segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Baianos morrendo para o governo ganhar negociação

Vou falar de longe em relação à greve dos policiais da Bahia, no calor do momento, então me perdoem qualquer equívoco, mas queria comentar umas coisas que me parecem bizarras na história toda.

Para início de conversa, comentou-se muito sobre seis dias de greve terem provocado tantos porcento das mortes que aconteceram em Salvador, no ano passado. O que não vejo ninguém comentar é que isso indica, de fato, que houve 175 homicídios no mês de fevereiro de 2011. Como diria o Faustão, "pora, meu!". 

É mesmo o caso de se supor que, se a polícia parar, vai feder. E fedeu. Tudo bem que muitos casos de vandalismo estão sendo contados como provocados por agitadores, baderneiros, comparsas e até grevistas. Vamos supor que sim: e daí? Isso não quer dizer que os grevistas ou comparsas sairiam por aí matando pessoas por Salvador, só para fazer pressão. A criminalidade aumentou absurdamente, o que é de se esperar com ou sem ajuda consciente do movimento. A posteriori, isso seria relevante, num país com polícia moderna. Como não é o caso...

Eu, pessoalmente, sou muito cético a respeito de grevistas sendo acusados. Particularmente porque eu sei bem quão baixas e falsas são as acusações que políticos e comparsas (sim, todos os têm) fazem quando qualquer grupo de trabalhadores pára a fim de exigir o óbvio ululante. Meu ponto, no entanto, é que, mesmo que as acusações fossem verdadeiras, existem questões mais terríveis a serem focadas.

Por exemplo, quantos dos 175 assassinatos de 2011 foram desvendados? Quantos assassinos foram presos? Quantos vocês acham que serão investigados e concluídos dessa vez?

O crime, em amplo espectro, aumentou. Como o governo reage? Da MESMA FORMA que reage quando absolutamente qualquer profissional pára: acusações clássicas, ofertas ridículas (para fingir negociação) e exigências de quem se coloca no lado forte da queda-de-braço. 

Em termos de disputa, beleza, o governo precisa sempre se manter retoricamente como figura forte. Qual o problema nesse caso então? O problema é que a cidade, no mínimo, está sendo violentada e quase 100 pessoas já morreram. E o governo responde com táticas de negociação de greves de professores (retórica irritante também nesse caso, mas, digamos, com efeitos colaterais menos trágicos)! "Vamos negociar se pararem a greve", "oferecemos o reajuste que sabemos que vocês não querem", "estamos preocupados com a nossa segurança"...

Isso sem contar, claro, o que nunca consigo perdoar em nenhuma situação de greve: que os políticos deixam uma crise virar paralisação. Sindicatos estão sempre negociando com o governo. Em geral, é possível prever uma greve há muitos meses de distância, se se está dentro da brincadeira. Mas o governo deixa rolar, se faz de forte, brinca de roleta russa com a cabeça do trabalhador em questão, de suas famílias e da população.

Nisso, preocupações emergiais do governo baiano (e federal): turismo empacado e imagem ruim para a Copa... E a população morrendo? A população que morra! 

Nada de novo no front.

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