quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Armadura e amor: tudo a ver!

Ironclad (Sangue e Honra no BR) é um filme ok, bem feito, bem atuado, que ainda de quebra mostra de forma mais interessante assunto tratado de forma absolutamente inverossímil no último Robin Hood (o do Ridley Scott, com, a meu ver, o desperdício de Russel Crowe e Cate Blanchett).

Apesar de tudo, o filme tem um pecado, que é tão comum que resolvi desabafar aqui: ele tem uma história de amor. Por quê? Por que todo filme tem que ter história de amor, até quando ele é sobre a resistência de um forte estratégico, sob liderança de um templário, contra a tentativa do Rei João de reverter a perda de poderes que precisou engolir dos barões uns anos antes?!

A única exceção que eu conheço para filme sem romance caído do céu é Volcano, mas talvez por isso mesmo tenham escalado Tommy Lee Jones e Anne Heche. Que eu lembre ela tinha recém declarado que era lésbica, o que pode ter dado certa margem ao roteirista (ou o motivado) para conter o affair inverossímil, mas contra as leis das produtoras, pelo jeito, quando o assunto é protagonistas. Obviamente que o impedimento no caso não eram os 23 anos de diferença entre os dois: no ano seguinte, ela teria um caso com Harrison Ford, 27 anos mais velho que ela, em Seis Dias, Sete Noites.  

Agora, e o que interessa aqui, há enorme diferença para esse último filme: eles terem um caso era central na história, já que ela fora para a ilha onde conhece o personagem de Ford exatamente para "reacender a paixão" de seu casamento. Ou seja, as coisas não estavam bem, e ela teve a sorte/azar de encontrar alguém muito mais interessante que o marido (interpretado por David Schwimmer, que aguentou uma prolongada suspeita de ser gay até revelar com quem era casado havia um tempão: surpresa, era uma mulher!).

Volcano é, então, a grata exceção, apesar de o filme não valer a pena, de uma história em que mocinho e mocinha não precisam descobrir que se amam só porque salvam o dia.  Em parte foi por lembrar dele, e então de Anne Heche, que fiz essa longa viagem pela homossexualidade superdiscutida de vários atores em Hollywood, mas esse assunto em si me interessa para o post porque o templário de Ironclad é (obviamente!) celibatário, obrigado a manter a castidade desde que entrou para a Ordem. A forma como uma ama explica à Senhora (não sei o título específico adequado no caso) do castelo protegido esse celibato, e o comportamento de um guerreiro desse tipo, é tri interessante. Isso passa por dizer que ele não gosta de mulher, sem que pareça uma afirmação de alguma homossexualidade. A meu ver, isso estava claro na cena, mas os produtores ou o roteirista devem ter pensado o contrário!

Fiquei imaginando se não foi um pouco provocação para rolar o casinho o roteirista colocar uma explicação da castidade dessa forma. Será que alguém realmente vai pensar que o protagonista e a protagonista não gostam do sexo oposto se não quiserem se comer lá pelos 70 minutos de filme? Seria esse o medo dos produtores? Porque as desculpas clássicas ("deixar o filme atraente para mulheres" e "todo o mundo gosta de uma história de amor") não funcionam MESMO para roteiros como o de Ironclad.

Se a mulher não quer ver um filme de homens vestidos de armaduras metálicas se retalhando e surrando (já diz na capa: blood will run!), não vai ser uma personagenzinha feminina previsível que vai fazer valer a pena o ingresso. Pior ainda: pela minha experiência, personagens femininas previsíveis são ainda mais tediosas para o olhar feminino e têm mais chances de incomodá-las que de interessá-las, a menos numa comédia romântica.

E todo o mundo gosta de uma história de amor se ela é verossímil e interessante para a história! No caso, o romance é absolutamente inútil. Ele obviamente envolve um abandono de votos do cavaleiro templário, mas isso já está posto desde o início do filme, quando sua permanência na Ordem é discutida. Ele só permanece templário até o fim do filme porque estoura a guerra civil em questão! O herói não aprende nada de novo se apaixonando pela mulher e isso não altera o desenrolar da guerra. Portanto: zero!

Mas veio o bloqueio, o cacoete, ou o que for, e tiveram que fazer a mocinha se interessar pelo mocinho, no caso uma jovem dura e consciente de sua posição e um experimentado guerreiro que lutou na Palestina e voltou! É ridículo, portanto, pensar neles nessa estrutura de mocinha e mocinho. Tirar o romance salvava quase uns 20 minutos de filme, creio, e o faria valer bem mais a pena.

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