quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Despertando com a TV em pleno 31 de dezembro de 2009

"But I would walk 500 miles
And I would walk 500 more
Just to be the man who walked 1000 miles
To fall down at your doooooooooor"

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Brasília sob críticas internacionais

Há pouco tempo, dois blogs que leio traziam comentários sobre Brasília (já que seus autores estiveram por lá). No mesmo dia em que li o material, li sobre a cidade num livro em que buscava uma famosa interpretação do Fausto de Goethe!

Bom, o texto que mencionava Brasília era o prefácio à edição de 1988, e o livro talvez não seja muito proveitoso para nenhum desses blogueiros, mas a coincidência foi tamanha que encontrei mesmo um parágrafo que ia de um ponto a outro dos que mais me chamaram a atenção no que lera em seus blogs. Como agora é possível, e estou com paciência para posts pendentes, aqui vai o trecho que achei mais curioso. Quem sabe algumas ideias até sejam úteis para os descobridores de nossa capital, se decidirem ir atrás do texto depois. O trecho que vou citar vem após algumas críticas bem pesadas e algumas respostas de Orcar Niemeyer e seguidores.

"Num ponto Niemeyer estava certo: quando foi concebida e planejada, nos anos 1950 e início dos anos 1960, Brasília de fato representava as esperanças do povo brasileiro, em particular seu desejo de modernidade. O grande hiato entre essas esperanças e sua realização parece dar razão ao homem subterrâneo: para homens modernos, pode ser uma aventura criativa construir um palácio, e no entanto ter de morar nele pode virar um pesadelo.

"Esse problema é particularmente crucial para um modernismo que impede ou hostiliza a mudança - melhor dizendo, um modernismo que busca uma única grande mudança, e depois não aceita mais nenhuma. Niemeyer e Costa, tal como Le Corbusier, acreditavam que o arquiteto moderno deve usar a tecnologia para concretizar certas formas ideais, clássicas, eternas. Se isso pudesse ser feito na escala de uma cidade inteira, ela seria perfeita e completa; suas fronteiras poderiam se estender, mas ela jamais deveria se desenvolver a partir de dentro. Tal como o Palácio de Cristal imaginado por Dostoievski, a Brasília de Costa e Niemeyer não deixava a seus cidadãos - e aos outros brasileiros - 'nada mais a fazer'."

Marshall Berman - Tudo que é Sólido Desmancha no Ar.

Post extático

Os sacrifícios funcionaram! 16:31 e estou não apenas conectado, mas podendo postar no blog!

Outro sacrifício

Desculpem, esqueci de outro post que não foi para a lixeira da minha preguiça de correr atrás dos dias de conexão perdida.

O calor é psicológico. Ontem foi o dia mais quente do ano para mim. Nâo pela temperatura, mas porque me disseram, na noite anterior, que a previsão era de 37 graus. Sacanagem.

Posts sacrificiais

Obrigado, deuses do Blogger, por me permitirem ter acesso ao meu blog pelas manhãs. Todos os posts de hoje são um sacrifício afirmando que o desenvolvimento da internet e das empresas telefônicas são um fim em si. Peço, assim, que meu acesso seja ampliado para as outras horas do dia, como era nos tempos em que eu queria, mas não tinha tempo para escrever aqui. Ó Grande Conexão, que a solidão e o abandono do consumidor sejam louvadas.

Mensagem do Inconsciente

Minha antiga orientadora me chamando em sonho:

"Oi. Vem cá um pouquinho. Tu tá sempre falando bobagem, né? - pausa - Não, no bom sentido... Tu tá sempre brincando. Melhor!"

Retrospectiva 2010 - olhar o passado para chutar o futuro

Eu entendo que os marketeiros e sensacionalistas tenham, desde 2000 (mesmo que o século tenha começado em 2001), começado a eleger já os "maiores do século XXI" frente a qualquer porcaria que acontecesse. Usaram particularmente a palavra "revolução", que perdeu seu sentido já no séc. XX devido justamente a seu uso abusivo por propagandas e partidos, associada a qualquer coisa, uso prático para invenções tecnológicas (como cada função a mais num celular - não um grupo de funções, cada). Qualquer número alto, fosse de vítimas, de quilômetros degelados ou de grãos de arroz vendidos viravam logo o recorde sob o qual o século XXI inteiro iria viver. Não descontemos, é claro, os TOPs qualquer-coisa, que já se propunham de antemão a declarar a perpetuidade de seus resultados.

Isso tudo eu posso até aceitar. Afinal, pega mal achar imbecil quase toda a produção midiática cotidiana. E eu sou alguém que me importo tanto com minha imagem... É preciso ter critérios pouco exigentes e acreditar que mais pessoas do que se suspeita têm senso crítico por aí.

Mas, francamente, quando os grandes jornais e revistas passam a entrar na onda e a fazer retrospectivas que tratam nossa primeira década como definidora do século XXI (com um vazio "talvez" agregado para não soarem totalmente imbecis) é já exagero. Entendo que os terroristas tenham tido um ano meio manso para o gosto jornalístico, de modo que recuperar a década agora permite mostrar mais vezes as imagens das Torres Gêmeas caindo (algo para o que acredito que tenham cota por ano), mas, se ficar perto de besteiras faz mal, grandes empresas de notícias transformarem o discurso marketeiro em conteúdo jornalístico não é só um problema mercadológico de revistas e jornais, é problema de saúde pública.

Companhia

Um carinha passando pelas minhas costas, falando para um que estava, então, do meu lado: "Eu já vou indo que ali vêm dois."

Os "dois" que vinham eram dois policiais.

Técnico

Estou acostumado com novas gírias para todos os lados, no Centro. Fiquei surpreso, portanto, com um sem-teto gritar, quase do meu lado: "Me dá a maconha!". Ótimo! Curto, direto, eficiente...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Viva o clichê!

Organizamos uma festa no Leopoldina e deixamos que o povo autóctone organizasse a música. Houve pagode, hip-hop, e as alunas, que não quiseram se mexer para isso quando puderam, reclamaram que faltou o funk. Ficou para a próxima. Ah, sim, queimamos um radinho também.

Supernatural TM

Forno Alegre é uma cidade fantástica. Como exemplo disso ao estrangeiro, podemos dizer que a cidade apresenta todos os climas em um dia. Além disso, uns ônibus carregam o inverno dentro de si, enquanto outros levam o verão. Porém, mesmo acostumado com a cidade, nada me preparara para o aconteceria naquele dia, em pleno Mercado Público.

Esperava eu um companheiro de profissão que comprava queijo nas bancas tradicionais do Mercado. Uma mulher de uns 70 anos ou mais pisou perto de uma nota de 50 reais. Um dos comerciantes (imaginem, um comerciante!) chamou a atenção dela e indicou que ela havia deixado cair a nota. A mulher agiu como quem acha isso muito estranho, mas pegou o dinheiro e colocou na carteira. Aparentemente tranquilo com a situação, o vendedor seguiu conversando com seu amigo. Eu havia recém saído de uma reunião administrativo-pedagógica, portanto meus sentidos estavam afinados demais com tudo que há de surreal, de modo que a cena me afetou gravemente. Fiquei preocupado com o axis mundi, o que ainda me permitiu assistir ao final da problemática quando a velha voltou e disse ter contado o dinheiro na bolsa: a nota não era dela. Não apenas eu, mas o vendedor, o amigo e três pessoas ali naquele espaço reagiram com surpresa ao ver o ato honesto do homem ser respondido pelo ato (se possível) ainda mais honesto da mulher.

Juro que essa história tão assustadora é real, e que, apesar de isso ter acontecido há já alguns dias e a cidade de Forno Alegre ter apenas coisa de milhão e meio de habitantes, eu nunca mais encontrei essa mulher...!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Espírito Natalino...

... é ligar a TV e pegar direto Ney Latorraca dizendo "Natal é pra criança, não?"

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Era da Comunicação

Primeiro Natal de meu blog passa... sem conexão com o Blogger. Tudo bem: eu tinha posts a colocar, tinha citações a fazer, mas deixa assim. Querem salvar o Natal de comentários irônicos sobre papais-noéis de rua e suas pérolas, ok!

Ao menos fica a sensação de que certas coisas não mudam, mesmo em festas. Nessa época em que se vão as aulas e ficam os trabalhos, vão-se as festas e ficam os parentes, minha conexão continua a mesma...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Assine aqui, grite, esperneie, faça passeata e acenda velas!

Quando o nosso Estado atual se ergueu por sobre o último, criou-se uma Constituição, solidificação "para a paz" daqueles que venceram. Essa lista de platonismos e proibições garante-nos direitos. Ainda assim, para que esses direitos sejam exercidos, precisamos correr atrás, movendo todas as ferramentas legais, nadando contra a acachapante burocracia. E a resposta que temos dos meios legais, uma vez forçados a nos respeitar, é geralmente a realização de 20% do que exigimos, com certeza nunca além de 50%. Há, é claro, a grande possibilidade de 0% de ação, mas me interessa aqui que, mesmo quando somos respondidos, só chegamos a 100% de nossas intenções (a realização de nossos "direitos") combinando apoio legal e jeitinho, manha, companheirismo, além de um pouco de sorte (mesmo que se movam montanhas num movimento plenamente social, ele só existe para se validar legalmente depois, nem que seja em novo governo - nenhum dos lados se sustenta sozinho). Ou seja, SE o governo e sua máquina nos apóiam, sob PRESSÃO DIRETA, precisamos ainda da FORÇA de amigos, espíritos empáticos e dos dados do universo.

Não é de admirar, considerando-se todos esses mil aspectos do fórceps necessário para algo acontecer, que os filósofos tenham tido a cara de pau de falar num perfumado e erudito "contrato social"?

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Abordado pelo Absurdo

Numa parada de ônibus:

- A fila começa lá ou termina aqui?

Respostas consideradas:
- Pra quem vai ou pra quem fica?
- É relativo...
- Não!
- "Who cares? I repel women!"
- Há uma possibilidade de vírgula na tua pergunta. Sabe onde?
- Tem um cargo de confiança esperando pelo Sr. em Brasília.

Propina celeste

Mais de 80 mortes pela nevasca em países ricos exatamente quando Copenhagen não deu certo?! São Pedro tá em conluio com ecologistas...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O fim do mundo seguindo as informações de nossos melhores jornais

O mundo (Paris) sofreu com grave aquecimento. Agora o mundo (NY. Düsseldorf) sofreu com o resfriamento. E se o mundo (Washington, Beijing) não fizer nada a respeito, o mundo (Brasília) ficará vermelho de raiva e populismo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Pelas falas de fim de luta

Mesmo que ele siga sua Busca ainda no Playstation 3 e, suponho, vá continuá-la no Play 4, pergunto-me se tudo de que Ryu precisava esses anos todos não era apenas um bom dicionário...

Futebol eloquente [9]

"...do outro lado há um goleiro com a característica recorrente de pegar pênaltis."

Porto-alegrenses

Não é apenas Porto Alegre que fica vazia no verão. Porto-alegrenses tendem a abandonar a blogsfera também, ao que parece. Agora, se fisicamente os nativos da capital vão visitar parentes no interior, aproveitar a Argentina e curtir as praias de Santa Catarina com familiares e argentinos, para onde os gaúchos virtuais vão?

sábado, 19 de dezembro de 2009

Só pra dar uma medida

"Ai, tu sabe... eu tento não ter preconceito com pedagogas. Mas meu namorado, que é da Filosofia, esses dias, por causa do novo currículo com filosofia, foi chamado por um grupo delas pra dar aula de Lógica..."
Imaginem o resultado!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Lições administrativas

Infelizmente algumas coisas só aprendemos pela experiência. O quê, exatamente, varia de pessoa para pessoa, mas cada um tem as suas. Não sei por que eu fui só aprender agora que, para resolver as coisas com alguém que tenha namorada ou esposa, a melhor abordagem é simplesmente falar diretamente com elas. Dizer para um cara desses que ele, ela ou o casal não podem fazer alguma coisa é apenas criar a situação em que a mulher virá pedir satisfação. O outro lado da moeda é que, uma vez que ela está convencida e do teu lado, o "casal" passa a estar do teu lado, a compreender perfeitamente a situação, a te achar uma boa pessoa por ter tomado tal atitude, seja qual for. Não percam tempo: expliquem diretamente às respectivas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Assim que se começa um livro

"No século XVI, nenhum colonizador invadiu qualquer praia com pose e porte de ONG. Nem podia, claro - cada época, cada sina.
Hoje convivemos com o "politicamente correto". Na minha opinião, tentativa perigosa de nos recolonizar.
Não gosto dos "politicamente corretos", também não gosto de ONGs. Não gosto de nada pronto. Quero o prazer e o luxo de poder pensar sozinha. Se é para ser colonizada, que seja como já fomos - ao menos sabíamos quem era quem."

Angela Dutra de Menezes - 2000

O Português que nos Pariu

Quantas formas de te responder, minha cara?

