segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Preconceituosos de berço

Pesquisadores da Universidade de Sheffield, Reino Unido, descobriram que bebês de três meses já são racistas. Ok, não foi bem isso, mas foi assim que noticiaram. Ou seja, todas as matérias (espero, já que torço por que todos os jornalistas sejam responsáveis, ainda que ambiciosos em suas manchetes) começam por uma aliviada na informação, como eu preciso fazer aqui.

O que se observou é que eles começam, nessa "época", a preferir rostos de sua própria raça. A menos que estejam convivendo muito em ambientes "multirraciais" - dã! 

Supresa, supresa: preferimos o que nos é familiar desde cedo! Ufa, ou nossos ancestrais teriam morrido bem mais facilmente e nunca teríamos evoluído para poder desenvolver, por exemplo, manchetes sensacionalistas...

Maldosa e egoisticamente, no entanto, às vezes penso que seria legal se se descobrisse uma tendência genética bem clara aos preconceitos. Isso indicaria a responsabilidade da sociedade por se trabalhar contra essas tendências, mas sem sonhar com seres humanos ideais nascendo, nas florestas "isoladas" ou no futuro distante, igualitários e pan-amigáveis. Essa vontadezinha morre, é claro, quando lembro que uma descoberta dessas provocaria mais xenofobia, homofobia, machismo, racismo... do que qualquer Mein Kampf ou ressentimento que ande solto por aí. A ideia de que uma notícia provoca discussão racional em massa é ridícula não pela falta de poder da imprensa, mas pela flagrante incongruência da expressão "discussão racional em massa".

A notícia tem pelo menos, quem sabe, o poder para provocar em algumas mentes o raciocínio não de que somos racistas desde pequenos, já que nem na pior leitura é isso que os estudos estão realmente mostrando: racismo implica uma série de noções e seleções (bem mais sérias do que "não preferir", aliás) que crianças ainda não podem fazer. Mas, torçamos, talvez a matéria provoque o pensamento contrário, de que o preconceito tem sim muita base em nossa natureza. Como já escrevi vezes demais neste ano, eis uma tese que me convence bem mais, que dá a devida medida do desafio de uma sociedade que tente ser cada mais igualitária e que queira pensar com propriedade para peitar de frente seus problemas, mesmo que estes a matem de medo. Muito ineficaz é encarar o preconceito como "desvio", perda de uma conduta naturalmente bondosa, má influência pura e simples, praticamente uma gripe que nos atacou, mas que, no fundo, não nos pertence.

domingo, 27 de novembro de 2011

Alguma raiz para a USP

A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco foi uma das primeiras instituições de ensino superior no Brasil (criada em 1827). Quando a USP foi fundada, a Faculdade de Direito lhe foi agregada. Dizem, uns por simplificação, outros por buscar identidade, que a USP nasceu dessa faculdade. Considerando-se essa defesa de herança direta, chamou-me muita atenção a seguinte descrição do embrião no meio do século XIX:

"A cidade, um pouco contra a vontade, abrigava os estudantes ao preço de alguns escândalos e algum tumulto. Os acadêmicos viviam em 'repúblicas', tradição portuguesa que ainda se mantém no Brasil. Formavam um corpo não assimilado pela cidade, porquanto viviam segundo costumes e ética que escandalizavam frequentemente os habitantes da pequena província que ainda era São Paulo (...). O número de estudantes era reduzido, em proporção ao tumulto que acarretavam."

Jean-Michel Massa. A juventude de Machado de Assis.

sábado, 26 de novembro de 2011

Propagandas online

"Pintou aquela vontade de casar? Muita calma nessa hora! Descubra com o celular quando você vai se amarrar!"

O que seria de um sociedade centrada no mercado absoluto sem a estupidez?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Aquecimento Global e nossas vidas

Acabo de assistir ao maior teórico sobre Aquecimento Global que já vi: um coadjuvante de uma série! Conforme o sujeito, o mundo está aquecendo, mas experimentamos mais frio, porque estamos ficando velhos! Perfeito: bate a ciência com nossa experiência e (genial!) todos estamos de fato ficando mais velhos. Todos tendemos a sentir mais e mais frio com o avanço dos anos, ainda que, sutilmente, os termômetros digam que a temperatura média aos poucos aumente.

Agora, o mundo é frio. Eis uma afirmação existencial. Confrontado por seu amigo a respeito do conflito entre essa afirmação e a precedente, sobre aquecimento global, o sujeito respondeu que o mundo aquece de fato, mas as pessoas tornam o mundo existencialmente "frio". São elas que são "frias", mais e mais: "O mundo está indo numa direção, as pessoas noutra".

Tudo faz sentido agora!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Não sabe o problema das escolas? Então estuda!

Conforme recentes pesquisas, negros rodam mais que todas as outras categorias étnicas do IBGE, no Brasil. Feitos os cruzamentos entre classes sociais (com o maior número de negros entre os pobres que entre os ricos), vê-se ainda que, até numa mesma faixa de renda, o número de repetência dos alunos negros ainda é maior. A nota também costuma ser maior entre os brancos se comparados a negros da mesma faixa econômica. Até nesses grupos, aliás, há uma porcentagem maior de negros em escolas ruins - ou seja, ainda que tenham renda próxima, há a tendência de que o branco ou derivado esteja em uma escola melhor (ou, claro, menos pior).

Não lembro da porcentagem, mas essa realidade também é encontrada em outros países, como os EUA. De fato, isso é tradicional entre grupos que sofrem qualquer tipo de preconceito, em qualquer país e em qualquer época (considerando-se o pequeno recorte em que nosso conhecimento a respeito é adequado e relevante, claro).

A resposta de que, além dos problemas de renda e de disponibilidade de boas escolas, o racismo tenha parte da responsabilidade é provável, mas descritiva. O problema é que não se parece ter estudado COMO esse racismo age para piorar notas, estudo ou permanência na escola. Portanto, concluir que o racismo é um responsável provável não significa que atacar livros didáticos, por exemplo, seja o caminho. No entanto, este é um dos alvos. Por quê?

Tudo bem que livros didáticos estão em todas as escolas. Falta saber se estão em todas as salas de aula. A maioria dos professores, pelo menos por estas bandas, usa o livro de didático como uma ferramenta  para o seu trabalho, assim como usa informática, quadro, passeios, bibliotecas, música, jogos... Só porque existem mais brancos, ou referências brancas (se é que é verdade - não nos que eu conheci, pelo menos), nos livros, isso não indica em nada o tipo de experiência ou de material que os alunos estão encontrando em aula. Um professor pode até pegar um livro didático racista e virá-lo de cabeça para baixo em sala de aula, trabalhando o problema dos valores do livro como tanto se idealiza. Mais ainda, é bem provável que o livro didático, considerado ruim, jamais entre na sua aula.

Agora, mais do que isso: quem disse que o aluno se importa com o livro didático? Pelo menos a partir da quinta-série, para a maioria dos alunos eu diria que a escola é um lugar errado e chato a priori. Podem gostar de um professor, de uma matéria ou de alguém mais da escola, mas cada professor novo ainda deve ganhar o respeito ou carinho por si. Caso contrário ele é apenas parte da "escola", uma instituição chata que fica inventando de tentar ensinar coisas enquanto as crianças vão lá para namorar, fofocar, brincar e, em alguns casos, outros interesses um tanto questionáveis.

Quem disse que os racismo entra pela atividade dos próprios professores? Quem disse que são os alunos os responsáveis? Quem disse que a literatura e o tipo de revistas que se tem nas bibliotecas influenciam? Quem disse que é responsabilidade dos ídolos dos alunos e das possíveis diferenças que existam entre alunos negros e todos os outros? Quem disse que é culpa das próprias famílias? Ora, ninguém disse nada disso, porque ISSO não foi estudado. Pode ser que existam movimentos nesse sentido, mas é preciso conhecê-los antes de se querer atacar as causas invisíveis dessa disparidade. Não basta um estudo descrever um problema, sem estudar suas causas ou caminhos, para que se pule para a etapa prescritiva, ou seja, a etapa de opinar sobre soluções ou, ainda, criar políticas com base apenas nos próprios preconceitos a respeito de alunos, professores, escolas e pedagogia.

