quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Alunos em manutenção

Eu não sabia: nas escolas municipais de Porto Alegre, os alunos não são reprovados, nem retidos, nem rodam. Eles são... mantidos. Além do óbvio envolvimento do espírito politicamente correto, no passado, existe agora uma questão técnica para o termo. Há algum tempo, a Secretaria Municipal seguia o sistema de Ciclos. Como parte disso, a reprovação foi extirpada das escolas. No entanto, o resultado foi desastroso e acabou-se chegando a uma meio-termo que está muito mais para o sistema seriado hardcore que para uma versão dos Ciclos. De qualquer forma, por herança terminológica dessas alterações, ninguém podia reter alunos quando a forma quase seriada de Ciclos foi escolhida, a não ser uma escola, que previa isso em seu estatuto. Então essa escola retém alunos e as outras, sem previsão legal para reter, reprovar ou rodar, "mantém" os alunos.

Existe pelo menos uma outra consequência importante dessas transformações: como ainda se diz que as escolas funcionam em Ciclos, a repetição não voltou apenas com outro nome, ela tem uma importante restrição, a de que o aluno só pode ser mantido uma vez a cada ciclo. Ou seja, no caso de matérias específicas, como a minha, entre os 7a e 9a anos, só se pode "manter" um aluno uma vez. Isso obviamente exclui a ideia de se defender a manutenção de um aluno no 9a ano, pois é considerado criminoso rodar alguém no último ano (ou seja, só pode ser aplicado a alunos criminosos) e a pessoa não poderia ter sido mantida nenhuma outra vez no terceiro ciclo (o que é raro entre criminosos). Portanto, é necessário prever o futuro do aluno para se decidir se é mesmo a hora de "mantê-lo", com a finalidade de "proporcionar novamente um crescimento do qual ele não soube tirar proveito". Lindo.

PS: A nomenclatura escolhida talvez também seja um reforço contra o medo da evasão escolar.

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