sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As mil faces do trabalho

Estava eu trabalhando em turno inverso na escola para lidar com burocracia. Fiquei sozinho na sala dos professores (tinha até outra professora lá, mas ela estava com a preguiça do almoço e não abria a boca por nada no mundo), e a chatice rendia bem. Num determinado momento, a dorminhoca que estava ali sentada foi para a porta e, saindo, cumprimentou duas pessoas que responderam com voz ostensivamente educada. Os dois entraram. Eram PMs. Deram um solene "Boa tarde" para mim e já se serviram do café. Começaram a conversar... sobre trabalho. Malharam a Brigada Militar tudo que puderam. Ou melhor, malhOU, porque eram aquela dupla clássica em que um chato não para de falar nunca enquanto o outro mantém apenas a expressão facial afirmativa para que o primeiro possa fingir que ambos contribuem para formar um "diálogo". Falou, falou, falou sobre emprego, produtividade, posturas de empresas, problemas administrativos, e em nenhum momento suspeitou que aquele professor cercado de folhas e checando documentos de todos os lados para canetear este e fechar aquele estivesse TRABALHANDO.

Enfim, depois de semi-atrapalhar (por algum motivo, consegui manter a concentração mínima necessária) meu trabalho falando sobre qualidade de trabalho, foi convidado pelo amigo para que fossem embora. Não resisti, então, a contabilizar o que eles tinham feito ali: entrado na sala dos professores, tomado café, comido bolachas e ido embora. Não tinham feito nem uma social com a diretora, nada. Não passa uma enorme sensação de segurança saber que os dois policiais na área vêm apenas fazer um lanche num estabelecimento público (muito cuidado no sentido desse "público") e vão embora sem mais? E ainda me disseram depois que é um comportamento típico em qualquer escola pública. Eu nunca tinha visto. Sorte?

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