sábado, 30 de outubro de 2010

Desenvolvimento nacional

É sinal de maturação política quando os temas se tornam supra-partidários. A censura hoje, por exemplo, não tem dono.

:(

Dividir o serviço dispersa a culpa

Depois de derrubar um monte de caixas de leite, uma das quais estourou no chão do supermercado, a mulher foi ajudada por um casal que passava. Conforme não tinha muito que eles pudessem fazer mais além de deixar para o pessoal com material de limpeza, o casal foi seguindo seu caminho, no que a ajudada aproveitou para agradecer:

- Obrigada... pelo apoio moral.

Porque fazer coisas erradas não é nada, desde que se relaxe a consciência com o reforço de que "acidentes acontecem", e poucas coisas têm tanto esse efeito quanto alguém vir dividir a limpeza da bagunça com a gente.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Trabalho em grupo sincero

- Mas uns não vieram, e o Fulano e o Ciclano não ajudaram nada [verdade].
- [Cansado] Faz o seguinte, coloca o nome de quem te ajudar no trabalho depois.
- Tá legal. "Minha mãe. Meu pai"...

Intolerância estética

Desde que mudei o design do blog eu pensava em ciclar um pouco pelos visuais de que mais gostei. Nunca tinha feito isso até hoje, em que mexi um tanto testando uma possibilidade, outra, e correndo a página... Até que me decidi por um determinado formato e apliquei. Entre as mexidas e a aplicação, perdi um seguidor! Ficou na formatação antiga?

Limpando a roupa com tradição

Muita gente falou mal do Novo Acordo Ortográfico, muitos resistiram e reclamaram da perda do trema, em especial, mas poucas pessoas tiveram a coragem e a ousadia de levar essa rebeldia para além até mesmo do português. Raro, diria até ignorado, resiste brava e arrojadamente o dono da Lavagem Qüeen.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Suprimindo os candidatos

Existem pessoas que anulam o voto para se esquivar da difícil arte de decorar números ou de levar cola para a eleição. Existem outras, que me parecem mais numerosas, que anulam o voto para ter o orgulho de dizer aos quatro ventos que o fizeram, como uma marca de que os políticos não as infectaram, que elas estão limpas dessa sujeira toda. Desconsidero o primeiro caso considero o segundo público demais, focado efetivamente num interesse social imediato de suas relações mais do que num interesse político amplo.

Os motivos políticos que conheço para alguém votar nulo são basicamente o romântico boicote que realmente espera que número suficiente de eleitores anulem o voto e comprem, com isso, uma nova campanha política (qual seria a vantagem?) ou a sincera opinião de que nenhum dos concorrentes merece seu voto, e nenhum é melhor que o outro. 

Agora, como esses dois redundam um no outro, e nenhum deles leva a lugar nenhum, pois ou um dos concorrentes ganha de qualquer forma ou se revisa algo que não será tão diferente assim quando estiver novamente estruturado, parece-me que, na verdade, a única solução e o sentido íntimo de se anular um voto não é anular a si, mas aos candidatos. O que quem anula quer, na verdade, é suprimi-los, acabar com sua existência como candidatos (o que, em geral, dependeria de se anular a própria vida dos concorrentes). Tenho a impressão, por isso, que quem vota nulo faz o exato oposto do que secretamente quer. Em vez de sumir com o político filho da puta que tanto odeia, some consigo. Não estou dizendo, de forma alguma, que não seja uma opção válida, já que sumir consigo é democrático e sumir com o candidato só é efetivo se for assassinato ou revolução (o que envolve alguns assassinatos), e pessoas que anulam o voto não parecem acreditar muito em nenhum dos dois, menos ainda no segundo que no primeiro.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Conquistador barato

Hoje minha namorada chegou no ap segurando uma folha que encontrara na caixa de correios. Nela, uma notícia mal xerocada e sem referência de fonte falava simplesmente que o Serra tinha recebido apoio de apoiadores e cumprimentara eleitores ao lado de Ana Amélia (Bleh!). Agora, na base da folha havia um texto (ou aquilo que os piores alunos de uma quinta-série assim chamariam), escrito à mão, tentando expressar indignação contra PT, Dilma, Lula e toda aquela coisa de campanha. Bom, no fim do "texto" chegava-se às qualidades do Serra: 

"Limpinho há 52 anos. Bem-casado. Experiente." 