A salvação na caixa do correio; ou O Best-seller de graça

Vocês já ouviram falar em "A Grande Esperança", de Ellen G. White, que tem aliás uma capa superbonita, de papel caro (como de foto, mas que não fica com uma gordurinha do dedo), com uma composição de fotos interessantes e o grande anúncio "Viva com a certeza de que tudo vai terminar bem"? Conforme essa linda capa, trata-se de um livro que, nessa edição, já vendeu internacionalmente mais de 35 milhões de exemplares.

E eu acabo de receber a pérola de graça, pela caixa de correio... Hm, será que devo suspeitar de alguma coisa?

Qualquer frase do livro valia um post, como "Todos os tesouros do Universo estarão abertos aos resgatados por Deus", ou "À medida que passam os anos da eternidade, surgirão mais e mais gloriosas revelações de Deus e de Cristo." Mas uma coisa definitivamente me recomendou ler o livro: segue o Novo Acordo Ortográfico!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma metáfora sutil

Um sujeito foi contratado para cuidar que algumas plantas crescessem. Bom, todas as plantas, pelo menos todos os tipos pelos quais ficou responsável, crescem por si, digamos então que ele foi contratado para que as fizesse crescer de determinada forma, a qual estava ao alcance natural delas, mas exigindo um caminho que não é da natureza delas trilhar, não por si. Sua intervenção, além de guiar esse desenvolvimento, talvez forçá-lo um pouco, idealmente as faria se desenvolver também mais rápido.

Os donos das plantas e o resto da população, que contava com sua futura produção de frutos e um pouco de oxigênio, quem sabe, todos contribuíam com a pesquisa... financeiramente. Alguns donos, é verdade, só queriam um lugar para deixar as plantas crescendo sem serem incomodados, mas todos estavam dispostos a subir em seus saltos morais caso qualquer problema no laboratório respigasse em seus respectivos cotidianos supervalorizados.

A pior coisa que poderia acontecer, então, era que uma planta fosse jogada para fora do sistema montado, ou ainda que ficasse trancada em determinado estágio - já que isso indicaria que os gastos ali investidos não teriam retorno, algo que a população em geral não estava disposta a aceitar, ainda que os responsáveis diretos pelas plantas insistissem que estas não eram objetos, como pedras, que eram seres vivos e tinham valor em si, justificando todo investimento possível. Esperava-se que o botânico responsável encontrasse sempre novas maneiras, exigindo menos da planta (para não usar eufemismos), trabalhando diferentemente, procurando novas tecnologias, o que fosse necessário! Tudo, menos uma planta voltar para casa ou crescer por si, conforme quisesse, ou, pior ainda, seguisse o desenvolvimento da vegetação na volta do laboratório.

O pequeno problema era que o botânico logo percebeu que lhe faltavam verbas e pessoal para tanto. Não tinha nem onde trabalhar com as plantas que ficavam defasadas naquele percurso de movimento pré-estabelecido e atribuído, uniformemente, a cada planta, independente de diferenças genéticas e nutricionais, incluindo necessidade de diferentes tipos de solos. Tanto ele esperneou que seus contratantes diretos formaram um grupo de pesquisadores responsáveis por visitá-lo e avaliar caso por caso as plantas que não correspondiam ao desenvolvimento esperado, a fim de avaliar, se afinal ele tinha razão em querer tratar determinada planta de forma diferente, quem segurá-la para certos objetivos por mais um ano.

A mesma tarefa, é claro, minguou no papel. Não havia como fazer essas visitas nem uma análise cuidadosa, mesmo porque havia muitos e muitos laboratórios como aquele, e criá-los para todos os lados era um esporte político associado facilmente com votos, então a cada ano o problema apenas aumentava. A solução foi designar uma só pessoa para avaliar o laboratório. Melhor ainda, para os cofres, uma para vários.

