sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lula e o free jazz retórico

Lula afirmou, para os estudantes que tanto têm vaiado Haddad, que eles só podem exigir 10% do PIB para a educação agora porque o governo (ele) garantiu os 7%. É óbvio que até a insatisfação estudantil com a Educação do governo do PT se deve às benesses "dadas" por Lula à população brasileira. Retórica lulística básica, nada de novo até aí. Estranhamente, a "promessa" de Haddad é justamente os 7%, para 2014. Acho que não entendi. O ex-presidente garantiu uma quantia que continua sendo "proposta" inovadora, progressista, socialmente revolucionária e de improvável realização (conforme o próprio Haddad)?

Bom, o mais legal mesmo é que Lula continuou essa ideia de que se pede 10 agora porque ele garantiu 7 dizendo que se tivessem pedido 10 na época dele, teriam sido atendidos. Aí a loucurada me pegou. O governo agora luta para garantir 7, não pode atingir 10, mas se estudantes tivessem pedido antes isso teria sido atingido? Mais ainda, o argumento dele é não ter sido avisado de que a Educação precisava de mais dinheiro?

É claro que, há algum tempo, Lula pode falar o que quer, e sabe disso. Ninguém exige grande coerência dele há muito tempo e seu maior mérito como orador sempre foi conseguir dizer o que melhor agradava seu público imediato sem se preocupar com o fraco efeito contrário que a publicação de suas palavras aos cidadãos ausentes poderia causar. No calor do momento, ganha os aplausos necessários. Quem leu e não gostou do que ele disse vai gostar quando ele estiver ao vivo falando outra coisa, adequada a esse público. E o resto, que não gosta nunca, perde para a maioria que curte ou sua retórica ou sua prática política (ou, simplesmente, não gosta da alternativa "oposicionista").

Ainda assim, a capacidade de dizer não-argumentos como argumentos é algo que me impressiona sempre na raça política. "Não pediram antes" como argumento para não ter investido uma quantia em Educação é uma afirmação de quem sabe que tem uma liberdade retórica digna de celebridade mundial. Tais poderes parecem sempre infinitos até serem contestados com eficácia. Essa eficácia não se encontra por aí.

2 comentários:

Carla M. disse...

O problema de personagens históricos vivos é que eles sempre conseguem fazer algo que acaba com o seu valor histórico, coisa que só se resgata na longa perspectiva do futuro...

É difícil sair de cena mantendo a pose.

Tigre disse...

Hehehe. É por isso que o esquecimento é importante para nossa forma intuitiva de entender a História.