segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Liverpool também é aqui

 

Eu costumo dizer que o que me chama a atenção nas diferentes culturas são suas proximidades, não suas distâncias, mas poucos filmes simbolizam tão bem o quanto somos parecidos por aí como Nowhere Boy (O Garoto de Liverpool). Não se assutem com a fala "Is nowhere full of geniuses, sir? Because then I probably do belong there". A fala pode ser útil para vender o filme, mas o vende de forma errada: este não é um filme de Mariah Carey; apesar do jovem pobre se formando na música, o filme não tem uma cena final com o primeiro grande show nem um texto final a respeito do sucesso da carreira. As cenas de banda no trailer são dos Quarrymen, não dos Beatles.

O filme é na verdade sobre um jovem que se sente duplamente abandonado, uma relação complicada disso com seu temperamento e a gradativa maturação que o coloca em choque com um comportamento que, mesmo sofrendo ele com o abandono, é num certo sentido sempre o de um mal agradecido. O que achei curioso é que reconheço ponto por ponto no comportamento dele ao longo do filme o gênio de outros jovens que viveram esse tipo de duplo abandono, em que a pessoa pode sentir que, num certo sentido, ninguém o quer. O único detalhe é que o filme fala sobre John Lennon na década de 1950 na Inglaterra, e eu só conheci pessoas reagindo dessa forma nesses primeiros anos do século XXI, no Brasil. São essas proximidades que me parecem relevantes quando comparamos diferentes culturas. Mude-se o figurino e as músicas, o filme poderia se passar em Porto Alegre.