segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Preconceito invertido pela culatra

Estava eu assistindo a uma palestra/conversa com um escritor na Feira do Livro quando ele menciona, por qualquer motivo, "mulheres", assim no plural. Como não poderia deixar de ser, ou ele largava um comentário machista, só por ter tocado no tema, ou fazia um elogio desproporcional e demagógico. Foi pela última opção, arrancando aplausos satisfeitíssimos de algumas mulheres de todas as idades.

Nada de novo no front. Aliás, pouca coisa poderia ser mais tediosa de tão batida. O elogio, no caso, foi amplo e completamente desconectado do assunto: "as mulheres são melhores em tudo".

O que me chamou a atenção foi a reação da maioria dos alunos de oitava série, que estavam todos à minha direita. Virando o rosto, vi de um golpe só os olhos virando para o chão ou rodopiando no ar, os lábios se contorcendo, os sorrisos debochados ou cansados. Com as caretas, vieram os comentários, não altos demais que passassem de nós, mas próprios para que circulassem entre a própria turma. Ironia quase total. Aqueles adolescentes não caíram no movimento retórico do autor, cansaram-se, como se fosse, com o elogio vazio e batido, perderam grande parte do respeito que estavam decidindo colocar ou não na figura. Não era a má vontade típica, nem eles responderam com comentários machistas. O autor tivera chance de ser escutado que raras vezes eles dão a estranhos, e se perdeu no clichê...

Eu sempre achei que aquela galera merecia todo o apoio, mas aquele desdém merecido no meio dos aplausos foi um gesto que deveria ter sido filmado para entrar no histórico escolar. Aquilo é tão difícil de comprovar na escola.

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