segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Do descaso: in memoriam

Uma lei específica para a violência contra professores (por alunos, pais, terceiros... ou seja, todo o mundo) está sendo julgada e calibrada. Trata-se de uma daquelas tentativas de governo de ser ultra-didático, sua forma de responder ao fato de que a proibição por lei da violência contra qualquer tipo de pessoa aparentemente é muito genérica, não cai a ficha nos criminosos. 

Bom, o caso é que já estão a cunhando de Lei Carlos Mota, porque este foi morto combatendo o tráfico em sua escola. Nesse caso, eu entendo uma homenagem ao morto. Mais ainda, na verdade, no caso da Lei Maria da Penha, em que a mulher lutou por uma causa e seguiu viva para contar a história. Não entendo quando a "homenagem" é feita a vítimas no sentido estrito, ou seja, pessoas que morreram em momento de passividade ou tranquilidade, menos ainda quando é culpa do Estado.

Os mortos por aquele doido no Rio de Janeiro, o "caso de bullying", já viraram nomes de diferentes escolas infantis ou creches. Em que isso ajuda os pais que perderam seus filhos para uma loucura, um acidente estranho e idiota? Dá algum sentido para mortes sem sentido ter o nome da criança estampada, ironicamente, numa instituição de ensino? 

Em Porto Alegre ocorreu uma homenagem, a meu ver, pior ainda: há uma parada de ônibus com o nome do aluno eletrocutado por uma carga que estava sendo liberada no metal da estrutura. A Prefeitura havia sido avisada, de modo que a morte se deu por absurdo descaso. Resposta da prefeitura? Colocar o nome do garoto na parada! Para todos que passarem ali lembrarem sempre como têm sorte de não estarem mortos por irresponsabilidade pública? A única compensação talvez seja que os políticos responsáveis terão seus nomes "eternizados" em ruas, quando morrerem, como é destino de todas figuras públicas numa república. Assim, pelo menos, graças a tal homenagem, até os anônimos pisarão em seus nomes.

sábado, 15 de outubro de 2011

Ironias da vida e da pós-vida

"I was an Irish Catholic.. and I had to quit the Catholics... because they were after my soul!" 

George Carlin

Traduzindo

Comentário engraçadinho sobre curiosidades da tradução.

Palestras sobre o universo


Eu recomendo toda a série. São 12 palestras de pouquinho mais de 30 minutos, cada uma. Fica aqui a primeira, de entrada. Não sei se existem com legenda, creio que não.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Kassab caçado

Preparando-se para competir com Kassab em São Paulo, o PT inventou um "dispositivo" na internet que servirá para mostrar que, eleito, ele não cumpre as centenas de metas que estipularia em campanha. Basicamente querem mostrar por um site, de forma particularmente simples e direta, que seu concorrente não faz o que diz. A iniciativa do PT é boa, desde que fosse aplicada a todos os políticos, inclusive os petistas, é claro. Dessa forma todos seriam desmoralizados e nunca mais um político seria reeleito no Brasil. Ou, é claro, ia ser o  mesmo que chover no molhado, todo o mundo se conformaria com a comprovação do que já sabemos e não cumprir metas seria apenas mais um dado dos milhares que tornam os políticos tão criminosos aos nossos olhos e que deixam toda a população mais e mais desinteressada em política. Aposto na segunda hipótese.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sociedade, a eterna malvada

Acho que vou criar o Greenpeace... desde que eu não vá à escola, não tenha amigos e não escute o que meus pais me disserem, claro!

'Para o professor de sociologia Fábio Medeiros, a ignorância é a raiz do preconceito: “O ser humano não nasce preconceituoso. Ele desenvolve isso no hábito cultural. O conhecimento dá a possibilidade de superação desse preconceito e dessa discriminação' (De notícia no G1).

Por quê? Se o ser humano não nasce preconceituoso e a ignorância é a raiz do preconceito, isso quer dizer que o ser humano não nasce ignorante, mas se torna assim ao longo do início da vida? A cultura em que é inserido nos primeiros anos de vida vai o tornando mais ignorante, destruindo um ser igualitário que nasceu pronto para orgulhar os movimentos sociais e as ONGs que lutam por minorias? E, se o conhecimento dá a possibilidade de superação do preconceito, então esse conhecimento não conta como cultura?

Talvez o professor tenha sido mal citado. Com certeza não descarto a possibilidade, mas, infelizmente, talvez não tenha sido. De qualquer forma, a opinião dele, ou do jornalista que, por cacoete, transformou o que ouviu, representa uma opinião extremamente bem representada entre ativistas, interessados ou profissionais de movimentos contra preconceitos, uma opinião que eu acho bem difícil de engolir.