Em primeiro lugar achei que o recado continuaria com "procura amante de 25 que saiba cozinhar - é ótimo na cama ('experiente')", mas em seguida me toquei que a falta desse complemento não era o pior. O ruim mesmo era esse cara com tamanhas qualidades entregando recadinhos na caixa de correios de minha namorada! Como assim, Cara-pálida?! Assim não dá pra levar voto a sério, o sujeito oferecendo todo esse charme, e só por um voto...

Profissão Perigo

"Eu respeito muito o trabalho de vocês [professores]. Eu era professora de pequenos e simplesmente não aguentei. Prefiro hoje ganhar menos para limpar a escola e não me incomodar."
Faxineira da escola

Twittado e replicado

"Não brique com seu amigo por política. Depois da eleição, os políticos se entendem e você perdeu o amigo."

Alon Feuerwerker, jornalista - @AlonFe

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Outro post roubado

Eu ia falar sobre essa coisa de desculpar os candidatos de uma eleição por santinhos "apócrifos" (como se houvesse uma pá de brasileiros superpolitizados, temendo botar a cara a tapa por medo de algum coronel em plena São Paulo ou outra metrópole e sempre com uma gráfica nos fundos), mas a Polícia Federal foi lá e coletou provas, a Isto É passou à minha frente estampando na capa, e o post morre apenas neste registro de intenção... Ah, a matéria é interessante, se não deram uma olhada!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Tu é meu empregado!"

A pregação constante de que tudo, material ou imaterial, pode ser comprado pelo dinheiro causa uma ilusão que, parando para pensar, seria mais de se esperar numa sociedade que vivesse do escambo: a imagem de que tudo é intercambiável, ou seja, de que dois produtos comprados pelo mesmo preço podem, em algum sentido, equivaler um ao outro. Ainda que a compra de um celular possa custar o mesmo que um cacho de bananas, parece-me que o primeiro não alimenta e o segundo não pode mudar de operadora. 

Como o preço de nada brota de alguma característica intrínseca da coisa, mas sim das relações que o produto tem com o mercado, acho bastante natural que o Marx estranhasse tanto que pessoas acreditassem que o preço fosse mesmo o "valor" (de uso) de um objeto, a ponto de ele ficar encafifado o suficiente para escrever um texto do tamanho d'O Capital, mas não me parece natural que a mesma ilusão siga tão importante hoje que permaneça indo além do problema da compra e se estenda às relações humanas. Não que, em outros sentidos, estas sejam um exemplo de racionalidade e proporção, mas não é bizarra a leitura que se faz dos empregos em geral, em que se supõe um possível nível de igualamento transcendente?

Que digo? Que as comparações usuais entre profissões ("se fosse eu, no meu emprego, não podia fazer isso e aquilo que o Fulano - de outra profissão - está fazendo comigo) pressupõem que elas sejam, em algum sentido, intercambiáveis. A comparação pode ser meramente didática e encontrar pontos em comum, mas às vezes se segue a intuição de que, como a banana poderia equivaler ao celular, dois pediatras fazem um otorrino (supondo que o salário dos primeiros seja metade do segundo). O que acho realmente estranho é que, em geral, não apenas o serviço prestado, mas uma infinidade de relações da própria profissão diferenciam-na tanto das outras que seria de se supor que qualquer adulto empregado enxergasse o quanto o seu trabalho é diferente dos outros. Se meu emprego me rende certos riscos de vida, não teria por que pensar que o trabalho de outra pessoa, que não envolve risco específico algum, não gere outro tipo de ética, outro tipo mesmo de profissionalismo. E ainda que seja louvável pensar que todo o mundo deveria ser preciso como um (bom) neurocirurgião, pontual como um (bom) motorista público alemão e responsável como um (bom) piloto espacial, pouco do que aprendemos sobre nossa raça poderia levar a tamanha ingenuidade. 

