quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

É proibido caminhar

Na primeira temporada de Mad Men, há um escândalo na vizinha em que mora o protagonista: uma mulher é separada (é o começo da década 1960). Dada a estrita etiqueta da época e determinadas necessidades sociais de uma vizinhança sem internet, as pessoas convivem com a separada, mas em baixíssima tolerância.

Assim, a amiga da esposa do sujeito pode flertar violentamente com ele na frente da mencionada esposa, mas quando esta vê a separada meramente em pé ao lado do seu marido, fica com ciúmes e trata de pedir um favor para ele (favor a ser feito bem longe dali). Como se observa que essa mulher separada caminha pela rua (!), começa-se a especular aonde ela vai, e o fato de ela responder claramente que gosta de caminhar e o faz por lazer apenas piora as especulações a seu respeito.

Parece-me que toda a situação na série motiva pensamentos sobre grandes avanços da sociedade em relação à mulher, mas isso é chover no molhado de conquistas já feitas, o que raramente me parece o melhor aproveitamento de qualquer obra artística. O que é interessante, a meu ver, não é o que já mudou ali, ainda que seja bom lembrar quantos direitos femininos foram conquistados e quão idiotas costumamos (homens e mulheres) ser desde que boa parte da sociedade concorde com a gente.

Ainda assim, o que acho mais interessante é o que não mudou. Ainda hoje, decidimos os grupos que prestam e os que não prestam majoritariamente por motivos idiotas. O apoio de alguns amigos (se não de grande parte da população) é necessário para a ideia ganhar realmente mínimo mérito. Então, racionalizações vêm fazer o seu papel para crermos que não estamos sendo idiotas, mas extremamente lógicos. O próximo passo, ainda hoje, é não perdoar nem por andar na rua as pessoas que discordam de nossa visão.

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