- Eu tinha uma frase... Era com um "e". Depois vírgula... Era um "e" entre vírgulas. Que nem um "portanto"... Ai, sor, faz uma frase aí!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Política (qualquer, mas hoje a climática)

Hmmm Acho melhor não atacarmos causas. Muito complicado, difícil de negociar. De qualquer forma, precisamos mostrar serviço. Precisamos de algo concreto! Que tal um fundo? Claro! Dinheiro na nossa mão. Um fundo sempre é bom. Mas, se as causas são complicadas, melhor atacar consequências! Isso, a gente até vê quando elas acontecem. Todo mundo filma e passa no jornal. Olha lá, uma consequência! Pega! Pega!

O Todo

Fausto.doc

Abra por conta e risco de sua alma.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pátria amada

Para completar, passei por uma bandeira gigantesca em seguida. Para completar, no caso, uma experiência que excitou da forma mais tocante meu instinto de nacionalidade.

Passava eu na frente do Mercado Público, quando notei um grupo de crianças nativo-brasileiras cantando o que só poderia ser uma obra musical autóctone. Não reagi particularmente a essa mendicância mais aceita por seus traços de nacionalismo até notar que o menino com o violão não estava fazendo nota alguma. Um braço batia despreocupa e cadencialmente em todas as cordas enquanto o outro descansava do lado do corpo. O nativo-brasileiro em questão olhava para todos os lados, um pouco para cada lado, no caso, sem prestar atenção nem nos irmãos, nem nos passantes, nem nos pássaros, nem nas árvores. Atitude, é claro, de quem com certeza passeia mentalmente por esta terra que já foi sua e ignora por momentos as devastações do homem branco que se expõem a seus olhos com a crueldade de que apenas centros de capitais são capazes. Seu tupi-guarani também me soava um tanto espanholado, mas atribuí o fato, é evidente, ao destreino e à deseducação de meu próprio ouvido.

Essas observações vieram à mente com grande velocidade, pois em seguida fui tomado de surpresa quando o talento monomanual do garoto displiscente e da ladainha de suas irmãs (o canto) foi cumprimentado pela gorjeta de um passante. O ato foi de tamanho ufanismo que, através da umidade de uma lágrima que vinha aos meus olhos, notei que o Sol brilhou na pátria nesse instante.

Cenas de pré-vestibular

Chega uma aluna para a professora. de Português:

- Ah, sora, eu tenho uma dúvida.
- Hm, qual?
- Me fala sobre os verbos.
___________________

A mesma aluna, para a profa. de química:
- Sora, eu tenho uma dúvida.
- Hm, qual?
- Química orgânica...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Perguntas que não querem calar

Terei tempo para terminar meu trabalho sobre Fausto? Onde estão Mefistófoles e seus contratos quando precisamos deles?

Gotham State... e avante!

O Rio Grande do Sul não tem tanta raiva há 12 anos! Criminalidade? Copenhagen? Grêmio e Inter? Yeda? Nada disso, morcegos portando a doença... aaaaahhhhh. Que notícia decepcionante, não?

Mas, tudo bem, afinal, o RS não tem por que estar triste. Avançamos a passos largos. Não em economia, política, segurança, educação, saúde, trânsito, mas apenas no que diz respeito a Alcemir da Rosa. Sim: o recordista brasileiro de perna-de-pau é gaúcho! E é mesmo referido oficialmente com o potencial título de Reality Show "o maior perna-de-pau".

E, já que estamos distribuindo títulos que nos enchem de orgulho regional, proponho um prêmio para o seguinte trecho da matéria a seu respeito, publicada no Correio do Povo: "O reconhecimento se deu com o homologação pelo Rank-Brasil, única instituição no país que aprova e faz avaliação desse tipo de esporte."

"Única"! Era pra ter mais? Ou trata-se de uma crítica velada à obrigação de fazer a matéria? E como assim "esse tipo de esporte"? Que outros fazem parte da mesma família? Antes que termine o ano, homologuemos (especialmente para o Correio) o "Prêmio Aposto 2009".

De passagem pela renascença

The Passionate Shepherd to His Love

Come live with me and be my love,
And we will all the pleasures prove
That valleys, groves, hills, and fields,
Woods, or steepy mountain yields.

And we will sit upon rocks,
Seeing the shepherds feed their flocks,
By shallow rivers to whose falls
Melodious birds sing madrigals.

And I will make thee beds of roses
And a thousand fragrant poises,
A cap of flowers, and a kirtle
Embroidered all with leaves of myrtle;

A gown made of the finest wool
Which from our pretty lambs we pull;
Fair lined slippers for the cold,
With buckles of the purest gold;

A belt of straw and ivy buds,
With coral clasps and amber studs;
And if these pleasures may thee move,
Come live with me, and be my love.

The shepherds's swains shall dance and sing
For thy delight each May morning:
If these delights thy mind may move,
Then live with me and be my love.



Christopher Marlowe - 1599

sábado, 12 de dezembro de 2009

Cores mágicas

Mudar a etnia do presidente dos Estados Unidos não trouxe a paz mundial. Mudar a etnia dos universitários brasileiros não melhorou nossa educação. Mas mudar a etnia da princesa da Disney trará grandes melhoras à humanidade, tenhamos certeza!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Natal é Amor

"Operação Papai-Noel da capital terá mil PMs."

Mas, "Acima de tudo, Natal é Cristo", tá?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Leia "Papai Noel, este desconhecido" ou colecione "Correio do Povo: dicas de vida"

Autopromoção é uma coisa, mas o Correio do Povo levou-a a extremo nunca antes visto: colocou-se, como jornal, no fundamento da cultura ocidental.

Promovendo o fato de participarem de uma campanha cujo nome já merecia seu deboche ("Acima de tudo, Natal é Cristo!", numa empresa de notícias), tentam um enrolation natalino dos mais curiosos. Por exemplo, conforme o jornal, o presidente da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas, um dos responsáveis pela campanha, "destacou que a intenção de divulgar o verdadeiro espírito do Natal nasceu há quase 30 anos, quando um artigo de opinião do Correio do Povo expôs o real sentido do Natal, que é festejar o nascimento de Cristo". E quem morreu antes desses 30 anos? Ficou sem a "Boa Nova" o coitado? Não satisfeito, o jornalista realmente expõe que o Natal é um ritual cristão. O mesmo presidente, aliás, nos tranquiliza: "Nada impede que as famílias festejem e troquem presentes. Afinal o presente é um ato digno". Ufa! E eu achando que ia para o inferno por todos esses anos presenteando amigos e familiares!

Para finalizar, não podia faltar a "crítica social": "O presidente da Gelpa [Grupo de empreendedores evangélicos-luteranos] (...) disse que está na hora de a sociedade moderna e materialista 'parar de comemorar o aniversário sem o aniversariante'". Essa ideia foi repetida as mais diversas vezes, no minúsculo texto, de TANTO que o jornalista tinha a dizer sobre o Correio revelando e desvelando o "Verdadeiro Natal!"

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Truísmo

Nada mais gratificante que pilhar um cara da História para sair às ruas em passeata com alunos.

Sinais

Como saber que se fez uma pergunta perigosa? Observando-se se a pessoa questionada começa com "O que acontece é o seguinte..." A pergunta foi perigosa e ficará sem resposta. Mas umas pessoas começam quase todas as suas manifestações assim, não?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Coerência metafísica de mercado

Os metafísicos em geral, e particularmente aqueles que acreditam em dívida histórica ou preconceito por etimologia, vão me apoiar nessa...

"Despótes" era um termo grego que designava o chefe de família, e daquela patriarcal sincera, não a modalidade burguesa. Portanto, quando uma empresa vem com aquele papo que assola a administração (pelo menos a brasileira) dos anos 1990 pra cá sobre "pertencemos todos à Família Empresa Tal" e, depois, age despoticamente com seus empregados, estão, bem mais do que o suspeitam, sendo coerentes. Não hipócritas.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Filosofando Fernanda Young

Neste mundo "sem fronteiras" de estudos culturais, pós-modernismo, pós-colonialismo, liquidez e propagandas surreais de celular, volta e meia surgem extremos que indicam a sobrevivência de nossas tradições culturais mais antigas, como o do dualismo entre corpo e alma. Na hora do vamovê, suas fronteiras podem ser bem claras (por exemplo, a prostituição seria uma realidade ancestral que acharíamos difícil de entender se não diferenciássemos com muita facilidade corpo e personalidade ou "intimidade").

A Playboy da Fernanda Young estampada numa banca teve esse efeito pra mim. Não sei se não teve um análogo para outros caras. Ele partiu de uma sensação de vazio ao olhar para ela como coelhinha da Playboy. Ou ela é "Fernanda Young", e sua nudez é então meio um ato político, meio um ato de arte, ou ela é só uma coelhinha (ainda que de capa), e não se justifica que ela pose nua nessa revista a menos que seja como a "Fernanda Young", ainda que a "Fernanda Young" pousando na Playboy seja esse contrassenso que estou tentando explicitar aqui.

Ela é uma das poucas celebridades que temos erguida sobre seu próprio cérebro. É o que este faz consigo mesmo e com o corpo que ele governa que faz dela a "Fernanda Young", quer as pessoas gostem do resultado ou não. Essa celebridade não é imagética, mesmo que algumas pessoas possam achá-la gostosíssima, linda ou intrigante, por mais que ela seja tatuada e trabalhe muito com o corpo simplesmente por ser atriz. Ela pode, portanto, agir pousando nua, o que subverte a revista, como disse, num ato de arte ou política, mesmo que despretensioso (ou até de simples marketing para seu recente livro, que seja!). Mas a revista não pode subvertê-la numa "celebridade gostosa". Depois de Scheilas, Ninjas, Mulheres Frutas e Porta-Bandeiras (ou tudo isso ao mesmo tempo), a revista é assumidamente sobre celebridades peladas, duplamente sobre imagem, não sobre artigos e piadas como aprendemos a dizer na puberdade, ou seja, não sobre conteúdo. Por favor: a matéria indicada na capa diretamente abaixo do nome da Fernanda fala de 800 casais "no maior swing do mundo" ("e a Playboy esteve lá" - e azar o de vcs ora!).

Enfim, nada poderia ser menos "pós-moderno" e (estranhamente) mais falso do que essa revista exposta nas bancas sem alarde ou propaganda especial alguma, como se fosse igual a todos os números que a precederam. Não é o corpo da Fernanda Young o que mais interessa nela, e isso a tal ponto (para uma mulher saudável e com um corpo tranquilamente comercializável no mercado sexual softcore conhecido como "TV") que chega a soar bizarro em pleno século XXI: é impossível fotografar a Fernanda Young.

A piece of Anthony Hopkins

"Today is the tomorrow I was so worried about yesterday."

Lei de Murphy em Três Momentos

1 - Bolando uma definição: surgem exceções à mente.
2 - Definições já impressas: surgem casos problemáticos para a definição escolhida.
3 - Sala de aula: surge um aluno que pergunta sobre aquele caso que não nos ocorreu em nenhum dos momentos anteriores.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Enfim uma piada de e-mail de que eu gostei!

(Infelizmente gostar e rir não é a mesma coisa. Previsível, sô!)

Yeda vai consultar uma famosa vidente e logo pergunta:
- O que a senhora vê em meu futuro?
A vidente se concentra, respira fundo, e responde:
- Vejo a senhora passando em uma avenida, em carro aberto, e uma multidão o acenando.
Yeda sorri e pergunta:
- Essa multidão está feliz?
- Sim, feliz como nunca!
- E eles estão correndo atrás do carro?
- Sim, por toda a volta do carro. Os batedores estão tendo dificuldades em abrir caminho.
- Eles carregam bandeiras?
- Sim, bandeiras do Brasil, do RS e faixas com palavras de esperança e de um futuro em breve melhor...
- Eles gritam de alegria!??
- Sim, gritam frases de esperança como: 'Agora sim!! Agora vai melhorar!!!'
- E eu? Como estou reagindo?
- Não dá pra ver....
- E por que não!??
- O caixão está lacrado...

Eu e minhas amizades

ou "Liberando o findi"

O bem-intencionado

Eu - Alô.
Amigo - E aí, cara. Tô ligando pra saber se tu não vai mesmo naquela festa cheia de gostosa, hoje?
Eu - Não. Eu abandonei tudo de hoje para passar trabalhando. Não dá mais.
Amigo - Bah, bem que minha mãe me disse: "Sai dessa e vai trabalhar no banco!"
Eu - Hehehe. Pois é, ninguém me avisou...
Amigo - Bom, vou lá.
Eu - Boa sorte. Até.


