sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Fraca Força Sindical

"Força sindical" infelizmente é uma expressão de extremo ridículo. Já de imediato ela pode causar tristeza, porque seu uso indica a ilusão de que sua antiga força sobreviveu aos tempos. Não bastasse isso, há uma contradição prática muito forte entre a ideia de força e a de grande reunião de pessoas, indicada por "sindical", contradição que não é visível, pelo jeito, para as pessoas que ainda a usam. "Juntos somos fortes", tentam dizer, de diferentes formas. É, mais fortes que sozinhos, mas será que a diferença de força é tão grande assim? Será mesmo que a reunião de muitos trabalhadores chega a merecer o status de "forte" em relação às outras forças do mundo? Só para humilhar, e ser bem claro: 2 advogados em contexto favorável são incalculavelmente mais fortes do que 2 mil trabalhadores, mesmo que também em contexto favorável.

O primeiro problema da ideia de força sindical é que ela presume que as pessoas envolvidas tenham valor. Ora, um sindicato reúne trabalhadores, portanto seria necessário que trabalhadores, ou o próprio trabalho, tivessem valor. Não têm. Em vez de explicar longamente, vou apenas apontar o leitor para que leia tudo que motivou a revolta dos bombeiros no Rio e quais as consequências do movimento. Creio que ficará claro o quanto mesmo trabalhadores respeitados pelo senso comum não têm valor social efetivo, ou seja, político.

O outro grande problema, na raiz do fato de 2 advogados poderem causar muito mais estrago (portanto demonstrar mais força) do que 2 mil trabalhadores, é que os mesmos trabalhadores quase não podem causar estragos. Com exceção de algumas funções-chave, por isso mesmo abusivamente restritas em seus direitos de greve, a maioria dos trabalhadores afeta apenas a si ou à população de fraco poder político. Se seu trabalho parar, outros trabalhadores serão afetados, só isso. Não são apenas os trabalhadores sindicalizados que não têm valor no Brasil. Caminhar, fazer faixas e berrar uma ou duas frases de efeito (geralmente com fraquíssima lógica) não afetam a vida política brasileira. 

Ao mesmo tempo, 2 mil trabalhadores poderiam fazer um estrago muito maior do que 2 advogados se a multidão apelasse para qualquer tipo de violência, mesmo que fosse sonora, diretamente sobre políticos. Isso, no entanto, não pode ser feito, porque seria imediatamente tratado como crime. E isso, por sua vez, porque é considerado crime tudo que atenta contra a paz. Agora, "paz" é uma palavra complicada, que precisa talvez de mais explicações do que "força sindical", então vamos com calma.

Um sociedade que valoriza a paz pode ter cidadãos roubando, estuprando, matando, humilhando ou violentando (em sentidos mais variados) outros cidadãos. Numa sociedade de paz, também é possível que o Estado roube, estupre, mate, humilhe ou violente de diferentes formas os cidadãos em geral. O primeiro tipo de violência, entre cidadãos, é proibida, para quem acredita no valor da letra impressa. Nem sempre, aliás quase nunca, essa letra precisa ser levada ao pé da letra, no entanto. Grande parte das humilhações e violências mais inventivas nem podem ser comprovadas conforme os métodos válidos para a lei. Boa parte da violência é tolerada, na prática, por todos, inclusive estupros e assassinatos. Fala-se mal, mas não se vai além disso.

O segundo tipo, do Estado contra o cidadão, é o mais simples de se analisar, exatamente porque geralmente se desenvolve na impunidade completa. Muitas vezes é difícil de perceber, para a gigantesca maioria da população, e pode ser realizada de forma bastante indireta. Vários métodos dessa violência são cotidianos, sendo por isso mesmo esquecidos pela maioria na hora de pensar a respeito das diferentes formas que o Estado tem de humilhar a população que não faz parte de sua máquina, e muitos dos que fazem parte até.

A "Paz" que caracteriza nossa sociedade define-se pela impossibilidade (sacramentada) de qualquer cidadão, em grupo ou sozinho, revidar a violência do Estado. Portanto toda humilhação, todo abuso ou toda violência em geral devem ser respondidas com pacíficas passeatas e lindas frases, escritas com muito cuidado, pois críticas verdadeiras podem ser consideradas ofensivas, o que já constitui violência profana do cidadão contra o Estado. Mesmo que, roubando, corrompendo e mentindo, um ministro seja um individualista, na hora em que é insultado torna-se magicamente embuído de seu cargo, de modo que toda ofensa pessoal será respondida da altura poderosa de seu título, geralmente mais honorífico que profissional.

Sendo, nos sentidos expostos acima, pacífica e sem valor, a força sindical podia procurar o ostracismo. À luz do sol brasileiro, por enquanto só lhe resta passar ridículo.

PS: Este post é sobre a expressão e sua ideologia implícita. O envolvimento dos partidos com os sindicatos, na prática, muda um pouco o poder efetivo das organizações.

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