Às vezes eu costumo dizer que seria bom se análise literária tivesse de manter um prédio em pé, para cortar uma série de babaquices infantis que viram trabalhos acadêmicos, mas uma coisa é desabafar algo do tipo e outra coisa é achar que a possibilidade de se ser um aventureiro irresponsável na filosofia da arte (tecnicamente, de uma responsabilidade diferente) não renda lucros a essa área que efetivamente fariam falta se prédios dependessem de nossas teorizações para resistir ao vento. É bom falar coisa com coisa, mas estudar Letras e Engenharia não se equivalem em medidas realistas. Dois professores de Literatura Latina Antiga não equivalem a um engenheiro civil e meio, em nenhum sentido, e cada uma das necessidades dessas áreas trazem vantagens e desvantagens a elas, e por isso mesmo éticas profissionais diferentes.

De tudo isso, porém, o pior é a imagem de empregador que se expressa diariamente quando se usa a frase "Tu é meu empregado" contra profissionais públicos (ou professores privados). Em primeiro lugar, o sujeito acha que todos os empregos são iguais, pois ser "empregado" é usado aí em sentido absolutamente universal. Em segundo, tem-se em mente o "emprego fundamental", infinitamente da base de todos os empregos, pois se tenta tratar, com essa frase, qualquer um como um escravo (um "fundo" das profissões, 1 escravo = carvoeiro, 2 escravos = Bolsa-Família - digamos). Em terceríssimo lugar, confunde-se relação de emprego público com (uma bem abusiva) de emprego privado, pois se pensa que quem trabalha para o Estado é o servo particular de todo mundo (sim, a antítese foi proposital). A mesma confusão se dá, aliás, com propriedade pública, pois se posso quebrar o meu celular (já que é MEU, só MEU), por que não poderia quebrar o desta repartição pública (já que o dinheiro dos MEUS impostos "está pagando por aquele telefone")? Ora, o "capitalista" que essa gente imagina dispõe de seu empregado como bem quiser, e só porque paga o salário do cara. Bem, se "meu imposto paga o salário do cara"... 

Tal clichê social nunca parece encontrar alguma frase-irmã que lembrasse às pessoas que seus impostos dependem da colaboração de todos os outros cidadãos e da mediação de profissionais públicos competentes para que algum Estado funcione. Mais alienígena ainda seria lembrá-los de que ser cidadão envolve não apenas direitos, mas deveres, de modo que um funcionário público poderia sim, muito bem, ter de incomodá-los insistindo com determinadas exigências se isso for fundamental para o seu trabalho, o qual tem por fim o bem comum dos cidadãos, o que não é dizer o mesmo que "o bem de cada cidadão, em especial o do que está na minha frente". Pode-se apelar até para o exemplo do professor público, que é contratado pelo Estado para fazer coisas que desagradam não apenas aos alunos, mas, muitas vezes, até aos pais desses alunos. E, contrariando a relação público = privado, o gari não é o faxineiro de ninguém. Além de tudo isso, nem toda variação ética entre a profissão do esparrento cidadão e a do servidor público justifica que este seja desrespeitado, ainda que não se deva aceitar falta de profissionalismo (específico) de ninguém - como disse antes, não estou desconsiderando que certa analogia seja impossível, em determinadas questões, e sei que experiências prévias com funcionários públicos podem nos indispor a priori.

