sábado, 24 de julho de 2010

Teoria na prática

Quando um grupo se forma (uma união sincera entre pessoas, quero dizer, não meramente um amontoado de gente que recebe um nome coletivo), o próprio grupo vira a única referência moral dos indivíduos envolvidos. A segurança promovida pela conexão emocional entre cada um, reconhecida num pressentimento da unidade do grupo, reforça a liberdade dos integrantes em relação a todos os julgamentos externos contra os quais nos policiamos geralmente. A moral, os medos e os cuidados cotidianos relaxam, e tem-se espaço para se fazer qualquer coisa que não seja contrária à moral tácita do próprio grupo.

Numa situação dessas, os policiamentos politicamente corretos são os primeiros a voar pelos ares. E é impressionante como esse poder é exponencial, de forma que às vezes nem a presença da pessoa reconhecida como plenamente externa ao grupo inibe algum integrante, que age com total sinceridade e paz de espírito, mesmo se, em geral, trata-se de alguém que se porta muito acima do que se espera de uma pessoa "de bem". A liberdade que o grupo promove é tal que mesmo um remorso posterior tem dificuldade de se firmar, de convencer a "consciência" do sujeito, quando ele voltou a se portar conforme as normas sociais mais gerais que introjetou quando se formava moralmente.

Não é novidade, mas não deixa de ser impressionante observar de perto como, em grupo, alguém pode ser cruel, com liberdade, sem pena e sem remorso.

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