terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eleições 2010, sem compras e sem liberdade

Não foi por falta de material que eu não publiquei por dois dias. Triste, porque gosto de escrever aqui e porque este blog funciona quase que totalmente à base de críticas e deboches, o que significa que eu não só estava privado de minha palavra escrita internética como continuava esbarrando em baboseiras e idiotices, ou seja, material para o blog. Seguro de que o mundo segue farto de imbecilidades, preciso comentar alguma coisa aqui de início e deixar parte do material para novos posts, caso nada mais chame a atenção logo. As maiores baboseiras que encontrei, claro, foram políticas, então fiquemos com elas e os assuntos mais cotidianos seguem para depois. 

Buemba número 1: a punição de até 8 anos de prisão prevista para quem vender o voto! Apesar de tradicionalmente, no Brasil, adorarmos punir quem aceita a corrupção (situação mais fraca do elo) e deixar tranquilo quem praticou a corrupção (maior potência entre os dois), nesse caso quem compra o voto também estaria à mercê desse julgamento. Nota fundamental e divertida: isso nasceu de gente vendendo o voto até pela internet, por um real, um e cinquenta, até uns 12 reais pelo cartão. Tal exemplo de capitalismo aplicado à política, absolutamente justificável (e justificado) como "crítica social", será considerado crime se for comprovada intenção sincera! Quer dizer, se o cara vendeu o voto, ele precisa votar naquele que comprou. Até a eleição, não cometeu esse crime, mas o de estelionato. No entanto, como saber qual deles foi cometido, se o voto é secreto? Se quem vendeu o voto na internet é obrigado a abrir o voto, voltamos ao problema do post logo abaixo, ou seja, isso seria tratar o cara como culpado sem que se tenha ainda provas! E sem essa prova, quem comprou o voto não pode ser considerado, comprovadamente, criminoso. Talvez seja só um tolo que confiou num brincalhão. Era o caso de os juízes terem se abstido de comentar a coisa toda, ou proibir o simples ato da oferta "pela honra sagrada da eleição", mas não sei de onde tirariam argumento para tanto.

Buemba número 2: Censura prévia! Não se pode fazer humor com as figuras dos candidatos! Habilmente nossos políticos juntaram duas vontades ao mesmo tempo. Queriam proibir quaisquer críticas na Internet aos candidatos durante as eleições. Votaram contra isso, ainda antes das eleições começarem, não apenas por boa vontade, mas, suponho, porque seria impossível monitorar tal coisa sem uma censura à Internet no nível do Irã. Isso se junta, necessariamente, à última vez em que o PT rodou a baiana, quando a Dilma sofreu esta charge.

Na época, Nani debochava da incapacidade do PT em formar seu programa de governo. Pode-se dizer que quiseram usar a associação da candidata com prostitutas como uma ofensa pessoal, mas eu sou mais tentado a pensar que, na verdade, a maioria deles pensou que isso era realmente o assunto da charge. Raras vezes grupos de censores tiveram cérebro, e vivemos uma situação atualmente em que qualquer zé-mané serve de censor, considerando-se que é só dizer que algo é ofensivo para os "politicamente corretos" pegarem os capuzes brancos e pontiagudos. 

Frente à péssima reação que proibir deboches à candidata do Lula causaria, realizou-se um exemplo de democracia digna do jardim de infância: "é, vamos ser igualitários, não se pode debochar de ninguém!" Eu não consegui achar quem teve a ideia, quem propôs a lei ou quem votou nela, não a lista decente dos criminosos, mas não acho que tenha um partido com gente do Tribunal Superior Eleitoral ou em qualquer cargo de Justiça do governo que não mereça ser desrespeitado, demonizado, excluído e alvo de todo preconceito depois dessa. Afinal, não são esses os quatro cavaleiros do Apocalipse em nossa Era? E não é no inferno que esses bostas merecem viver?

PS: Desde Deodoro da Fonseca que o Brasil republicano vive num vai-e-vem de censura. A época de liberdade de imprensa mais consistente foi... nosso Absolutimo. E, sim, o Imperador era alvo constante de charges. Os jornais não eram atacados ou multados por isso e não foi por isso que seu Império caiu!

4 comentários:

Clark disse...

Poxa, e eu, em outras eleições, já ofereci meu voto, na internet, por 50 reais... e o povo dizia que eu estava cobrando pouco. E eu sempre dizia: "pouco não, pelo contrário! Se é um produto que tem aos montes? Já pensou se o pobre do político tivesse que gastar 200 reais vezes 500 mil eleitores?! Não tinha dinheiro que desse... 50 tá bom demais".

Bem, e agora eu descubro por que é que ninguém nunca se dispôs a comprar: com tanta gente oferecendo por 1 real, quem iria pagar 50?!?!

Lei da oferta e da procura...

Clark disse...

Boa lembrança sobre o imperador. Realmente, o Brasil consegue até mesmo o feito de ter como seu período mais... republicano... o Império.

Tigre disse...

Mas é democrático que seja uma competição pura de preços, não? Afinal, é impossível oferecer um voto "melhor" que outro.

Clark disse...

É por isso que precisamos regular a área. Criar uma agência federal (a ANAVO) para regulamentar a venda de votos, impedir a concorrência predatória e desleal...