Enfim, a frase-mote deste post envolve alguns preconceitos e algumas confusões preocupantes que, pior ainda, acumulam-se sinergicamente, de forma que acho difícil encontrar o pior aspecto da coisa, mas o problema da confusão do público com uma espécie de privado me parece bem grave, pois tanto indica a dificuldade geral de se pensar o Estado quanto abre portas para que a ilusão do valor de mercado se aplique ao humano, permitindo que se passe diariamente da banana ao otorrino... e a outras confusões desastrosas.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A mágica desconexão entre campanha e mundo real

"A minha tia trabalha fazendo campanha para o Serra, mas ela vai mesmo é votar na Dilma. Ela diz que ela pega o dinheiro dele, trabalhando na campanha, mas que quer é que a Dilma ganhe, por isso vai votar nela."

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nas cotas dos outros

Arrisquei hoje no almoço utilizar entre 6 debatedores um argumento contra as cotas raciais que uso apenas se estiver conversando só com uma pessoa. Na verdade, é sobre o conceito de "dívida histórica", mas ele se desdobra numa crítica maior às próprias cotas. 

Não uso o argumento em debates grupais pela extrema facilidade com que termos que utilizo, como "metafísico", poderiam ser imediatamente mal-interpretados e causarem reações de horror, além de críticas violentas por pelo menos dois minutos, até que eu conseguisse acalmar os ânimos e fazer com que escutassem o que eu estaria efetivamente dizendo, negando as pressuposições sobre o que imaginariam que eu estava dizendo. Como é infinitamente mais comum que uma pessoa esteja disposta a escutar que 2 ou mais, especialmente se se está a todo momento competindo pelo turno da fala e pelo argumento mais poderoso, sempre imaginei que minha crítica não veria jamais o dia de se arriscar ao apedrejamento da discussão acalorada de um grupo. No entanto, hoje arrisquei, talvez por estar muito confortável na conversa. A reação foi aquele alvoroço, incluindo o equivalente étnico de "tu fala isso porque não é contigo" (com o pressuposto de que a escravidão É, não FOI - ops, já me arrisco a mal-entendidos, fiquemos por aqui na questão).

Bom, o argumento funcionou, acabei fazendo com que entendessem as falhas que eu queria expressar no raciocínio de "dívida histórica", mas eu estava discutindo cotas na Dificuldade 1, ou seja, a negra e a mulata presentes estavam do meu lado do debate. Talvez seja a hora de aumentar o nível de dificuldade.

Comemoração à parte, no meio da conversa uma das minhas amigas acrescentou um comentário interessante (partindo da questão de as cotas serem afirmadas como "políticas provisórias"): minha amiga foi das pessoas que cadastrou a primeira leva de porto-alegrenses para o Bolsa-Escola. Nesse cadastro, estava claro e explícito que o programa era provisório. As transformações que os programas sociais sofreram até virarem o Bolsa-Família (que os dois proto-presidentes pretendem manter e defender, é claro) fizeram com que essa "provisoriedade" nunca pudesse se realizar, pois há novos e novos cadastros em novos e novos programas. Os novos programas evitam a dissolução dessa "solução social", e a promessa de décimo-terceiro para os beneficiados apenas comprova que a política "provisória" acabou efetivada.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Competitividade escolar

- Eu fui a primeira a ir na escola de jeans.
- Não foi não.
- Claro que fui!
- Não foi. A Janquiele foi antes.
- Eu fui antes da Janquiele, a gente foi no mesmo dia.
- Foi nada.
- Fui. Fui eu, a Janquiele e a Pops.
- Ai, a Pops não existe. Não conta a Pops que a Pops não existe.
- Eu fui a primeira.
- Espera. Larga meu braço que eu preciso fazer o sinal da cruz.
- Onde?
- A igreja tá ali ó. Tá quase... tá quase... tá quase... [sinal da cruz]
- Tu faz errado!
- O quê?
- Tu faz o sinal da cruz errado!
- Eu não.
- Tu faz assim, é assim...
- Ãe, que tu  faz errado. Eu faço certo.
- Não faço não.
- Faz sim!
...

sábado, 16 de outubro de 2010

Processo eleitoral pelo ralo

A discussão religiosa, nessa forma forçada para dominar o segundo turno, não acrescenta à política porque colocar Deus na roda e não querer que os candidatos passem a se portar hipocritamente (não há outra forma) como santos é desconhecer religiosos, políticos, ou ambos.

