domingo, 29 de janeiro de 2012

Pré-julgado

Carregador, olhando para várias caixas com meus livros:

- O sr é professor?

Acho que a posse de livros não é exatamente um costume disseminado na nossa cultura...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Fluxo cultural

Enquanto isso, na fila do atendimento:

- Fomos no Louvre. Que é um museu. Show de bola!
- Tu vê né, ela resolveu ir pra Paris, e não quis ir na Disney.
- É que ela leu aí um... um Dan Brown... e desde então ficou louca pra conhecer a cidade, os museus, as coisas de lá...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Estupro e Cotas ou Crime nem Sempre é Crime

(Há apenas suspeita de estupro no BBB, mas a maioria das pessoas que vi comentarem ou compartilharem mensagens de facebook a respeito consideram que houve estupro, então vou indicar quase sempre como fato, já que o que rola na mente das pessoas é mais importante neste post do que a solução do caso, já veremos o porquê. Estive longe do computador por muitos dias, então lucro com a persistência do assunto para ainda deixar um comentário.)

A ideia de que crime é crime, no Brasil, não fez sucesso. Não digo que tenha feito sucesso em ALGUM lugar, mas só posso falar com convicção daqui...

Uma das principais críticas a cotas e leis "específicas", como para o caso de homofobia, é que a lei deveria ser para todos e que (por exemplo), se é crime bater em cidadão, que o cidadão seja homo ou heterossexual não deveria fazer diferença. Ou ainda, preconceito poderia agravar o crime, mas não poderia ser um crime específico bater em homossexual, porque isso seria uma espécie de discriminação compensatória: não quero que tratem homossexuais de forma diferente, então eu, como juiz, trato-os de forma especial, ou seja, diferente). 

Cotas têm uma "problemática" semelhante. "Eu não quero que discriminem negros", por exemplo, "então vou eu mesmo tratá-los como diferentes dando certas vagas para as quais não foram selecionados, assim eu mesmo tratando-os de forma diferente".

Vamos aceitar esse ponto de vista temporariamente. Pois bem, supomos então que se está lutando por que as pessoas sejam tratadas de forma semelhante. Todos iguais perante a lei. O que o BBB tem a ver com isso? Que ele ilumina o quanto essa igualdade é problemática por aqui.

A mulher supostamente estuprada tem algumas características-chave: é vista como vagabunda (para a média de comportamento brasileiro - variando, ao que percebo, entre o "normal" e "muito vagaba", mas apenas em casos de exceção), conseguiu participar do BBB, havia bebido numa festa e contradiz-se todas as vezes que pôde, dando uma resposta diferente sempre que lhe perguntaram algo sobre aquela noite. Que o BBB seja um programa da Globo também é uma informação crucial.

Supomos, como avisei, que o estupro tenha acontecido. É crime, hediondo (graças à luta legal de um pai), por enquanto. Reações: achar absurdo, culpar a Globo, culpar o Bial, culpar a mulher, culpar a vagabunda, culpar a vítima, culpar a bebida, culpar o telespectador, culpar quem achou que houve estupro.

Talvez se observe que listei a vítima mais de uma vez, mas isso porque as pessoas a culparam das formas mais inventivas, talvez numerosas demais para este post. Racionalmente, nenhuma delas merece respeito nem muito assunto porque são aquelas variações das velhas respostas machistas: se a mulher fez qualquer coisa que seja atraente para um homem, "estava pedindo". Às vezes isso se disfarça melhor, considerando que a vítima poderia ter tido mais cuidado (o que não desculpa nenhum crime, como talvez um momento de raciocínio revele a todo leitor), às vezes essa postura é franca: "é uma vagabunda mesmo", "tava se engraçando toda na festa", "são dois adultos" (??), "o que um não quer dois não fazem" (?!?!?!), "quem tá na chuva é pra se molhar"...

Todas as vezes que a vi acusada - de aproveitar a aparência de estupro (?) ou de ser culpada mesmo - o fato de ser uma pessoa buscando celebridade, de estar no BBB, de ser considerada burra, puta ou qualquer combinação das características acima era fundamental para desculpar o suposto estuprador. Ou para apoiá-lo! Espero francamente não ter de alongar o post apontando como essa lógica ser comum é preocupante.

Um dos piores aspectos da história toda, no entanto, foi o quanto as pessoas passaram a criticar ou compartilhar (no facebook) contra quem comentou o assunto como uma situação grave (celebridades, amigos ou anônimos). Mensanges como "Eu sei que ninguém vai compartilhar (essa acusação sobre violência contra cachorro, ou esse exemplo de um prisioneiro de tal lugar, ou sei lá) pq n tá no BBB", ou ainda "se estivesse no BBB, tava todo mundo compartilhando o exemplo desse político (bem conhecido muito antes do escândalo)" abundam nos últimos dias, uma grande crítica à média da população por quê? "Porque as pessoas se importam com um caso de estupro..." Não, claro! Trata-se de uma grande e pomposa crítica a alguém se importar com BBB, AINDA que role um estupro lá!

Eu sei que, parando para pensar, muita gente diria que não é isso que está tentando apontar, e acharia uma racionalização meio moralista e meio cult, mas é isso que está sendo dito, das mais diferentes formas. Acontecer um estupro no BBB é assunto menor porque o programa é uma fábrica de celebridades que "corrompe" o país, sua população, e toda essa boa gente que está desculpando ou diminuindo a importância de um estupro para mostrar como é superior e informado, só porque não curte o programa.

Quer dizer: onde o estupro acontece, com quem acontece, quais as consequências de sua investigação (vai sobrar para a Globo ou não? ela vai posar pra Paparazzo ou não?) são fundamentais para que um "crime hediondo" seja relevante.

O que isso tem a ver com cotas e homofobia e os assuntos citados no começo? É o seguinte: o caso do BBB é mais um exemplo de que a lei é para uns, em certas situações e dependente do resultado previsto para o caso (facultativo) de ser exercida. Assim é com as coisas mais estranhas possíveis, até mesmo com o prototabu do estupro. Seria legal se homossexuais pudessem lucrar com a lei e responder a ela da mesma forma que os heterossexuais, a ponto de não precisarem ser diferenciados legalmente (o casamento gay, aliás, é uma equalização que já não se aceita...)? Seria. Mas isso exigiria que se entendesse que lei é lei, independente de gostarmos ou não da vítima, independente que gostarmos ou não do resultado do cumprimento da Constituição. 

Não estou querendo apontar que essas diferenciações legais resolvem o mundo, apenas indicar que elas combatem/refletem a forma como se entende justiça por estas bandas. A "justiça" atualmente não é apenas para uns, ela tem diferentes graus em cada contexto, a ponto de poder ser meio ignorada e, em alguns casos, absolutamente não valer. Aí é complicado.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ajuda Política aos Pobres ou Afunilando no ENEM

Lourival, óculos e uma tirinha verde-amarela. Você não confia neste patriota?
Agora a lei vai ser (ou está a ponto de ser) que todas as faculdades federais e estaduais tenham a mesma data para fazer seu vestibular. E isso está sendo feito "para ajudar os pobres"!!!!!

Ahã. Mas, vamos pelo menos ler o argumento do deputado Lourival Mendes, do PTdoB do Maranhão (que trouxe para você, entre outras, a proposta do Maranhão do Sul). Conforme o sujeito, as universidades terem várias datas permite que pessoas com maior renda façam vários vestibulares, tirando as chances dos alunos de menor renda.

Hmmm... Pessoas ricas também conseguem estar em vários lugares ao mesmo tempo? Pelo que me consta, a menos que a pessoa vá MUITO mal numa prova, se quem ganhou dele não pega a vaga, há segunda, terceira ou sabe-se lá quantas chamadas para que o pessoal que ficou abaixo pegue aquelas vagas. Mesmo supondo, portanto, que os mais ricos sempre vão melhor que os mais pobres, como parece indicar Lourival, o fato de que eles não podem ingressar em todas as faculdades do país parece tirar uma base importante de seu argumento: eles fazem vários vestibulares, mas têm o poder mesmo de "tirar a vaga" (visão que xinga o mérito de quem passa) de uma pessoa.