O problema dessa tese é reforçar o lado errado da ignorância, digamos. É claro que muito preconceito nasce daquilo que não se sabe sobre outra pessoa ou grupo. No entanto, isso não quer dizer, como geralmente se conclui automaticamente, que o preconceito é sem sentido e inútil. O preconceito é o produto de um esquema absolutamente útil, até fundamental para a nossa boa vida cotidiana. O esquema é: a pouca informação que tenho, relativa, sobre o mundo precisa me servir de base para sobreviver a cada novidade que a vida joga na minha frente. 

Eu não posso conhecer todas as pessoas, todos os materiais, todos os fenômenos da natureza, então aqueles que encontro me servem de base para os outros que venham pela frente, até que eu tenha fortes motivos para diferenciá-los. Rapidamente, graças aos deuses, nossa mente começa a agrupar os fenômenos, processos e seres. Ora bolas, se centenas de milhares de anos de adaptação nos serviram para alguma coisa, tanto esse processo quanto seu sucedâneo (fazer isso em relação a grupos de seres, humanos ou não) foram tão úteis quanto fixados, ao que tudo indica. 

Para dar um exemplo simplório, se alguém associa pobreza e roubo e onde o sujeito vive a maioria da população negra é mais pobre, uma associação que ligue cor de pele e roubos é algo que facilmente surgirá de forma espontânea. A valorização do que se tem, claro, alimenta a associação, mas quantos seres humanos não valorizam aquilo que possuem?

Caso a associação seja feita, será necessária uma experiência marcante ou uma ação cultural que lhe demonstre a falibilidade desse raciocínio (a menos que o coitado tenha tendências a elocubrações lógicas, isso sim um traço raro), mas o sujeito está associando ideias como nos é natural para evitar riscos ao seu bem-estar. A "inocência" do sujeito está agindo aqui justamente para construir um preconceito. Não é da nossa natureza supor que estamos errados sobre o que nos parece fundado em experiência, especialmente porque não paramos para pensar a fim de criar um preconceito, ele nasce de um tipo de raciocínio como que instintivo. 

Discriminar nos é fundamental. Discriminamos amigos de inimigos, familiares de estranhos, homens de mulheres, crianças de adultos... Isso é dizer apenas que cada um desses grupos têm características diferentes naquilo que nos interessa de cada um deles. O problema é que a nossa discriminação pode estar errada e, mais do que isso, pode se manifestar de forma violenta no mundo, violência esta que passamos (pelo menos parte da sociedade) a discriminar como errada e nociva.

Claro que a tendência de um preconceito desses se desenvolver torna-se particularmente visível quando a comunidade em que vivemos compartilha e reforça esses preconceitos. A enorme importância que os grupos de parceiros representam no nosso desenvolvimento torna-nos até seres predispostos a nos apropriarmos de novos que nos sejam úteis socialmente. Discriminamos para passar bem, nesses casos. Como o status é importantíssimo para nós, em particular na proporção inversa à nossa maturação, todo pária do grupo e todo grupo oposto ao nosso serão desmerecidos em diversos sentidos, e participar disso, manifestando às vezes até ódio e afronta física ao outro grupo, são barcos em que a maioria entra com a maior boa vontade e na mais estúpida ingenuidade, muitas vezes.

Talvez o professor de sociologia considere que isso justifica a afirmação de que o preconceito é social, no entanto o fato de essa valorização social ser da nossa natureza me parece indicar o contrário: é um impulso em cada indivíduo (de sobrevivência física e social) que motiva cada um a ser preconceituoso, de alguma forma. Trata-se de um processo espontâneo individualmente: criamos preconceitos por um cacoete de sobrevivência, seja para sobreviver ao mundo ou diretamente no grupo de que tentamos fazer parte. Tanto que algumas pessoas resistem a isso e outras ainda conseguem se questionar e voltar atrás, enquanto outras seguem seu desenvolvimento tranquilíssimas com seus preconceitos. Por que a "sociedade" capturou uns e não outros? Por que ela variou o esforço ou por que cada membro do grupo é um indivíduo, com suas ideias, tendências e valores?

Colocar a culpa na cultura, como "sociedade", uma força estranhamente exterior, parece criar uma barreira entre sujeitos inocentes que nascem para o bem e uma herança social malévola que nasceu de pessoas que não puderam ler os mesmos livros que nós, ou que "não sabiam o que sabemos hoje". O que, diga-se de passagem, me parece uma postura preconceituosa.

