segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Não sabe o problema das escolas? Então estuda!

Conforme recentes pesquisas, negros rodam mais que todas as outras categorias étnicas do IBGE, no Brasil. Feitos os cruzamentos entre classes sociais (com o maior número de negros entre os pobres que entre os ricos), vê-se ainda que, até numa mesma faixa de renda, o número de repetência dos alunos negros ainda é maior. A nota também costuma ser maior entre os brancos se comparados a negros da mesma faixa econômica. Até nesses grupos, aliás, há uma porcentagem maior de negros em escolas ruins - ou seja, ainda que tenham renda próxima, há a tendência de que o branco ou derivado esteja em uma escola melhor (ou, claro, menos pior).

Não lembro da porcentagem, mas essa realidade também é encontrada em outros países, como os EUA. De fato, isso é tradicional entre grupos que sofrem qualquer tipo de preconceito, em qualquer país e em qualquer época (considerando-se o pequeno recorte em que nosso conhecimento a respeito é adequado e relevante, claro).

A resposta de que, além dos problemas de renda e de disponibilidade de boas escolas, o racismo tenha parte da responsabilidade é provável, mas descritiva. O problema é que não se parece ter estudado COMO esse racismo age para piorar notas, estudo ou permanência na escola. Portanto, concluir que o racismo é um responsável provável não significa que atacar livros didáticos, por exemplo, seja o caminho. No entanto, este é um dos alvos. Por quê?

Tudo bem que livros didáticos estão em todas as escolas. Falta saber se estão em todas as salas de aula. A maioria dos professores, pelo menos por estas bandas, usa o livro de didático como uma ferramenta  para o seu trabalho, assim como usa informática, quadro, passeios, bibliotecas, música, jogos... Só porque existem mais brancos, ou referências brancas (se é que é verdade - não nos que eu conheci, pelo menos), nos livros, isso não indica em nada o tipo de experiência ou de material que os alunos estão encontrando em aula. Um professor pode até pegar um livro didático racista e virá-lo de cabeça para baixo em sala de aula, trabalhando o problema dos valores do livro como tanto se idealiza. Mais ainda, é bem provável que o livro didático, considerado ruim, jamais entre na sua aula.

Agora, mais do que isso: quem disse que o aluno se importa com o livro didático? Pelo menos a partir da quinta-série, para a maioria dos alunos eu diria que a escola é um lugar errado e chato a priori. Podem gostar de um professor, de uma matéria ou de alguém mais da escola, mas cada professor novo ainda deve ganhar o respeito ou carinho por si. Caso contrário ele é apenas parte da "escola", uma instituição chata que fica inventando de tentar ensinar coisas enquanto as crianças vão lá para namorar, fofocar, brincar e, em alguns casos, outros interesses um tanto questionáveis.

Quem disse que os racismo entra pela atividade dos próprios professores? Quem disse que são os alunos os responsáveis? Quem disse que a literatura e o tipo de revistas que se tem nas bibliotecas influenciam? Quem disse que é responsabilidade dos ídolos dos alunos e das possíveis diferenças que existam entre alunos negros e todos os outros? Quem disse que é culpa das próprias famílias? Ora, ninguém disse nada disso, porque ISSO não foi estudado. Pode ser que existam movimentos nesse sentido, mas é preciso conhecê-los antes de se querer atacar as causas invisíveis dessa disparidade. Não basta um estudo descrever um problema, sem estudar suas causas ou caminhos, para que se pule para a etapa prescritiva, ou seja, a etapa de opinar sobre soluções ou, ainda, criar políticas com base apenas nos próprios preconceitos a respeito de alunos, professores, escolas e pedagogia.

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