Quer dizer, se o pobre ia competir numa universidade que chama muita gente, o rico que ia "passear pelo país fazendo provas" (convenhamos, não são muitos os que podem e tentam vestibulares em tantas faculdades DISTANTES o suficiente para que outros competidores, mesmo pobres, não possam fazer o mesmo deslocamento, se assim o decidirem) pode até não competir em muitas outras, mas vai se concentrar ainda mais naquela competida, ou atirar apenas naquela em que acha que ia passar - como já seria o caso se tivesse tentado em muitas. Quem faz muitos vestibulares (talvez com raríssimas exceções) concentra-se mesmo numa prova ou duas. Não tem paciência, disciplina e constituição para fazer bem todas elas. Novamente: se for bom aluno, suficiente para passar em várias, seguirá "tirando a vaga" daquela faculdade importante em que, agora, coloca todos os seus esforços e energia.

Mas, vamos um pouco além: alunos mais ricos fazem vestibulares em faculdades particulares, e os mais pobres, em geral, não. Então o pessoal com grana ainda pode tentar atirar para mais lados que os mais pobres, certo? E as faculdades particulares seguem podendo adiantar a data de suas provas, cobrando a primeira parcela dos que passam antes que estes descubram se passaram ou não nas públicas. Assim, todo o mundo sai perdendo mais um pouco, quem tem mais grana continua podendo ser explorado por essa sacanagem, enquanto os mais pobres, dependendo das públicas, poderão tentar um vestibular só e deu! Não passou onde escolheu fazer a prova? Bye, bye, tapinha nas costas... 

Então o efeito que o deputado diz querer causar com a lei é de fato pouco provável, não vai ajudar pobre algum. No entanto, que efeito dessa lei é previsível? O que sobra ao estudante além de tentar UM Vestibular? Depender do ENEM, claro: a única outra probabilidade para quem não pode pagar outro vestiba! Ah, quer dizer então que a proposta de Lourival Mendes afunila todo o mundo no ENEM, em especial o pessoal mais pobre. Que legal! Todos vão agradecer pela ajuda, com certeza. Com amigos como o deputado...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cinema ou Miss Hollywood?

Quando eu era criança, conhecia só duas experiências possíveis de filmes: assistir diretamente aos filmes e assistir ao Oscar. A maioria das opiniões que escutava era de amigos ou parentes próximos, o que não diferenciava ainda de uma experiência pessoal, mesmo porque quase ninguém tem mais a acrescentar sobre filmes do que "gostei" ou "não gostei". No caso do Oscar, tanto o "gostei" quanto o "não gostei tanto", indicados pela premiação ou pela simples indicação, tinham todo um aval técnico implícito, de modo que mesmo a seleção de quem concorria me indicava algum valor um tanto mais profundo reconhecido nesses filmes, e isso já me dava o que pensar.

Além disso, só no Oscar eu via um crítico de cinema realmente se deter em alguns filmes. Na época eu nem lia muito a revista de cinema que era assinada lá em casa e, quando a lia, ainda me perdia mais no celebrismo, nas fotos e na descrição dos filmes, sem perceber tão bem a parte crítica. Com o tempo isso mudaria, assim como o Oscar seria a principal, mas não única via, com Globo de Ouro e Cannes (sendo inventado e) ganhando espaço.

O crítico de cinema em questão era (Rubens) Ewald Filho. Depois de alguns anos, tanto a festa quanto a imagem do crítico começaram a ser minadas para mim. O peso do dinheiro na escolha do premiado e alguns valores que influenciavam a escolha do juri (não só os valores, mas até o fato de se considerar algum valor moral ou social num prêmio de cinema foram pintados com as piores tintas, claro) manchavam, teoricamente, o Oscar. E por um tempo isso me influenciou sem que eu achasse um norte mais pessoal para pesar as considerações que se mostravam óbvias. 

