segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lavar o símbolo lava o partido?


Foto: Karlos Geromy - Carta Capital

Quando Deus criou Adão, 21 amigos e uma bola de futebol, quis que o Maranhão fosse bem longe de Porto Alegre. Ainda bem! Mas a distância afeta nossa observação, então desculpem qualquer erro na história que vou contar, ocorrida por aquelas bandas nórdicas. Juntei informações de onde pude, mas também não fui me meter a jornalista investigativo, que esse blog não era pra me roubar tempo!

Ao pensar em deixar a presidência, Lula quis lucrar da extensão de sua influência em todo o Brasil e garantir a sequência do PT na presidência. Ele fez então um acordo, já bem comentado, com o PMDB: apoio do PT nos estados pelo apoio do PMDB a Dilma Rousseff para presidente. Como as pesquisas de opinião anteriores à (pré) campanha deixavam a situação de Serra aparentemente confortável, também esse acordo parecia desenhar um caminho seguro para a eleição de Dilma, mas, assim que as campanhas começaram, toda a dinâmica política nacional começou a perturbar a calmaria superficial. Caso exemplar das consequências de mais essa medida de governabilidade do Lula é a situação do Maranhão.

Lá, a Ação Camponesa Operária, que não parece nunca ter tido muita força no partido, conseguiu ganhar de raspão da Construindo um Novo Brasil numa votação para decidir se realmente os petistas maranhenses iam apoiar a candidata do PMDB naquele estado, ROSEANA SARNEY. A "AÇO" decidiu que o projeto nacional do Lula era uma afronta à história do PT, particularmente quando envolve a aliança com o clã Sarney. Nada que uma faca nas costas não resolvesse: o ex-deputado Washington Luís, chefiando os sarneysistas da CNB, publicou e comemorou a aliança do PT com a Roseana assim mesmo, com direito a tirar foto dela segurando a camiseta do Partido dos Trabalhadores - pelo jeito o esquema foi rápido e traiçoeiro, mas não muito bem produzido, então eles não tiveram tempo nem de conseguir uma camiseta que coubesse na magra e pequena Sarney. Em protesto, os petistas insultados deram um banho na estrela, da foto lá do início.

Um dos patriarcas do PT, Manoel da Conceição, que atua no movimento dos trabalhadores rurais desde 1950 e foi um dos cinco signatários na fundação da sigla, ficou particularmente revoltado com a situação. Manoel está em conflito político com a família Sarney há 34 anos, desde que o o atual presidente do Senado fora eleito governador do Maranhão (1966). Ele traiu a causa da Reforma Agrária (ou piorou a situação), pela qual Manoel acreditara que Sarney lutaria e motivo pelo qual lhe tinha apoiado. Estando o apoio a Roseana Sarney oficializado, Manoel fez greve de fome e de remédios (para a diabete). Resultado? Lá foi o senhor de 75 anos para o hospital, após dias vivendo de água. José Eduardo Dutra, presidente do PT, teve de acabar com o drama, claro, e acabou fazendo um acordo que racha o PT sem rachar: os sarneysistas vão apoiar a Roseana, os demais apoiarão a chapa PSB, PDT e PCdoB, cujo candidato é Flávio Dino.

Digamos que o PT já teve histórias mais sujas, os outros partidos idem, de modo que, se todo mundo resolvesse lavar o símbolo para atacar a sem-vergonhice, o Brasil terminava com a água do mundo. Agora, com todas as crises, das quais o Maranhão é um exemplo extremado (pela alusiva aliança PT-Sarney), a "governabilidade" do Lula passou de técnica eficiente para ganhar as eleições (sua primeira eleição) a compulsão. Como disse Manoel da Conceição, comentando os acordos pró-Dilma, tudo tem limite, e "tal limite é a nossa dignidade".

Ter de se apelar aqui a greve de fome (e a desfiliações do partido, como em Minas) lembra que só se fica sabendo de atitudes autoritárias do presidente dentro do partido, ainda que, com os não-petistas, como Sarney ou Ahmadinejad, Lula seja diplomacia. Dá para imaginar como a Dilma inspira seguir essa linha? Claro que ela não teria o poder de mando do Lula dentro do partido, e todo mundo que perder com os acordos para a eleição dela vai cobrar caro, dê o plano certo ou não, mas não imagino ela dando uma coesão construtiva ao partido sem uma peacemaker (é metáfora, não estou falando que ela é terrorista).

Só para comentar o outro lado, não escrevi nada disso supondo que o Serra seja um candidato melhor. A capacidade de mandar gente poderosa à merda de vez em quando é fundamental para um chefe decente, e Serra não me convence de que seja capaz de fazer isso. Só vi o Serra-diplomático (excesso nocivo, como disse) por enquanto, não o Serra mesmo. Aliás, espero que o que eu vejo não seja o Serra mesmo.

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