A otimista

Eu - Oi. Tudo bem?
Amiga - Oi. Tudo combinado hoje?
Eu - Não, eu tô largando tudo hoje porque não posso empurrar mais. Não posso mesmo. Sabe, eu queria muito, mas não dá.
Amiga - Ah. Bom, se tu tá dizendo isso, imagino. rs
Eu - Hehehe. Mas eu vou tentar arrumar tudo pra gente ainda se ver num findi antes do natal.
Amiga - Ah, ok. Eu vou viajar entre o Natal e o Ano Novo, mas, se não der antes, eu vou passar janeiro inteiro aqui.
Eu - Ah, eu também. Vou trabalhar todo o janeiro, toda noite, a noite toda. rs
Amiga - Então vai ter os dias livres!!!
Eu - Nossa! O otimismo chegou aí e ficou, hein?
Amiga - Sabe como é, né, amigô: positividade é tudo!
Eu - Bah, se sei! Otimismo é comigo... rs

Tic Tac

"Pura menta"
ou "pura mentira"?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Aquecimento, Resfriamento ou Algo global

- Bah, eu TÔ com frio.
- É, esfriou, né? Eu não tô morrendo porque já saí assim. Tava frio hoje de manhã.
- Pois hoje foi um típico dia de primavera daqui, né?

Final da primeira semana de dezembro: finalmente um dia "típico"...

Leis Humanas

Existem padrões nas áreas humanas, leis às vezes bem menos "relativas" que as da física. Por exemplo, a tendência de uma pessoa a dizer bobagens vazias ou largar pérolas costuma ser diretamente proporcional ao seu nível de escolaridade ou à sua altura hierárquica.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Como perder uma discussão política quando se estava implicitamente certo em sua revolta

(Receita roubada dos arquivos confidenciais do P-Sol)

  • Crie uma baderna quando as medidas legais para aquilo que você deseja já estão sendo tomadas.
  • Invada um prédio onde nenhum dos parlamentares que você quer criticar ou intimidar esteja presente.
  • Quebre portas de vidro, piche propriedade pública, pisoteie seguranças e quebre quantas mais leis puder no processo dessa invasão inútil.
  • Entregue pedidos de Impeachment patrocinados pelos partidos mais desacreditados moralmente da atualidade (no caso, o PT) e critique a "governabilidade" deles quando não favorecerem seu próprio partido.
  • Afirme-se materialista histórico e faça associações com pastores que acham que insultar a Deus após um ato de corrupção política justifica revolta, implicando que a corrupção em si não seria suficiente para uma reação enérgica.
  • Diga que vai contar com a opinião pública quando o partido contra o qual se luta efetivamente fizer algo errado, mas suje sua imagem ao máximo antes desse momento para que, quando apoio justificado for necessário, ninguém aguente mais ouvir suas velhas palavras de ordem e pense mil vezes antes de agir de fato.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Yeda's Superpowers



A imagem é ainda da visita da Dilma, mas eu consegui só agora para colocar aqui. Várias vezes deixei passar imagens dessas, mas o absurdo ridículo de tanto populismo numa só foto se impõe à minha preguiça de catar imagens jornalísticas específicas.

Eis, portanto, nossa santa governadora, sonhando que cuidar de um Estado alagado seja tão fácil quanto fugir de Impeachment. Infelizmente a maladragem só ajuda num deles.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Citação para maiores (e otimistas)

Charlie: You know what they say, a man's reach must exceed his grasp, but what's a penis for?
Alan: Who says that?
Charlie: Okay, I might be paraphrasing.

Two and a Half Men

São as pequenas coisas da linguagem cotidiana

"Três pessoas foram baleadas e morreram."

Eu sei que não é redundante, já que é possível levar tiro e sobreviver, mas, ainda assim, não soa um tanto dã? Não seria possível trocar pelo menos por "Três pessoas foram baleadas... e o trabalho foi bem feito"?

Instinto de Brasilidade

Uma característica infalível das picuinhas da vida cultural brasileira é que bobagens não deixam de ecoar por, pelo menos, muitos meses, tornando-se sempre nova "cultura do momento", sem a qual não se caminha na rua, pelo menos não entre gente nova. Com a tal guria da microssaia, da UNIBAN, não poderia ser diferente. Ela conseguiu abrir precendente novo para o uso do famoso adjetivo "puta" tanto quanto tornou-se seu sinônimo: qualquer saia agora é metonímia para sua vestimenta no fatídico dia, de modo que uma guria (especialmente se não for esquálida) que mostre mais que o joelho é, potencialmente, uma "Geisy" para qualquer adolescente que esteja de passagem. É interessante quantas voltas nossa cultura dá para caber cada vez mais em um espaço menor do cérebro. Logo atingiremos o ideal da concisão e, para se ser um verdadeiro brasileiro em espírito, bastarão de fato só dois neurônios e uma bolsa-auxílio.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dia de uma certa filosofia houseana

"For all our rationality, our supposed trust and fealty to a higher power, our ability to create a system of rules and laws; our baser drives are more powerful than any of that. We want to control our emotions, but we can't. If we're happy, things don't annoy us. If, on the other hand, we're sitting on crappy hold cards, little tiny things annoy us a whole lot more."

Hablando de passagem

"O cinema deve completar a realidade, porque é mais importante que ela."
- Almodóvar, em entrevista motivada por seu novo filme.

domingo, 29 de novembro de 2009

Alguém tem de se dar o trabalho

Hahaha! Twitter de um espião! Adorei.

Tirai o vosso da reta

Depois de uma semana e pouco de negociações, no dia em que deveriam cumprir o aceite de meu convite:

Representante de Associação - Oi! A gente pode aparecer hoje, mas, como respondemos à Secretaria X, preciso de um documento dizendo quem está convidando.
Prof s/ Poder Administrativo - Documento?
R.A. - É, um registro que eu possa apresentar, caso peçam, entende? Não é uma exigência minha, é que podem querer que apresente, porque, afinal, respondemos a eles...
P. s/ p.A. - Hm. Eu não acho que eu possa emitir isso. Melhor dizendo: eu posso, mas acho que depois podem complicar comigo. Espera um pouco.

(Ligação para a chefia)

P. s/ p.A. - Oi. Eu sou Fulano de Tal, com Tal função, e convidei o Ciclano para ir lá falar com a gente sobre isso e isso. Mas eles respondem à Secretaria X e, por isso, querem saber se podemos emitir um documento assim e assado, um registro do convite para que façam a visita.
Secretária do Secretário da Secretaria Y - Como assim?
P. s/ p.A. - Assim (repito)
S.S.S.Y. - Ah! Sim, podemos. Pra quem é? O que ele é? De onde ele é?
P. s/ p.A. - (Respostas respectivas)

P. s/ p.A. - Oi, Ciclano! É o Fulano, de Tal Coisa!
R.A. - Oi, Fulano, tudo bem?
P. s/ p.A. - Tudo. Seguinte: posso te conseguir aquele documento.
R.A. - Ah, ok. Vai me mandar por e-mail?
P. s/ p.A. - Não, eu vou passar lá hoje, aí pego e te entrego hoje mesmo, em mãos.
R.A. - Ah, ok. Certo. Tudo bem, então. Até.
P. s/ p.A. - Até de noite!

(Final de tarde - quartel general do chefe)
S.S.S.Y. - Escuta, aquela visita, é de graça?
P. s/ p.A. - Claro! É um convite pra ele falar, só.
S.S.S.Y. - Ah, bom! E é um agradecimento?
P. s/ p.A. - Não, um convite.
S.S. - A gente só pode te dar um agradecimento, tá? Pra quem é mesmo? De onde? Como? Por quê?
(Respondidas as perguntas, o agradecimento foi impresso.)

O ciclano começa a apresentação e não tem nada a dizer. Muito, muito, muito pouco, isso depois de uma semana ou mais sabendo que ia falar lá pra pessoas que não sabiam NADA do que ele sabia. Mas, desajeitado e incomodado com o silêncio e com a atenção que o colocavam naquela posição de "como eu não tenho nada pra falar aqui?", voltou-se para mim:

Representante de Associação - Bom, pessoal, desculpem, é que eu fui pego de surpresa pelo prof. Fulano. Mas se a gente conversar direitinho depois, podemos voltar e falar bem sobre o que vcs querem saber...

Pra manter a tiradinha viva

Correio do Povo: "Mulher gaúcha é a que mais fuma no país."

Nossa! Resistente essa moça, não?

sábado, 28 de novembro de 2009

Porque inconsciente também chove no molhado!

Sonhei que estava num ônibus, perto do cobrador, apesar de ser um transporte de viagem intermunicipal. Estava sonolento (no sonho), saindo e voltando de sonhos entrecortados. De repente, meio perdido, comecei a cantar uma música, exato em todos os detalhes de letra e ritmo. Semiacordado abri os olhos e notei que um colega, sentado do outro lado do corredor, mexia os lábios como se estivesse cantando a mesma música que eu. Pensei se a música não estava sendo cantada no ônibus e olhei para a frente. De fato, do lado do motorista, um conhecido (da História da UFRGS, ponto de verossimilhança para a música escolhida) tocava no violão o que eu estava cantando. Acompanhei a música inteira, até a última repetição de refrão, e o sonho acabou. Mas não posso pensar o que esse sonho poderia indicar de reprimido ou de compensação. Mais parece, na verdade, que meu sonho estava calmamente concordando com meu final de ano. A música era esta:

Metamorfose Ambulante

Composição: Raul Seixas

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou lhe dizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha velha velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sincronicidade?

Meu pai acaba de gravar "A Bela da Tarde", o famoso Belle de Jour. Passou o DVD para mim no mesmo dia em que uma amiga me mandou um link com a notícia sobre a PhD britânica que se revelou uma prostituta com esse mesmo nome, notícia que chegaria à mídia impressa e televisiva brasileira dois dias depois. Antes de ver o filme, hoje, pensei em dar uma olhada no tal blog da guria e comecei a gostar mesmo do estilo dela. Dei então uma folheada virtual apressada no livro, mas preciso voltar depois, pelo menos depois de ler esta frase:

"Because the only thing between us and the yawning abyss is the warm, wet, willing bodies we meet on the way."

Diplomacia Internacional

AIEA - Ai ai ai ai ai, Irã! Urânio Não! Olha que minha paciência tá acabando...
Irã - Que isso seus véio? Nem vem que eu sô de bonde. Já vou de tapa moral!
AIEA - Aiê!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bastam 2 minutos na frente da TV

Há um tempo se desenvolve uma querela para se demarcar território na área da saúde. Basicamente, os alternativos ganham espaço, e alguns dos clássicos não querem que se pressuponha seu aval a tais tratamentos ainda que não proponham (não teriam a coragem) que os modernosos voltem para seus tradicionais cantos. "Podem vir, mas que não se confundam as coisas". O problema, como é de praxe hoje em dia, são os termos. Dizer que um tratamento aromático é medicina chinesa causa, argumentam os críticos, confusão, pois "medicina" implica ciência e método científico, coisas no mínimo duvidosas quando falamos dos cuidados de saúde tradicionalmente ditos "alternativos".

A querela se resolve, porém, quando o Globo Repórter (alcançando ainda um número assustador de casas brasileiras e sem nenhuma discussão do problema acima) fala justamente em "medicina chinesa" no meio de sua matéria sobre meio ambiente. Numa frase, pronunciada com a maior simplicidade por uma jornalista, a naturalização do termo é mantida e reforçada contra quaisquer discussões legais a esse respeito.

Enquanto eu presenciava esse momento ao mesmo tempo trivial e significativo, houve tempo ainda de algumas pérolas, das quais seleciono a seguinte: uma das que vende ervas conforme sua mistura de didatismo mercadológico e discurso ambientalista falou sobre a relevância dos tratamentos alternativos para que valorizássemos nossos órgãos internos dentro da gente. Calma, não é eufemismo: tenho certeza de que ela estava apenas falando que é importante que demos o devido valor à colocação de nossos órgãos, já que eles estarem fora de nós é nocivo à saúde.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Otimistas

O Correio do Povo noticia

"Aumenta a doação voluntária de sangue."

Ora, a involuntária também!

Ontem, hoje e sempre?

Ficadas à parte, o que me falta é ap ou carro.

Toda vez em que rolou alguma coisa entre mim e uma guria, eu fiz algum dos passos externos clássicos:

Melhorei minha aparência = namorada.
Consegui um emprego = namorada.

Agora eu posso conseguir um carro ou um ap... = namorada

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Antropologia da cafajestagem

Numa aula sobre Dom Juan, discutindo o texto de Molière, ainda se pensando no de Tirso de Molina e prevendo-se o de Mozart, presencia-se uma daquelas cenas simbólicas sobre nossa cultura. As mulheres falam mal de D. Juan com gosto. Suas tramoias são referidas por elas com sorrisos sinceros nos lábios. Uma leitora se apaixonou por D. Juan numa cena, a outra, na cena seguinte. Algumas concluem, invariavelmente, que todos os homens são como ele, o que é dito naquela ambivalência de quem critica, mas, implicitamente, "precisa" se conformar e aceitar-nos como somos. Comentários como "nenhum homem se torna homem socialmente sem um pouco de dom-juanismo em algum momento" são recebidos como grandes verdades. Pra completar, quando olhamos uma cena de um filme de D. Juan, as mulheres nitidamente reagem ao vê-lo em ação, mesmo que tenham achado antes o ator muito gordo, muito velho ou seja lá o que for.