Ewald Filho também foi criticado, geralmente por baboseiras como jeito de falar ou aparência. Diferente da festa, ninguém parecia achar que o crítico precisasse de objeções sérias. Qualquer coisa servia para descartá-lo, como uma celebridade ou um personagem de novela de quem não se gosta. 

Não apenas pela falta de critério, as críticas a ele não me afetavam de forma prática nunca, porque eu continuava observando que, dissessem o que fosse a respeito da pessoa, ele era o único a tratar verdadeiramente de cinema na TV, que era minha principal mídia de informação e lazer. Mais do que isso, ele parecia saber muito sobre cinema, enquanto a mulher contratada para ficar bonita do lado dele só sabia falar sobre vestidos, penteados, casos e casamentos dos atores (até diretores eram distantes demais desse mundo para que ela soubesse fofoca, aparentemente). Ewald se interessava pelo cinema, não pelas celebridades, e isso me parecia ainda um valor inestimável, mesmo que ele tivesse dito a maior burrice ou babaquice a respeito de qualquer filme, o que de fato não vi acontecer.

Com o tempo, porém, foi o espaço da mulher do lado dele, fosse qual fosse (produtores de TV pareceram sempre conscientes de que, para o que pediam, não importava mesmo que mulher colocavam do lado) que foi crescendo - e era o crítico, muitas vezes, que era convidado a falar sobre fofocas, não a fofoqueira-profissional-por-uma-noite convidada a falar sobre filmes. A única exceção foi a época em que Marília Gabriela o acompanhou, mas ela, como se sabe, é uma das poucas apresentadoras com Licença para Usar QI, e na época acho que era a única (ela, no entanto, esteve atrelada ao SBT, o que complicava a parceria). Marília podia falar sobre tudo na apresentação, até sobre cinema, vejam só!

Talvez pareça que indico a indústria da moda como uma indústria sem QI. Não é o caso, mas falar sobre moda (e fofocas) quando o assunto são filmes e estender seus comentários no limite àqueles "gostei" ou "não gostei" desse cabelo/vestido/sapato não é marca de inteligência nem de se conhecer moda.

Como dizia, o diferencial do crítico era gostar de cinema, mas parece que se deu mais e mais espaço exatamente para quem não gosta da coisa, e precisa falar sobre indumentária e relacionamentos amorosos para matar o tempo e "entreter o telespectador" (que, pelo jeito, supõem também não gostar de cinema). O que o pessoal que comenta festas de cinema parece pensar é que ninguém vai assistir a premiação alguma, então é melhor não gastar dinheiro na cobertura, nem mesmo pagando para "jornalistas" comentarem ao vivo. 

O problema é que a internet é a mídia do momento, tanto no sentido de "atual" quanto no sentido de "ao vivo". Não existe mais desculpa para não se cobrir um programa em tempo real, e a concorrência vai fazer exatamente isso. Resultado: seguem pagando mal (só posso supor, porque as coberturas não merecem salário) para gente que quer falar sobre outra coisa. 

Ainda assim, a Folha de São Paulo merece um prêmio. Seus comentaristas no site compararam prêmio pela obra para Morgan Freeman com quadro do Faustão (descartaram Freeman com aquele "não gosto" de adolescente em sorveteria), ficaram falando sobre quem é atraente ou não, fazendo piadas semi-internas e tratando o público de artistas como idiotas porque não os percebiam rindo muito das piadas. Supunham obviamente que os americanos não estivessem entendendo as piadas, não que não as achassem tão engraçadas quanto os "comentaristas" (ou que o microfone não estivesse pegando muito suas risadas, o que é bem comum nessa cerimônia). Sabem como é, igualar artista norte-americano a "burro" é absolutamente natural para uma pessoa contratada a comentar arte norte-americana...