PS: Sim, estou sendo politicamente incorreto aqui. E os religiosos com a cabeça no lugar tenham consciência de que a minoria fundamentalista (ainda que em um ou dois quesitos) ainda é gente demais para ser ignorada pela publicidade eleitoral.

Pillars of the Earth

"Politics is a bargain between beggars"

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vivendo a minoria com inclusão

Um dos problemas de se seguir em uma profissão em que as mulheres ainda representam a maioria e que é simbolicamente associada quase que só a mulheres é que podemos receber, no Dia do Professor (o mais ovacionado que eu já vi, o que houve?!), proto-spam de alguma amiga com as palavras "Amiga, feliz dia dos profes", seguidas de alguns outros nomes no feminino. Reconheci, é claro, como retórica refratada, porém sincera. Então... Valeu! ;)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Bobagem do Serra

Eu assisto o mínimo de propaganda eleitoral obrigatória gratuita. Tanto sou dos raros hereges que efetivamente não assistem TV quanto não compro nenhum produto pela propaganda, nem políticos. Mas, acidentes acontecem, e hoje peguei a fala inicial do horário obrigatório do Serra em alguma TV por aí. E escutei ele falando que, entre as mil maravilhas que promete fazer, não vai "gastar em bobagens". Ora, toda frase de programa eleitoral é obviamente uma alfinetada no candidato opositor e no governo atual, só que eu fiquei completamente perdido, sem referente. Nada me ocorreu que encaixasse naquela expressão. Então, apesar de as pessoas não comentarem nem responderem nada do que eu pergunto aqui no blog, resolvi tentar de novo e deixar aqui o pedido de ajuda: de que diabos o Serra tá falando??? Com que "bobagem" o Lula teria gastado dinheiro (a frase dele incluía corrupção e coisas do tipo, então entendo que não era isso o que ele queria dizer com "bobagem")?

Réquiem ateu para o debate

Ou "relativismo na eleição".







...



AND ALL STARTED WITH THE BIG BANG!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Já que ninguém lê...

Nosso país de analfabetismo funcional e rubricas em documentos não lidos vai de vento em popa. Por exemplo, o Garotinho, ainda que apoiasse a Dilma no primeiro turno, só resolveu dar uma lida no PNDH 3 agora, pelo jeito. Já que tinha gente dizendo que não votava em quem apoia o aborto (e isso parecia ter alguma relação com o documento), eis que o Garotinho foi conferir, e achou no Plano Nacional um "apoio ao aborto" e uma tal de "legalização da prostituição". Ficou chocado! Ficou querendo, aos 45 do segundo tempo, que o PNDH seja reescrito ou ele não apoia a candidata do Lula. Tomara que não surja nenhum escândalo sobre o Antigo Testamento, ou nosso caro evangélico vai pensar, finalmente, em ler a Bíblia.

Da campanha "Não tenha medo do dicionário"

Tenho pelo menos duas alunas que dão indícios de não saberem a diferença entre "candidato" e "eleitor". Considerando que não se trata de uma postura crítica nem filosófica da parte delas, o que se salva disso me parece ser apenas que, se isso é verdade, pelo menos estou diagnosticando antes de elas terem 16! Porém, proponho uma pesquisa a respeito, para o IBGE, em toda a população.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pedagogia para o futuro

"Eu dou zero para quem cola, mas coloco ponto negativo para quem cola de forma explícita. Já pensou? Como vou arriscar que entre no mercado uma pessoa que não sabe mentir?"