Enfim, para os homens, parece ser o de sempre: Toda cafajestagem será recompensada...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Passando por papo trágico

Andando no ônibus, pego o seguinte trecho de uma conversa:

Amiga 1 - Sim, aí eu vou passar uns vídeos motivacionais.
Amiga 2 - Isso...


Não, não! Por favor, tudo menos isso!

Denegação ou compensação?

Logo ao sair da reunião em que firmou (como era previsível) seu acordo com o Irã, Lula falou publicamente defendendo "os direitos humanos e a liberdade de escolha dos cidadãos"...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mais Recordar é Viver

"65 - Seria pequeno o atrativo do conhecimento se no caminho que a ele conduz não houvesse que vencer tanto pudor" Nietzsche - Para Além do Bem e do Mal

Recordar é viver

Está velhinha, mas eu adorei e seria irresponsável de minha parte não indicar.

domingo, 22 de novembro de 2009

Fato-rápido

Nosso convidado Mahmoud é um dos primeiros visitantes do Brasil que não pode ser recebido oficialmente com uma mulata semi-nua sambando!

Novo Português Contemporâneo

(Finalmente pude usar esse título tão velho quanto nossa língua oficial!)

Precisamos reformar nossos "a"s. A julgar pela consistência dos dados que tenho coletado (semi-involuntariamente, por redações), algumas trocas são a nova coqueluche (sim, sou anacrônico) de nossos textos. "Há" virou "a", "a" virou "à" e "à" virou "á". Sacam? É simples, na verdade: a fila andou e o "H" caiu.

sábado, 21 de novembro de 2009

Maomé é brasileiro

O Brasil é mesmo a terra da governabilidade. Só aqui, Mahmoud Ahmadinejad assume que é possível que o Holocausto tenha ocorrido (fora uma curiosa matada de tempo a respeito de ter ocorrido na Europa - se ocorreu, foi na Europa; muito bem!). Então, ele aceita a possibilidade de a História ser como todos os documentos indicam, e a gente aceita ignorar suas ambições genocidas. Que seria da ética e da política sem o jeitinho brasileiro?

"Cara-de-pau é fundamental"

"Se vc quer saber mais sobre o PMDB e sobre o Brasil, assista ao nosso programa..." Assim esse partido fecha sua atual propaganda. Não é de se sentir pena de um brasileiro que fosse literalmente assistir um programa do PMDB para "saber mais sobre (...) o Brasil"? É como se voltar para a VEJA deste mês a fim de se conhecer o próprio corpo ("Corpo: O Novo Manual de Uso" escrito na capa... por favor!).

Por falar em VEJA, existe "afirmação retórica" (no mesmo sentido de "pergunta retórica")? A revista apresenta um questionário para se saber se se conhece o próprio corpo! Ora, quem conhece o próprio corpo precisa responder um questionário para ter consciência disso? Infelizmente não pude ler detidamente a revista; tenho certeza, por sua tradição, de que as perguntas formuladas para "testar o conhecimento do leitor" são divertidíssimas. Este blog sofreu tanto com a perda dessa leitura. :(

Enfim, voltando ao PMDB, a dita propaganda começa com imagens do exército e fala em "ação", como que simbolizando a atividade do partido pelas imagens de nossas forças armadas! Hahahaha. Pobrezinhos, tão desinformados que acham que nosso exército é exemplo de alguma coisa (além de demonstrar que o ser humano pode lutar por qualquer causa apenas com gravetos, se suficientemente doutrinado). Sei, não é desinformação não, só a velha cara-de-pau. Afinal, se governos criam propagandas há séculos usando a educação como mote do quanto "fazem", por que não o exército? Existem tantas cidades alagadas e destruídas no momento, só esperando por um partido que as use como bandeira da própria competência...

Mau agouro

Partia eu para encontrar um líder comunitário do Leopoldina. Para chegar lá, precisaria passar por um bosque notoriamente violento de minha já muito violenta vizinhança, um bosque que faz entender bem como eram perigosas as estradas medievais, solitárias e cercadas por árvores. Apesar de essa passagem ficar a duas quadras de minha casa, encontrei, é claro, o guardião no meio do caminho: aquele personagem de contos fantásticos que é velho, conhece o mundo como ninguém e avisa o personagem sobre os riscos de sua aventura. Trata-se de um dos primeiros moradores daqui.

Pois o simpático senhor veio me justificar por que não pudera nos encontrar há poucas noites e, explicando isso, falou a respeito de alguns problemas de sua filha. Esses problemas tinham a ver com a violência da região, de modo que a conversa propiciou frases do tipo "Entre eu abrir aquela minha venda em 1983 e fechá-la em 2001, fomos assaltados 44 vezes" e "Uma vez entraram na nossa casa e seguraram minha filha, então com 5 anos, pelos cabelos, colocando o cano da arma na boca dela". Quando a agradável conversa teve fim, dirigi-me soturnamente à minha oportunidade de virar novamente protagonista de uma das infinitas histórias do Leopoldina.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O poder da linguagem

Campanha tem lugar e hora, pela Constituição mesmo. Mas até o PSTU ("ético" e "derradeiro bastião dos bons costumes") comemora oficialmente pré-candidatura (ou seja, tanto a candidatura é conhecida há um tempo quanto agora a coisa é institucional). Que poder tem esse prefixo "pré", hein? Prevendo o constitucional, atualiza tudo o que, ao mesmo tempo, legaliza!

Quem dá mais?

Jornal do Comércio: "Temporal causa cinco mortes"

Zero Hora: "Devastação"

Correio do Povo: "Devastação e 5 mortes"

Diário Gaúcho: "Vento Mortal!"

Avanços retroativos

O brasileiro está mais alto, porque está comendo melhor.
Também está mais gordo, porque está comendo pior.
Tudo numa só notícia. Informativos esses publicadores oficiais.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fazendo minhas as palavras dela

Quem não quer saber do Lula, leia aqui.

Esta raça que acreditou na evolução

Quando o ser humano adquiriu consciência de si, já sabia que chovia. Observando a chuva, acostumou-se a se esconder ou a se proteger dela. As precipitações tornaram-se fenômenos banais e cotidianos, salvo em regiões quase inóspitas nas quais, é claro, a humanidade insistiu em se instalar também, por teimosia ou por se sentir forçada.

Com o tempo, a humanidade desenvolveu seu trabalho e conquistou a técnica de estender sua vontade para além das capacidades do próprio corpo. Mas construiu casas que não previam a chuva. Estradas que não previam a chuva. Cidades, armas, carros, conexões via satélite... A humanidade chegou mesmo a gastar bilhões e bilhões de suas moedas mais fortes na luta por conquistar o clima, mas nunca desenvolveu a capacidade de prever o fenômeno da natureza com que tanto convivera.

Num belo e sangrento dia, a Nova Sião aterrissou na antiga Canaã, sobre o Anticristo e seu templo, sobre as armas israelitas, sobre os acadêmicos americanos e sobre os palestinos desalojados. E ainda lá se escutava o ser humano perplexo, surpreso, despreparado e ansioso sobre o futuro próximo ao exclamar "Putz! Lá vem chuva!"

Pra fãs [2]

Thirteen!!!
YES!

Professor Raimundo II - A Missão

"Nesses casos eles podem checar o cheque, às vezes, mas não pra quantias insignificantes assim."

O atendente do banco referia-se ao meu salário...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Manchete preocupante

Na frente de uma foto de um piloto dentro de um caça, o Correio escreveu "Treinando para a 'guerra'".

Pergunto: por que as aspas? Crítica aos caças que compramos, que não aguentariam muita coisa? Deboche do discurso que finge que nosso exército resistiria a quem atacasse nosso petróleo? Lembrança do caos que é nosso espaço aéreo e das ideias que já rolaram para entregá-lo a mãos estrangeiras, com todas as belas consequências que isso teria na segurança?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Enfim!

Qual não foi minha surpresa ao escutar um CD do Chico pra preparar aula e esbarrar numa música adequada ao meu presente. Adequada, no sentido de trilha sonora. Aqui fica a comemoração, pela honra.

A escolha de palavras é tudo

Correio do Povo: "Novo piso beneficiará 32 mil professores: Governadora Yeda encaminha projetos para a Assembleia."

Jornal do Comércio: "Yeda envia hoje os projetos de reajuste dos professores."

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Salve, salve!

Legenda da foto de capa do Jornal do Comércio:
"Em Paris, Lula e Sarkozy debateram soluções para o efeito estufa."

Ufa! Quando vão anunciar a grande resposta?

Le Lion Est Mort Ce Soir

Bom, na verdade, "o gato foi afugentado nesta madrugada", mas a intertextualidade é um must!

Conversava eu com uma guria (que vem, passiva e ativamente, me tirando o sono) a respeito das coincidências que nos impedem de dormir até tarde justamente naqueles dias que reservamos para nos recuperar de sequências de noites maldormidas. Obviamente, depois dessa conversa, falando que isso não ocorria havia muito comigo (ocorrera com ela na manhã anterior), minha sorte acabou. Este post era sobre essa coincidência, mas, respeitando nosso ponto de vista de como as informações devem ser passadas (por uma longa história e não por afirmações informativas breves), aqui vão os fatos.

A moça mencionada cortou nosso telefonema ontem para que fôssemos dormir mais cedo, e até deu certo. Mas às 4 e muito da madrugada acordei com minha cadela latindo sem parar. Insisti um pouco, mas era óbvio que não era coisa de humor. Como todo mundo que já teve cachorro sabe, muito pode se ler num latido, e estava claro para mim que ela tentava atacar algum animal que estava muito, muito próximo dela. A hipótese natural era que fosse um gato (minha vizinha tem muitos, volta e meia eles vêm passear pelo nosso pátio e nenhum ser gosta tanto de encher o saco provocando seu predador urbano como os gatos).

Decidi levantar, já que grito para ela calar a boca apenas quando ela não tem razão e, se minha teoria estava certa, ela tinha razão: todo reforço para que ela lata quando algum ser não convidado entra no pátio é pouco. O bichano, como lhes é típico, estava numa posição quase segura, metido no meio da folhagem de nossa parreira, bem acima do poste mais interno ao pátio. Ele não podia sair dali? Podia. Por uma viga de cimento que sustenta a parreira ali mesmo chegaria ao muro e sairia correndo. Ele se mexia? Não. Por quê? Porque gatos adoram encher o saco, como dito. Tendo convivido com esse bicho desde pequeno, achei, mesmo na pouca luz que chegava nele (eu ligara a lâmpada do pátio) que estivesse ferido e, portanto, nervoso. Ou seja, em parte (além de ser naturalmente um provoador) ele não queria se arriscar a sair dali, mesmo que fosse para tentar fugir. Aposto que tinha feito uma das suas, que tinha dado errado, tomado uma pancada de nossa cadela e, tendo então chegado àquele poste e se salvaguardado, não arriscaria confiar no próprio julgamento de rotas de fuga por um tempo.

Enquanto nossa cadela destruía todas as plantas de minha mãe tentando escalar o poste sobre o qual o agora medroso gato se encastelava, meu citador compulsivo disse-me, sabendo que eu tinha pensado o mesmo: "we're fashioning a very long poking device". Resignadamente retribui o olhar de mim para mim mesmo pensando "Justamente" e me dirigi à cozinha, cuja janela é o ponto mais próximo entre o interior da casa e o dito poste. Antes de sair de meu primeiro posto de observação, porém, vi que do lado de fora da janela da cozinha havia um prendedor esquecido. Pensei que não ia dar certo, mas resolvi tentar afugentar o gato com um tiro certeiro primeiro. Fui até lá, peguei o prendedor e realmente acertei bem no corpo do gato. Infelizmente ele resistiu daquela forma que gatos só reagem quando estão decididos a não largar seu posto, ou seja, quando estão assustados, o que geralmente implica algum ferimento, mesmo que leve.

Já eram 5 horas quando peguei o cabo de uma antiga vassoura, tirei o cabo de uma atual, peguei fita adesiva e comecei a construir meu aparato. Aos latidos constantes de minha cadela eu reprisava o episódio de Friends da citação feita e ria tranquilamente, pensando então sobre a cor que citações dão à vida de alguém que precisa dormir, precisa acordar cedo, mas também precisa lidar com a vida selvagem do Leopoldina. A nota um tanto otimista (ou positiva, sei lá) talvez soe estranha à guria citada no início do post, mas tenho meus momentos, particularmente graças ao Friends.

Empurrei o gato com certa leveza, achando que o susto o tiraria dali (foi nesse momento que a música que dá título ao post me veio à mente). Resistência. Saco! O poking device, graças à incomodação e à citação da música-título, tornou-se uma lança que ia afugentar o gato com todo o implícito "sai agora ou a próxima vai doer muito!" Funcionou. O gato foi em direção ao muro, ficando distante daquela janela. Minha cadela começou uma investigação silenciosa, o que me disse que o gato tinha, talvez, sumido dali. Cada vez mais otimista, voltei em direção ao interior da casa (nossa cozinha é um braço projetado para fora da estrutura original), não mais um sonolento leopoldinense que caiu da cama e foi direto usar dois cabos de vassoura contra um gato, mas um vitorioso guerreiro semi-nu e sua lança (ok, eu só estava ainda cantando a música).