Minha expectativa é baixa, nem sabia que a Folha tinha esse acompanhamento aliás (agora vejo por que nunca ouvira falar a respeito!), mas ainda assim era de assustar.

Não posso falar sobre o acompanhamento em canais fechados, porque passei obviamente, quando assisto, a aproveitar o acesso direto à cerimônia, sem comentaristas nacionais. Está longe de ser minha conexão única com cinema, bem como não vivo há muito restrito a Hollywood, é claro, mas ainda me impressiona que o pessoal que tenta apresentar pelo menos esse cinema para o grande público continue irresponsavelmente falando sobre outros assuntos ou escolhendo gente que não gosta de cinema para tapar o buraco. Eu esperava que ao menos o cinema que dá enorme lucro merecesse alguma atenção mais séria das empresas de TV, que (por também viverem do lucro) necessariamente veriam valor pelo menos por esse lado. Mas nem isso Hollywood merece, o que me parece dar uma medida do gigantesco desrespeito com o tema e, portanto, com o público para quem ainda acham que precisam fazer uma cobertura.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Educação na Cracolândia

Conforme Haddad, nosso queridíssimo ministro da Educação, a ação da polícia na cracolândia foi "desastrada".

Que vergonha! Que vergonha nosso ministro ter de ver tais resultados onde quer concorrer a prefeito, após uma carreira tão brilhante no MEC, em que não houve desastre algum, em que todas as suas ações foram bem pensadas e em que já começou a revolução educacional que vai colocar (e já está colocando) o Brasil entre os primeiros do mundo. Primeiros na economia, que importa que também primeiros em custo de vida e últimos nas salas de aula? O projeto Escola sem Homofobia não foi nenhum desastre! Não houve desastre em nenhum ENEM! Haddad fala por si e para si: a Educação anda a passos largos.

A polícia pode, afinal, aprender muito com o MEC, com certeza. Um dos grandes segredos da Educação é fazer planos lindos, mesmo que só na teoria, de preferência nem tentando colocar os melhores em prática (não, ao menos, sem antes buscar cortes para afunilar a demanda do serviço pelo Estreito da Falta de Verba). Ah, Segurança, aprenda com a Educação: plano bom mesmo não sai do papel - de preferência já sendo bolado sem contato com a realidade! Foram se meter a encarar um problema real e tentar agir no mundo! Não, isso é uma cena forte demais para o ministro!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Da Sbórnia


Ontem aproveitamos novamente Tangos e Tragédias, e devo dizer que valeu a pena ver de novo. Fazia mais de 10 anos que eu não ia, o que já estava ferindo a minha imagem por estas bandas. Felizmente o show sobreviveu por tanto tempo (quase 30 anos) e minha cunhada convidou-nos para seu projeto de apresentar a vida cultural característica da cidade para um casal de recém-chegados.

A novidade estava estava interessante: a participação do grupo Cuatro Vientos, de Buenos Aires. A noite correu bem, entre a tradição e as músicas com os convidados. Apesar da aparição discreta mas inoportuna no teatro de Ana Cristina, antigo amor do maestro Nico, tudo terminou bem. Reconhecemos a história da Sbórnia e sua música tradicional, bem como terminamos a festa na Praça da Matriz, como pede o figurino. Os últimos dias têm sido de constante chuva, mas Sâo Pedro, além de emprestar o teatro, conteve o chuvisco da noite na hora certa para podermos curtir a praça.

Enfim, para apelar a uma eloquência de Twitter: assistam!

Sbornianos em ação!

Cuatro Vientos

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Notícias que mudam nossas vidas

Zero Hora atesta: em Torres, às vezes faz sol e às vezes chove!
A Zero Hora tem algumas manias realmente irritantes: mania por recordes que levam em conta apenas os últimos dias ou meses, destaque absoluto para a meteorologia do momento, colocando isso acima de política, economia ou qualquer outra coisa que possa nos afetar muito mais e sobre o que geralmente não sabemos só de olhar pela janela... Mas hoje eles fizeram uma especial. A grande manchete destacada foi: "Torres tem maior volume de chuva em 24 horas desde janeiro de 2011".