sábado, 9 de outubro de 2010

Poder de síntese

Manchete do Correio do Povo de 9 de outubro:

"Dilma defende a vida e Serra diz que é experiente"

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Do aborto

Eu fiz um post sobre o comentário de Luiz Bassuma, Nunca poderemos dar ao estado o poder de matar!", em que critiquei tal expressão moralista como retoricamente vazia, porque o Estado tem o poder de matar e funciona, em grande parte, pelo domínio desse mesmo poder, em detrimento do poder dos cidadãos de matar. Ele falou isso discutindo o aborto, atual mania do horário eleitoral, então achei que o post poderia dar a impressão de que defendo a posição radical de que o SUS deveria fazer todo e qualquer aborto, desde que a mulher peça, só que eu não defendo isso. Como fui interpretado assim, ainda bem que a Leo teve coragem de não só criticar meu blog pelo monitor e virar a cara, mas efetivamente comentar no post falando contra a proposta que tramitou como proto-posição de campanha, até ser derrubada definitivamente pela que existe agora no PT: a Dilma tem as opiniões pessoais dela, mas o partido seria contra. Graças a isso, resolvi fazer este post esclarecendo umas coisinhas.

Como disse, eu estava criticando a forma como Luiz Bassuma apresentava a questão, que me parecia simplesmente irreal. Se o Estado pode matar um criminoso, um assaltante, ou quem seja, o Estado pode matar. Que esse poder não justifica diretamente que ele mate um feto, eu concordo, mas eu não estava dizendo que o Estado deveria poder matar um feto, apenas que, se pararmos para pensar na situação atual, ele tem exatamente esse poder. 

Se só um órgão do governo pode dizer quem tem o direito ao aborto, nossa situação atual, então o Estado tem o poder de matar durante a gestação, e esse poder seria do cidadão se uma nova lei liberasse aberta e indiscriminadamente o aborto, desde que feito com dinheiro público. Liberar o aborto e não bancar é o mesmo que discriminar por classe, porque a cirurgia, para ser bem feita, custa dinheiro. Não me parece que ninguém acredite que o aborto não seja prática de gente com grana (não estou nem falando dos propriamente podres de ricos) atualmente, o que significa também que liberar e não pagar com dinheiro público é mais ou menos manter as coisas como estão, apenas barateando um pouco o processo para quem já consegue pagar. 

Por outro lado, se a liberação barateasse muito, o aborto se tornaria exatamente aquilo que a Leo comentou como resultado da liberação no SUS: ele viraria "método anti-concepcional" no sentido mais cotidiano do termo. Bom, ele efetivamente funciona assim para quem pode pagar. E se o "pobre" não tem a desculpa de não ter usado camisinha, de não ter tomado pílula, ou seja lá o que for, o "rico" tem? Existe um caminho tortuoso de argumentação que pode seguir daí, mas não vou usá-lo porque acho que a questão, posta por aí, está errada. Discute-se a partir da lei atual, e a realidade, como bem disse a Heloísa Helena, é usada apenas como argumento para defender a liberação geral no SUS. Ou seja, a argumentação pula de lei para lei, usando a realidade como um dado que não poderia receber outro tipo de tratamento ou solução. Pois bem, eu gostaria que a coisa toda fosse lida de realidade para realidade, tratando a lei apenas como trâmite entre esses dois momentos. Como as coisas são e estão? Quais os reflexos sociais da nova lei, se fosse implementada em sua forma mais literal? Quantos abortos são feitos e quantos efetivamente seriam feitos?  Qual a relação entre o custo das novas operações e os gastos públicos com as mortes ou malefícios resultantes dos abortos feitos em casa por mulheres que não querem seus filhos, mas não podem pagar por uma cirurgia? Quantos casos de aborto (por estimativa) não são relatados à polícia (por todos os motivos que imaginamos e por quantos mais não podemos nem supor), e quais as consequências disso para essas mães, e para as crianças? Que políticas públicas poderiam ou deveriam mudar, caso a regra fosse alterada? Quais os problemas da atual legislação, problemas reais, práticos, que justificam sua alteração? Seria possível uma meia-alteração, sem reprisar a situação atual, como eu disse acima? 

