sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Elitismo por maioria de votos

A maioria das pessoas acha que tudo deve ser feito por alguém que entende do problema. Se alguém vai resolver qualquer coisa, tem de ser alguém que entende. Por outro lado, dizer-se, em sentido mais amplo, que quem sabe das coisas deveria decidir sem que quem não sabe se intrometa soa, geralmente, como enorme manifestação de elitismo. 

É possível contornar retoricamente a contradição entre essas duas posturas, mas no fim esses desvios não me parecem mais do que só retóricos mesmo. Acho que há uma contradição fundamental entre se achar que pessoas têm mais talento, treino, competência ou habilidade que outras e se afirmar ao mesmo tempo que as decisões específicas de cada área não deveriam ser deixadas na mão de quem sabe e pode, no sentido de que deveria haver sempre uma janela para qualquer um meter o bedelho, só porque quer participar. Convenhamos, essa política faz algum sentido quando impostas a crianças brincando, pela pregação de certa moral que adultos buscam realizar, mas não é a melhor forma de se ter bons resultados. Talvez determinar que alguém NÃO poderá interferir em certa decisão estratégica seja uma forma de autoritarismo, mas, num sentido tão amplo, é adequado falar em autoritarismo, mesmo que, sim, fechar totalmente a porta a qualquer um de fora do clube é receita para o desastre. No caso de esse autoritarismo se basear exatamente em nível de habilidade, ou seja, dizer-se que só os melhores podem decidir sobre um problema, diz-se logo que isso é elitismo. Agora, isso é um problema? "Elitismo" é ruim sempre?

Talvez seja possível um meio-termo, para aplacar os ânimos. Imaginem um grupo sendo formado para decidir a respeito de alguma reforma. Todos são chamados. Um monte de gente não aparece. Ok. Confere-se se as pessoas foram mesmo informadas, se não puderam ir e, no fim, se determina que quem não quis aparecer simplesmente se retirou da posição de mando. Depois se determina quem ali dentro QUER participar de tal decisão. Não é porque a pessoa é afetada por determinada coisa que ela irá querer fazer parte dessa decisão que a afeta. É claro que, socialmente, isso pode ser um problema, então poderia existir um outro grupo responsável por conscientização participativa, mas isso não seria responsabilidade do próprio grupo que quer decidir os problemas. Seria uma força-tarefa paralela.

Muito bem, tendo-se determinado quem é o grupo que quer participar, define-se então quem tem habilidade e conhecimento adequado. ESSE grupo, que já não inclui mais todos os interessados, decide quem são os melhores ali, ou que habilidades são mais importantes. Isso pode ser até por voto. O mesmo grupo poderia também excluir pelo menos um ou dois considerados pelo grupo como pessoas aquém das necessidades para o trabalho. De preferência, todas essas decisões seriam feitas abertamente, nenhum encontro de grupos seria de portas fechadas, para que a politicagem humana ficasse contida a um mínimo. 

O grupo ataca o problema e mostra o resultado. Desde formado, nenhuma decisão (que não extrapole certos limites estabelecidos pelo grupo de interessados) realizada depois disso precisaria se submeter ao julgamento dos leigos. Quem sabe faz. O resto, se quer participar, que aprenda. Ser "humano", "digno" ou "igual" não ajudam quando o assunto é trabalhar com alguma eficiência. Precisamos conseguir deixar o talento e a habilidade funcionarem com certa autonomia sem transformar qualquer relação em Auschwitz ou Woodstock.

É claro que eu não estou propondo que isso resolveria qualquer relação, como o governo de um país, mas existiriam coisas desse sistema que poderiam ensinar muito ao nossos "representantes profissionais". O grande problema, nesse caso, é a enorme distância entre quem decide e o problema.

Nenhum comentário: