sábado, 3 de julho de 2010

O jeitinho escatológico de se fazer política

Já falei as piores coisas sobre a reforma ortográfica oficializada em 2008, inclusive comentando que todo mundo parece pensar, como eu, que essa porcaria nunca deveria ter nascido. Hoje mesmo falei super rápido a regra de acento de "i" e "u" em hiato, com direito aos mínimos detalhes, causando um estouro de risos em mim e nos alunos, porque parecia que eu tinha contado uma piada. A reforma não teve sentido e não afetou nenhum país, de verdade, a não ser o Brasil. O critério de "unificar" as grafias, portanto, já foi por água abaixo, e ainda nem saímos da época de "adaptação" das novas regras.

Isso posto, não quis dizer em nenhum momento que o Brasil deveria voltar atrás. É tarde demais. O mesmo que vale como a principal crítica à reforma vale para a contra-reforma: "Escrita é um sistema arbitrário!" e "O que vão fazer agora? Reeditar todas as gramáticas e dicionários?!" Rola um movimento aí para que se retome as leis antigas. Melhores que as atuais? De forma alguma! Alguns acentos ficaram mais complicados, mas outros se foram, e a atual regra de hífens é melhor, excetuando uma bobagem relativa apenas a radicais de origem tupi, mas nenhum governo mexe na língua oficial de seu país sem fazer uma politicagem baseada na ignorância. Voltar às antigas leis gramaticais não será adotar um sistema mais lógico, será apenas acatar uma incoerência mais familiar.

Arbitrário por arbitrário, a única forma de qualquer um dos sistemas funcionar é promover a educação, que, se for apoiada de forma eficiente, ensinará as regras que forem. O que é necessário é educação e tempo. É ridículo que o Brasil tenha mudado de grafia tantas vezes apenas no século XX, como se isso fosse o ajudar contra o analfabetismo. Não se pensou, parece, em se garantir que mais pessoas tivessem acesso à regra, seja qual fosse. Mas MUITO PIOR que todas essas mudanças seria dizer que a última fica válida apenas por 3 anos. Vão todas as gramáticas e dicionários serem vendidos de novo, lucro para as editoras (o maior consumo de gramáticas e dicionários, creio, vem de escolas e editoras, que não podem simplesmente "voltar aos livros antigos", pois não possuem depósitos para todo material técnico e didático que é ultrapassado e não teriam por que ter imaginado uma contra-reforma dessas tão imediata), e o descrédito generalizado dominará um país que, como está, já não dá valor ao que escreve ou ao que lê. Ninguém lembra de quando era pequeno e algum amigo chato vivia mudando as regras de um jogo? Alguém lhe dava ouvidos? Que tal aprender uma acentuação no fundamental, aprender a nova no ensino médio e aplicar a antiga na faculdade?

A merda está feita. Por que tem sempre um para catar na privada e tentar digerir de novo? O resultado não vai ser diferente desta vez.

2 comentários:

Las disse...

Ano passado falei com uma vizinha, professora, sobre doar uns livros que tinha para a biblioteca da escola onde ela leciona. A resposta foi:

"O governo não deixa a gente aceitar, por causa da reforma ortografica."

É...

Tigre disse...

rs. É, eles complicam.