segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os distantes cristãos da Nigéria

O resultado de UM dos ataques a uma das igrejas.
Anteontem cristãos foram novamente atacados na Nigéria. A onda é tão sistemática e violenta que as autoridades locais da religião estão chamando de depuração étnica e religiosa. Foi feito um ultimato para que as pessoas de crença cristã abandonassem o país, e tal ultimato "expirou" na quarta passada. Mais um detalhe: estima-se que 40% da população (deste que é o país mais populoso da África) é cristã, por enquanto. Também é interessante dizer que o grupo islamita responsável não apenas mata e violenta cristãos, como enfrenta, em grande parte por isso, a polícia e o exército.

Pois bem, quando um grupo assim preparado para violência provoca uma calamidade do tamanho da que está sendo causada na Nigéria (situações desse tipo não existem só lá, é verdade, como bem se sabe, por exemplo, a respeito do Egito), espera-se em geral que haja grande comoção, particularmente se é algo que pode provocar empatia direta em grupos bem representados no "Ocidente" (Europa, EUA, e alguns países como o nosso - ouso nos incluir para estes fins).

Agora, não é só que não tenha visto reação a essa situação, salvo os comentários um tanto isolados de um que outro conservador (desacreditado para retweets e compartilhamentos em massa já por isso). Há também um problema terminológico na notícia acima, o que complica seu efeito por estas bandas. "Cristãos" em geral são entendidos no Brasil como "católicos". Não é que as pessoas não saibam que o termo vai além, mas ele ainda provoca mais associação com o Vaticano que com qualquer outra coisa. "Crente" é o evangélico, de qualquer igreja, "protestante" é o das antigas (anglicano, p. ex.) e espírita é "espírita". Talvez por isso quem noticiou a situação da Nigéria não se preocupou em dizer que "cristão" é esse tão bem representado por lá. Pela proporção, no entanto, imagino que sejam oficialmente católicos mesmo.

Pois bem, "cristãos" estão envolvidos em outros problemas por cá. Até um pastor evangélico engravidou menores (ou seja, não só os padres ficam tachados de pedófilos), mas os tais "católicos" seguem chamando problemas: o papa, pensando que as coisas andavam muito tranquilas no front das uniões de Direitos Humanos, declarou para diplomatas de diversos países que a união homossexual ameaça "o próprio futuro da humanidade".

Todos sabemos como o casamento homossexual é politicamente importante hoje em dia. Ele, como a questão do aborto, passou a significar votos, a favores ou contra, o que, por sua vez, passa pela importância ou valor que se dá às opiniões emitidas no Vaticano sobre a política, a vida e o universo. Desse modo, apoiar ou não cristãos, dar ouvidos ou não às suas reclamações, tem todas as cores do partido de que se participa, em que se vota ou meramente que mais se apoia. 

Por tudo isso, "limpeza" étnica na Nigéria não pode ser importante, não por aqui. Não pode virar tema de escândalo internacional, como, por exemplo, um importante líder francês se aproveitar ou não de uma empregada de hotel. Assédio é crime, merece ser investigado, claro. Mas perseguição religiosa não?

É claro que sofrimento sempre há, é claro que injustiças estão por todos os lados, em todos os países, mas o mesmo é verdade, digamos, sobre maus-tratos contra animais. No entanto, o sofrimento dos cães (que eu adoro, por sinal, mas não da forma erótica como geralmente se vê no facebook) pode virar essa espécie de corrente anônima de protesto, uma versão virtual e sublimada dos Occupy (sem liderança, um tanto genérica em sua boa intenção). Já problemas éticos que sejam também políticos e têm enorme magnitude, não!

E eu sei que não tem muito que as pessoas daqui poderiam fazer pelos nigerianos, ao menos não sem uma grande organização que dificilmente se dariam o trabalho de fazer, mas não considero que essas correntes light de facebook tenham significativas consequências para o respeito e a adoção de animais, não na prática, não de fato. O abuso de animais (humanoides ou não) é um pouco mais complexo...

É interessante que os sofrimentos bastante reais e efetivos de grandes quantidades de seres humanos não consiga quase nunca tocar as almas sensíveis da mesma forma que o "escândalo da vez". O engraçado é que eu costumo ser considerado um tanto brutal no meu desrespeito ao ser humano, nas minhas críticas à espécie. Às vezes isso é até associado ao meu ateísmo. Só que o que eu (por ateísmo?) não entendo é a compaixão cristã que sofre pelos cães, mas que não enxerga ou não sente o sofrimento de outros cristãos. Tudo bem que a espécie humana não precisa ser preferida, mas será que não dá para valorizá-la como, pelo menos, igual aos cães?

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