Não basta que a postura anti-sociedade e a postura mais hobbesiana que estou pondo concordem que o preconceito é ruim e precisa ser combatido, porque são combates postos de forma diferente, implicando táticas diferentes e só tendo esperança de dar certo aquela que estiver correta. Se eu acho que os sujeitos no fundo são puros e dispostos a conhecer cada ser humano como um único e especial floquinho de neve, sujos por uma sociedade que lhes ensinou a discriminar, tanto a minha política de combate ao preconceito não será eficiente quanto eu serei confrontado por afirmações honestíssimas de preconceitos daquelas pessoas mesmas que achava vir salvar, e a insistência delas me parecerá apenas o impressionante poder da "sociedade" para fazer lavagem cerebral. Eu vou investir de novo, mas o ataque seguirá sem efeito, por eu estar supondo que o preconceito que ataco não tenha raízes na mente mesmo daquele que o expressa, ser este capaz de, aprendendo a não falar mal de homossexuais, repetir o processo de discriminação contra mulheres ou quem mais lhe for útil, daí a alguns dias.

Não entendo como se pode trabalhar com seres humanos e supor que o mal de nossas personalidades venham sempre da sociedade. Se nascemos para viver, e a vida é toda a violência que bem se pode ver, como supor que nascemos puros? Ou, se puros, como passamos do paleolítico?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Enem em perspectiva

Maldoso, porém sincero: quantos alunos examinados pelo Enem escrevem Enem com "M" no fim?
6221697 brasileiros se inscreveram para o Enem. Suponho que poucos faltem mesmo à prova, então vamos ficar com o número total. O Brasil tem mais de 193 milhões de habitantes. Eu sou um dos 193 que não vai fazer a tal prova. Então por que o governo fica repetindo a toda hora para nós que a greve dos Correios não vai afetar os candidatos do Enem como isso fosse grande coisa? Aliás, todas as outras incomodações que a greve dos Correios provoca também afetam esses candidatos! Será que acham que não sabemos disso?

O diploma está nos detalhes

"O mundo quer saber se tu sabe" - assim uma colega criticava posturas educacionais que, ao enfatizarem demais a atividade espontânea dos alunos e a necessidade de se falar do que lhes interessa, perdem contato com conhecimentos básicos necessários e que são passados apenas pela escola. A frase enfatizava um problema que estávamos enfrentando na escola e que não parecia estar sendo encarado por toda a equipe. No fim, existe um corpo de informações que são consideradas básicas pelos outros, e acabamos dependendo muitas vezes de saber o que querem de nós, não o que consideramos importante ou relevante.

Concordo com isso, mas tal afirmação ganhou um colorido curioso quando, duas horas depois de tê-la ouvido, fui requisitado no enciclopedismo mais básico: estava assistindo a uma palestra e a pessoa apresentando suas atividades esqueceu exatamente em que data tinha acontecido determinada coisa em sua escola. Um parceiro, na plateia, lembrou vagamente que havia sido no centenário de morte do Machado. Tendo sido minha colega por alguns meses, a palestrante sabia que eu havia cursado Letras, portanto olhou imediatamente para mim. Eu, para a paz mundial e a manutenção de meu status mínimo, dei a resposta (2008). 

Do ponto de vista da Letras, saber essa data é prática ou completamente irrelevante, em relação a tudo que se pode saber, estudar e que não pode ser retirado de uma simples consulta a uma enciclopédia ou ao Google. Do ponto de vista do senso comum, que horror se me falhasse a memória! A crítica da minha colega, nem que seja pela proximidade dos fatos, ganhou fortuita e estranha comprovação.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O foucaultiano do meio de campo

Existe um meio de campo entre o modernismo e o pós-modernismo. Ele é formado por pessoas das Humanas ou, se de outras áreas, que trabalhem com o ensino de crianças e adolescentes. Nunca conheci nem vi representantes que não fizessem parte de um desses grupos, mas me corrijam se estiver errado. 

Esses indivíduos não são "modernos" porque não aceitam as grandes narrativas, tudo que já foi tachado de eurocêntrico e grande parte do pensamento ultrametódico a respeito do ser humano; gostam daquela visada geral que tenta agregar problemas supercomplexos em pequenas contradições filosóficas. Foucault é uma leitura obrigatória, mas podem agregar a ele (ou lhe contrabalançar) autores diversos, como Deleuze, Valéry, Barthes, Heidegger, Freud, Guy Debord e, mesmo que não aceitem ou não tenham lido Derrida (como disse, não chegam ao pós-modernismo propriamente, aproveitando pouca coisa do Barthes velho além de masturbação mental ou estética), não resistem a um certo relativismo. A diferença dessa zona pré-pós-moderna é que seu relativismo não chega a igualar tudo sob o mesmo valor. Por influência do senso comum gerado pela obra de Foucault, pensa-se que toda a realidade é construída pelo discurso, mas não se afirma que qualquer cultura seja igualmente aceitável, por mais que se busque entender sempre o olhar daquele eternamente denominado pelo famigerado termo "Outro". Essa negação de que tudo tenha o mesmo valor, no entanto, tende a ser mais teórica que prática.