Veem só que fantástico? Desde janeiro do ano passado não chove tanto quanto está chovendo agora, em janeiro! É a mudança climática, o aquecimento global, o tempo afetando a praia particular dos gaúchos, a notícia do momento! O que a Dilma está fazendo analisando desmoronamentos em vez de vir ver uma ocorrência incrível dessas?! 

A grande diferença de 2012 é que, de fato, a chuva já veio com essa força neste dia 13 e não no dia 19, como em 2011, e há uma diferença de 67mm de água entre as duas datas. 67mm a mais, no caso, em 2011...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Moral pra lá, moral pra cá

No Twitter, publicaram:

"Nova fórmula para calcular índice baixaria inflação em 2011", 

mas eu li:

"Nova fórmula para calcular índice de baixaria de 2011".

Não sei se é minha expectativa de se criar ideias idiotas para as várias discussões infinitas sobre como a cultura vai mal ou não, ou simplesmente minha própria ideia de que as coisas andam irritantes e não seria de se duvidar que alguém se desse o trabalho de tentar quantificar o problema todo. De qualquer forma, não foi dessa vez que li um tweet moralizante. Tudo bem, os 5 anteriores e 5 seguintes o foram. Se por um lado tenho usado mais as redes sociais, por outro estou cansado de ler lições de moral, autoelogios e frases de auto-ajuda. Ô coisa complicada balançar o uso dessa tal de internet.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os distantes cristãos da Nigéria

O resultado de UM dos ataques a uma das igrejas.
Anteontem cristãos foram novamente atacados na Nigéria. A onda é tão sistemática e violenta que as autoridades locais da religião estão chamando de depuração étnica e religiosa. Foi feito um ultimato para que as pessoas de crença cristã abandonassem o país, e tal ultimato "expirou" na quarta passada. Mais um detalhe: estima-se que 40% da população (deste que é o país mais populoso da África) é cristã, por enquanto. Também é interessante dizer que o grupo islamita responsável não apenas mata e violenta cristãos, como enfrenta, em grande parte por isso, a polícia e o exército.

Pois bem, quando um grupo assim preparado para violência provoca uma calamidade do tamanho da que está sendo causada na Nigéria (situações desse tipo não existem só lá, é verdade, como bem se sabe, por exemplo, a respeito do Egito), espera-se em geral que haja grande comoção, particularmente se é algo que pode provocar empatia direta em grupos bem representados no "Ocidente" (Europa, EUA, e alguns países como o nosso - ouso nos incluir para estes fins).

Agora, não é só que não tenha visto reação a essa situação, salvo os comentários um tanto isolados de um que outro conservador (desacreditado para retweets e compartilhamentos em massa já por isso). Há também um problema terminológico na notícia acima, o que complica seu efeito por estas bandas. "Cristãos" em geral são entendidos no Brasil como "católicos". Não é que as pessoas não saibam que o termo vai além, mas ele ainda provoca mais associação com o Vaticano que com qualquer outra coisa. "Crente" é o evangélico, de qualquer igreja, "protestante" é o das antigas (anglicano, p. ex.) e espírita é "espírita". Talvez por isso quem noticiou a situação da Nigéria não se preocupou em dizer que "cristão" é esse tão bem representado por lá. Pela proporção, no entanto, imagino que sejam oficialmente católicos mesmo.

Pois bem, "cristãos" estão envolvidos em outros problemas por cá. Até um pastor evangélico engravidou menores (ou seja, não só os padres ficam tachados de pedófilos), mas os tais "católicos" seguem chamando problemas: o papa, pensando que as coisas andavam muito tranquilas no front das uniões de Direitos Humanos, declarou para diplomatas de diversos países que a união homossexual ameaça "o próprio futuro da humanidade".

