quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Acadêmico na folia da ignorância

Tenho vivido de twitter, jornais, namoro (o que engloba discussões teóricas), Academia (escrevendo o trabalho) e prazeres domésticos. Minha mente tem então pulado pelas mais diferentes questões éticas e teóricas. Até os seriados têm contribuído para isso, nem que seja como provocações aversivas.

Ter de ir amanhã cumprir minha primeira obrigação com escola pós-"folga", o que significa sair em horário irritante, pegar ônibus e presenciar muita perda de tempo e falta de objetividade, é a materialização do fato de que a dita "folga" está acabando. Isso significa, para um ser que tem vivido tanto com ideias e debates ultimamente, baixar o nível. 

Em certo sentido, a educação é constituída pela represa das ideias. Todo discurso teórico profundo, toda análise de verdade, todas as filosofias envolvidas devem ser engolidas, tornando-se pressupostas para a ação pedagógica, mas não manifestas! Ou seja, a teoria e a preparação envolvidas nas aulas são mais ou menos como o material de preparação de um ator. Ele deve conhecer o caminho e estudar tudo o que considere necessário para exercer seu papel, mas tanto raciocínio não deve aparecer na ação; é apenas o pressuposto dessa ação.

É claro que este é um gigantesco "apenas", mas a superfície pedagógica, vista deste fevereiro de teoria, figura-se para mim lisa e pura como uma cena de ação, na qual não percebemos atuação e não supomos nem de longe toda a preparação e o cuidado técnico envolvidos na criação de 5 segundos de filme. Em grande parte, dar aula é falar obviedades, repetir moralismos e conviver com um monte de gente para quem o grande drama do mundo atual é que tal cantora que estreiou ontem e vai abandonar a carreira amanhã ficou com o ficante da outra tal cantora. Pessoas para quem a superioridade branca e masculina são fatos objetivos e naturais do mundo. Pessoas que não são meramente incapazes de auto-crítica, mas que efetivamente não se enxergam, não se percebem no mundo, falham num quesito assumido como natural ao ser humano pela maioria dos filósofos: a consciência.

Ensinar acaba sendo o esforço de ocultar a teoria que subjaz à prática. Gente é muito mais educável se não suspeita que está sendo educada. E isso envolve denegar o debate, esperar em vez de responder, até treinar mais que mostrar. Corrigimos (ou tentamos) aos poucos uma série de práticas do dia-a-dia, tudo tentando revelar que, na realidade, o buraco é mais embaixo, e mais embaixo, e mais embaixo. Até que, quem sabe, suspeitando do abismo da existência, da incerteza de tudo que se acreditava sólido, o aluno precise deixar a teoria vir à superfície, a relação teoria-prática se torne mais consciente e, com a descoberta do conhecimento teórico, o aluno descubra a si mesmo na prática, desenvolva consciência

Para completar, tempo de aula freia a produção da tese. Portanto, a teoria ficará duplamente encoleirada.

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