quarta-feira, 23 de maio de 2012

House, over and out!

Como tantas vezes disseram Wilson e Cuddy, "Goodbye, House"
 
*Não há nenhum spoiler do último episódio neste post.

House foi a primeira série adulta que vi. Digo exatamente assim, que vi, não que "assisti", porque nunca tinha visto um seriado em que bobagem não precisava de piada e drama não precisava de choro. 

Na verdade, a única série de que tinha realmente gostado desde ter desenvolvido suficientemente a razão fora Friends. Family Ties, Full House, Punky, Alf e algumas outras fizeram parte da minha infância, mas daquela forma intermitente que séries passavam na TV aberta na época. Note-se que só falei de sitcoms, com a exceção de Punky que passeava entre isso e o "drama", obviamente na abordagem mais infantil.

Friends foi uma revolução. Tanto para mim quanto para os seriados, de comédia ou não, para a indústria de DVD de séries, para a equipe envolvida, enfim, para tudo que pudesse ter alguma conexão com o fenômeno, inclusive para meus amigos e, como a série começou em 1994, devo dizer para a maioria das pessoas que viriam a se tornar meus amigos enquanto a série esteve no ar.

As séries que já tinha assistido até então ficaram ofuscadas na minha memória e eu passei a considerar Friends a única produção seriada americana que eu já tinha curtido. Tanto que não assistia a nada paralelamente nem depois que a série acabou.

Um contexto bem específico fez com que eu me encontrasse com House, aos poucos, lá pelo fim da 2a temporada, dois anos depois do fim de Friends, que assistia religiosamente. Logo, o diferencial (racional) que mencionei começou a me chamar a atenção, e resolvi conferir a 1a temporada para ter certeza (odeio explorar uma série pelo meio e só depois assistir o começo). Como todo mundo, também me impressionei com a atuação de Hugh Laurie, claro.

Eis, então, um seriado em que a inteligência tem um papel crucial, o método convive com a bagunça, um bando de coisas incomodativas (das pessoas e da burocracia) é escrachado catarticamente (ao menos para mim) e a maioria das coisas que eu não tenho com quem discutir é debatida pelo menos com alguma argumentação. No começo, o alívio maior foi mesmo a quebra com o politicamente correto. Quando eu comecei a assistir, essa nova forma "cheia de dedos" de dizer absolutamente qualquer coisa reinava suprema, ao menos nos meios em que eu estava envolvido (e, com certeza, na TV - graças aos deuses não havia Facebook na época, ou seria plenamente insuportável).

Não falo, fique claro, da negação absoluta e estúpida do politicamente correto. Ou seja, não falo de Pânico na TV. O que havia ali era um confronto, um questionamento dos limites, das capacidades e dos motivos, muitas vezes imorais ou logicamente bem questionáveis, por que as pessoas costumam aderir ao discurso politicamente correto. (Atualmente, além de House, conheço só UMA série em que questões complicadas são realmente discutidas pelos personagens, sem que uma série de clichês do certinho, da fodona e do simplório venha atrapalhar o andamento da cena.)

Enfim, portanto, uma série que me instigava na primeira temporada, me divertia na segunda, me provocava na terceira (ainda considero o 12o episódio da terceira temporada - One Day, One Room - uma das melhores coisas que já assisti, de qualquer gênero ou tipo de produção). A quarta temporada trouxe o prenúncio do fim (apesar de a série ter resistido mais outras quatro temporadas depois). As tentativas de mudar a série, de renovar uma situação que era perfeitinha demais no começo para andar para qualquer lado, ficavam mais e mais desesperadas, arriscadas. A série nunca mais foi a mesma, e a audiência foi variando, assim como o interesse de telespectadores que se mantiveram fiéis, como eu.

Para minha grande surpresa, essas mudanças radicais trouxeram algumas novidades fantásticas, como a incomparável Thirteen, o aprofundamento da relação de Wilson e House, a loucura deste e os episódios dele internado (Broken), que adorei, bem como os episódios da morte de Amber, impressionantes.

Nem tudo, portanto, foi para pior, mas a série não recuperou os trilhos, de alguma forma, e a saída de Cuddy para esta temporada foi de doer. Tudo indica que seja o momento certo para acabar. Talvez devessem mesmo ter terminado a série na temporada anterior. Mas ainda é triste que, de todas as inúmeras cópias que House provocou (de The Mentalist a The Finder - mais imitação mesmo, a meu ver, de Cowboy Bebop), nenhuma série parece ter conseguido captar esse aspecto racional e, de alguma forma, adulto da série. O nível tinha caído, muitas vezes, mas não o suficiente para ser confundido com os outros seriados que se produzem atualmente. 

É uma pena, enfim, que uma combinação tão rara de roteiro, atores e falta de mimimis tenha de sumir, até mesmo quando é a hora.

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