terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eu podia tá roubando...

"Eu podia ter simplesmente dito que não era minha responsabilidade e deixado sem fazer..."

Podia mesmo? Se a pessoa é coagida, por chantagem, força ou cobrança institucional de algum tipo (geralmente uma sublimação das duas formas anteriores), então "podia" coisa nenhuma.

Mas se a coisa não chegou nesse ponto, ou não precisou chegar lá? Então a pessoa agiu por sua própria consciência. Ora, se foi isso, então a pessoa, muito teoricamente, "podia" sim ter feito outra coisa, mas decidiu não fazer. E se decidiu, decidiu. A menos que a criatura seja uma criança, estando a coerção violenta descartada, sua decisão é de sua responsabilidade. Os outros podem ser gratos... ou não. 

Mesmo um de nossos heróis populares mais queridos disse "não faça aos outros o que não queres que façam contigo", e não "não faça aos outros para que não façam contigo". A cobrança pelo reconhecimento de nossas boas ações (sejam verdadeiramente isso ou não) indica um pressuposto de que a bondade exista numa relação de crédito metafísico, de que o bem é premiado com o bem; ou, pior ainda, de crédito humano, que implica seres humanos que reconheçam o que recebem por bem. Não é a melhor descrição da raça nem dos deuses. O choramingo de "eu podia ter..." não faz sentido. A responsabilidade por fazer algo, bom ou ruim, é nossa. Os outros são agradecidos quando querem, se querem. 

Fazemos o bem porque queremos, portanto fazemos o bem por nossa conta e risco. Ou não façamos.

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