sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O poder das múmias de chupeta na boca

Não poderei fazer o post sobre autoritarismo e as coisas que foram ditas nessa discussão sobre salário mínimo, que considerei, pra variar, discutida da forma errada e direcionada a pontos que tangenciavam apenas o que me pareceu mais bizarro. Mas preciso pelo menos descrever hoje um tipo de autoritarismo.

O tipo de autoritarismo de gente que acha que comandar e moralizar é a mesma coisa. Tecnicamente, que acha que impor regras (efetivamente impor, como se faz com cachorros) e exigir sua obediência é um processo automaticamente legitimado porque as regras impostas, teoricamente, seriam positivas (como alertava já Schopenhauer, se a teoria não funciona na prática, é porque a teoria está errada, mas deixa pra lá). Essas regras seriam válidas e boas por si, de modo que o fato de encaixarem de forma totalmente kafquiiana com o resto do mundo (ou seja, com tudo o mais que acontece na vida dos, digamos, cachorros) não quer dizer que elas possam ser desobedecidas ou mesmo forçadas. Não implica que possam ser negociadas. Não. Elas são boas numa expressão do tamanho de uma frase. Como considerar o contexto pode fazer com que elas sejam erradas?!

Isso chega, em geral, para essas pessoas taradas por controle, ao extremo de que as leis serão boas mesmo que impliquem a contradição de leis básicas da física, como a relação tempo-deslocamento, ou ignorem conhecimentos sociais que já temos, como tradição, costumes, heranças... 

Para gente que manda assim, cada desobediência justifica ainda mais a imposição de regras. Cada discórdia é entendida como preguiça ou mau-caratismo. Cada perda de poder é lida como motivo para apertar mais a corrente do que lhes resta sob controle aparente. É assim que o poder se esvai. Essa é de fato uma das formas mais sofridas pela qual o poder se esvai, porque ele morre lentamente, e se torna mais cruel e burro quanto mais perde sua legitimidade simbólica. E é o próprio exercício desse poder que retira desse(s) ser(es) poderoso(s) a mesma legitimidade. 

O mais triste do quadro, no fim, é que esse poder todo tem de morrer, definhar e fazer sofrer até estar plenamente murcho, até que algo, quem sabe, possa ser construído a partir do zero, maldito zero que não precisava nem ter voltado a aparecer. Às vezes conseguimos corromper um sistema levado adiante por alguém tão tarado, mas é raro, muito raro. 

Mas e daí que é raro? A tenteada é livre.

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