A nova lei tem cara, para mim, de uma sublimação da vontade de tantos governantes de simplesmente trancar a reprodução na marra. Não vamos cortar o barato de todo mundo nem impor números de filhos, o que não seria condizente com a imagem do político legal, vamos deixar que eles mesmos matem quantos filhos quiserem, desde que antes do nascimento. Bom, se essa é a intenção, então vamos discuti-la, e renegar, se for o caso, isso ou suas variantes. Mas que se discutissem consequências e problemas reais. Não entrar com platonismos a respeito do valor da vida em relação ao Estado, ou meter Deus na história. Óbvio que o Ser Supremo vai entrar na conversa, mas que não se fique nisso, nem se romantize o que o Estado quer com a gente.

Para registro: por essas e outras, eu não tenho uma opinião fechada a respeito do aborto. Considero o tema absolutamente espinhoso e complicado, de modo que não acho nada tão firme nem a favor nem contra a prática, em todos os pormenores por que se desdobra. Eu não consigo nem expressar bem, acredito, exatamente quais as minhas críticas a essa questão toda de debater a liberação no SUS. Por isso, não posso defender as propostas do PT a esse respeito, mas não conheço tantos argumentos contra, já que poucos querem discutir a questão de verdade, a sério (não estou falando do teu comentário, Leo, mas, como era o caso, do Bassuma ou do programa eleitoral do Serra). Só o que interessa agora é qual opinião dá mais votos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Para que ameaçar a liberdade às claras?

"A imprensa no Brasil é livre, o que não significa que é boa". Estas são as palavras, conforme a Folha de São Paulo, do ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação). Eles não esmiúçam, é claro, o contexto, mas imagino que tenham destacado a frase assim para soar o pior possível. De que ele estava falando? Da regulamentação dos meios de comunicação, que segue ainda hoje regras estabelecidas em 1962.

A frase é triste particularmente na associação (falsamente) lógica que implica. Ser livre não significa "boa", mas é importante que se frise, ao se dizer algo do tipo, que "não-livre" significa sempre "muito pior". A frase pode querer dizer "já somos livres, mas vamos regulamentar melhor para aproveitar essa liberdade da melhor forma, não da pior", mas também pode querer indicar alguma relação entre liberdade e qualidade que levaria certas pessoas a pensar que justamente a arrumação dessa qualidade dependeria de uma mudança naquele status "livre" da imprensa. O complicado é saber onde está o problema: em Franklin, querendo implicar que um cerceamento da imprensa poderia vir a ajudar o Brasil, ou na Folha, que conjurou esse fantasma para polemizar as medidas da secretaria ao mesmo tempo em que gerava um frio na espinha nacional, como uma espécie de sensacionalismo intelectualmente direcionado. Minha aposta iria na segunda opção, mas como saber?

O Estado não mata quem?

Talvez existam linhas que defendam que não é característico do Estado, tal como o conhecemos na Europa e nos países colonizados por ela, implantar o monopólio da violência. Por exemplo, é proibido no Brasil, seja lá por que termos queiram, matar outra pessoa. Existe o caso da legítima defesa, mas ela existe como exceção bem estabelecida, em parte porque nossa sociedade não despreza o assassinato tanto quanto professa, então fazer uma lei que proíba 100% dos assassinatos seria romantismo demais até para a demagogia política. De qualquer forma, mesmo com essa exceção aberta, particularmente útil para defender aquelas pessoas que juízes não vão querer colocar atrás das grades, a posição default do Estado é a de que tirar a vida é crime. Ainda assim, todos conhecemos duas instituições, classicamente chamadas de polícia e exército, que andam para cima e para baixo com armas e que são treinadas em diversos tipos de violência. Parece-me então que, se alguma teoria nega que o governo queira o direito da violência só para si, deve ter uns argumentos bem interessantes e inusitados.

