segunda-feira, 5 de março de 2012

Vão-se os ciganos, ficam-nos os preconceitos

Chamem-me preguiçoso ou desinteressado, mas só hoje me dei o trabalho de ler a definição completa de "cigano" no meu Houaiss. Como um álbum que comprei logo antes de ter sua capa censurada, meu dicionário também agora é artigo de luxo. Foi depois, portanto, da censura que me animei a explorar a iguaria que tinha em casa com um novo gosto.

Pois o primeiro sentido da palavra não só tem fundamento histórico quanto apresenta um elogio (se vamos considerar um "insulto" o sentido figurado que causou conflito). Define-se ali, entre outras coisas, que é um povo com talento para música e a magia. Ora, talvez os incrédulos não aceitem a inclusão de "magia" num sentido que não é figurado, que é mesmo o primeiro da definição. 

Não eu. Eu creio na magia dos ciganos. Se a 4ª interpretação de uma palavra (dependendo, portanto, do próprio texto que o leitor, auxiliado por seu Houaiss, tenta ler), mesmo que marcada como figurada, pode educar um povo (que não usa dicionário!) a ter preconceito, é nitidamente porque os dicionários fazem os significados de uma cultura, não o contrário. A única forma de isso fazer sentido é se os dicionários puderem ditar a realidade conforme o gosto do autor. Portanto, se o Houaiss diz que eles dominam magia, EU acredito.

Se as definições de mulher tivessem sido mudadas nos dicionários dos anos 1930, todo aquele sofrimento por sufrágio e perigosas (ou supostas) queimas de sutiãs não seriam necessárias... Será que a editora poderia incluir em "professor" o sentido "pessoa podre de rica", por favor?

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