sábado, 4 de dezembro de 2010

O "S" e o infinitivo

Eu observo há um tempo um erro padronizado de alunos com determinada incompetência de escrita: escrever verbos no infinitivo com "s" no fim, em vez do "r". Não estou falando de gente que tem um "r" que parece um "s" simplesmente, mas de pessoas que real e nitidamente escrevem o último no lugar do primeiro. 

Não é algo restrito a idade nenhuma, nem mesmo a se estar ou não no Fundamental, mas as pessoas que cometem esse erro parecem ter mais ou menos o mesmo nível de trato com a língua. O assunto me chamava a atenção, mas o pouco esforço que eu dedicava a descobrir o motivo nunca me levou a solução nenhuma. A maioria dos professores com quem comentei não parecia ter notado o padrão, apesar de lembrarem de uma série de casos assim que eu colocava claramente a questão para eles. Desatentos, eles não tinham nenhuma teoria adequada a oferecer. Os poucos que tinham notado o fenômeno me diziam que também ficavam intrigados, mas só conheciam respostas genéricas para a coisa, centrados na solução: lerem mais, contato maior com escrita, mais exercício...

Há uns dias, no entanto, me veio uma resposta óbvia. Não sei se real, mas logicamente simples: "s" é a letra que some. O aluno que já sabe que os verbos ditos com vogais fortes tônicas no fim (o que é percebido intuitivamente, claro, não assim como estou dizendo) - "voltá", "comprá", "vendê" - são escritos com uma letra no fim, colocam imediatamente o "s" porque, como eu disse, essa é "A Letra que Some".

Como assim? Explico: como é que se diz "As casas brancas do Brasil"? Ora: "As casa_ branca_ do brazil". Notaram como essa letra estranha aparece na escrita, mas praticamente não ocorre na fala se está no final da palavra? Aliás, o "s" é uma letra tão estranha que às vezes tem som de z, como no Brasil, às vezes se duplica, além de poder se combinar com outras, como "c" ou "ç".Se o aluno sabe que "vou comprá" precisa ser escrito com uma letra no fim de "comprá" e já sabe, por outro lado, que "s" aparece no fim de palavras mesmo não sendo pronunciado, "s" é a letra óbvia para o fim do infinitivo.

É claro que não estou supondo que o raciocínio se dê dessa forma na mente da pessoa. Imagino que aconteçam aqueles fenômenos curiosos e semi-conscientes de pessoas que estão desenvolvendo certa compreensão regular da língua, mas ainda não captaram bem a ideia para colocar as exceções em seus devidos lugares. Enfim, essa viajada toda pode ser uma bobagem, mas resolvi escrever aqui a hipótese para talvez alguém me dizer que "sim, Fulano e Ciclano já mostraram isso", ou pelo menos para propor a ideia para outros professores caso Fulano e Ciclano ainda não tenham dito nada disso. Nesse caso eu deveria ter patenteado este post.

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