quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Suprimindo os candidatos

Existem pessoas que anulam o voto para se esquivar da difícil arte de decorar números ou de levar cola para a eleição. Existem outras, que me parecem mais numerosas, que anulam o voto para ter o orgulho de dizer aos quatro ventos que o fizeram, como uma marca de que os políticos não as infectaram, que elas estão limpas dessa sujeira toda. Desconsidero o primeiro caso considero o segundo público demais, focado efetivamente num interesse social imediato de suas relações mais do que num interesse político amplo.

Os motivos políticos que conheço para alguém votar nulo são basicamente o romântico boicote que realmente espera que número suficiente de eleitores anulem o voto e comprem, com isso, uma nova campanha política (qual seria a vantagem?) ou a sincera opinião de que nenhum dos concorrentes merece seu voto, e nenhum é melhor que o outro. 

Agora, como esses dois redundam um no outro, e nenhum deles leva a lugar nenhum, pois ou um dos concorrentes ganha de qualquer forma ou se revisa algo que não será tão diferente assim quando estiver novamente estruturado, parece-me que, na verdade, a única solução e o sentido íntimo de se anular um voto não é anular a si, mas aos candidatos. O que quem anula quer, na verdade, é suprimi-los, acabar com sua existência como candidatos (o que, em geral, dependeria de se anular a própria vida dos concorrentes). Tenho a impressão, por isso, que quem vota nulo faz o exato oposto do que secretamente quer. Em vez de sumir com o político filho da puta que tanto odeia, some consigo. Não estou dizendo, de forma alguma, que não seja uma opção válida, já que sumir consigo é democrático e sumir com o candidato só é efetivo se for assassinato ou revolução (o que envolve alguns assassinatos), e pessoas que anulam o voto não parecem acreditar muito em nenhum dos dois, menos ainda no segundo que no primeiro.

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