sexta-feira, 11 de março de 2011

Autogratulação lexical e os bons sentimentos

Dizem sempre que "empatia" etimologicamente quer dizer "sofrer com", mas foi uma liberdade poética formar essa palavra, né? A gente "sofre com" alguém? Claro que certos acontecimentos muito violentos podem nos provocar a sensação de "sofrer com", quase que exclusivamente se vemos um sofrimento muito próximo de nós, mas é justamente essa sensação que é curiosa: sentimos que "sentimos com" a outra pessoa. Sabemos que não sentimos o mesmo que o outro, nem mesmo em escala menor. Nosso sentimento é outro, exatamente esse "outro" é chamado de empatia, porque lamentamos e dor alheia em parte sofrendo pela pessoa, mas um sentimento distinto e de escala tão diferente, que me pergunto se não podíamos ter encontrado outro termo. Imaginem, literalmente, "sofrer com" uma criança que perdeu o braço numa mina terrestre.

Essa busca de um termo verdadeiramente preciso implicaria, claro, que fôssemos menos autocondescendentes. Como muito já se repetiu, gostamos de sofrer pelos outros, porque é "bonito", "humano" (ou cristão, para alguns). Empatia, geralmente considerado um termo preciso ou direto, é na verdade uma catacrese (uma metáfora para a qual não temos termo não-figurado, como "pé da mesa"), uma figura de linguagem que usamos quando nos condoemos. Como "condoer"... nossos termos empáticos estão cercados de exageros elogiosos aos nossos próprios sentimentos "nobres" - outro autoelogio.

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