sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quatro dias sem luto: meus sentimentos segundo Dilma

Eu não sou grande especialista em República, mas estou ficando ainda mais confuso com os poderes presidenciais. Nas últimas duas semanas, tivemos 10 dias de luto, pelo que entendi (7 para Alencar, 3 agora para as crianças de Realengo). A coisa me pareceu ainda mais bizarra quando vi o Washington Post falando sobre o crime parar/chocar (to stun) a nação.

Desculpem os mais sensíveis, mas que nação? É claro que os jornais estão em cima com toda a vontade, e é claro que muitas pessoas ficaram impressionadas ou tristes, mas "choque" não foi o sentimento que dominou os viventes por aqui, sinto muito.

Dilma até mencionou em seu discurso repudiar esse tipo de ato violento. Ora, o assassino está morto e, pelo que tudo indica, não batia bem. Alguém tinha dúvidas de que nosso governo repudiasse loucos matando crianças em escolas? E aqueles assassinatos até dizem alguma coisa sobre o Brasil, mas muito pouco: basicamente que temos bullying (para usar o nome da moda), falta de segurança e loucos. Parece-me que pouca gente ficou realmente chocada exatamente porque, bem... já sabíamos de tudo isso. Tentaram inventar umas questões religiosas para salgar a história, mas não cola, além de não acrescentar nada ao quadro geral; aquilo não é religião, é insanidade.

Alguns impressionados, outros não... independente disso: por que a presidente (ela ou quem estivesse no cargo) pode declarar luto por todos? A gente vota em presidentes para que façam um monte de coisas, mas para governar ou expressar nossos sentimentos a respeito das ocorrências da vida e do mundo? Não creio... E, se ela está mesmo expressando "nossos" sentimentos, por que o Alencar ganhou 7 e as crianças merecem só 3 dias de luto? Vai dizer que o tiroteio não moveu mais gente que o ex-vice que saía e entrava no hospital havia meses e que não significava nada para a enorme maioria da população? Já as crianças, especialmente as desconhecidas, sempre têm sentido para nossas personas. Pressupõe-se que tinham uma vida pela frente. Acaso Alencar já tinha ganho muitas dias de homenagem e não sobraram tantos de uma cota mensal de luto oficial?

Mas, como disse, entendo pouco do nosso governo. Talvez a presidente possa falar pelos sentimentos de "seu" povo, assumir determinadas posturas morais, pressupô-las para todos, ou impô-las para aqueles que não seguiram as expressões obrigatórias dos pesares de praxe. No fim das contas, ela acaba colocando todo o mundo bem na foto, o que talvez seja um trabalho digno. Mais estranho ainda é que ela deva fazer tudo isso. Que lhe seria cobrado não ter falado o óbvio por todos e realizado algum tipo de ação burocrática simbólica, como decretar esse luto.

Enfim, curiosa essa nossa relação com presidentes: seja como for que experimentemos um acontecimento, podemos descobrir nossos sentimentos oficiais pelos jornais.

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