Todos sabemos como o casamento homossexual é politicamente importante hoje em dia. Ele, como a questão do aborto, passou a significar votos, a favores ou contra, o que, por sua vez, passa pela importância ou valor que se dá às opiniões emitidas no Vaticano sobre a política, a vida e o universo. Desse modo, apoiar ou não cristãos, dar ouvidos ou não às suas reclamações, tem todas as cores do partido de que se participa, em que se vota ou meramente que mais se apoia. 

Por tudo isso, "limpeza" étnica na Nigéria não pode ser importante, não por aqui. Não pode virar tema de escândalo internacional, como, por exemplo, um importante líder francês se aproveitar ou não de uma empregada de hotel. Assédio é crime, merece ser investigado, claro. Mas perseguição religiosa não?

É claro que sofrimento sempre há, é claro que injustiças estão por todos os lados, em todos os países, mas o mesmo é verdade, digamos, sobre maus-tratos contra animais. No entanto, o sofrimento dos cães (que eu adoro, por sinal, mas não da forma erótica como geralmente se vê no facebook) pode virar essa espécie de corrente anônima de protesto, uma versão virtual e sublimada dos Occupy (sem liderança, um tanto genérica em sua boa intenção). Já problemas éticos que sejam também políticos e têm enorme magnitude, não!

E eu sei que não tem muito que as pessoas daqui poderiam fazer pelos nigerianos, ao menos não sem uma grande organização que dificilmente se dariam o trabalho de fazer, mas não considero que essas correntes light de facebook tenham significativas consequências para o respeito e a adoção de animais, não na prática, não de fato. O abuso de animais (humanoides ou não) é um pouco mais complexo...

É interessante que os sofrimentos bastante reais e efetivos de grandes quantidades de seres humanos não consiga quase nunca tocar as almas sensíveis da mesma forma que o "escândalo da vez". O engraçado é que eu costumo ser considerado um tanto brutal no meu desrespeito ao ser humano, nas minhas críticas à espécie. Às vezes isso é até associado ao meu ateísmo. Só que o que eu (por ateísmo?) não entendo é a compaixão cristã que sofre pelos cães, mas que não enxerga ou não sente o sofrimento de outros cristãos. Tudo bem que a espécie humana não precisa ser preferida, mas será que não dá para valorizá-la como, pelo menos, igual aos cães?

domingo, 8 de janeiro de 2012

O Carnaval como a menor das contradições

Eu ainda acho cômico, num sentido leve, o elitismo refletido no Carnaval, já que esse "elitismo do povo" sobreviveu a todas as possibilidades de se aceitar um elitismo ou mesmo uma aristocracia de fato, literal. As escolas seguem com princesas e rainhas, e os nomes das eleitas delatam ou sua proximidade da gente (não-nobres, nem por dinheiro nem por nome de família) ou, quem sabe, até que sejam nossas conhecidas.

Foi, portanto, sorrindo que eu li sobre a eleição, em Porto Alegre, da primeira princesa Suelem e da segunda princesa Thais. Já os títulos difíceis de engolir vieram no parágrafo seguinte, "secretários municipais da Copa 2014", e o pior casamento "título-nome" foi mesmo "prefeito José Fortunati". Isso, sim, é difícil de engolir.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Limites bem definidos

Eu adoro quando uma instituição explica no seu site ou propaganda que ela "atua dentro do âmbito de suas atividades". É realmente uma informação crucial, já que tanta gente não cumpre redundância tão necessária.

Por exemplo, mendigos, catadores "amadores", cachorros e até a chuva "atuam dento do âmbito das atividades" do Departamento Municipal de Limpeza Urbana, todos cavocando, mexendo ou entupindo boeiros com o lixo do meu prédio! Já o pessoal desse departamento (na verdade, a empresa contratada por esse departamento) não atua no âmbito de suas próprias atividades, estando mais preocupado em passar rápido, nos horários que quiserem, do que em deixar a cidade limpa dessas sacolas que, por exigência da própria prefeitura, ficam dando sopa na frente da casa de todo mundo. A cidade fica suja e os grupos podem culpar uns aos outros, aproveitar os descuidos alheios ou, no caso da chuva, terminar de estragar a situação provocando ainda mais transtorno. Para ela, pelo menos, não há o que reclamar, já que, pode-se argumentar, sempre "atua dentro do âmbito de suas atividades".

