento até mesmo do que é de fato da "natureza".

A notícia indica indiretamente a questão de que muitas bolsas oferecidas não são dos interesses daqueles que podem se candidatar, mas isso não necessariamente é uma fonte de grande variação, nem é a única com certeza. A questão de que nem todo mundo que quer consegue atingir o mínimo para garantir uma bolsa, devido ao nosso famosíssimo baixo nível educacional, não entra em questão, por exemplo.

É de praxe do jornalismo manter certos costumes a cada notícia, como sempre indicar no início da matéria o que determinadas siglas significam (é verdade que, com o jornalismo de internet, siglas como STJ ou coisas assim parecem meio naturalizadas, pelo menos na cabeça deles). Até a Caras lembra, a cada "matéria", a idade da pessoa fofocada, caso o leitor tenha esquecido de uma revista para a outra. Pois um cacoete que podiam manter era lembrar de noticiar o porquê dos fatos. Seria interessante se a noção de jornalismo não fosse "relatar acontecimentos como uma linha do tempo em construção", mas "explicar, dentro de um limite funcional, fatos do cotidiano"

O problema é que, assim, a coisa ia parecer muito pior, claro. Porque uma série de notícias seriam conectadas, e ia ficar muito ruim para a política, por exemplo, que se conectasse briga por cargos, pressão por salário mínimo, inflação, custos públicos, congelamento de concursos. Imaginem que páginas manchadas as que noticiassem a realidade do país ou do mundo de forma complexa que pelo menos lembrasse a realidade do dia-a-dia, não a pureza simplificada de cada fato numa notícia-gaveta mágica, uma gaveta que nem tem 3 dimensões, por lhe faltar a profundidade.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Setembro adiantado


E Mubarak caiu! Agora é ver se se dá conta de não se transformar ouro em merda. É uma alquimia para a qual costumamos ter muito talento. Genética humana, suponho.

Cortes públicos



Ideia para equilibrar os gastos: tirar do marketing. Tem sido dinheiro posto fora, na pior porcaria.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os opostos, sempre complementares


Apesar de o efeito de marketing ser diferente, talvez indesejável, o filme Up in the Air poderia perfeitamente se chamar Down to Earth.

Incomodação acadêmica

Por que todos os editores de texto, quando chamamos os arquivos, mostram-nos o início do texto? Ora, se estamos editando um texto, a probabilidade de que estejamos no início do arquivo é bem pequena!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tupã!

Por Nhanderuvuçu, por que é tão difícil conseguir uma edição das obras completas de Gonçalves Dias?!

Humano é querer o céu e a terra

Criança na praia segurando uma pipa que voa a uns bons 20m de altura:

- Pai, olha a concha! Pega a concha!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De maio de 68 ao Egito em 2011

Estive sem internet por um tempo, numas férias conforme o verdadeiro sentido do termo, então não sei se algum estudioso fez essa comparação com mais cabimento que eu, mas... o Egito de janeiro-fevereiro de 2011 não lembra a vocês a França de maio de 68?

Lá também um movimento descentralizado de revolta jovem eclodiu a partir de manifestações e indignações diversas. Lá também o governo se viu repentinamente paralisado por uma mobilização social das mais raras em toda a história (contem os milhares de anos de história - e de abuso - e comparem com parcos dias de revoltas de indignação popular). Lá também a revolta ganhou valor simbólico sincrônico. Não é apenas na memória da esquerda que maio de 68 diz muito por si, mas na época mesmo outras manifestações que explodiam ou estavam por explodir inspiraram-se nela para ganhar força. E as que já tinham estourado somavam sinergia, mais ou menos como a relação Tunísia-Egito.

E, é claro, lá também a descentralização da revolta e o "medo" foram usados para que a situação do governo não se resolvesse, para que o posto de comando não fosse entregue e para que tudo mixasse. Aliás, como na França de então, gente como a Fraternidade Muçulmana faz decisões que mais parecem preocupadas com continuismo de certo poder do que com o encabeçamento de uma revolta popular (e a grande responsabilidade, depois, por fazê-lo, o que não sairia impune). Mubarak está repetindo de Gaulle (e tantos outros líderes da história - bons em politicagem, convenhamos) no sentido de que espera que o tempo faça seu serviço. E, enquanto ninguém dos grupos contrários ao governo toma as rédeas e assume a honra e o perigo de liderar um governo (nem que seja de transição) posto no comando pelo povo de forma direta (num sentido em que as democracias existentes não ousariam sonhar em fazer), Mubarak conta com a grande natureza humana: procrastinar. 

