quarta-feira, 28 de julho de 2010

Bolsa Me-livre-deste-país

Este post só faz sentido após se tomar conhecimento sobre o ProMédio ou se ler este post de Em Metrópolis.

Certas coisas ganham ibope e viram coqueluche. Por exemplo, defesa do politicamente correto, xingamento ao técnico da seleção, pressuposição de que toda crítica é machista, racista ou reacionária, sistema de cotas e de bolsas. A Dilma propôs agora, por exemplo, que se resolva o problema da educação (em parte) mandando os alunos públicos para as particulares por meio de bolsas. Pode ser feito com critério? Pode. Pode ter algum resultado positivo? Pode (apesar de que não acredito que façam sem grandes resultados negativos para contra-balançar).

Então por que eu estou reclamando? Porque absolutamente não é uma solução que nasceu tendo em vista o problema a ser solucionado, ela nasceu da forma de solucioná-lo, da ideia de se criar bolsas para resolver tudo. E por que a proposta não é adequada para atacar o problema em questão? Porque ataca o sintoma. Não, faz pior: joga o sintoma de um lugar para outro na esperança de que aqueles que fazem bem com uns alunos FARÃO bem com outros. Por favor, quem é o mentecapto que faz proposta para educação e não sabe que o aluno é o começo e o fim da educação? Que o professor trabalha com ele, mas que quem o aluno é faz toda a diferença? Ora, existe um enorme problema nas escolas públicas que as escolas particulares não têm: os alunos que não podem pagar escolas particulares.

Estou dizendo que a maioria deles é incompetente, burra ou incapaz? Não! Estou dizendo que as escolas públicas são ótimas, mas os alunos acabam com todas as maravilhosas oportunidades e estruturas que recebem do governo? Não!

Estou dizendo que os alunos realmente problemáticos (não "todos do ensino público") não têm estrutura familiar, ou cultura familiar letrada, ou respeito por autoridade alguma (ou todos os três), além de quaisquer outras carências sociais de que repetidamente se trata quando se estuda pra valer o problema com a educação pública. Eles vão, na melhor das hipóteses, apresentar ao professor privado um problema para o qual ele não está preparado (e, não lidando com esse problema, ele tinha o rendimento que constou como "de particular" para o governo). Não posso prever todos os desdobramentos disso sem conhecer a fundo o programa (que não existe), claro, mas as piores consequências são bastante numerosas, tanto que criariam um post gigante, o qual não posso escrever por falta de tempo. Pense-se, por exemplo, o que aconteceria com o preço das escolas se um novo afluxo de alunos estatais começassem a competir pelas vagas das particulares (sendo que eles nunca "perderiam" uma vaga), ou como a lógica de devolver o rendimento esperado pelo cliente-governo traria uma sinergia entre as táticas de manipulação de resultado públicas e privadas. Mas meu ponto, no momento, apenas para pegar a superfície da porcaria mesmo, é este: se muitos alunos se beneficiam, a escola privada não vai ser "a escola privada", a grande maioria delas vai render muito pior, com uma que outra exceção a ser citada sempre com orgulho pelo governo (e não, não estou fazendo um raciocínio análogo ao terrorismo sobre as cotas e qualidade, porque estou imaginando, nessa hipótese, muitos alunos entrando, não uma porcetagem pequena como a das cotas). Se poucos alunos se beneficiarem (como com as cotas, ou menos ainda), o grosso do problema segue. De qualquer forma, enquanto sobrar um aluno em escola pública, o programa vai ser mais uma coisa para desviar verba, interesse e respeito dos alunos que sobrarem na dependência da educação mantida pelo Estado.

Como disse antes, o que me levou mesmo a escrever este post foi a total descrença de que se tenha criado isso porque se imaginou que a ideia funcionaria. O que gerou esse programa foi a mentalidade de bolsa. Fazer bolsas virou um clichê, um cacoete, resposta para tudo que cotas ou discurso não resolvam. Mas a ideia de usar a lógica da bolsa para mover o problema de um lado para o outro é demais. Por que não fazemos logo, já que ninguém sabe como resolver o Brasil desde Cabral, uma Bolsa-Estranja e financiamos com os impostos a possibilidade de todos os brasileiros se mudarem para a Suíça? Afinal, lá tem melhor educação e mais dinheiro. Eles devem saber como nos governar! Vamos levar nossa pobreza e desigualdade toda para lá, que com certeza eles resolvem.

3 comentários:

Leo disse...

tem um outro problema que pouca gente percebe, e que eu, vendo os Pró-Unis e ReUnis da vida, fico de cabelo em pé: em vez de o governo pegar o dinheiro e injetar nas universidades públicas, que tão caindo aos pedaços e sem professores suficientes, mas que ainda têm uma qualidade de ensino muito superior à das universidades particulares, ele dá mais dinheiro pras universidades particulares, que além de já terem dinheiro não dão, na maioria avassaladora das vezes, formação de qualidade pros seus alunos e possibilidades profissionais decentes pros seus professores. imagina como ficam as escolas públicas se uma coisa dessas realmente acontecer?

Tigre disse...

Não só recebem dinheiro como também isenções por promoverem ações pela sociedade tais como... tais como... tais como?

Leo disse...

hã... hã... hã... rs