terça-feira, 14 de junho de 2011

Presidente do Brasil

Dilma ensinando como se governa no Brasil
Conforme o presidente José Sarney, pior do que liberar documentos sobre a ditadura seria revelar nosso passado a respeito de fronteiras nacionais. Por que tanta incomodação? Os problemas de terras no Brasil dizem respeito não apenas à população autóctone, mas a crimes feitos contra populações estrangeiras também? O presidente Collor logo pulou no carro e se opôs à, digamos, lavagem de roupa suja que conhecer a História acarreta. No Brasil, a palavra mais precisa para implicar poder não é o conhecimento, mas o sigilo.

Para esconder o que sabem, os presidentes não querem que o projeto prevendo a impossibilidade de se lacrar documentos para sempre no Brasil seja votado, como queria "com urgência" a Dilma, antes interessada em comemorar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa com a votação (favorável, lógico, porque tudo atualmente chega a votações com resultados previamente definidos). A comemoração da liberdade foi para o brejo quando os presidentes Collor e Sarney se opuseram à possibilidade de se "abrir feridas". Junto com a liberdade, vai-se, mais uma vez, a opinião "pró-direitos humanos e verdade" da Dilma, que no governo Lula se opunha ao sigilo eterno, contrariando o presidente. 

Agora, a versão do projeto lubrificada para convencer Sarney preverá a abertura de documentos 25 anos a contar do pedido de acesso, se este for aceito. É bom que os futuros doutorandos em História decidam já no berço que documentos lhes interessarão para suas pesquisas. Espero que historiadores passem a pedir quebra de sigilo prevendo o que poderá interessar a seus filhos...

Para justificar seus melindres, Sarney disse que não se pode fazer um Wikileaks do Brasil. Sejamos corretos e arrematemos que, na verdade, também não se pode "fazer Wikileaks" de lugar nenhum. Assange e Anonymous que o digam. De forma acelerada, desde que o século XXI começou, a guerra é clara: os EUA acabam com todos os direitos civis por que lutaram e popularizaram para o Ocidente nos anos 1960-70; todos os jornalistas ou cidadãos dedicados a liberar segredos de Estado que violam a ética são atacados, molestados ou mortos; a ONU coloca a liberdade de acesso à Internet no ápice dos valores morais e grupos de hackers enfrentam governos disputando o que o público deve ou não saber. Em meio a tudo isso, os presidentes Sarney e Collor escolhem abertamente o caminho da repressão e do silêncio. Em todas as decisões práticas, é a eles que Dilma vem se alinhando, escolha a escolha, dando um exemplo de pragmatismo político que supera até mesmo a "governabilidade" do presidente Lula. 

Entre esses três presidentes, é de se imaginar quando ela vai ponderar que o mais importante do cargo "presidente" não é se termina com "a" ou com "e", mas seu sentido mais literal de "presidir", implicando, espera-se, alguma ética. Talvez, no entanto, a ideia nunca lhe ocorra: Dilma sobreviveu à tortura dos militares, mas nada mata mais uma guerrilheira do que o poder.

Um comentário:

Carla M. disse...

Pelo jeito, terei que me poupar, por que para pesquisar, historiador agora vai ter que manter carreira longa. E como nenhum congressista parece ter trabalhado na vida, ninguém pode prever que trabalho desgasta. Então, querendo pesquisar história recente, a pessoa tem que começar a se preservar desde logo. Já os documentos, bem esses, não se sabe em que estado de preservação se encontrarão...