Como a análise dos casos levaria tempo e essa pessoa precisaria visitar muitos, além de cumprir sua própria burocracia, a única forma era que começasse suas visitas avaliativas com certa antecedência, ou seja, antes de se poder dizer, com total certeza, que se tentou de tudo, e que a planta não reagiu conforme o esperado. Ironicamente, ele só precisava ir porque se pretendia garantir que o botânico havia tentado de tudo com cada planta! 

Logo, acostumados com esse sistema, e sempre relembrados pelo burocrata de plantão, pesquisadores como o nosso sujeito em questão começaram a acumular provas, prever estratégias, montar dossiês e fiscalizar as plantas de risco, definindo seu destino antes mesmo de ele estar traçado. Era chegar o fim do ano e o trabalho para manter uma planta onde estava começava antes mesmo de esta poder ter cumprido o desenvolvimento desejado.

E assim um sistema que não quer excluir nem gastar o suficiente para incluir torna-se não apenas excludente, mas precipitado, prematuro e, num sentido estranho, preconceituoso: definindo seus conceitos a respeito do que avalia antes mesmo de os conceitos serem fechados.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

República e Reminha

Uma coisa curiosa de trabalhar com a coisa pública é que um feriado é mais sensivelmente voltado à coisa privada, mesmo quando é a coisa pública que está sendo comemorada. É claro que coisas como responsabilidade e salário fazem com que a coisa pública seja também preocupação com a coisa privada, o que deixa o feriado pela coisa pública ainda mais em busca de símbolos da dedicação à coisa privada. Por outro lado, isso intensifica a sensação de trabalho quando se pensa na coisa pública premeditadamente, afinal, o trabalho está logo ali esperando. E não é que não existam resposabilidades privadas para além daquela com a coisa pública, então dedicar-se mais ao trabalho pode ser uma marca de que a coisa pública está um pouco mais distante, mas isso também faz com que pese mais na mente a previsão da coisa pública quando ela voltar a ser o centro de minhas atenções. 

O problema dos feriados é sempre fazer o trabalho pesar mais. Dizem que o descanso é necessário e que não adianta seguir a vida sem pitstop, mas às vezes é difícil acreditar que não seria melhor resolver tudo logo de uma vez e ter férias maiores... É claro que, na falta de feriados, teríamos apenas mais trabalho, não mais férias.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Redes sociais e a revolução dos computadores ociosos

O Facebook mudou radicalmente o mundo: desde sua invenção, não são mais paciência e freecell que ocupam as telas de caixas, secretarias e demais computadores semi-ociosos das diversas "cabines" deste mundo. Onde paro e vejo monitor, lá está a página do facebook a postos para que o empregado que ali labuta alterne obrigações com os clientes/usuários e papos profundos com os amigos (ou a leitura de notícias bizarras).

Sim, passou-se do lazer individual ensimesmado para a prática social constante e o eterno contato com o novo, o familiar e o bizarro. Agora, a maior mudança mesmo é que dessa forma as pessoas que te conhecem ou que têm tua página do facebook podem saber o quanto estás ou não trabalhando.

Mais do que isso, graças ao facebook sabemos sobre as diversões com Cityville de gente que mete atestado para fugir do trabalho. E tão poucos destes se tocam da característica de vitrine do facebook - não na prática, pelo menos. Agem como se estivessem jogando freecell quando, na verdade, estão se expondo ao ridículo. Nós, os que trabalhamos tapando buraco desse último tipo de gente, agradecemos a informação sobre como gastam o tempo conquistado injustamente.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Preconceito invertido pela culatra

Estava eu assistindo a uma palestra/conversa com um escritor na Feira do Livro quando ele menciona, por qualquer motivo, "mulheres", assim no plural. Como não poderia deixar de ser, ou ele largava um comentário machista, só por ter tocado no tema, ou fazia um elogio desproporcional e demagógico. Foi pela última opção, arrancando aplausos satisfeitíssimos de algumas mulheres de todas as idades.

