domingo, 28 de março de 2010

Buy me!

Esbarrei ontem no livro do Fernando Henrique Cardoso feito especialmente para "lá fora". Trata-de uma fábrica de hilariedades trágicas, porque o livro é de uma cara-de-pau assustadora do título às críticas que gera. A obra chama-se "The Accidental President of Brazil". Jogos com a expressão "accidental president" na tradição americana e o sentido literal dos termos já seriam suficientes para espancar a cara do ex-presidente na foto que escolheram para capa.

O Wall Street Journal, "not exactly a bastion of anti-capitalism sentiment" - como diz o Lowell Bergman de O Informante, abre as críticas selecionadas para o livro falando que o Mr. Cardoso teve o gigantesco mérito de abandonar idealismos coletivos de um mundo que mudou - sim, "o mundo já é como o Wall Street Journal quer, e pelo menos o presidente Fernando Henrique admite"! Lendo um pouco a respeito eu encontrei logo de cara a apresentação que o USA Today deu para o livro, explicando que FH foi o primeiro presidente brasileiro a não seguir o "unfortunate habit" (!) de entrar ou cair por golpes, demitir-se por motivos misteriosos ou simplesmente se matar.

Nenhum crítico parece se abster de comprar exatamente a proposta de FH narrando sua vida, ou seja, a de que sua trajetória (desde a infância) oferece um interessante paralelo para a recente História do Brasil. A figuraça mantém o tom condescendente em relação à população e aos empresários, é claro, explicando o quanto era difícil para as pessoas aceitarem ou entenderem seus grandes planos ao longo da carreira política (ou de "intelectual influente", mais do que político, como ele ambicionava viver na carreira pública). O tom suave do livro lembra "Quase memória, quase romance", de Carlos Heitor Cony, com a violenta discrepância de que este idealizava o pai em suas memórias, ao passo que FH resolveu ficar na idealização de si próprio.

O conjunto da obra, particularmente a postura do projeto, permite pelo menos um curioso paralelo, o de que nosso re-eleito "intelectual privatizador" quis se vender em livro para os EUA, enquanto nosso re-eleito "populista anti-intelectuais" quis se vender em filme para nossas massas. Simbólica diferença de projetos.

4 comentários:

Carla M. disse...

Básico, a diferença entre um político e um intelectual elitista.

Aliás, que feio! Esqueceram que Juscelino (vulgo JK) antes dele já tinha cumprido seu mandato segundo a legislação e entrado e saído da presidência segundo as normas democrática. Também não cumpriu ele com o infortunado hábito?

Quisera eu poder bater no intelectual que faz de seu país uma republiqueta das bananas.

Mas paciência. Florestan Fernandes que se revire no túmulo.

(Beijo lindo!!!)

Anônimo disse...

Fazer o que...é possível levar à sério alguem que diz: "esqueçam tudo que eu escrevi..."

Efê Aga Cê cada vez mais vira uma caricatura de si mesmo.

Gabi disse...

pior é que ganha rios de dinheiro dando palestras no exterior contando "as façanhas de um super presidente"...

Blog do Itamaracá disse...

FHC conta no livro que queria ser bispo?Pois é,não deu certo.
Conta que depois quis muito ser militar,mas foi reprovado DUAS vezes para a escola militar?
O pai dele é que tinha razão ao dizer " este aí não vai dar nada que preste na vida vida".Se foi praga ou profecia não sei bem,porém acertou 100%.O FumaHCe só podia mesmo virar político e presidente.O tempo como professor da USP não vale,pois aquilo podia ser chamado de tudo,menos "trabalho"...