domingo, 26 de junho de 2011

Teoria e Prática de Gênero

Há pouco ouvimos uma palestrante, pós-pós-pós-doutora feminista-desconstrutivista, enfurnada no meio acadêmico há séculos, indicando o Brasil como um país muito conservador. Nele, o Sul seria particularmente a região mais conservadora. Isso significava, em sua linguagem, apegar-se a tradições, cânones e metodologias clássicas, o que é o mesmo que "ultrapassadas", nesse dialeto.

Minha namorada logo captou, pela descrição desse conservadorismo, que o que ela falava parecia verdadeiro para o meio acadêmico, mas não para o resto do mundo na volta, nem mesmo para as expressões culturais que orbitam a faculdade ou seus professores, como casas de espetáculo, grupos de produção independente, ou o "meio cultural" em geral. Minha namorada tinha saído do âmbito da comparação. Ela não dizia que éramos mais ou menos conservadores que outros estados, apenas que a descrição realizada pela palestrante era circunscrita demais à Academia e, em Porto Alegre, isso em geral quer dizer a UFRGS, além de professores com maior ou menor relação com ela que trabalhem em faculdades "próximas".

Assim como os professores, entre os alunos o clima de conservadorismo indicado por ela também é fácil de identificar. É importante ressaltar que o termo não foi usado num sentido propriamente político-partidário. "Conservador" ali incluía coisas como homofóbico (nível skinhead), racista, machista e preconceituoso com todo tipo de produção "popular" (nem escrita, nem armada explicitamente sobre tradição europeia).

Apenas para indicar essa contradição, entre Academia e entorno, pensei em postar aqui um dado curioso recém publicado: Porto Alegre é a segunda cidade com maior percentual de casais declaradamente gays do Brasil. Não é curioso os cursos de Humanas terem traços tão resistentes a "inovações" contra uma noção bastante dura e monolítica de tradição e Porto Alegre quase liderar essa lista? Não é que haja uma aceitação maciça da união homossexual na região, mas é interessante que o líder da lista seja ainda Florianópolis, outra cidade do Sul e que vive em intercâmbio constante conosco. 

Muitas vezes tenho a sensação de que termos como "preconceito" deveriam vir com explicações inter-regionais quando usadas em noticiários ou internet. Seus níveis parecem variar de forma complexa entre regiões e não tenho certeza que existam muitas manifestações que seriam igualmente consideradas "exageradas" em todas as regiões ao mesmo tempo. Tamanha precisão seria horrível para as simplificações eleitoreiras, mas seriam realmente interessantes se quiséssemos entender afinal o que está acontecendo em cada canto e como os diferentes estados (e cidades) realmente vivem seus conflitos culturais internos e externos. O mesmo acontece com "tradição". O Rio Grande do Sul é famoso por ser bairrista e apegado a um elenco de tradições institucionalizadas que geraram um mercado particular de comida, vestimenta e música, no entanto o relativismo com que essa tradição é tratada pela maioria dos próprios gaúchos e o equilíbrio entre bairrismo e ironia que ele envolve nem sempre me parecem claros ao olhar do brasileiro que aqui chega.

Nenhum comentário: