segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A estética de mandar para o inferno

"Odeio comunista. Detesto comunistazinho."

Assim repete periodicamente um aluno do Ensino Fundamental de uma escola particular de Porto Alegre. Seu "ódio" não vem da formação da escola (ao menos, eu não tenho nenhuma informação que justifique acreditar nisso), nem de informação ou conhecimento do assunto, como é típico. O ódio do rapaz se justifica pelo mesmo esquema que organiza e promove a maioria dos ódios: treino.

O que é mais significativo, porém, é que alguém com grana em Porto Alegre continue acreditando que é necessário educar "ódio" a "comunistas" a ponto de doutrinar o filho (sobrinho, afilhado, sei lá) dessa forma. Parece-me que existem duas possibilidades, no entanto, que fazem isso ser compreensível (não justificável): a pessoa que treinou esse ódio acha que Lula-Dilma são literalmente comunistas e acredita que o governo federal do PT é anti-burguês numa oposição burguês-povo; a pessoa acredita que existem comunistas outros, não necessariamente no governo, que ameaçam a estabilidade de sua vida a ponto de tomar a clássica medida defensiva do Ataque Ferrenho.

Só que os dois sentidos têm algo de irreal, e a irrealidade de ambos, ainda que desigual, carrega o mesmo problema das definições indefinidas do senso comum político: só atrapalham. O problema de se xingar todo grupo por definições extremas e superficiais, ou de se assumir que alguém tem determinada postura só porque a pessoa diz tê-la, é que se pinta a realidade em dois tons e espera-se que tudo se resolva por medidas binárias. Existem "comunistas" e "burgueses" e ponto. Quem determina algo é ditador e quem elogia a liberdade sem fazer nada é liberal (o não fazer nada reforça a liberdade que a pessoa garante aos outros).

Xingamentos pasteurizados e clichês são a coisa mais fofa do papai quando o assunto é propaganda política, um must irresistível a militantes e contra-militantes, bem como a marketeiros, mas quando o assunto é análise política, são tão úteis quanto os socos num laboratório de genética. Quanta falta de informação uma pessoa precisa ter para valorizar ou promover ódios ignorantes em outrem? Especialmente em alguém por quem é responsável, se esse for o caso do rapaz, como suponho. Por que nossos ódios políticos dominaram o discurso e ninguém mais lembra da complexidade dos fatos? 

Quando toda falha é um "absurdo", então não existem termos para os absurdos. Quando qualquer arranhão é uma mutilação, não há diferença entre ambos. É divertido e engraçado xingar a plenos pulmões cada passo do "adversário", talvez se ache também divertido afirmar que todo o mundo que discorda da gente é adversário, mas se nunca se para para pensar, se nunca se pensa que trabalhar junto, ou próximo, pode ser mais produtivo que atirar pedras a cada oportunidade, então a realidade vai seguir sozinha, independente, enquanto os nossos discursos nos divertem com simplismos e ignorâncias, com times e panelinhas. Oposicionistas e apoiadores, no entanto, não reclamem quando a realidade vier explodir na nossa cara quando menos esperarmos. Ninguém queria saber dela, só queriam saber do prazer de se xingar.

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