terça-feira, 18 de maio de 2010

Ainda o Irã

Os discursos contra o Brasil em geral não prezam pela qualidade ou mesmo pela pertinência, seguindo tantos clichês quanto os discursos laudatórios. No caso dessa crise com o Irã, no entanto, os clichês são tão poucos (já que a ação do Brasil é representada como inédita em nossa história diplomática, a falta de arsenal retórico é natural) que Israel preferiu simplesmente ecoar os Estados Unidos letra a letra. Conforme sua declaração oficial, "o Irã manipulou Turquia e Brasil na consolidação deste pacto". Curiosamente, é o exato risco para o qual Hillary Clinton "alertou" Lula quando ela veio ao Brasil, em março. Se os EUA podem tratar toda a diplomacia brasileira como crianças, por que Israel também não, certo?

A alternativa a essa infantilização seria atribuir ao Brasil a capacidade de participar ativamente do jogo de pressões da política internacional e ter, sim, maldade no corpo, no melhor sentido, ainda que seja um sentido contrário aos interesses norte-americanos. Se foi mesmo uma manipulação, dessas que temem tanto que soframos, então foi teatralizada magnificamente, porque envolveu uma encenação de 18 horas (sozinhos, eles podem ter só definido o que o Irã queria que o Brasil endossasse e passado o resto do tempo discutindo a escalação do Dunga, é claro).

Talvez um erro do Brasil estoure no de todo mundo, mas fazer de conta que o Lula e a diplomacia envolvida é um grupo de bobinhos ingênuos ajuda a resolver menos ainda. Se eles erraram, erraram no quê? Onde está o embuste? Por que se acreditaria que ele existe? Argumentos?

PS: Esqueceram do argumento "Porque estão deixando a parte mais difícil do enriquecimento do urânio ser feita às claras por um ditador"?

Um comentário:

Clark disse...

Erra feio aquele que acha que Lula é bobo. Ele é ignorante, mas é talvez o político mais esperto do país.
Hillary achar que o Brasil está sendo “enganado” só mostra que ELA não conhece a natureza dessa gente... o que é estranho, considerando que os democratas elegeram um presidente com um discurso pseudo-pacifista muito semelhante.

Será projeção? Será que Hillary REALMENTE acreditava na patoada de que só era necessário Obambi sorrir para o Irã e fazer mais uma pose de “estão esculpindo a minha estátua” para chegar à paz e à felicidade entre os povos?

Se Luls estivesse sendo iludido, ainda seria uma opção muito melhor...