Animado pelo otimismo do silêncio noturno conquistado, fui rapidamente ao banheiro antes de voltar para a cama. Mas foi o tempo de minha cadela retomar o espírito de caça e recomeçar a latir. Não era que ela tivesse localizado o gato, mas era óbvio que seu alvo não estava morto, e ela agora reclamava que a imbecil criatura revelasse seu paradeiro para ela poder terminar o que havia começado. Latidos dessa natureza, para minha sorte, são mais esparços, o que me dava talvez possibilidade de recuperar o sono antes de novas investidas dela. Além disso, logo meu pai acordaria para tomar o café da manhã. Assim que recebesse seu pão matinal, nossa cadela esqueceria do gato (pelo menos a ponto de ficar incomodando com latidos), então não era nada para se estressar. Além disso, eu realmente estava com muito sono. Já estava bem mais pra lá que pra cá quando meu pai abriu a porta do quarto dele para começar seu dia (certamente acordado desde as 4 horas e muito).

domingo, 15 de novembro de 2009

Baixos parâmetros

Não sou particularmente fã de Derrida. Na verdade, pra mim sua filosofia se resume a uma aplicação do conceito de projeção aliada a Foucault (para denunciar a estrutura sem centro) e à moral de um soneto de Gregório de Matos Guerra (que resumo para a filosofia se esses sábios lessem português). Menos fã sou, porém, da raça humana, então fica aqui uma boa sofismada dele a respeito. Saboreiem o efeito retórico num clima de domingo, por favor.

"Não se poderia falar, não se o faz jamais em todo caso, da besteira ou da bestialidade do animal. Isto seria uma projeção antropomórfica do que permanece reservado ao homem, como a única segurança, finalmente, e o único risco, de um "próprio do homem". Pode-se perguntar por que o último baluarte de um próprio do homem, se existe um, a propriedade que em nenhum caso seria atribuída ao animal ou ao deus, nomear-se-ia assim a besteira ou a bestialidade".

O Animal que logo Sou (A Seguir) - 1997, p. 77.

Não é ambição...

... é empreendedorismo. Pelo menos é o que afirma a Câmara dos Vereadores de Horizontina, cidade do ultrainterior do RS famosa por ter sido berço de Gisele Bündchen (e ponto). A Câmara quer construir uma sede de 800 lugares, que vai custar 1,5 milhão de reais (TODO o orçamento deste ano da Câmara, a ser gasto ao longo de quatro anos de obras) ao município de 18 mil habitantes. Para contraste, citemos que, na última sessão ali ocorrida, compareceram, em multidão, cinco pessoas.

Sempre divertida, a Zero Hora diz que o prédio "já divide as opiniões", o que só posso ler como "vereadores, familiares e agregados discordam do resto da população mundial que tenha ouvido falar sobre a obra". Mais, a notícia indica "Há quem considere a obra desnecessária", como se o digno de nota não fosse de que haja ALGUÉM que tente argumentar que ela SEJA necessária.

O presidente da Câmara (PP - era de se suspeitar), Álvaro Callegaro, diz que a construção pensa o futuro de Horizontina em seus próximos 15 ou 20 anos. "Não tem por que fazer um prédio acanhado agora para depois termos de refazer". Além de insultar a sagrada cultura popular do puxadinho com essa afirmação e desrespeitar o princípio Iluminista da proporção (cidade acanhada, prédio público acanhado), esse Excelentíssimo fulano não revelou seus grandes planos para a cidade que, nas últimas décadas, foi de "pequena" a "do mesmo tamanho" em tempo recorde. Ninguém avisou que duas Giseles nunca nascem no mesmo lugar e que exportação de modelos não aumenta a arrecadação?

sábado, 14 de novembro de 2009

Pra falar 3 vezes bem rápido

Um sonho.

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...
O sol, o celestial girassol, esmorece...
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves.

Flor! enquanto na messe estremece a quermesse
E o sol, o celestial girassol esmorece,
Deixemos estes sons tão serenos e amenos,
Fujamos, Flor! à flor destes floridos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Como aqui se está bem! Além freme a quermesse...
– Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam, Flor! à flor dos frescos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítólas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Esmaiece na messe o rumor da quermesse...
– Não ouves este ai que esmaiece e esmorece?
É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta, absorto, à flor dos fenos...

Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Penumbra de veludo. Esmorece a quermesse...
Sob o meu braço lasso o meu Lírio esmorece...
Beijo-lhe os boreais belos lábios amenos,
Beijo que freme e foge à flor dos flóreos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Teus lábios de cinábrio, entreabre-os! Da quermesse
O rumor amolece, esmaiece, esmorece...
Dá-me que eu beije os teus' morenos e amenos
Peitos! Rolemos, Flor! à flor dos flóreos fenos...

Soam vesperais as Vêsperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...

Ah! não resistas mais a meus ais! Da quermesse
O atroador clangor, o rumor esmorece...
Rolemos, morena! em contactos amenos!
– Vibram três tiros à florida flor dos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Citolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Três da manhã. Desperto incerto... E essa quermesse?
E a Flor que sonho? e o sonho? Ah! tudo isso esmorece!
No meu quarto uma luz, luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos fenos...

- Eugênio de Castro - 12/06/1889

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tem coisas... que só Derrida faz pra vc

"Mal-estar de um tal animal nu diante de outro animal, assim, poder-se-ia dizer uma espécie de animal-estar..."

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cenas de uma sala dos professores

Chegou uma colega nossa (Bio) e deitou, muito cansada de algo que contraiu no início da semana e que ainda não a abandonou. Logo, vi um vulto na janela. Um garoto, mais ou menos pela puberdade, não viu que estávamos eu e o prof. de hist. conversando na sala, apenas que havia uma mulher deitada ali. Numa busca secreta , mas dedicada, pelo ângulo ótimo do decote de nossa colega, ele veio vindo para próximo da janela do lado da qual estávamos. Eu mantive meu olhar serenamente fixo no guri. Quando chegou do meu lado, abri a cortina! Nossa, com que velocidade o cara sumiu! Só alguém tão jovem não se destronca com aquele movimento.

xxx

Antes, estávamos esse professor de Hist. e eu conversando sobre as aulas daquele dia mesmo. Entraram uma supervisora (ou algo parecido) e seu cachorro, mistura de Cruz Credo com Deus me Livre (ela mesma admite). Falou, falou, falou, foi embora. Entendemos basicamente que o cachorro é bem pequeno, bem frágil, bem chato, mas ela o ama muito.

Seguimos conversando quando ouvimos o cão se esganiçar com tudo que tinha direito! Em seguida, chegou a nossos ouvidos a voz de uma das mulheres da faxina. Dizia ela:

"Ficou com medo, sem-vergonha?! (Falando para outra:) Esses dias fiz isso aí com meu afilhado. Ele nunca mais quis me ver."

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ESSE é freudiano

Em POA, um psicólogo divide, em horários diferentes, a sala de atendimento com a esposa. Esta é uma... ginecologista. Hmmmmmmm...

Pra fãs

"House, 1980's!"

Paranoico

Tem muita coisa dando errado na minha volta. Muita coisa desengrenada. E então tenho ouvido demais "olha, pra te dizer a verdade...", "vou te dar a real", "é, o problema na verdade é o seguinte", "olha, francamente..."

Por acaso essas pessoas são sempre mentirosas quando as coisas funcionam? Fracasso é o momento da sinceridade?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eu, Nacionalista

N'A Revolução dos Bichos, George Orwell mostra a criação de uma constituição e sua decadência, até que ela se torne uma só frase, famosa em sua paráfrase universal: "Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros". A formação e a corrupção das leis dessa fazenda regida por animais (supostamente uma ficção) ocorre num período menor que um ano, se não me engano.

Vê-se aí como Orwell era pessimista. Ora bolas, parece-me que foram necessários quase 60 anos para que, no Brasil, onde líamos os direitos trabalhistas, encontrássemos "Nós não prometemos nenhum tipo de apoio ou auxílio além do salário de vcs".

Passando por Gregório, fica um pouco aqui...

Aquêle não sei quê, que Inês te assiste
No gentil corpo, na graciosa face,
Não sei donde te nasce, ou não te nasce,
Não sei onde consiste, ou não consiste.

Não sei quando, ou como, arder me viste.
Porque Fênix de amor me eternizasse,
Não sei como renasce, ou não renasce,
Não sei como persiste, ou não persiste.

Não sei como me vai, ou como ando,
Não sei o que me dói, ou porque parte
Não sei se vou vivendo, ou acabando.

Como logo meu mal hei de contar-te,
Se de quanto a minha alma está penando,
Eu mesmo, que o padeço, não sei parte?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Solucionaram o Brasil

Um país de analfabetos não tem jeito...

Não tinha! A Justiça Eleitoral aplicou a medida que resolve todos os nossos problemas.

O analfabetismo é a pedra fundamental de diversas mazelas sociais. Entre estas, a falta de participação cidadã é a que mais claramente afeta o Estado. Claro, isso é ruim para os próprios sujeitos, que não sabem fazer valer seus direitos pelos trâmites legais, mas "falta de cidadania" também complica eleições e cobrança de impostos, ataques óbvios a governos de representação popular (permitam-me passar pelo termo como se ele não fosse muito discutível).

Como incluir o cidadão? Dando educação? Nãããão! Fazendo eleições pela digital (do dedo)! É muito divertido: até quem é alfabetizado vai entrar na onda. A função exige, é claro, recadastramento, o maior recadastramento analfabeto da história!

Mensalão

Eu estava de passagem, então não vi quem deu a seguinte resposta à pergunta "O que o governo Lula copiou do FH? O Mensalão?"

Petista Top (não o Mercadante): "Eu não quero falar mal nem do governo do Fernando Henrique nem do do Lula. Éééé... Ambos tiveram problemas em termos de financiamento de campanha."

O CQC recebe cada resposta!

As mais ouvidas

"Desculpe, isso não é com a gente. Tem q ligar para o Setor..."

"O Sr. fala com o pessoal do (...). Vou repassar a ligação. Espere um momento" ("momento", sei!).

"Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens..."

"Oi. Você ligou para um telefone público..."

"Espera um pouco que eu vou ver se alguém pode te informar..."

"Quer falar com quem? Quem?!"

domingo, 8 de novembro de 2009

Da consciência inquiridora dos artistas de rua

Pichado num dos muros laterais da Catedral Municipal de Porto Alegre:

"Freiras Mulheres Jamais Armadas"

Contemplem que pedaço de poesia contemporânea. Sim, contemplem...

Agora pensemos juntos a respeito.

Fossem as freiras "jamais amadas", tudo teria um sentido acessível; pelo menos seria coerente com o trinômio católico sexo/casamento/amor (mundano). Os pichadores, claro, pensariam na mundaneidade, são pessoas da rua, da cidade, do concreto, do moderno (pós-moderno, só o líquido)! Fossem elas, porém, "as mais armadas", seria um caso de choque por contraste. E o contraste é a ferramenta do cotidiano, da prosa e (por que não dizer?) do medíocre. Se freiras não devem andar armadas, então elas serem AS mais confrontaria o passante com o choque da acusação enfadonhamente gritante, aludindo, sem dúvida, à indústria armamentista e sorrindo de forma irônica contra os EUA, logo, contra o FMI (as pichações de Porto Alegre são muito apegadas aos clichês de suas próprias associações tradicionais).

Mas não! O poeta reforça o óbvio: elas estão "jamais armadas"! Nunca carregam armas essas mulheres que nunca carregam armas! E nisso o poeta desconstrói aquilo mesmo que afirma, pois ressignifica essa realidade tão curiosa, em si contraditória: por que essas mulheres de Cristo, noivas do Filho de Deus, jamais carregam armas nesse mundo de violência e pecado? Mais: será mesmo? Será que nunca? O leitor flutua (se não estiver muito cansado da íngreme subida da rua lateral da catedral) num desvairio de sentido que começa no significado mais cotidiano: as freiras jamais estão armadas...

E esse óbvio ululante, é claro, confirma que não lemos mal. Sim, são "freiras mulheres". Freiras não são sempre mulheres? Que quer aqui o poeta apontar? De que suspeitavam os pichadores de Porto Alegre? Que alegre querela levava-os a discutir o sexo das freiras? Intertextualidade com o sexo dos anjos? O sentido cabe, sabemos, ao leitor. É ele que signifca, ele é ativo na interpretação (é, enfim, um cidadão).

O porto-alegrense não é bairrista, ele apenas tem razão (está nos muros das catedrais (!), sustenta-os do lado de fora): esta é uma cidade de pura cultura!

Que farei com este professor?

