quinta-feira, 10 de março de 2011

Bloqueio aéreo e as âncoras do "destino manifesto"

Em relação à Líbia, a exigência de muitos norte-americanos, incluindo pessoal diretamente envolvido com Direitos Humanos, jornalistas e políticos, é que os EUA imponham um bloqueio aéreo. Contra isso, argumentam os opositores que tal bloqueio envolveria alguns problemas, como desbaratar a defesa anti-aérea de Khadafi e, principalmente, correr o risco de não decidir o conflito. Nesse caso, a coisa escalaria lentamente para uma invasão terrestre, ou ocupação de determinadas áreas, o que seria muito custoso e ainda mais arriscado para a imagem dos EUA na região do que a própria intervenção aérea.

Contra esses argumentos, os defensores do bloqueio dizem que ele precisaria ser só efetuado na área amiga, já que a ideia é evitar bombardeios, não bombardear o que não foi dominado, de modo que não haveria ameaça anti-aérea (e que, se precisassem enfrentá-la, seria ridículo opor a força militar da Líbia a uma intervenção americana, mais ainda se com a ajuda de Arábia Saudita, Egito e Tunísia, possíveis aliados - só para citar os mais otimistas). Fora isso, um ataque aéreo poderia acabar rapidamente com a transmissão da TV e do rádio do governo, atrapalhando de forma substancial a ação de Khadafi. Não bastasse tudo isso, destaca-se que a própria população da Líbia pede por ajuda internacional já há algum tempo, e não fazer nada, nessa situação, seria o mesmo que fazer "a coisa errada", pois é óbvio que os EUA podem intervir e que já se meteram na região quando não deviam, por que não se meter agora? Sobra ainda a questão óbvia: se Khadafi ganhar, que vão fazer - voltar atrás e aceitar sua existência política internacional ou ter de arcar com um ataque direto?

Bom, nos argumentos contra a invasão, especialmente se feitos por pessoas que não estão ligadas ao governo diretamente, pode-se perceber claramente o medo deixado pelo Afeganistão. Não pelo país, mas pela "Guerra contra o Terror". Lá também as coisas escalaram da forma mais ridícula possível, erros e desonestidades do governo vieram à tona tarde demais, e acabou que a economia dos EUA (bem como sua auto-estima) não parece ter conseguido se recuperar. O governo ponderado do Obama parece dar bem o tom de todos que analisam problemas políticos e econômicos por lá com exceção dos radicais de um lado ou de outro, e esses mesmos não parecem ser contados na hora de se decidir por alguma ação. A própria Sarah Palin, talvez a entusiasta mais escutada no país, aparentemente é, em 80% das vezes, ouvida por diversão e considerada louca varrida ou meramente ignorante.

O medo de tornar a Líbia seu novo Afeganistão e entrar numa situação diplomática e econômica da qual nem o absurdo poder acumulado pelo país possa servir para que fique com o nariz acima da superfície marca a fala ressabiada numa discussão em que todos parecem concordar que o motivo ideológico e moral para intervenção não poderia ser mais claro. Agora que os EUA podiam, de forma imprevista e inédita no Oriente Médio, intervir de acordo com seus sonhos mais selvagens de pátria da liberdade e da democracia, as irresponsabilidades e incompetências do passado lhes aterrorizam também como raras vezes lhes aconteceu.

Agora decidiram por ir mais aos poucos e pediram (ou mandaram) que a Arábia Saudita armasse os rebeldes. A situação toda só faz reforçar que as consequências de uma decisão política internacional ecoam indeterminadamente (como talvez devessem reaprender aqui no Brasil) e que, para quem tinha dúvida, com Bush, merda pouca é bobagem.

2 comentários:

R. C. disse...

Se os 300 mil inimigos políticos assassinados por Sadam não fizeram os anti-americanos mudar de idéia sobre a invasão (já que esculhambar os Estados Unidos vale mais do que 300 mil vidas), por que os Estados Unidos deveriam arriscar um único soldado na Líbia?

Tigre disse...

Porque não os arriscar deve vir a ser pior para os EUA. Por outro lado, arriscar vai custar uma grana que eles não querem gastar, particularmente porque não sabem calcular a quanto o custo pode chegar. Não é um problema de vidas para eles, é um problema de imagem vs economia - claro, imagem também custa ou vale dinheiro, assim como o resultado dessa guerra pode sair mais caro no futuro que ajudar agora.

Tecnicamente, me parece business as usual: pesam o que é mais cost-efficient, prevenir ou remediar. E, apesar de sempre decidirem que prevenir custa menos, isso sempre lhes dá pause.