sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O velho senso comum, mais comum que sensato

O desembargador Roney Oliveira, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, determinou que a greve dos professores estaduais deve ser suspensa. Ponha-se o máximo de peso nesse "deve", pois cada dia sem aulas deverá ser pago pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais. O valor é R$ 20 mil pelo primeiro dia e R$ 10 mil por cada dia a mais. 

Já foi pedido mandado de segurança contra a determinação.

A meu ver, poucos atos poderiam ser ao mesmo tempo mais imorais e mais apoiados em opinião pública, mesmo que haja brechas nesse apoio. Na hora de reclamar, todo o mundo concorda que "os políticos são péssimos"; a função administrativa do governo é juntamente jogada na vala comum. No entanto, quando alguém causa algum dano à sociedade, como quaisquer grevistas, não me parece que se pare para pensar que a greve é um fenômeno que escancara assustadora mal-administração. 

O fato de que servidores públicos entram em greve sempre provoca que algumas pessoas acusem sem-vergonhice, preguiça ou ganância "dessa gente", mesmo que, quando estão na ativa, sejam geralmente caracterizados como abnegados, explorados ou coisas do tipo. Na prática, as acusações de "greve para ficar em casa" têm dois grandes problemas: não se paralisa nem metade de um grupo de servidores com facilidade. A resistência a greve é fortíssima antes e durante as paralisações; as pessoas em geral não acham que vale a pena essa luta de braço desigual com governos a menos que os ganhos da greve sejam muito grandes, e eles praticamente nunca são. Além disso, o pessoal realmente preguiçoso ou desinteressado tem muito maior terreno para manobra quando os serviços estão andando. A greve chama a atenção e pode ocasionar perdas eventuais a todos, mas, enquanto a máquina está andando, mesmo que mal, há uma série de ferramentas que podem ser distorcidas a favor do preguiçoso ou cínico das mais diferentes formas. A maioria dos trabalhadores carrega uma minoria hipócrita ou desrespeitosa que lucra e descansa mais quando há trabalho para ser feito do que quando há greve.

Por outro lado, se a iniciativa privada surge como opção atraente para todos que querem falar mal dos trabalhadores em greve, não se pensa numa coisinha: nunca mais conseguiria emprego na vida um administrador que conseguisse provocar uma greve numa empresa privada dedicada a serviço ideologicamente autosuficiente. É preciso um descomprometimento assustador para se exercitar a incompetência necessária para travar um grupo de trabalhadores que insiste em avançar aos trancos e barrancos apesar de seus problemas e de uma ideologia auto-justificadora, que virtualmente justificaria greves até que tivessem salários de deputados.

Mesmo que todo dia seja dia para se falar mal de políticos, as greves imediatamente fazem com que muita gente olhe para o lado e xinge o esgotamento do sistema em vez de acusar quem o esgotou. Escrevo isto em tempos de "faxina" no governo e críticas a ela na oposição apenas para indicar mais um dos indícios de que a popularização de se acusar governantes corruptos não é o mesmo que interesse ou consciência política. Pelo menos nisso ainda há verdade na afirmação de Joseph-Marie Maistre (1753-1821) "cada povo tem o governo que merece". Nós ainda temos incomodação política não por compreensão dos fatos, mas por cunhagem.

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