Nada de novo no front. Aliás, pouca coisa poderia ser mais tediosa de tão batida. O elogio, no caso, foi amplo e completamente desconectado do assunto: "as mulheres são melhores em tudo".

O que me chamou a atenção foi a reação da maioria dos alunos de oitava série, que estavam todos à minha direita. Virando o rosto, vi de um golpe só os olhos virando para o chão ou rodopiando no ar, os lábios se contorcendo, os sorrisos debochados ou cansados. Com as caretas, vieram os comentários, não altos demais que passassem de nós, mas próprios para que circulassem entre a própria turma. Ironia quase total. Aqueles adolescentes não caíram no movimento retórico do autor, cansaram-se, como se fosse, com o elogio vazio e batido, perderam grande parte do respeito que estavam decidindo colocar ou não na figura. Não era a má vontade típica, nem eles responderam com comentários machistas. O autor tivera chance de ser escutado que raras vezes eles dão a estranhos, e se perdeu no clichê...

Eu sempre achei que aquela galera merecia todo o apoio, mas aquele desdém merecido no meio dos aplausos foi um gesto que deveria ter sido filmado para entrar no histórico escolar. Aquilo é tão difícil de comprovar na escola.

domingo, 6 de novembro de 2011

O mito da utilidade do conhecimento

- Eu nunca vou usar isso na vida, certo?

Questionado por uma aluna assim, eu respondi que ia, sim, e demonstrei como. Mesmo assim, minha resposta estava errada. Não porque eu estivesse mentindo, mas porque a própria pergunta era errada. O problema do interesse na educação nunca é (na escola, NUNCA, não importa o que digam os mais numerosos pedagogos) se determinado conhecimento é útil para o aluno ou não. Nem mesmo se o conhecimento é PERCEBIDO como útil pelo aluno, o que seria uma forma aparentemente mais verdadeira de pôr a questão.

O problema da educação é se o que está sendo apresentado ou trabalhado pelo aluno é apelativo para ele ou não, se o assunto interessa por si mesmo, não em relação a um futuro mais ou menos distante, útil para a vida profissional ou afetiva de dali a alguns anos.

Para quem acha que o conhecimento precisa ser entendido como útil para interessar, proponho a seguinte questão: acreditas realmente que, depois de eu demonstrar que aquele conhecimento era útil para a vida, a aluna que me pôs a questão passou a trabalhar com motivação e engajamento, ou, sendo menos exigente, que ela pelo menos trabalhou naquilo sem novas resistências?

O grande problema da ideia de que o aluno tem que achar que determinado conhecimento lhe será útil é que isso pressupõe imaginar seres humanos envolvidos mais com o próprio futuro do que com o presente imediato e com o prazer sensível. A maioria das pessoas não é capaz de sensivelmente supor o futuro até o fim da adolescência, e mesmo aqueles (adolescentes ou adultos) que conseguem têm enorme dificuldade de sacrificar o prazer imediato pelo ganho futuro, mesmo que esse ganho seja comparativamente maior. É o que nos demonstra, para ser grosseiro no exemplo, o enorme apelo que tem a pornografia: um dos cúmulos do prazer imediato inútil (ou seja, do prazer pelo prazer).

Não podemos dizer o que um aluno vai verdadeiramente usar na vida, a não ser nos temas mais básicos do ensino. Não podemos dizer nem ao menos se a pessoa vai chegar a tal futuro, ou se vai morrer bem antes. Não podemos indicar para um aluno que o futuro lhe guarda possibilidades melhores se ele não é capaz de perceber esse futuro de uma forma minimamente madura, o que apenas uma minoria consegue - minoria que só se torna digna de nota, sem deixar de ser minoria, perto do vestibular ou na faculdade. 