Um livro didático com o título "Manual do Educador" não deveria ser entregue para o aluno, aquele sujeito numa sala de aula que não sabe o que diabos faz com mais um que veio falar em pé, fazer chamada e fazer um joguinho entre uma figura de poder e um amigo malandro?

sábado, 7 de novembro de 2009

Pobre da minha tese

"E o brilho da metáfora, preciosa
como joia de labor minucioso,
ilumina um idealismo requintado,
ainda quando voluptuoso..."

Isso é um trecho (por mim quebrado em versos) de uma tese acadêmica da Cecília Meireles (de início de carreira, diga-se de passagem). Ai da minha prosa...

Nobel à la Obama

Fui eleito coordenador de um grupo antes mesmo de ele existir.

...

Alguém na plateia falou "prematuro"?

E a polícia rateia

Yeda visitou o Presídio de Charqueadas ontem.

Mas deixaram ela sair!

Preocupações acadêmicas

Este Estudante - Passei no concurso.
Profa. de Teoria Literária - Passou?!
E.E. - É. E aí tô perdido: passei uma semana fora em treinamento. Tinha que largar tudo aqui.
P.T.L. - O Inter perdeu!
E.E. - Rs.
P.T.L. - Fizeram um gol a 2 min. Indefensável, não foi culpa do Lauro. Mas era início, "a gente recupera". Aí um jogador do Botafogo saiu no início do segundo tempo. Passamos praticamente um tempo inteiro, eles com 10 e nós com 11. E nada. E aí, adivinha quem foi eleito o melhor da partida? O goleiro do Botafogo. Ele pegava tudo. Assim: foi a partida da vida dele. Pronto. Tu já sabe tudo de essencial da semana. rs

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Tá faltando uma cadeira de Conceitos Básicos?

Profa. Dra. - Ele fala sobre si, mas na verdade ficcionaliza. Estava fazendo o que hoje é chamado de autoficção. Na época não tinha esse nome ainda, mas era já uma autoficção.

Doutoranda - Mas tem muito de autobiográfico ali, não?

Por favor, alguém rompa o continuum de espaço-tempo e jogue um caderno nessa guria!

No calor do momento

Gostei da tirada. No meio de uma discussão em aula sobre o Humanismo hoje, a professora chega à seguinte síntese:

"Toda discussão da modernidade problematiza afinal o que a gente perde ao se tornar humano."

PS: Cito a profa.? Ainda que este post seja elogioso, ela pode não querer se compromissar. rs Bom, por enquanto fica aí só a frase.

"Tu pensa demais"

Falando sobre Classicismo:

"As épocas têm sempre seu 'mal'. Esse era o mal da época: estava-se na fase da cogitação".

Cecília Meireles - O Espírito Vitorioso - p. 33.

A boa vontade sempre desnorteada na Federal

Cartaz de campanha do DCE:

"Parabéns! Você se formou,
mas e o lixo que deixou?"

O primeiro equívoco, claro, é achar que rima é ritmo; infelizmente fazer algo soar bem não é tão fácil quanto flexionar verbos da mesma conjugação na mesma pessoa... Não bastasse isso, a mensagem apresenta zero relações entre o assunto evocado no primeiro "verso" e o objetivo da campanha ("pela cultura da caneca" diz o cartaz!!!). Formatura e lixo produzido durante o curso: qual o aluno que vai associar uma coisa a outra por si para poder reagir decentemente ao cartaz? Público-alvo, então, nem se fala! O DCE se refere diretamente a justamente aquele "aluno" que NÃO está mais lá (idealmente falando, o que significa que, se vai ao campus, é correndo, sem olhar cartazes do já saturado DCE). Por falta de tempo, convido o leitor a encontrar mais bobagens nessa mensagem (pena não ser possível reproduzir o cartaz aqui - o aluno sobre um monte de lixo parece mais um super-herói que um "criminoso ecológico").

Melhoras aos marketeiros, hein? Melhoras...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Senta, que lá vem a história

Cara cunhada,

Matutando hoje sobre a partida de vcs, notei que estava pensando algo extremamente parecido com o que tua mãe disse para meu irmão a respeito dessa mesma viagem. Resolvi, então, colocar aqui a minha versão dos elogios.

Eu estava pensando que recebi a notícia da ida iminente de vcs, ainda que prevista há tanto, com certa tristeza (achando obviamente legal que os planos de vcs iam se concretizar e pensando, claro que, o abandono do país tem muitas vantagens), mas não foi isso que senti no aeroporto, nem de perto. Eu estava tranquilo e sereno, seguro, digamos. E não é q tenha recebido repentina confiança de q as coisas darão certo para que eu vá visitá-los logo. Então meti-me a elocubrar, obviamente.

Bom, meu irmão e eu encarnamos vários clichês. Muito Hollywood se alimentou de dicotomias básicas como as nossas para criar duplas. Ele era o bagunceiro, e eu, o introvertido, ele o desligado do colégio, e eu, o CDF... Mas, como deve ocorrer em histórias que se deem o mínimo de respeito, nenhum dos dois é um clichê puro, assim como um afetou o outro, sem que nunca, parece, tenhamos trocado de lugar nas nossas dicotomias principais.

Enfim, uma dessas áreas de influências entre nós dois se dava na oposição "saída desligada" x "estase segura". Eu era este, o plantado, ele o quase irresponsável de tanto otimismo quando ia se meter em seja lá que situação fosse. O retrato pode parecer exagerado, pricipalmente se fôssemos comparados ao nosso primo famosamente mais doido, mas a oposição funciona entre nós, se o único parâmetro de um fosse o outro. Poucas das coisas introvertidas que aprendi com ele, para compensar, foram o interesse por filosofia ou o gosto por conversar madrugada adentro (habilidade que tanto abençoo ultimamente). Ele, conforme diz, aprendeu uns usos agressivos de linguagem bem específicos comigo. Bom, isso é outra história, e q tu já conhece, se não me engano. Introjetei mesmo comentar indicações de velocidade de 20km por hora. Deixe-me mencionar, porque ele falaria (ou falou), q há essa indicação na pista do aeroporto, o que significa que os aviões precisam ficar parados, como sabes...rs

Continuando... o que acontecia era que ele queria fazer determinada coisa, ir por determinado caminho ou ignorar determinada regra, e eu não. Mas, numa inversão da relação clássica de irmãos, eu, o mais novo, ficava preocupado com ele. Não lembro bem se muito cedo, mas logo meu irmão desenvolveu muita confiança nas qualidades que observava em cada um de nós. Eu, por outro lado, nunca confiava em mim e era excessivamente pessimista para achar que certa situação, apesar das habilidades dele (afinal, humanas, sem aquela idealização por um irmão mais velho que minha mãe parecia esperar que eu tivesse), não pudesse acabar mal. Resultado: ele ia se meter no que, pra mim, era um enrascada, e eu ficaria preocupado. Ficaria, porque logo vi que preferia ir junto, vistoriar, talvez convencê-lo a resolver o que surgisse de tal ou tal forma. E daí que a gente acabava pulando muro a mil, fugindo de cachorro, ouvindo a maior bandalheira de donas de casa justificadamente preocupadas com seus pátios, assim como aventuras dessa natureza me valeram uma cicatriz na testa e um provável câncer de pele (por acúmulo, não estou me referindo, é claro, ao incidente do pé, no Cassino).

Tudo pra dizer que não senti isso em relação à viagem de vcs, mesmo que essa coisa toda não tenha morrido totalmente depois que saímos da infância. E me parece que minha atual tranquilidade tem muito a ver contigo e com a relação de vcs. Como sabes, sou um dos fãs dessa química estranha que vcs têm, tão observável em comportamentos que tu nem percebes. E, como vcs estão juntos, A Dupla, eu fico por aqui, sem stress, já que vão cuidar, confio, bem um do outro.

Então Muito Boa Sorte, Boa Viagem, Vão com Fé, Vão pela Sombra e Divirtam-se!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dia simbólico

Fui pedir a segunda via de um documento no Tudo Fácil. Foi fácil.

Segui para o Ministério do Trabalho. Estava em reformas...

Emenda pior que o soneto

Entrei hoje no banheiro (prática comum, admito...). Apenas uma das privadas (não me ocorre o nome adequado do espaço reservado a elas) estava ocupada... por um sujeito pudico, no caso. Digo isso porque, prevendo talvez sons por vezes encabulantes, ele ligou a música do celular. Triste escolha, a música começava com uma sirene de emergência!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Pêndulos

Para se decidir se uma coisa ou outra, bem disse o House: "It may not be easy, but it is simple."

Ou...

OU ISTO OU AQUILO

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobre nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

- Cecília Meireles - 1964.

Desligado de feriados

Conversava eu com amiga recém-conhecida quando ela me largou a seguinte frase:

"Preciso sair [do msn]. Meus pais já voltaram do cemitério."

Fiquei imaginando se não era hora de eu pedir um questionário que desenhasse o background das pessoas antes de sair fazendo amizades...

Panos quentes

Manchete da Época: "Seu próximo carro será elétrico - Não é mais ficção científica: os novos automóveis para ligar na tomada já estão no Brasil"


Hmhm: não é ficção científica há mais de década! Os carros elétricos existem e valem a pena há muuuuuuito tempo. Eram inclusive vendidos, comprados e usados, não é incrível?! Mas agora não dá mais pra segurar e eles fazem seus avanços mais massificados no Brasil. Então a gente esquece que tanta gente teve interesse que isso não fosse verdade antes, faz uma manchete bobinha (e "premonitória", pra variar) a respeito e fica tudo bem.

domingo, 1 de novembro de 2009

Futebol eloquente [8]

"É só observar que dá pra ver, né?"

Tá valendo como frase idiota?

Nosso velho jornalismo...

O Correio continua o mesmo. Bom saber. Sempre dedicado ao jornalismo-moleque, sua linguagem simples, direta, porém agradável, não deixa de brincar com nossa entediada mente. Hoje por exemplo eles pensaram em fazer analogias temáticas, associar momento histórico e informação do dia. Assim, sua agradável manchete é a animadora "Feriadão começa com mortes no RS". Nada como acordar e ver uma frase dessas estampada bem ao lado do café da manhã, hein? E, para quem não linka (desculpas a quem o neologismo desagrada) a manchete à atualidade imediata, o próprio Correio indica na primeira frase: "O feriadão de Finados começou com violência e oito mortes nas estradas gaúchas."

Porém, nem tudo são dores! A última frase da matéria de capa é "O vento fraco ajudou a transformar o sábado em um dia ideal para aproveitar o beira-mar". Hmmm. Entre as mortes e o clima bucólico, o que aconteceu nessa notícia? Bom, é simples, na verdade. A manchete joga o leitor para o fundo do poço, mas lentamente o jornalismo nos levanta, mostra as coisas belas da vida, uma didática inspirada em Galvão Bueno obviamente, buscando sempre levantar o ingênuo leitor (ou espectador, no caso dele) das agruras para uma manhã mais bela, abobalhado e embalado nos braços de suas palavras.

Sim, que fazer sem o Correio, que nos informa com precisão e presteza? Mais abaixo, nessa capa tão dedicada, o seguinte texto está como legenda de foto: "Feira do Livro de Porto Alegre está repleta de opções para quem estiver na Capital". Ok. Então quem está na cidade pode ir na feira da cidade, e quem não estiver não?

Quero crer que é redundância, não bairrismo, não a ênfase como a de uma torcida gritando "Aha, Uhu! A Feira do Livro é nossa!" E por que quero crer nisso? Porque a contracapa sim é que é bairrista: "Gurizada em Santo André". A manchete é feita de pressupostos e implícitos soltos no ar, mas chega a ter sotaque, tchê!

Aaahhhhhh, os pampas...

Fechando o diário de bordo

Enfim, fechemos as referências à viagem de formação, esperando que Porto Alegre e o Brasil (agora novamente de longe) sigam a fornecer matéria verbal curiosa o suficiente para manter este blog atento e sorridente. Vejamos, como referido antes, aquilo que não cai no mero administrês, língua em si risível, que, portanto, não pode ser referida como estranha ou ridícula neste ou naquele ponto: nada há ali de sério. Vamos a curtas anotações:

Mantendo o tema das gradações mencionadas alguns dias antes de eu partir, o pior palestrante (eleito por unanimidade) buscava nos apresentar alguma visão sobre os alunos. Na tentativa de saber se dizia uma bobagem ou não, ele foi graduando, de modo que seu objeto ficou assim: "a maioria, ou a grande maioria, ou todos" (têm dificuldades naquilo que sabemos). Não adiantou graduar tanto, ele continuava sem ter noção sobre o que falava.

Estivemos em determinado momento atentos a expressões estranhas, em particular a redundâncias. Mas, como não pode deixar de ser, quando se cuida um tipo de expressão, buscando-se evitar certos "erros de linguagem", produz-se em demasia outros. Nesse momento de não se dizer a mesma coisa duas vezes, naquele autopoliciamento pontual de que o administrês tanto gosta, o tiro pela culatra foi que não se dissesse coisa com coisa. A expressão que contei como a mais utilizada, por exemplo, foi o "detalhe importante", bastante frisado, mas nunca flagrado em sua contradição.