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A ilusão do óbvio

Quando decidimos conter gastos, obviamente as coisas aqui em casa começaram a quebrar. A primeira ou segunda delas foi a tábua de passar (fiel havia décadas). Confrontados com as opções que tínhamos no super aqui perto e com a pressa da decisão, terminamos por comprar uma de madeira, Tramontina! Nem sabíamos que a marca existia para tábuas de passar, mas era mesmo a melhor opção de custo-benefício.

O primeiro uso foi particularmente trágico, mas fortuito. Enquanto minha parceira de união estável fazia o uso de estreia, conversávamos sobre o quanto certas afirmações que fazemos em teses e dissertações nos soam óbvias, e o quanto isso nos provoca insegurança, ao mesmo tempo em que pensamos que, se ninguém disse antes, não deve ser obviedade para mais ninguém. Agora, "será que ninguém disse justamente por ser tão óbvio?" Quando insistemente comprovamos que as consequências lógicas dessas "obviedades" não foram perseguidas por ninguém, tomamos coragem de arriscar dizer o que pensamos, mas a insegurança não some por essas vias racionais. 

É nessas horas que tento lembrar do caso de Foucault. Eis um autor importante por publicar obviedades que ninguém dizia. Não fiz um estudo histórico que comprove se o que ele escrevia era já óbvio ou se tudo se tornou óbvio porque ele foi tão lido. Parece-me que a última opção é menos provável, já que lhe são atribuídas tantas conclusões que não se encontram realmente em seus textos, nem como subentendidos. De uma forma ou de outra, ele me parece um exemplo que nos assegura a arriscar quando o que nos parece muito lógico está muito esquecido ou ignorado.

Enfim, falávamos sobre isso quando o forro da tábua de passar, no primeiro contato direto do ferro, se desfez. O calor do ferro (no início da passada, ou seja, nem no ápice do que poderia atingir) destruiu todo o material que entrou em contato com ele. Como?! Será que o pessoal da Tramontina não pensou em escolher um material que resistisse ao calor de um ferro de passar? Não é óbvio que o material tem de resistir ao calor, pois a roupa ali será passada a ferro quente?

Tal acidente foi fortuito para nos lembrar, a propósito da conversa, que de fato não existem obviedades. O que sabemos tende a nos parecer óbvio, mas pode ser novidade (por descuido, ignorância ou preocupações alheias) para aqueles que não pensam como nós, ou que têm outros problemas em mente. Havia me escapado essa consideração, que em geral busco carregar sempre comigo, mas olhar aquela tábua reforrada na paz de nosso lar deve ainda me lembrar por muito tempo: não existem obviedades. Então publiquemos o que achemos importante publicar, o que nos parece fazer falta ao permanecer esquecido no silêncio. Sempre tem gente precisando ouvir ou ler o que nos parece óbvio.

Couldn't agree more

"Take the job seriously and don't take yourself too seriously"

Clint Eastwood

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Alongando

O alongamento é uma importante, às vezes salvadora saída do cotidiano, para os músculos. O alongamento indica que outra experiência, outra relação com os pares, outra realidade é possível, e dá uma sensação, mesmo que insustentável no cotidiano, de alívio. Ainda que a realidade seja diferente, que a posição não possa durar, o alongamento torna a vida do músculo mais suportável, e mais feliz. Às vezes até indica uma posição correta, uma que deveria ser a ideal e que, por que não?, poderia ser mantida na vida "real". O alongamento é o sonho do músculo.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Alea jacta est!

É hora de tentar ver as velhas coisas com novo olhar, tentar ver nelas caras novas, em especial. É hora de pôr em prática os desejos, realizar as mandingas. É hora de encarnar mais uma versão dos mesmos ciclos e de impedir os seguidores dos maias de estragarem este ano.

Boa sorte a todos!