quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Trato é trato" disse o demônio. Justo demônio.

Numa significativa tradição europeia, apesar de não me parecer ser exclusiva deles a ideia, demônios contentam-se com os pactos. Assim que o pacto acaba, como previsto ou não, a relação recebe um fim. Sem ressentimentos. Mefistófoles não atazanaria o bisneto de Fausto só porque este se saiu bem do que parecia a armadilha perfeita. Em parte essa crendice parece reeditada em diversas épocas e talvez tenha relação com o fato de que soaria absolutamente alienígena que Satã se cobrasse de herdeiros de Jó, ainda que Javé punisse por gerações naquela época. Se o pacto é levado a contento, é claro que os demônios não têm do que reclamar, e se regozijam do sucesso como bruxas com seus escravos em alguns contos populares muito antigos. Mas, mesmo que a oportunidade de vingança esteja caindo de madura, eles não se vingam daqueles humanos que driblaram os traiçoeiros quesitos armados por eles próprios. Se a assinatura do pacto é um selo aparentemente infalível, demônios não parecem se ressentir daqueles que superam tal aparência, já que regras são regras.

Que regras não sejam regras parece uma lei específica de humanos, assim como a vingança. Que digo? Que numa cultura pouco letrada o contrato parece algo tão poderoso quanto demoníaco? Sim, mas também que a vingança, em particular a gerada pelo ressentimento infundado, é tão reconhecidamente humana que, no caso dela, mesmo culturas mágicas prescindiram do direito divino de culpar o demônio.

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