A maioria desses limites estranhos entre respeito a toda cultura e valorização desigual, entendimento do mundo como discurso e pânico a respeito do sofrimento que as diferentes situações sociais ou culturais provocam (que não podem ser resolvidas pelo simples discurso, indicando que há um mundo lá fora) gera uma grande contradição na fala e na vida dessas pessoas. A familiaridade com o pós-modernismo torna essas contradições ossos do ofício, problemas aceitáveis para alguém que busca encontrar uma teoria-prática que não está pronta, que não pode nunca estar pronta antes da prática, que existe apenas no fazer (nota-se, acertadamente, um Paulo Freire passando por aqui). Ou seja, a contradição não provoca uma reação racional que busque resolvê-la, ela gera prazer.

Talvez esse gozo pela contradição explique um comportamento que tenho presenciado demais entre pessoas desse campo. Por um lado, há a fuga ostensiva e paranoica de todo tipo de critério comum. Quer-se um tratamento tão focado nas diferenças e qualidades de cada um que o termo individualismo talvez seja fraco demais para caracterizar. O que se quer mesmo é que cada um viva sua vida de acordo com todas as suas idiossincrasias, livres para a expressão máxima de si, o que só pode levar a uma utopia, pelo que creem. Por outro lado, uma incapacidade de entender que adultos podem discordar, ter vontades diferentes, não estar interessados, portanto, em seguir cegamente as visões desse grupo de intelectuais. Por isso mesmo, a busca da "felicidade de todos" pode gerar uma resposta autoritária dos mesmos intelectuais, que assumem que toda discórdia a eles é ignorância (mesmo se for verdade, jamais diga que não leste Foucault ou pisarão por cima de qualquer raciocínio teu sem te ouvirem). Estranham ainda que, se impõem sua visão, por caminhos autoritários, geram revolta ou obediência inquieta e desanimada, fraca, ressentida. Ou seja, o "outro" deve ser um sujeito pleno como só uma ficção filosófica pode ser, enquanto aquele que está bem na nossa frente precisa colaborar, concordar ou ser forçado a agir como essa teoria de meio de campo dita. 

Não acho particularmente que a democracia seja a melhor forma de organizar absolutamente todo grupo de trabalho. Pode gerar alguns problemas bem complicados, por exemplo, numa mesa de cirurgia. No entanto, o que estranho nessa postura pró-discurso, libertária, pseudorrelativista e autoritária (!) é que nem é capaz de reconhecer a vontade democrática quando ela cai de maduro na frente de todo o mundo. Na prática com esse pessoal, nem mesmo a colaboração pode nascer da autonomia. A colaboração só ocorre sob o signo unitário da concórdia absoluta. Como nunca se atinge isso, qualquer resultado que surja gera também o nítido mal-estar desse intelectual sincretista. Ou ele sofre com a ação conjunta ou todos os outros sofrem para que ele vença. Não há troca entre indivíduos com vontade própria se se está discordando do senso comum na volta de Foucault.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Steve Jobs - Discurso Stanford completo

Muito além de Rafinha Bastos

Vejam que candidato a censura póstuma, se fosse autor brasileiro:

« Il est permis de violer l’histoire, à condition de lui faire de beaux enfants »

Alexandre Dumas

PS: não se iludam com traduções politicamente-corretas, violar aqui é estuprar mesmo, como indicam as "crianças" da metáfora. Dumas era acusado por seus detratores de estuprar a História, e esta foi a resposta que Dumas arranjou para devolver a escolha de palavras com a consciência limpa de um autor ultrapopular.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Os imorais

Eu adoro como se escreve livros infanto-juvenis e programas educativos alertando sobre riscos de drogas, violências e comportamentos de risco, tudo sempre indicando "para os jovens" tragédias que podem se desenvolver do seu cotidiano, para as quais talvez não estejam preparados... escreve-se sobre tudo isso, mas "não com a intenção de dar lição de moral".

Como assim? Não educam, então? Se estão falando sobre certo e errado (e estão!), indicando o certo, o fato de ser indireto, discreto, não torna menos lição de moral. Mais do que isso, o jovem que ouve a história espera, enxerga e acusa a lição de moral, a menos que concorde (e não esteja afim de incomodar), porque aí seria bem redundante e idiota: "Eu concordo com a lição de moral, mas é uma lição de moral..." - E daí?!