As frases desnecessárias flutuaram do clichê à estupefata constatação do óbvio. Ou seja, de "Não é porque é minha filha..." a "Esse peixe tem espinha!" - juntas aqui porque foram ditas pela mesma pessoa, num intervalo de dois minutos!

Aprendi, aliás, outra forma de dizer prova: "(número ordinal adequado) momento privilegiado de estudo". O pior é que acreditei que a inventora desse longo nome realmente o segue de forma construtiva, talvez se servindo dele para manter sua ética profissional um pouco melhor. Mesmo assim, fica o eufemismo registrado, para os muitos usos vazios que ele ainda há de receber.

Por fim, preciso falar sobre o "espírito crítico". Uma alma rebelde, maravilhada ainda com as possibilidades da retórica, logo alguém perdido naquele campo onde a tal retórica se torna vazia (uma alma, enfim, excluída pela Razão, que deve ser auxiliada e incluída), afastou-nos ainda mais de toda forma de descanso e lazer para se contrapor a uma palestrante tangenciando o assunto e se baseando em "dados reais futuros". :S E ele era das "ciências duras"... Falem das Humanas, falem.

Enfatizando o lado positivo da formação

Atendendo a comentários:



PS: nunca achei que fosse tão difícil encontrar um vídeo minimamente apresentável dessa música no youtube. Enfim...

sábado, 31 de outubro de 2009

Malena

Fiquei tão por fora da internet nos últimos dias que nem tinha visto o vídeo da guria de minissaia na UNIBAN.



E, não bastasse esse mínimo atraso, o caso é mesmo difícil de comentar. Além de ser uma daquelas clássicas situações em que a reação dos "críticos" tira qualquer razão que, por alguma lógica bizarra, pudessem ter - e de comprovar que nenhuma quantidade de nudez na TV e nas ruas vai conseguir anestesiar nossos instintos sexuais -, a única coisa que posso dizer das imagens que mostram aquele zoológico de seres humanos alvoroçados por um par de pernas é deixar aqui o mote de meu pai, com que preciso concordar plenamente:

"O ser humano é um animal metido a besta."

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Get Back to Where You Once Belonged

Cá estou, bronzeado e treinado, querem crer meus novos contratantes.

O regime de imersão exigido para tal treinamento denota que ele foi organizado por uma empresa, com todos os clichês originais daquela criatividade repetitiva de programas do terceiro setor. Vídeos motivacionais, micos friamente planejados e montagens assustadoras de cenas d'O Senhor dos Anéis, tudo preparando os educadores ("professor" é palavra feia e antiquada) para lidar com uma realidade da qual não nos passaram nenhuma informação efetiva, mas sobre a qual devemos evitar todo preconceito. Simples, não?

A semana foi pródiga em pérolas e argumentações furadas no início e ilógicas no final, mas vou considerar depois mais friamente se as comento aqui. Algumas talvez valham uns posts, por não serem muito ligadas a essa questão de treinamento de empresa, ou seja, por não serem previsíveis demais.

Dito isso, devo comentar duas coisitas:

Primeiro, é dever de quem retorna de viagem arrumar a bagunça que surge por geração espontânea, em nossa ausência. Lendo os comentários sobre meu post anterior, por exemplo, ocorreu-me que, mesmo que o Clark tenha sentido a ironia, pode ocorrer de um leitor com menor conhecimento deste blog passar por aqui e ler o tal trecho "Salvador, capital do Cosmos" como literal. Pois bem, deixem-me já chegar estragando festa, eu estava sendo, sim, irônico, quiçá sarcástico.

Fora isso, devo comentar que minha viagem foi de sol e água fresca, muita comida, atividades de lazer atípicas para este acadêmico, apesar dos desencontros de horário entre nossas atividades e a programação local. Agora, o passeio valeu especialmente por certas amizades novas. Apesar dos pesares, o grupo era rico em gente boa. Vou manter a política de não mencionar nominalmente ninguém (ou quase ninguém), mas é interessante como uma semana pode gerar tanta intimidade numa amizade completamente nova.

Enfim, termino então com essa nota positiva. E sigamos com Beatles, já que lá (no treinamento) ouvi uma música de que gosto bastante e que tem um verso tão adequado para título deste post:

sábado, 24 de outubro de 2009

Férias forçadas

Para citar o grande Perna Longa, interpretando George Washington, "Fui convocado!"

Pois é, devo sair em missão diplomática (oficialmente, "treinamento") para as terras brasílicas. Lá é uma nação estranha, já por ter tantas capitais: Brasília é a dos jatinhos particulares, Rio é a capital oficial, seus morros formam a capital nacional efetiva, Buenos Aires é a capital internacional e, como se não bastasse, o Brasil ainda é o país da cidade de Salvador, capital do Cosmos... Em um lugar com tantos centros, é difícil imaginar se há alguma organização e, portanto, se há possibilidades de se encontrar computadores e internet. Assim, aviso que este blog pode ficar sem nenhum post por alguns dias. Não que eu não vá ter material: viajarei com alguns pedagogos. Mas, enfim, pode ser complicado registrá-los logo.

Um abraço aos leitores, fiéis ou de passagem, e uma boa semana a todos!

Caligrafia

Há uma obra, na Bienal de Porto Alegre, que é um convite mais do que uma expressão artística individualista. Ela chama o visitante a pichar como quiser, onde quiser (na área definida pelo poder institucional do artista... diriam os mais radicais).

Eu, particularmente, gostei muito da iniciativa. Já era hora de termos onde praticar. As pichações de nossa cidade andavam com uma letra horrível! Uma coisa é sujar Porto Alegre, outra é fazê-lo sem cuidado estético com a sagrada palavra escrita. À caligrafia, conterrâneos! À Bienal!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Adolescentes Incompreendidos

Turma de oitava série. Camiseta de gincana/turma/semana de esportes. Na frente, "No mundo há 7 maravilhas..." Nas costas, "... nós somos a oitava!".

Ok, trocadalho do carilho acima da média de domínio de linguagem das nossas oitavas mais típicas. Mas... imagem escolhida para ficar na frente da camiseta, abaixo do texto?

Numa de suas poses mais famosas, da época de prata de sua carreira, Michael Jackson!

E a conexão das ideias???

Policiais e Mudas - onde estavam os desocupados?

Mais policiais plantando árvores no interior do Rio Grande do Sul. Por quê? É claro que árvores são importantes, bonitas e muito acrescentam à nossa identidade regional. E particularmente plantavam "flora nativa", há muito sendo destruída pelas decisões tomadas por nossa Intelligentia - ainda que isso aponte para que se repensassem nossas políticas, todas, não para empregar policiais no plantio em determinadas regiões de uma árvore que vai ter de lutar para nos aguentar.

Ok: "mas e até lá?" Plantar novas árvores lida com uma situação mais imediata, mas aí volta-se ao primeiro elemento, verdadeiro problema da questão: por que os policiais estão plantando árvores? Não estamos (o planeta Terra) com uma falta gigantesca de força policial (exceções feitas talvez, talvez, a Chavez e Kim Il-Sung)? A criminalidade no interior do Rio Grande do Sul não lembra todo dia filmes de Hollywood, em geral variando de Bruce Willis a 11 (ou mais) Homens e um (ou alguns) Segredo(s)? Não vão dizer que não acharam mão-de-obra dada para a tarefa! Aposto que não têm coragem de negar que havia um monte de secretários e vereadores sem fazer nada por lá...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Capacitação profissional

A guria fala, lépida e faceira: "I'm an expert in what I know."

Contratada.

Paralelismo

Bom, o que indiquei no post logo aí debaixo, de um colega falando sobre um personagem de uma peça, foi exatamente a estrutura aplicada a mim. Quem me apresentou a uns alunos hoje disse que eu tinha ido "fazer uma palestra, ou uma fala, ou uma conversa com a gente".

Nenhuma crítica ao autor da frase, mas foi muita coincidência o paralelismo.

Ó, vida indecisa!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ahnnnnnn

Durante uma discussão sobre uma peça de teatro:

"Nessa cena, o demônio convence, ou pelo menos argumenta, ou pelo menos afirma..."

Tava difícil! Ô demoniozinho pouco convincente, hein?

Como pede o figurino

Dizem que os donos da Cutrale estão sob processo por formação de cartel e por posse ilegal de armas. Bom, considerando-se que apoiaram o nosso governo em Brasília (e não precisa ser um do PT), não é de praxe ter ficha suja?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Juventude alienada

Onde estão as correntes de e-mail reclamando que a Thirteen apareça em todo episódio de House?!

Sherlocks brasileiros

As provas do Enade, que não deveriam estar na van, estavam, e suas caixas não foram lacradas. Mas um pessoal do MEC, sabe-se lá de que estado, provavelmente por telefone, disseram que não: estavam lacradas, oras! O pessoal da van disse que não viu, o pessoal do governo disse que nada vazou. Então tá! Prova na data marcada, problema resolvido.

Há males que vêm pra bem...

... mas por onde eles andam? Tudo que é Novo não presta ultimamente. Agora, depois do Novo Acordo Ortográfico, o Novo Padrão de Tomadas no Brasil!

Mas, assim ó, o pessoal tá trabalhando para melhorar o país, tá?

Todos pela China, compañeros!

Chega a pegar mal alguém dizer que antigamente as coisas eram diferentes, que nosso mundo hoje é uma vergonha, que no passado não acontecia isso ou aquilo. São bem espalhadas as causas sociais e psicológicas para todo mundo achar que o passado era melhor que o presente. Raras vezes isso é verdade.

Mas, boa notícia para o positivismo e o realismo gaúchos, o Rio Grande do Sul pode dizer tudo isso com firmeza e certeza, sem escorregar num romantismo barato. Sim, documentadamente a economia do RS vai de mal a pior há algumas décadas. E isso em relação à nossa história ou em comparação com os outros Estados (também diacronicamente). Não somos mais primeiros nisso ou naquilo e não somos mais como antigamente. Não chega a ser boa notícia para o resto do Brasil, no entanto, já que nós estamos piores: não é que os outros tenham necessariamente melhorado. Aliás, a boa imagem (interna) do RS, para variar, serviu em geral para tapar o sol com a peneira, assim como o discurso de todos os políticos (do mundo) que afirmam tudo que fazem e fizeram, como seu governo trouxe melhorias, como estamos caminhando para a frente! E o belo papel de parede gaúcho de "alfabetização" e "consciência política" vai servindo para tapar as rachaduras até que a parede caia toda de uma vez só.

Nossa última peripécia econômica foi perder o domínio do mercado de calçados da Argentina para a China. Digo que nós perdemos (não que a China conquistou) para nos enfatizar como actantes. Seu novo acordo com a Argentina não foi uma grande tirada: eles aproveitaram uma brecha que nasceu graças ao... Mercosul!!! Essa dita aliança (aquela relação em que as partes se dão apoio, lembram?) impõe um teto na nossa exportação de calçados. O teto está abaixo do que a Argentina precisa importar e MUITO abaixo do que podemos exportar. Logo: mercado aberto! Portanto um acordo econômico que deveria fortalecer nossos mercados entrega de mão beijada os consumidores argentinos para a China!

Não sei se o problema do teto saiu de nossas negociações diretas com a Argentina ou se foi algo entre o governo central e eles, mas a incompetência redunda aqui. Ou nossos "representantes" não sabem negociar com argentinos, ou com brasilienses. Como já indica o nome, parece que a tradição dos Farrapos não compreende muito a lógica da Economia.

domingo, 18 de outubro de 2009

Quando o youtube também assusta

Estou ouvindo uma música de que gosto e vejo este comentário:

We are living in the last days spoken of in Revelation and Daniel. There is no other time I would rather live in.

Putz, alguém que gosta de mesma música que eu não só acredita no Antigo Testamento como acha bom estar vivendo o fim do mundo?! Sacanagem

Vícios de linguagem

Já não era hora de movimentos sociais pararem de defender "direitos universalmente assegurados"? Ora, se estão assegurados, quem precisa lutar por eles? E, se estão pensando no outro sentido, de que são "universalmente afirmados", já era hora de terem aprendido que isso não existe. Há no máximo "direitos afirmados como universais", o que, em bom português brasileiro, significa "alguém os definiu na França".

Não cabia no comentário, Clark

Este post é um comentário a "Pagando Direito a um Professor".

Em primeiro lugar, eu não ia fazer deste comentário um post e, como achava minhas ideais um pouco longas para um comentário efetivo, ia tudo morrer no esquecimento. Mas a recente derrubada do helicóptero da polícia no Rio e um concurso que prestei hoje me fizeram mudar de ideia. O que não mudou foi minha consciência a respeito do amadorismo de minhas ideias econômicas e políticas, de modo que achei relevante comentar isso mesmo este sendo apenas um post de blog pessoal.

Bom, a questão central do post do Clark era opor, num exagero didático (pelo que entendo), duas posturas sobre educação: responsabilidade governamental ou área de iniciativa privada. Isso partindo do problema do salário dos professores, pois maiores salários implicam maior custo para quem os emprega, seja este o Estado (povo) ou os pais que pagam o dono do colégio (povo). Para não perder o fio parafraseando, cito o centro do problema: "para pagar mais aos professores, ou a gente paga mensalidades mais altas ou impostos maiores."