Ou os egípcios tomam esse cargo agora, ou logo estarão discutindo os valores num relativismo ad nauseam, pregando o fim das grandes narrativas e dizendo que "tudo é texto". Isso ou qualquer outro academicismo que queiram usar para afogar as mágoas de uma revolta popular que ocorreu como se idealiza, mas que acaba em pizza. O maior perigo da revolta do Egito, para mim, é que ela não dê certo agora. Porque, nessas situações, nosso instinto é revisar a história e concluir: "não adianta, ou pegamos em armas ou nada vai mudar".

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Efeito Sarney

Confiei
 
Ganhei sabonetes "Senador". Lembro que é uma marca valorizada até (pelo menos na minha faixa econômica), mas acho tão irônico usar uma coisa com esse nome para ficar limpo...

Os árabes mais legais

Dizem que os egípcios que tomaram as ruas são a grande chance de que se construa uma democracia por lá. E quem nega isso diz o quê? O que falam os céticos em relação aos árabes e grandes críticos que apoiam mantenedores do governo de Mubarak, como os EUA? (Não encontrei posições alternativas, apenas gente que está num desses dois lados, mas mede as palavras na hora de se expressar). Eles dizem que há violência endêmica entre árabes. Que seus protestos não são pela democracia, mas por causas mais básicas como fim da tortura e da ditadura, melhores condições de vida, moradia, trabalho, liberdade de expressão, "não necessariamente por democracia"!

HAHAHAHA

Vocês já viram acadêmicos campeões da democracia saindo às ruas na história da humanidade?! Nunca absolutamente um ser humano saiu para lutar pela democracia. O máximo que já aconteceu foi que a democracia era a possibilidade real, o meio pelo qual determinada população conseguiria, mais realisticamente, todas essas coisas (liberdade, moradia, alimento...). Nem a liberdade de expressão, aliás, consegue muitos adeptos sozinha, sem outras necessidades básicas sendo atacadas. E veja-se o nível de miséria ou desespero que costuma ser necessário para que as pessoas realmente saiam às ruas na magnitude suficiente para derrubar um governo.

Países que já têm, aliás, um sistema democrático de governo estão sempre dispostos a abrir mão de uma série de direitos ou liberdades em prol de outras coisas aparentemente mais imediatas ou prementes. É claro que a maioria (creio) da população não entrega a democracia inteira de bandeja, mas pedacinhos dela são altamente negociáveis por alguma grana, algum alimento, alguma casa. 

Esse discursinho de descrédito contra os egípcios, porém, não pôde virar aquele ódio indiscriminado a tudo que é árabe como fundamentalismo ou terrorismo. Por que o Egito foi diferente, e não se está tratando essas manifestações de revolta (um país derrubando um governo autoritário sem a "ajuda" dos EUA, "sacrilégio") como exemplos do fundamentalismo terrorista da "essência" dos árabes? Porque as forças do governo cometeram o crime capital dos tempos: feriram gente da imprensa ocidental. Incluindo um cara do jornal The Guardian (eu, eu, eu, Mubarak se fudeu). Ora, atacar a imprensa é algo que não se faz, o grande tabu que votou de Hugo Chávez a Russel Crowe à mesma danação. Se a polícia é nossa inimiga, então os manifestantes devem ser nossos amigos. E, cheia de dedos, a imprensa aventura a possibilidade de que a revolta no Egito possa ser algo positivo. 

Estão ressabiados ainda pelo histórico regional de governos autoritários apoiados por EUA e Israel serem substituídos por governos autóctones religiosos e contrários a EUA e Israel. Mas não é algo de se estranhar, não é? A justificativa que me vem à mente, nessas situações, não é que isso é "coisa de árabe"! Aliás, algo semelhante me parece ter acontecido aqui, com a diferença de que nossa economia já era tão voltada à deles e tanta gente da ditadura conseguiu seguir no poder que o anti-americanismo não deu tantos frutos (ficou restrito a um grupo da população, além de se enfraquecer com o tempo no "País sem Memória"). Ah, e nunca estivemos numa guerra com Israel, provocada por ações consideradas internacionalmente como ilegais. Agora, quem sabe o apoio ocidental a partidos ou associações democráticas com a mesma gana e financiamento com que se apoia governos autoritários mudassem a situação do "Ocidente" por lá?

Mas ainda se vem com esse discurso de que "não se pode confiar em árabes" (o grande forte do preconceito que nem o politicamente correto conseguiu invadir) e que eles terem interesses e demandas concretas para sua a vida seja algo ruim; algo, quem sabe, perigoso para a democracia. É, tem gente que continua achando que uma população ter exigências concretas de dignidade seja sempre uma ameaça à democracia...