Mesmo assim, os próprios alunos controem esse discurso de "se não é útil não quero aprender". Ora, acontece que esse sujeito nitidamente não quer aprender, não aquilo, não naquele momento, e é apenas por isso que ele ou ela parou para achar uma desculpa para largar a atividade e fazer o que realmente lhe está chamando a atenção (atualizar o orkut, jogar uma bolinha de papel, roubar a caneta da colega gostosa...). Agora, por que achar que os alunos estão colocando uma questão filosoficamente válida, se ela é totalmente gerada pelo desinteresse? Ou alguém acha que adolescentes sabem tanto da vida e de si próprios para colocar questões pedagógicas maduras? 

Algumas de suas críticas são válidas, mas de forma indireta. É preciso analisar o que eles dizem e utilizar isso para pensar no apelo de cada aula, mas eles não são capazes, em geral, de colocar o verdadeiro problema. O que eles falam não é a essência do que um professor precisa resolver, mas o sintoma que esse professor precisa analisar a fim de realmente entender o que está acontecendo e mudar suas aulas, se assim julgar adequado.

Para que alguém se atraia por aprender, a questão não é serventia ou utilidade "para a vida". Qual a utilidade de aprender a jogar um jogo além de, simplesmente, jogar o jogo? E por quê? Porque é divertido, porque é interessante, porque o jogo apela esteticamente àquele sujeito. O ponto da questão, portanto, não é que sejamos seres utilitários. O ponto é que somos seres estéticos.

O utilitarismo vem com a maturidade, para alguns. Por mais que conheçamos adultos imaturos, não vamos acreditar que adolescentes e adultos realmente sejam criaturas iguais. Não são. Tanto que a maioria dos adultos, ao ouvir por terceiros as reclamações de algum adolescente, ri com desdém. A questão de "para que eu vou usar isso?", por mais que revele desinteresse a ser enfrentado por um professor, deveria receber, muito mais, uma resposta com o mesmo riso, em vez de reforçar esse senso comum pedagógico que quer explicar para que serve aquilo que o aluno não entende em relação a um futuro que ele não enxerga.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Fugindo da realidade uma frase de cada vez

Como eu dificilmente poderia descrever muito melhor, e não passaria o tom de fala através do texto, meu post de hoje tem de ir por este vídeo um pouco antigo. Lamento que não tenha achado com legenda.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

É da idade!

Será? Obviedades como a habilidade de andar ou falar à parte, será mesmo que muita coisa que desculpamos nas pessoas pela idade não são apenas traços de personalidade? Afinal de contas, sempre se reclama de como não sei quem é infantil, e isso particularmente falando de adultos. Diversos grupos, particularmente se organizados por profissão, parecem, para quem olha de fora - inclusive para potenciais membros desses grupos - pessoas muito infantis (em algum assunto ou aspecto, pelo menos). Muitos comportamentos aceitos das mulheres costumam parecer infantis aos homens e vice-versa. 

Talvez seja de certa idade namorar muito, mas o certo é que algumas pessoas dessa idade não namoram nada, e as outras seguem namorando muito mesmo quando trocam de idade. Algumas pessoas parecem muito novas para entender certas ideias, mas diversos adultos não entendem as mesmas ideias, assim como as entendem certos jovens da mesma idade da pessoa desculpada, e às vezes até as intuem ou concluem por si mesmas.

Alguns comportamentos nossos ficam no tempo, mas isso não indica que nos tornamos mais maduros, já que outras pessoas vieram "amadurecendo" conosco e não largaram aquilo ainda, ou nunca tiveram aquela característica, para começar. Física e cognitivamente temos certo desenvolvimento mais ou menos uniforme, é verdade, e tal uniformidade implica uma variação, ok! Como animais, no sentido mais simples do termo, podemos ser crianças, adolescentes e adultos, e cada uma dessas coisas tem algum sentido. No entanto, quando o assunto é personalidade, postura, estilo, preferência, interesse, preocupação, empatia, humildade, perseverança, paciência... tenho sérias dúvidas que o fator que faça algumas pessoas melhorarem seja realmente idade, já que algumas claramente prescindem de "amadurecimento" e outras não lucram nada com o tempo.