domingo, 26 de setembro de 2010

Sangue, gordura e farelo

Ontem fomos a Vila Segredo, cidade pouco fácil de achar (!): mais pra cima que cidades conhecidas da serra, vira-se para as cidades mais pacatas, depois passa-se literalmente pelo alto de morros, por uma linda ponte sobre um desfiladeiro que leva os suicidas a um rio portentoso, e depois basta pegar uma estrada precária. Deve-se dirigir com toda a calma, para não se assustar o marasmo das cidades por que se passa, e então seguir por um bom tempo. Não é no fim do mundo, porque, como sempre, existe coisa mais adiante. É por esse "mais adiante", aliás, que nunca encontramos o fim do mundo, e é assim que, se vamos sempre, voltamos ao ponto de que partimos, a forma didática da Terra de mostrar que ela é um globo.

A praça central (ou "a vila", dá no mesmo) é uma mão na roda para linhas políticas pouco apreciadas, mas muito simpática. A igreja é linda e totalmente voltada à comunidade (já que esta é tudo no local). O povo todo se conhece e, por mais simpático que seja, não confia muita prosa a recém chegados, mesmo que estivéssemos lá a convite. Talvez relacionado a isso, nada mais raro por lá que linha de telefone. Sinal de celular, então... 

Minha namorada, já conhecedora da região, apontou bem ao dizer que a música da festa local é uma versão light da variante tradicional alemã do interior gaúcho. Os italianos como que suavizaram a batida. A comida é perfeita: espeto corrido, galeto, salada de batata, vinho, refri, pão e sopa (não nessa ordem). A sopa estava boa e o pão proveitoso, ainda que se esfarelando. A carne estava um pouco gorda, mas estes dias de saniterrorismo gastronômico afetaram o cardápio até mesmo de Vila Segredo. Alguns animais espetados não pareciam bem mortos, considerando-se a sangueira de certos pedaços, mas, novamente, as preocupações sanitárias de nosso mundo foram nitidamente atendidas na seleção da carne.

A viagem vale a pena. Bom, o lugar não se chama Segredo à toa, então ela nem sempre vale a pena. Mas, enfim, ver paisagens raras e bonitas, ficar longe de nossa má-afamada civilização por um dia e comer (de graça) os justificados clichês da culinária gaúcha... Viva Segredo!

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