segunda-feira, 19 de julho de 2010

Vice cheirando à fralda

O problema de arranjar-se um vice que é um guri de apartamento é que... ele é um guri de apartamento. Entre pedir votos pelo twitter e "xingar" a Dilma de ateia, o Indio já deve ter feito o Serra se arrepender redondamente de não ter chantageado seu partido a aceitar o vice que ele queria ameaçando simplesmente não concorrer à presidência desta vez. Usar ateísmo como chaga ideológica é particularmente baixo, digno de campanha para diretora de escola. Sendo já multado pelo uso do twitter, o esperto tenta apelar para a acusação séria e nunca comprovada da ligação entre PT e FARC (sim, é bem sabido de seu anterior contato; do meu ponto de vista, Indio indica uma conexão mais estrutural, íntima e atual [alteração minha em resposta]). Pelo jeito ninguém explicou que os políticos precisam seguir algumas leis, pelo menos durante a campanha, que escrever no twitter e fazer declarações contra o governo mudam de peso quando se é candidato à vice-presidente, que sua nova posição não lhe permite mais fazer críticas irresponsáveis como quem escreve um blog pessoal.

O PSDB já puxou a orelha dele, mas de que vai adiantar, se o processo do PT contra o Indio não andar a contento? Campanhas sempre parecem futebol nessa área, não? As faltas, de punições que manteriam os jogadores na linha, passam a fazer parte da estratégia. Entre levar um gol e correr o risco de um cartão amarelo, melhor o cartão. Entre correr o risco de perder um ponto na pesquisa e pagar uma micharia de multa... Não sei se os primeiros a serem multados foram os do PT, acho que sim, mas parece que o PSDB sofre de um mal crônico, mímese de golpe baixo: se eles trocaram de programa, a gente troca; se fizeram campanha antecipada, a gente faz. O PT usa a falta como tática de jogo e o PSDB, depois do comentário moralista, vai logo atrás. Ou será que é apenas uma concordância de estilo entre DEM e PSDB? Pelo jeito, a menos que a puxada de orelha tenha sido só para manter as aparências. Se não, Márcio Aith vai precisar estar sempre com sua bola de cristal, prevendo os impulsos irresponsáveis de um... guri de apartamento.

4 comentários:

Clark disse...

Primeiro, a questão do ateísmo não foi levantada por Índio. Têm se falado sobre isso há meses. E a questão não tem sido ela ser atéia, mas ela se dizer "atéia" para um público e se dizer "católica" para outro. Ou, dito de outra forma: em questão de semanas, ela se converteu de um ateísmo convicto para um catolicismo "desde-criancinha".

As perguntas “qual é a verdade?", “essa conversão é só por causa da eleição?” são legítimas. Qual o problema de se discutir isso? Ou: qual o problema que leva Dilma a mudar de visão religiosa tão facilmente? O Brasil elegeu DUAS vezes seguidas, ambos no primeiro turno, um presidente ateu, porque achou que ele tinha méritos para fazer isso.

Eu tenho formação evangélica, mas prefiria até votar em um ateu sem propostas do que num evangélico sem propostas — e é por isso que tenho uma má vontada, talvez até excessiva, com Marina Silva.

Eu acho a sinceridade importante: Dilma era atéia até abril. De abril para cá, ela se tornou católica, apostólica românica fervorosa. Qual é a verdade?

Clark disse...

Segundo, a ligação do PT com as FARCs é menos do que uma acusação. É algo reconhecido nos documentos oficiais do PT há anos. E motivo de orgulho para eles. Eles sempre disseram que acham ilegítimo é o governo oficial colombiano, eleito pelo voto.

Agora o PT quer processar Índio. Por que nunca processou ou soltou uma nota de repúdio ao líder das FARCs, que sempre exatamente o mesmo que Índio?

Tigre disse...

Ah, ok. Não foi assim que eu vi a questão do ateísmo noticiada... MESMO.

O problema da associação do PT com as FARCs é de história do partido. Quem atualmente tem ligação com elas? Como isso marcou ou não o pessoal (atual) da Dilma? Quem no PT se orgulha de alguma ligação com as FARCs? Infelizmente, e isso eu acho realmente ruim, o PT é um mundo à parte, particularmente se se considera o partido há anos atrás. Essa afirmação não é tão simples de se fazer quanto exige um discurso de campanha, daí o que ele disse ficar muito ruim para ele próprio, mais do que para o PT, a menos que já não se considere votar no PT, ou seja, a menos que ele estivesse falando apenas para eleitores que já são voto vencido. Mas, nesse caso, ele não sabe que está em campanha, quando tudo que é dito é válido apenas para ganhar voto (ou reforçar os duvidosos).

E eles estão competindo com o Indio, não com as FARCs, certo? Eu nunca disse no post que os petistas tinham moral para processar ninguém nem que estava certo que eles não lutassem contra as FARCs, apenas que esse processo contra o Indio não andar, caso não ande, ajuda a campanha a ser os puxões de cabelo que está sendo agora, e nada minimamente inteligente ou construtivo. Eu, por exemplo, não voto só porque alguém ganhou uma catfight. Não vejo motivo para aceitar uma campanha assim, e era esse meu ponto a respeito da afirmação de Indio. Um opositor político precisa lutar de forma politicamente lucrativa. Do meu ponto de vista, Indio pisou na bola ao dizer isso, da forma que disse.

Tigre disse...

Na verdade, eu preciso acrescentar uma coisa a isso tudo. Meu julgamento sobre de que posição errada Indio falou sobre as FARCs veio muito do contexto em que ele fez a declaração. Além de estar conversando com aliados, o que aparentemente subiu à cabeça, ele disse coisas como "até queria ser preso [em Cuba] pra ver...", absolutamente tirado de um pensamento superficial, sem nenhum questionamento antes de falar. Pelamordedeus! Deu muita vontade de responder a esse nível de retórica com "Tu não tá mais no colégio, guri!!!"