Quando comentei sobre não publicar um comentário a seu post, por achar que o problema era mais complicado, o Clark mesmo acrescentou que há ainda a opção clara de não aumentar impostos nem mensalidades, mas aplicar o dinheiro mais na educação ou no salário dos professores, tirando de outros lugares.

Pois é, essa era talvez a parte central do que eu queria comentar, só que eu acho que esse "tirando de outros lugares" dá pano demais pra manga.

Um dos primeiros problemas para mim é que nenhum governo poderia colocar essa questão como se fizesse algo para os professores. A educação serve ao Estado; tão claramente, aliás, que todo governo (como o do Lula, obviamente), quando resolve aplicar dinheiro na educação, seja de negros, índios, jovens, sem-teto, sem-terra ou povo em geral, todo governo reforça o discurso nacionalista na educação ao oferecê-la. Sei que não era o ponto de vista do post do Clark, mas acho importante indicar que governo algum favorece ou desfavorece os professores, como punição ou prêmio. Ele se desfavorece por meio dos professores, de forma tão direta quanto na área da saúde ou da segurança. É claro que isso só acontece porque os dirigentes de um governo não são um Estado, portanto foder com o Estado não é necessariamente foder consigo próprio. Já, já se está nas Bahamas, basta abandonar o mandato antes que a CPI termine.

Se o governo precisa de professores, ele precisa fornecer determinados meios para que esses professores façam o seu trabalho direito. Pagar mal, fazendo um professor sair por estresse, não dar a mínima para os 80 alunos desta escola porque não vai poder dar a mínima para os 80 da outra em que trabalha, ou simplesmente não garantir que ele não vá morrer no caminho da escola (ou lá dentro) é jogar dinheiro no lixo. Por um lado se gasta milhões com todos os inumeráveis professores do país e, por outro, esse dinheiro não dá em nada (grosseiramente falando). Porque semianalfabeto é um termo que faz tanto sentido quanto meiográvida.

Além disso, o professor precisa ser respeitado. E não há planeta capitalista em que uma profissão estressante e sem remuneração seja respeitada. Para piorar, a gente ainda tem a herança cristã do missionato. Pelo que penso, sofrer não é bonito, não é legal, e ninguém curte mesmo que ache que sim (ok, existem masoquistas, mas não me parece que estejam sendo empregados pelo Estado atualmente nem que sejam uma minoria incluída - que falha dos politicamente corretos...). Portanto, a "vocação de professor" é balela. Assim como o Clark disse - não indo nesse sentido, mas aproveito -, tem muita gente que aceita ganhar menos, do jeito que as coisas vão, e... vira professor. Sendo que essa profissão está entre as inumeráveis que apenas raramente geram alguma mobilidade social. Pode existir uma forma pela qual um metalúrgico deu um jeito de perder os dedos, mas ganhar anéis. Só que isso é exceção.

E, fosse só para ascensão social (se desse), fosse para ganhar uns pila enquanto outro emprego melhor não aparece, ambas as opções consideram a profissão de professor como um meio, o que é uma receita para a desconsideração por aluno, conteúdo e didática. A profissão de professor só funciona, como qualquer outra, quando a prática dela, propriamente a sala de aula, é vista como um fim em si, no sentido estrito de que dar aula não é o mesmo que um degrau na carreira, como promover cabeleireiros nas ruas do centro, é ensinar. E ou o professor ensina algo que preste, ou ensina que ser professor é uma carreira que nenhum dos alunos deve seguir ou respeitar. E dessas opções, a meu ver, não se escapa em sala de aula.

Além disso, o pouco que sei de economia diz que o valor de troca de tudo (sendo seu valor de uso simbólico ou prático) vem do custo social do trabalho, quer dizer, de quanto esforço uma determinada sociedade reconhece na produção de seja lá o que for; no que, que eu saiba, até Adam Smith e Marx concordam. Não é equivalência essencial entre produtos, nem o valor de uso (necessidade), nem oferta e procura o que definem o preço de qualquer coisa. Ora, isso deixa os baixos salários dos professores numa situação cultural muito curiosa. E, mais, estabelece que eles poderiam ganhar mais, sem que o custo que isso pudesse dar a outras áreas fosse posta em questão, particularmente dessa forma paralisante com que geralmente tal questão é apresentada.

Tudo isso escrito aí em cima me leva a pensar que, se só é capaz de ensinar um professor que tenha respeito dos alunos e saúde mental e física, o salário bom, bem bom, é condição sine qua non da educação. O Estado paga BEM ou caga no próprio dinheiro, ou seja, como disse o Clark, no dinheiro do povo. Não bastasse isso, quem paga escola privada não deixa de pagar impostos. Esse sujeito considera-se obrigado a fornecer o papel com que o governo limpa a bunda e precisa se entender com a iniciativa privada.

E a iniciativa privada é aquela maravilha. Basicamente, ela tem a liberdade de fazer, sem ser questionada pelos pais, coisas que seriam consideradas anti-éticas se vindas do governo. Além disso, ela trata o professor e o aluno como mediadores entre o bolso do pai e o bolso do dono da escola ou faculdade (deixando o professor numa prisão que não pode provocar, em geral, a valorização do ensino em si). É claro que o Estado tem interesse na educação, mas não é nem de longe comparável à relação comercial da iniciativa privada, apesar de um resultado prático atual que os liga: nenhum aluno de escola particular precisa aprender, mais ou menos como nenhum de escola pública também, já que o primeiro só precisa continuar pagando, e o segundo só precisa contar na estatística dos presentes na chamada (para os números de campanha e, inúmeras vezes, como álibi em recente assassinato naquelas proximidades - existem escolas públicas que não passam por isso, mas não vamos fazer de conta que é caso raro).

Não bastasse tudo isso, o atual estado da educação gera um ensino terceirizado entre todas as instâncias oficiais. Cursinhos, especializações, cursos profissionalizantes e quaisquer outros complementos que se queira enumerar são o principal resultado desse quadro. Para contar na hora das eleições, vai-se à escola. Para se aprender a ler e calcular, vai-se ao EJA. O Vestibular é alimentado pelos cursinhos; cursos ensinam o que a formação superior não fornece. Aprende-se a dar aula na prática e numa troca típica de tradição oral, não nas licenciaturas, que servem para imprimir o certificado que o Estado exige. A educação efetiva se dá basicamente fora da carreira obrigatória de um aluno. E tudo isso é, numa maioria esmagadora, indústria de educação privada. Portanto aproveitar os impostos investidos em educação praticamente não isenta ninguém de pagar ainda uma vez mais pela própria formação.

De qualquer forma, a iniciativa privada jamais poderia fornecer escolaridade nem à metade da população brasileira já que, como bem se sabe, muito menos da metade de nós pode gastar dinheiro com isso. Não porque ache necessário ou não. Mesmo que a pessoa se baseie numa tradição familiar antiga e esqueça a realidade de escolas e professores que vê na frente, ela simplesmente não tem dinheiro suficiente para sobreviver decentemente. A opção de que o governo abaixe os impostos para fomentar a iniciativa privada e arque com os que realmente não podem pagar por ela não me parece viável, porque essa gente ainda seria numerosa demais, no caso do Brasil. Do meu ponto de vista, os impostos podem ser abaixados ou não (claro que prefiro que o sejam), e o Estado ainda precisaria lidar com a solução de redistribuir seus gastos.

Essa redistribuição não é problema só do governo, com certeza. Uma universidade privada faliu recentemente em Porto Alegre porque gastou a mensalidade dos alunos tanto em exageros, como um laptop para cada aluno, quanto com custos excessivos fora de sua instituição de ensino (já que era um desses conglomerados, que atualmente tanto se insiste em produzir, e que desconsiderou que, de todos os serviços por eles desenvolvidos, o que injetava grana para valer era a faculdade). Mas, como disse, com apoio privado ou não, o vamovê é com o governo. E pode-se globalizar ou falar de fim de fronteiras o quanto se quiser. Na hora de pagar a conta, existe nação: quem paga é o Estado.

Para mim, então, não fica a questão de decidir se o governo deveria pagar bem professores ou incentivar o ensino privado. Seja qual for sua relação com o liberalismo, o Estado PRECISA pagar bem para quem trabalha com a educação de sua população. Mas a solução "redistribuir os gastos" não pode deixar de lado que aplicar impostos não é matemática pura. Aumentar o custo de importação é fomentar a produção e o comércio internos, mas não gastar em segurança é impedir que as lojas se estabeleçam, de modo que ninguém vai querer investir aqui, seja autóctone ou estrangeiro. Ou seja, especialmente quando falamos de mínimo, gastar em segurança é fomentar a economia. Assim como os gastos em educação reduzem o custo da saúde pública. Portanto não gastar na educação por causa da saúde é pôr dinheiro fora - não, obviamente, que uma sociedade educada prescinda de gastos na saúde, por favor! Gastar 1% a menos ali para aplicar aqui não é melhorar isto em 1% piorando aquilo. Nem sempre. E é isso que uma boa administração política deve ser capaz de fazer. Não é ignorar que o povo tem um dinheiro limitado para lhe fornecer pelos impostos, mas é lidar com o dinheiro que tem e tirar suco de pedra. O que não é nada impossível, trilhões de políticos ao longo de toda a história fizeram exatamente isso, até mesmo no Brasil.

Mas a redistribuição, é claro, evoca outro drama, o de que o Brasil só pode ter dinheiro. A única explicação para o Brasil é que ele tenha dinheiro. Não me parece que diga novidade nem que faça demagogia ou esquerdismo barato ao dizer (aludindo apenas a notícias recentes) que nossa capital é movida a conchavo, nepotismo, criação arbitrária de cargos, advogados de porta de cadeia (digo, de ministério), prostituição de luxo, paraísos fiscais e salários astronômicos. Literalmente astronômicos. Não me surpreenderia se o salário deles se comprovasse suficiente para se construir estações na lua. O problema complementar é que toda grande capital é um pouco isso também, mesmo que em escala bem menor. Se se juntar o dinheiro que passa das ONGs para a Europa em comércios que ignoram a alfândega (e portanto os impostos), o jogo, o lucro do tráfico que não fica trancado nas favelas, a lavagem de dinheiro e as inumeráveis obras a serem completadas no dia da aterrissagem da Jerusalém Celeste, eu simplesmente não consigo ouvir do governo que não há dinheiro para isso ou para aquilo.

E, sabem de uma coisa, volta e meia há dinheiro! De vez em quando o governo lança algo que custa horrores e que, por melhor que seja, levanta o problema: de onde veio tanta grana? Desculpem-me os entusiastas, mas as Olimpíadas são um caso destes para mim. É um investimento, vai trazer vantagens e melhorias (dizem) para o Brasil, ok, mas não deixa de ser como dar o Nobel para o Obama: um gasto financeiro e simbólico em nome de uma promessa de que, agora, tudo vai ser diferente. Desta vez os EUA não vão ser como sempre foram, assim como o Brasil vai receber um lucro desgraçado e passar, de repente, a gastar com o povo. É óbvio que parte da grana vem de forma mais direta, por exemplo no comércio. Mas isso já tem um efeito bem mais fraco se esse dinheiro for gasto em impostos mal empregados e arrecadado conforme o mesmo sistema em que estamos organizados (não estou aludindo a uma revolução para solucionar o mundo). O resultado dessas Olimpíadas tem pelo menos grandes chances de ter o efeito bem brasileiro de apenas aumentar o abismo entre classes monetárias (ou como quiserem chamar a diferença entre mim e o Collor). E se o Rio vai ser seguro à bala e negociata com os traficantes ("só por uns dias, tá?"), como no caso do Pan, também não ajuda. Mas, mesmo com lucro e melhorias gerados, ficará a pergunta: de onde veio a grana? Por que veio para isso, e não para outras coisas?

Enfim, eu não acho que o Estado possa não pagar os professores bem e contar com a bondade empresarial (por mais fomentada que ela seja por impostos ou o que for) e acredito que, em todos os pontos que indiquei acima, tem muito espaço de manobra para se ser de direita ou de esquerda mesmo se sendo, nos dois casos, a favor do governo pagar decentemente quem lhe presta um dos principais serviços para que tente ficar em pé. A única forma por que a dicotomia "impostos altos x mensalidades altas" definiria esquerda ou direita, para mim, seria a opinião extrema de uma ditadura comunista (fantasiada de igualdade, claro) ou uma confiança extrema no terceiro setor. Acreditar numa comunidade perfeita totalmente arcada pelo Estado é, a meu ver, ignorar o papel da inércia na cultura (talvez adicionando problemas com a figura paterna), e acreditar plenamente na livre-iniciativa em funções essenciais ao Estado é fechar os olhos à natureza humana justamente quando ela se vê livre dos processos de fiscalização de que o terceiro setor independe (sob um governo fraco).

Viu, Clark, não cabia num comentário. E cansei.