quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sociologia do cotidiano


Curiosidade: todos os meus alunos que quiseram se manifestar disseram, nesta semana, que os trabalhadores desse quadro são negros (as turmas têm gente de diferentes cores de pele e não, nenhum dos alunos falou "afro-descendente").

*****

Eu fui assaltado no ano passado por dois caras mais ou menos da minha idade, um deles certamente negro, o outro mulato ou negro, não tive certeza. Essa minha dúvida não vem de uma confusão conceitual, mas do fato de que o assalto foi, em si, uma briga, pois eu reagi assim que colaram em mim, e durante a confusão nós percorremos uns 20 metros, ladeira abaixo, com direto a todos rolar no chão em determinado momento. Além da confusão, era noite. Mas, confusão e noite que fosse, justamente por percorrermos tanto espaço, passamos por postes de luz da famosa iluminação pública, acredito que bastante conhecida dos leitores deste blog. Ou seja, poderia discutir tom de pele, mas não admitir que algum deles fosse quase tão claro quanto eu. Por que a cor deles seria relevante? Porque a descrição que damos de assaltantes vão para... o boletim de ocorrência, exatamente para que a polícia possa fazer seu trabalho, é importante saber por quem estão procurando, certo?

Pois bem, hoje precisei mexer naquele boletim. Na época focado em conferir os itens listados como roubados, não prestei atenção em como exatamente o policial que registrou a ocorrência tinha descrito a cena em si. Agora, com menos familiaridade com o registro, fui procurar as informações que me interessavam e, nisso, li a descrição dos assaltantes. Eles não são referidos como negros, nem como afro-descendentes, nem como pardos. Eles são "morenos"! Morenos!!!

Na minha nomenclatura descuidada, moreno é alguém que tem cabelo escuro. Eu aturo, com má-vontade, a reação de gente que não entende isso e me acha racista ao dizer moreno, porque interpretam que eu estou usando o termo como eufemismo de negro. Não, eu não acho que "negro" seja um termo feio, que exija eufemismo, mas a palavra que eu conheço para dizer "homem de cabelo escuro" (como eu) é "moreno"! Porém, sim, eu sei que "moreno" pode ser usado assim por algumas pessoas, mas por que um policial faria isso? E como um policial pode fazer isso? Ele não teria de usar a nomenclatura oficial e chamar pelo menos de afro-descendente, se tem medo de chamar os caras de negros? Até entendo uma hipercorreção no cotidiano, mas isso já é incompetência, ainda que por insegurança ideológica. Ou, no mínimo, irresponsabilidade. Agora, essa hipercorreção não dá a impressão de que ele é racista na sua prática profissional, quando precisar agir em relação a um preso ou suspeito "moreno"?

3 comentários:

Clark disse...

Tenho a mesma posição sobre "moreno" ser um termo que se refere à cor do cabelo (em oposição a loiro, ruivo...) e não à cor da pele - a menos que se diga explicitamente "pele morena".

Também a mesma posição sobre "negro" ser um termo descritivo válido. Não entendo por que o "movimento NEGRO" não gosta do termo "negro".

Mas já fui chamado à atenção por tentar diferenciar duas pessoas de mesmo nome apelando para a descrição da cor. "Ah, você não está falando de Fulano A, mas de Fulano B., um negro".

Segundo meus interlocutores, eu estava sendo racista por falar "um negro". Segundo eles, eu devia falar "um QUE É negro". (sic!!!). Dá para entender?

Mas acrescento: em bairros de comércio popular, em Salvador, "moreno" é o termo que as vendedoras das lojas usam para chamar a atenção de qualquer cliente em potencial, passando pela frente da loja... sem discrinação de cor ou raça. rs

Tigre disse...

Assim como "meu nego" e "negão" podem ser carinhosos (em situações diferentes) para pessoas de qualquer cor de pele, pelo menos por aqui.

Leo disse...

hahahaha duvido uma dessas vendedoras me chamar de "morena" hahahahaha! e "pele morena" pra mim descreve alguém que foi pra praia...