quarta-feira, 21 de abril de 2010

Vivendo a teoria [2]

O nome de um aluno meu é uma palavra paroxítona. Claro, não só de um, mas esse em particular provoca um fenômeno interessante. No caso, uma colega dele, quando está amigavelmente irritada com seu comportamento, numa atitude de pré-namoro, troca a tônica de seu nome, tornando este uma oxítona. Ao fazê-lo, provoca o tal fenômeno que destaco aqui.

Como é bem sabido, a letra "o", quando pronunciada em posição particularmente fraca, em especial no final da palavra, tende a ser dita como "u", se não é tônica. Ou seja, a gente até pronuncia "o" no fim de "capô", mas "u" no fim de "cabo", "junto", "prato", "Dédalo"... Apesar de o nome do colega efetivamente terminar em "us", quando a aluna referida muda a tonicidade do nome dele para a sílaba final, (sem saber) mantém a regularidade da pronúncia brasileira respeitando-a às avessas: ela transforma esse "us" em "os". Já que o "o", se fraco, facilmente vira "u" (denotando a fraqueza), ela instintivamente (ou inconscientemente, se preferirem) transforma um "us" fraco em "os" forte. Provavelmente age como reforço mais que suficiente dessa transformação o fato de a maioria das palavras do português ser paroxítona, ou seja, terminar fraca tendendo a, no caso de final com "o", apresentar a transformação referida. Contando ainda com as proparoxítonas, nem se fala.

Enfim, a típica fraqueza de "u" (e "i") é base tanto das regras de separação de sílabas quanto de acentuação, assim como as mesmas regras de separação contribuem para as de acentuação também, já que é tudo baseado em "oxítona, paroxítona e proparoxítona", ou seja, o assunto que abordei de início (a mudança do nome do colega de paroxítona para oxítona). A incomodação carinhosa de sua colega serviria de mote para uma boa revisão para a prova (o que talvez eu faça mesmo), ao menos para alunos com tendências teóricas. Conclusão: (só) o amor constrói.

6 comentários:

Clark disse...

A gente fala “capu” (para “capô”) na Bahia. Com U tônico. rs

Clark disse...

Bem, pelo menos, eu falo. (Prevenindo-me de uma possível contestação por parte de Vida)

Tigre disse...

Havia um comentário sobre eu estar falar sobre a pronúncia do Sul em algum lugar, mas acho que ficou sem espaço adequado na versão final do post. Enfim, sabe como a gramática se importa com um tipo bem específico de pronúncia entre todas as variedades possíveis no Brasil...

Tigre disse...

Ah, e o post todo é retórica. Por favor, o essencial é q só o amor constrói :)

Clark disse...

1º) Mas a generalização está correta, inclusive para a Bahia. “Capô” é que é uma exceção.

2º) Eu sei!

Tigre disse...

2 - Podia parecer diferente, pra quem nos lesse discutindo o "o". Só isso... ;)