segunda-feira, 12 de abril de 2010

Debates e fóruns

Notícias sobre Fórum Social Mundial sempre tratavam como se aqueles que organizassem o evento estivessem propondo ideias melhores para se viver no mundo. Quero dizer, o fórum era noticiado como algo que apresentava de fato respostas, e respostas boas. O caráter um tanto experimental e de puro debate (em que um dos lados necessariamente apresenta os piores argumentos, ou seja, não propõe a solução do problema de forma realista - estou desconsiderando se isso vem à tona no combate retórico) era necessariamente esquecido, já que a ideia era promover e, convenhamos, pegava mal a imprensa falar diretamente mal sobre o Fórum já de entrada. É óbvio que "democracia" era um termo mal entendido por vários participantes, mas também não era tão rara a sensação de que se procurava uma resposta, não que se a tinha. Enfim, o discurso "viemos salvar o mundo da dominação deles", que era a carta de apresentação do evento, influenciava uns jornalistas ou era acatado por outros.

O Fórum da Liberdade, por outro lado, não deixa de ser arrogante, mas é noticiado de forma ainda mais brusca, nesse sentido. O slogan do projeto, "seis temas para entender o mundo", foi adotado como aposto em toda santa matéria sobre o negócio. Não é como se citassem o slogan, simplesmente se inclui no texto a referência, como se as teorias apresentadas no fórum servissem para se entender um mundo que é como os palestrantes defendem. "Sabe-se a verdade", só não se sabe bem quem a explica melhor, o liberal 1 ou o liberal 2. É divertido que jornais também indiquem, sem qualquer suspeita de dúvida, a "pluralidade" do debate. Curiosa pluralidade a de um evento que reúne palestrantes como Carlos Ghosn (presidente mundial da Renault/Nissan), Armínio Fraga, Eduardo Marty, FHC, Stephen Kanitz, David Neeleman e Jorge Gerdau Johannpeter. Afinal, o evento ostensivamente (na chamada de qualquer informativo) reúne o pensamento liberal. É preciso maior diversidade para se ter pluralidade. Eu, pelo menos, não considero dois fãs de um time debatendo qual o melhor técnico como um confronto de ideias capaz de representar as forças em conflito no campeonato.

De qualquer forma, toda matéria indica os palestrantes por "fulanos que vão explicar o mundo", ou o fórum "com participantes que vão ajudar a entender o mundo"... E o que é entender o mundo? Justificar que os países que entendem a liberdade da mesma forma que eles ficaram mais ricos que os vizinhos por causa disso? Sério?! Os debatedores plurais vão vir com a busca da "causa fundamental" ideológica de novo? E não se menciona nas notícias um sorriso de canto de lábios quando se informa isso? Ceder o direito da dúvida para o Fórum Social Mundial era bonitinho, mas não salva do ridículo de se abaixar as calças para o Fórum da Liberdade. Eu sei que pedir espírito crítico de jornalismo é ingenuidade, mas só fiz este post para desabafar que o pé atrás que a esquerda merece não significa que a direita mereça menos. Concordo que Che Guevara estava errado, mas nem por isso Tio Sam tinha razão - e existem mais pontos de vista no mundo.

Um comentário:

Carla M. disse...

ah! alguém mais viu maldade no outdoor!!! eles ainda acreditam em mensagem subliminar?!