Ok. Agora, essa gente armada está preparada e treinada para defender o cidadão. Defender o cidadão de quem? Inevitavelmente, de outros cidadãos (o exército pode se preocupar com estrangeiros muitas vezes, mas parece-me que esse problema é muito raro no Brasil, a não ser, talvez, na Amazônia, ou no Pantanal, por questões que não vêm ao caso agora). E armas servem para quê? Dar beliscão? Ou matar? Um tiro na perna não mata? Às vezes sim. E quando o policial acerta na perna? Quando o militar não atira para matar? Quantas vezes consegue fazer esse belo tiro? Imagino que as pessoas ainda lembrem daquele franco-atirador que foi louvado em mil noticiários há alguns meses porque deu um tiro certeiro no crânio de um cara que segurava uma mulher refém com a arma grudada no pescoço da moça. Nesse caso, o tiro "perfeito" foi matar o criminoso sem que este matasse a refém por reflexo resultante do tiro.

Por questões históricas, não é coincidência que a antiga posição política da Igreja, na Europa, sirva de analogia para explicar como nosso Estado se posiciona em relação à violência. O "não matarás" foi argumentado em segmentos na Igreja, particularmente os que defendiam as Cruzadas, exatamente como domínio e direcionamento da violência. Se é para matar, é preciso que se ataque aqueles a quem a Igreja também quer mortos ou derrotados. Matar estes, aliás, até mesmo salva a alma. O Estado não quer que ninguém que paga seus impostos seja morto, a menos que o sujeito esteja atrapalhando o próprio Estado, e, nesse caso, o assassino ganha até uma medalha (a alma talvez valesse mais, mas lembremos que nosso Estado flerta com a ideia de ser laico).

Daí que, ok, o aborto levanta mil questões éticas, mas “Nunca poderemos dar ao estado o poder de matar!" não é uma delas. Tê-lo é fundamental ao próprio conceito de Estado que exercitamos todo dia. E, não em teoria, na prática, a maioria dos cidadãos concordam com esse conceito, em sua fala e/ou em seus atos. Muitos, aliás, desejam-no ainda mais violento. Para seguir a crítica de Luiz Bassuma, seria preciso parar o mundo neste segundo e fazer a revolução política mais radical da História.


...


Olha só. A revolução não aconteceu... O Estado segue tendo o poder de matar e desejando mantê-lo. Por exemplo, hoje em dia, quem monopoliza o poder de decidir quem pode ou não matar seu feto é o Estado. O argumento de Luiz, propenso a um curto-circuito retórico ao tocar na realidade, serve contra ele próprio.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aprendendo didática com o marketing

Este prêmio de um milhão de reais com certeza vai transformar a sua vida financeira para melhor.

Ressaca Nacional

Agora muita gente já foi embora, até mesmo alguns dos anfitriões, comemorando vitórias ou chorando leite derramado. E os convidados que restam acham melhor não sair ainda, mas não param de reclamar: "essa 'festa' não acaba não?"

sábado, 2 de outubro de 2010

Português, o Terrível

Buscava uma informação relacionada a aulas de português na internet, apenas para dar uma chance a esta mídia que tão mal me serve, e eis que surge o seguinte link no Google: 

Período Composto - Parte 3

Não é para as pessoas terem medo dessa matéria mesmo?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Rindo no Congresso

Eu falo mal demais da imprensa neste blog. Chegou a hora de registrar um elogio. Eu adorei esta capa:


Em especial, porque se trata de uma capa ao mesmo tempo humorística em vários sentidos e, mesmo assim, não pode ser censurada pela lei contra o humor com a imagem dos candidatos. Por esta e por outras, ótima!