Por que esse medo em educar sobre certo e errado, hein? Eu entendo que aborto e homossexualismo possam ser assuntos complicados para esses termos, mas não dirigir bêbado e não provar drogas pesadas altamente viciantes não o são! Preconceito é um assunto sutil, mas evitar a violência, de qualquer tipo, contra qualquer pessoa, não é nada sutil nem precisa ser. É moral tão flagrante quanto simples e direta: "não violente outra pessoa"!

Se o papinho sobre não dar lição de moral é para evitar a detecção dos jovens, que não querem ser educados, é uma tática muito inocente, que subestima o público-alvo. Se é medo da moral mesma, então menos! Tudo bem dizer para adolescentes não se matarem. Todo o mundo concorda que é um fim construtivo. Não precisa ter vergonha de falar no que "é certo". Calma...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Capitalismo nosso de cada dia

Que feio, Pelé... tu assim, competindo?!


Na ânsia de ditar a única ordem possível e fundá-la na natureza humana, defensores cotidianos do capitalismo (e alguns teóricos) buscaram a todo custo identificar (literalmente) esse sistema e a competitividade, a meritocracia, o esforço individual e a relação entre egocêntricos que se aliam pelo próprio bem e terminam por gerar o bem de ambas as partes.

Perdidos em palavras de ordem, uma série de iconoclastas da boca para fora, revoltados sempre com a palavra "capitalismo", acreditaram na associação íntima, essencial e absoluta entre essas forças e esse sistema econômico. Sempre que lhes é útil, ou sempre que se cai em alguma situação previamente cunhada, qualquer competitividade ou esforço individual pode ser tachado de "capitalista" e desmerecido automaticamente por isso. Nem mesmo o esporte poderia resistir a isso, creio, apesar de que essas pessoas precisariam de alguém que lhes apontasse para o fato de que um nadador se esforça individualmente contra todos os outros a fim de vencer um prêmio em dinheiro. Isso pode muito bem não resumir o esporte, mas seria suficiente para evocar o clássico "Nossa, que coisa horrível isso, né?" que aparece frente às práticas "capitalistas" do ser humano.

Como dito, porém, essa associação pejorativa com a palavra tabu tende a ser feita quando a competitividade se encontra onde não a querem. Cai-se no mesmo problema que em qualquer situação de preconceito com objeto: como circundar um tabu para que se possa lidar honestamente com o problema?

domingo, 2 de outubro de 2011

Cozinha para sobreviventes

Cozinhar pode ser uma arte, mas isso também significa que pode ser rebaixada a artesanato, no sentido mais antigo e chão da palavra. Aquela prática de poucas variáveis com fins abertamente utilitários (ou seja, o artesanato que não se quer arte, como agora se usa muito a palavra).

A cozinha como arte grosseira tem apenas 3 princípios. 

  1. Não deixa colar no fundo
  2. Põe mais água
  3. Põe mais sal

Todas as ações não indicadas nesses três princípios são ditadas pelo senso comum, pelo reflexo ou pela capacidade de raciocínio do sujeito que enfrenta o dilema de cozinhar o próprio alimento. O alcance desses três princípios quase me decepciona. O quanto eles podem ajudar em situações de acidente ou erro tira um pouco a mágica que a ignorância me garantia.

Imagino que quem mais sobreviva com base apenas nesses princípios seja um homem, já que a técnica de cozinhar é tradicionalmente passada apenas para as mulheres nas famílias humanas. Nós, brasileiros, fazemos parte deste povo herege em que a técnica não é propriamente secreta, restrita a elas, mas, mesmo assim, são elas que quase infalivelmente recebem algum treinamento.

Deixo a dica então para os outros homens que venham a se aventurar nesse terreno: ajuda ter acumulado algum conhecimento prévio. Saber preparar ovo (cozido e frito), batata frita, arroz, bife e massa - veja bem, estou considerando noções básicas e genéricas dessas preparações - pode ajudar muito a calibrar as três regras fundamentais. Por outro lado, tenho certeza de que alguém que não saiba fazer nenhum destes e não possa pedir comida para ninguém (por dinheiro, sexo ou amizade) comerá a própria gororoba sem grandes problemas. Se não servir para o paladar, servirá ao menos para restringir-se na alimentação e estar morrendo de fome quando alguma mulher e/ou profissional lhe oferecer qualquer tipo de alimento. A gana com que então te atracarás na comida alheia tenderá a valer como elogio, o que sempre poderá te gerar bons frutos.

Saúde e boa sorte.